Entrevista que a Rádio Vaticano fez ao presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, e prefeito emérito da Congregação para o Clero, o cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos...
Cardeal Darío Castrillón Hoyos:- "Já João Paulo II queria dar aos fiéis que amavam o antigo rito _ alguns dos quais haviam passado para o movimento do arcebispo Lefebvre, mas que depois o haviam deixado para manter a plena unidade com o Sucessor de Pedro _ a oportunidade de celebrar o rito que mais atendia à sensibilidade deles. O Santo Padre Bento XVI participou desde o início de toda a questão Lefebvre e, portanto, conheceu muito bem o problema que a reforma litúrgica criava para aqueles fiéis. O papa tem um amor especial pela Liturgia. Um amor que se traduz também em capacidade de estudo, de aprofundamento da própria Liturgia. Por esse motivo, Bento XVI considera a liturgia anterior à Reforma do Concílio um tesouro inestimável. O papa não quer voltar atrás. É importante saber e ressaltar que o Concílio não proibiu a liturgia de São Pio V e, ademais, é preciso dizer que os Padres do Concílio celebraram a Missa de São Pio V. Não é um voltar atrás, como alguns defendem _ porque não conhecem a realidade. Pelo contrário: o Concílio quis ser amplo nas liberdades boas dos fiéis. Uma dessas liberdades é justamente a de tomar esse tesouro, como diz o papa _ que é a Liturgia _ para mantê-lo vivo."
P. Cardeal Hoyos, o que muda, na realidade, com esse Motu Proprio?
Cardeal Darío Castrillón Hoyos:-"Com esse Motu Proprio, na realidade, a mudança não é tão grande. A coisa principal é que neste momento os sacerdotes podem decidir, sem permissão nem por parte da Santa Sé nem por parte do bispo, se celebrar a Missa no rito antigo. E isso vale para todos os sacerdotes. Os párocos são eles mesmos que na paróquia devem abrir a porta àqueles sacerdotes que, tendo a faculdade, vão celebrá-la. Portanto, não é necessário pedir nenhuma outra permissão."
P. Cardeal Hoyos, este documento esteve acompanhado de polêmicas e temores: mas o que não é verdade daquilo que foi dito ou lido?
Cardeal Darío Castrillón Hoyos:- "Por exemplo, não é verdade que tenha sido tirado dos bispos o poder sobre a Liturgia, porque já o Código diz quem deve dar a permissão para celebrar a missa e não é o bispo: o bispo dá o celebrat _ a potestade de poder celebrar _ mas quando um sacerdote tem essa potestade, são o pároco e o capelão que devem oferecer o altar para celebrar. Se alguém o impede, cabe à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei tomar medidas, em nome do Santo Padre, a fim de que esse direito _ que é um direito claro dos fiéis _ seja respeitado."
P. Cardeal Castrillón Hoyos, na vigília da entrada em vigor do Motu Proprio, quais são seus votos?
Cardeal Darío Castrillón Hoyos:- "A Eucaristia é a maior coisa que nós temos, é a maior manifestação do amor, do amor redentor de Deus que nos quer acompanhar com essa presença eucarística. Isso jamais deve ser um motivo de discórdia: ali deve existir somente o amor. Faço votos de que isso possa ser um motivo de alegria para todos aqueles que amam a tradição, um motivo de alegria para todas aquelas paróquias que não terão mais divisões, mas terão _ pelo contrário _ uma multiplicidade de santidade com um rito que foi certamente o fator e o instrumento de santificação por mais de mil anos. Portanto, agradecemos o Santo Padre que recuperou para a Igreja esse tesouro. Nada é imposto aos outros. O papa não impõe a obrigação; o papa impõe, porém, que se ofereça essa possibilidade onde os fiéis quiserem. No caso de um conflito, porque humanamente dois grupos podem entrar em contraste, a autoridade do bispo _ como diz o Motu Proprio _ deve intervir para evitá-lo, mas sem anular o direito que o papa deu a toda a Igreja."