sexta-feira, 21 de novembro de 2008
O Motu proprio "Summorum Pontificum" e a pacificação da Igreja
Padre Gabriel Diaz Patri
Quando, depois de já ter feito 70 anos, Joseph Ratzinger decidiu publicar suas memórias, ele pensou que talvez a parte mais interessante da sua vida já tinha passado. Não imaginava o então Cardeal- que pelo contrário- ela ainda estava por começar.
No Capítulo XII destas memórias intitulado "Minha Vida" ... confessa, falando da época da reforma litúrgica: "Fiquei perplexo pela interdição do antigo Missal porque uma coisa dessas nunca tinha acontecido na história da liturgia …A imposição da proibição deste Missal que se havia desenvolvido ao longo dos séculos desde os tempos dos sacramentários da Igreja nascente trouxe uma ruptura na história da liturgia cujas consequências só poderiam ser trágicas ".
Já em 1976, sendo ainda simples padre, tinha escrito em resposta a um ilustre colega, importante catedrático de Direito romano que lhe tinha perguntado a sua opinião: "na minha opinião, dever-se-ia obter permissão para todos os sacerdotes, de poder usar também no futuro, o antigo Missal, para cuja utilização deveria ser permitida "a mais vasta liberdade." No mesmo sentido se pronunciou outras vezes nos anos seguintes.
A ideia que o que levou a sustentar esta posição é que um Rito que foi caminho seguro para a santidade durante séculos não pode de repente converter-se numa ameaça , se a fé que nele se expressa segue sendo considerada válida.
E isto é assim porque a legitimidade da liturgia da Igreja reside na continuidade da sua tradição. Esta não é uma mera questão de afectividade ou "sensibilidade"; é assim em razão da unidade, identidade e comunhão da Igreja ...para além do tempo. Poderíamos aplicar aqui a bela expressão de Martin Mosebach, o escritor alemão do momento: "A tradição é a inclusão dos mortos na vida presente", ou, nas palavras de Chesterton: "A Tradição é a democracia dos mortos" , ou seja uma forma de "democracia" na qual os mortos também podem participar.