sábado, 11 de outubro de 2008

Cardeal Ratzinger: a liturgia, latim e Missal de São Pio V


Que a orientação do sacerdote e os fiéis durante a celebração do Santo Sacrifício do Altar é a mesma e´o que caracteriza a Missa Tradicional. Transcrevemos, nesse sentido, todo o prólogo que o Cardeal Ratzinger escreveu no livro do Padre Uwe Michael Lang, "Regresso ao Senhor. A orientação da oração litúrgica :

"Para o católico praticante normal são dois os resultados mais evidentes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II: o desaparecimento do latim e o altar orientado para o povo.
Quem lê os textos conciliares pode constatar com espanto que, nem uma nem outra pode ser encontrada nestes textos desta forma.

" Ao vernáculo, naturalmente, teve que dar- se espaço, de acordo com as intenções do Concílio (1) nomeadamente na área da Liturgia da Palavra, mas no texto conciliar, a norma geral imediatamente anterior diz:" Conservar-se-á O uso da língua latina nos ritos latinos, salvo o direito particular "(2).

"O texto conciliar não fala na orientação do altar para o povo. Fala -se sobre este assunto nas instruções post-conciliares. A mais importante delas é o a Institutio generalis Missalis Romani, a Introdução Geral ao novo Missal Romano de 1969, onde no número 262 lê-se: "Construía-se o altar separado da parede, de modo que se possa rodar facilmente e a celebração se possa fazer de cara para o povo.” A introdução à nova nova edição do Missal Romano de 2002 tomou este texto à letra, mas no final acrescenta o seguinte: "é desejável onde seja possível.

" Muitos vêem neste acrescento uma rígida leitura do texto de 1969, no sentido de que haja agora uma obrigação geral de construir ", onde seja possível "o altar de frente para o povo. Essa interpretação, porém, foi rejeitada pela competente Congregação para o Culto Divino em 25 de setembro de 2000, quando explicou que a palavra" expedit "[ é desejável] não expressa uma obrigação, mas um conselho.

Temos de distinguir o que a Congregação disse acerca da orientação física da espiritual. Quando o sacerdote celebra versus populum, sua orientação espiritual deve ser sempre versus Deum per Iesum Christum (para Deus através de Jesus Cristo). Dado que ritos, sinais, símbolos e palavras nunca podem esgotar a realidade última do mistério da salvação, é preciso evitar posições unilaterais e absolutas sobre o assunto.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Apresentamos algumas fotos da Santa Missa que o Papa Bento XVI celebrou no 50º aniversário da morte do servo de Deus o Papa Pio XII, na Basílica de S.Pedro no Vaticano.
Cardeal Dário Castrillón: “Os fiéis têm o direito à forma extraordinária da Missa”

O presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, o cardeal colombiano Dario Castrillón Hoyos de, assegurou que "os fiéis católicos têm um direito jurídico aos mais antigos ritos da Igreja, e que padres e bispos têm de aceitar os pedidos e petições dos fiéis que os peçam ", em referência à forma extraordinária do rito romano aprovado pelo Papa para pouco mais de um ano.

Estas afirmações foram recolhidas no prefácio à última edição do livro "Cerimónias do Rito Romano", editado por Alcuin Reid, cuja primeira edição saiu pela primeira vez em 1917, cujo autor foi o padre Adrian Fortescue Inglês.

E acrescenta o Cardeal no texto que "esta é a vontade do Sumo Pontífice, estabelecida legalmente na Summorum Pontificum". . Além disso, "o Santo Padre alegra-se pela resposta generosa de muitos sacerdotes à sua iniciativa de aprender uma vez mais, os ritos e cerimónias do sacrifício da missa e outros sacramentos, de acordo com o usus antiquior, para que eles possam servir aqueles que os desejam. Encorajo pois os sacerdotes a fazê-lo e num espírito de generosidade e de amor pastoral pela herança litúrgica do Rito Romano ", disse ele.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Biografia breve do Papa Pio XII

Eugénio Pacelli, de família da nobreza, era neto de Marcantonio Pacelli, fundador do L'Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano, sobrinho de Ernesto Pacelli, conselheiro de finanças papal do Papa Leão XII, e filho de Filippo Pacelli, deão dos advogados do Vaticano.

Pacelli tornou-se sacerdote em Abril de 1899. Entre 1904 e 1916, Fr. Pacelli assistiu o Cardeal Gasparri na codificação do direito canónico. Foi nomeado Núncio Apostólico na Baviera pelo Papa Bento XV em 1917, e depois na Alemanha, na República de Weimar em Junho de 1920.

Elevado a Cardeal em 16 de Dezembro de 1929 pelo Pio XI, logo em 7 de Fevereiro de 1930 o Papa Pio XI nomeou-o Secretário de Estado. Durante a década de 1930 o Cardeal Pacelli fez concordatas com a Baviera, Prússia, Áustria e Alemanha. Fez ainda visitas diplomáticas na Europa e América, incluindo uma longa visita aos Estados Unidos da América em 1936.

Primeiro filho de um advogado com altas responsabilidades seculares da Santa Sé, iniciou os seus trabalhos apostólicos na igreja de Santa Maria Vallicella, fazendo parte de um grupo juvenil. No dia 2 de Abril de 1899 é ordenado sacerdote, passando a executar funções na Secretaria de Estado de monsenhor Gasparri. Ali, pode dizer-se, o futuro Pontífice aprendeu a escola do Papa Pio X, a quem ele mesmo canonizou meio século depois.

A 13 de Maio de 1917, em plena Primeira Grande Guerra, é nomeado núncio na Baviera, onde trabalhará tendo a paz e o auxílio às vítimas do conflito como principal objectivo. Três anos mais tarde, ocupa a Nunciatura de Berlim, tarefa que desempenhou até 1929, quando depois de ser investido cardeal, é designado secretário de Estado da Santa Sé.

Assistiu e assinou várias concordatas com vários Estados: Áustria (1933), Alemanha (1933), Iugoslávia (1935) e Portugal (Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940). Juntamente com o Arcebispo alemão Michael von Faulhaber rascunhou o documento que serviria de base para a encíclica Mit brennender Sorge que condenou os erros do nazismo.
Túmulo de Pio XII na Basílica de São Pedro
Túmulo de Pio XII na Basílica de São Pedro

A 2 de Março de 1939, no dia de seu 63º aniversário, é eleito Sumo Pontífice: toma o nome de Pio XII, em plena preparação de uma nova conflagração mundial. Evitá-la a todo o custo foi a sua primeira preocupação. Em maio, envia aos governos do Reino Unido, França, Polônia, Alemanha e Itália uma proposta para resolver, mediante uma reunião conjunta, os problemas inerentes à comprometida estabilidade política. A 24 de julho do mesmo ano, dirigiu por rádio um apelo à paz no mundo.

Pode-se dizer que Pio XII foi um dos principais protagonistas daqueles dias tão carregados de tragédia, porque procurou, com todas as suas forças, evitar a guerra. Na noite de Natal de 1942, condenou a perseguição judia na sua famosa alocução de Natal. Igualmente, em 1943 pronunciou um importante discurso aos cardeais, em que reafirmou a sua condenação da política alemã.

O seu silêncio durante os primeiros anos da guerra foi reconhecido por muitos historiadores como útil para salvar inumeráveis vidas humanas. Pio XII organizou a assistência da Santa Sé a favor dos perseguidos. Morreu a 9 de Outubro de 1958.

Pontificado
Estátua de Pio XII em Braga Portugal
Estátua de Pio XII em Braga Portugal

Em 2 de Março de 1939, Pacelli tornou-se o primeiro Secretário de Estado, desde 1667, a ser eleito Papa; escolheu o nome de Pio XII. Seu papel durante a Segunda Guerra Mundial é controverso. O que é geralmente aceito é que o Papa seguiu uma política neutra à semelhança do que o Papa Bento XV havia feito na Primeira Guerra Mundial. O principal argumento tinha duas razões: a condenação pública de Adolf Hitler e do nazismo trariam pouco ou nenhum benefício ao desenrolar da guerra, já que seria certamente censurada na Alemanha e desconhecida para os católicos alemães (embora já houvesse na década anterior à guerra declarações de que catolicismo e nazismo eram incompatíveis); segundo, isso poderia desencadear uma forte perseguição religiosa aos católicos alemães, cortando as rotas de fuga usadas por opositores do nazismo, judeus e ciganos.

Quando, em 10 de Setembro de 1943 os nazistas invadiram Roma, o Papa abriu a Santa Sé aos refugiados, estimando-se que tenha concedido a cidadania do Vaticano a entre 800.000 e 1.500.000 de pessoas, e nos meses em que Roma se encontrava sob ocupação alemã, Pio XII instruiu o clero italiano sobre como salvar vidas usando de todos os meios possíveis.

Cento e cinqüenta e cinco conventos e mosteiros em Roma deram asilo a aproximadamente cinco mil judeus. Pelo menos três mil encontraram refúgio na residência de verão do pontífice, em Castel Gandolfo. Sessenta judeus viveram por nove meses dentro da Universidade Gregoriana e muitos foram escondidos no subsolo do Pontifício Instituto Bíblico. Seguindo as instruções de Pio XII, muitos padres, monges, freiras, cardeais e bispos italianos empenharam-se para salvar milhares de vidas judias. O cardeal Boetto, de Gênova, salvou pelo menos oitocentas vidas. O bispo de Assis escondeu trezentos judeus por mais de dois anos. O bispo de Campagna e dois de seus parentes salvaram outros 961 em Fiume.

Como consequência, e apesar do fato de Mussolini e dos fascistas terem cedido à exigência de Hitler de dar início às deportações também na Itália, muitos católicos italianos desobedeceram às ordens alemãs. É sabido que, enquanto cerca de 80% dos judeus europeus encontraram a morte durante a Segunda Guerra Mundial, 80% dos judeus italianos se salvaram.

O que é certo é que o Papa desenvolveu na sombra uma forte campanha de apoio aos judeus, e os seus críticos, todavia, não perdoam o fato de o Papa Pio ter mantido silêncio ao não falar publicamente contra o nazismo durante a guerra (talvez por temer represálias nazistas contra os católicos).

Robert M. W. Kempner, referindo-se à sua própria experiência durante o processo de Nuremberg, afirmou em uma carta à redação, depois de o Commentary ter publicado um trecho do livro de Guenter Lewy em 1964: "Qualquer movimento de propaganda da Igreja Católica contra o Reich hitlerista não só teria sido um 'suicídio voluntário' (...) mas teria também acelerado a execução capital de um maior número de judeus e sacerdotes". Porém, apesar de ninguém considerar a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis. E ela se omitiu, segundo os seus críticos.

As eleições italianas de 1948

Em fins de 1947, a Assembléia Constituinte italiana havia concluído o texto de um nova constituição que entraria em vigor em 1 de janeiro de 1948. Haviam sido convocadas eleições gerais para 18 de abril de 1948, comunistas e socialistas coligaram-se contra a Democracia Cristã liderada por De Gasperi.

À vista do bloqueio de Berlim naquele ano, a guerra fria entre a Rússia e as democracias ocidentais e a perseguição religiosa por trás da "Cortina de Ferro" levaram Pio XII a declarar que "soara a hora capital da consciência cristã". Em suas palavras "toda a nação estava em plena transmutação dos tempos, que requeria por parte da Cabeça e dos membros da Cristandade, suma vigilância, incansável diligência e uma ação abnegada." [1]

Coerente com o magistério da Igreja que já condenava o marxismo como heresia desde antes[2] de Leão XIII e através da encíclica Rerum Novarum e de outros documentos pontifícios[3] [4]de seus sucessores, naquelas eleições prestou claro apoio a De Gasperi e à Democracia Cristã italiana que, afinal, saiu-se vitoriosa, e proibiu o clero católico de votar no PCI (Partito Communista D'Italia) o que, segundo seus críticos, seria mostra de seu viés conservador.

Na verdade Pio XII se empenhara naquela eleição e com ele toda a Igreja Católica para garantir a vitória da Democracia Cristã na Itália e evitar que sucedesse na nascente democracia italiana o que vinha ocorrendo então, na denominada Cortina de Ferro. Em várias oportunidades tratou do tema como na Carta Apostólica Dum maerenti animo - A Igreja perseguida na Europa do Leste (29 de junho de 1956) [5] e na Carta Apostólica "Sacro vergente anno" - Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria (7 de julho de 1952) [6]
Processo de Beatificação

Em 1965 o Papa Paulo VI deu início à causa da sua beatificação. No dia 8 de maio de 2007, a Congregação para a Causa dos Santos, à unanimidade, reconheceu que Pio XII praticou as virtudes teologais e as virtudes humanas em grau de heroísmo, submetendo a Bento XVI a decisão de declará-lo Venerável, último estágio que antecede à declaração de beato. A Congregação revisou três mil páginas de documentos e testemunhos sobre a vida de Pio XII. Em dezembro de 2007 o Papa Bento XVI determinou o estudo mais aprofundado de alguns documentos para o que criou uma comissão dentro da sua Secretaria de Estado [7] o que implica num retardamente na tramitação do processo.
Bento XVI convidou hoje a rezar “para que prossiga felizmente a causa de beatificação” de Pio XII, Papa que faleceu há 50 anos, no dia 9 de Outubro de 1958, destacando a sua acção durante a II Guerra Mundial.

Pio XII, assegurou o actual Papa, “agiu muitas vezes de forma secreta e silenciosa, porque, à luz das situações concretas daquele complexo momento histórico, ele intuía que só desta forma podia evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus”.

O Papa admitiu que “o debate histórico sobre a figura do servo de Deus Pio XII, nem sempre sereno, falhou no que toca a dar relevo a todos os aspectos do seu poliédrico pontificado”.

Numa cerimónia que decorreu na Basílica de São Pedro, no Vaticano, Bento XVI recordou o seu predecessor, Eugénio Pacelli, o último Papa que nasceu em Roma, que guiou a Igreja “numa época marcada pelos totalitarismos: o nazi, o fascista e o comunista soviético”. A todas estas situações, Pio XII reagiu com condenações escritas, nas encíclicas “Non abbiamo bisogno, Mit Brennender Sorge e Divini Redemptoris”.

Estiveram presentes na celebração os Cardeais da Cúria Romana e os delegados dos episcopados católicos de todo o mundo, que participam no Sínodo dos Bispos.

Segundo Bento XVI, o Papa Pacelli percebeu desde o início “o perigo constituído pela monstruosa ideologia nacional socialista (nazi, ndr), com as suas perniciosas raízes antisemitas e anticatólicas”.

O Papa lembrou os “momentos mais duros” do pontificado de Pio XII, que se iniciou “quando de adensavam na Europa e no resto do mundo as nuvens ameaçadoras de um novo conflito mundial, que ele procurou evitar de todas as formas”.

Neste contexto, chamou a atenção para a “intensa obra de caridade que (Pio XII) promoveu em defesa dos perseguidos, sem distinção de religião, de etnia, de nacionalidade ou pertença política”.

“Familiares e outras testemunhas referem as privações quanto a comida, aquecimento, vestuário e outras comodidades a que se submeteu, para partilhar a condição das pessoas duramente provadas pelos bombardeamentos e as consequências da guerra”, acrescentou Bento XVI.

O Papa lembrou uma radiomensagem, no Natal de 1942, em que Pio XII “deplorou a situação de «centenas de milhares de pessoas, as quais, sem nenhuma culpa, são destinadas à morte por causa da sua nacionalidade ou raça”. Para Bento XVI, esta é uma “clara referência à deportação e ao extermínio perpetrado contra os judeus”.

Na sua homilia, Bento XVI citou os “numerosos e unânimes atestados de gratidão” dirigidos a Pio XII no final da guerra e no momento da sua morte, destacando as que chegaram das mais altas autoridades do mundo judaico, como por exemplo de Golda Meir: “Quando o martírio mais terrível se abateu sobre o nosso povo, durante os dez anos do terror nazi, a voz do Pontífice levantou-se em favor das vítimas”.

Concluída a celebração, o Papa dirigiu-se para junto do túmulo de Pio XII, onde ficou durante breves minutos num momento de oração pessoal.
Extracto de uma Entrevista com o bispo. Albert Malcolm Ranjith Patabendige
Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

- Existe uma situação paradoxal entre o que o que Vossa Excelência diz e alguns acontecimentos recentes. Na Austrália, os jovens pareceram muito respeitoso nas Adorações Eucarísticas e aqueles que eram receberam a Comunhão das mãos do Papa pareciam cheio de alegria em recebê-La de joelhos e na boca.

No Concílio Vaticano II perguntamos frequentemente sobre como estar atento para ler os sinais dos tempos. Além disso,é uma bela expressão. Mas entramos em contradição com nós mesmos quando fechamos os nossos olhos e nossos ouvidos ao que se passa à nossa volta. Existe hoje uma forte procura de espiritualidade, de coerência, de sinceridade, de uma fé não só proclamada mas também vivida. . Isto o vemos sobretudo nas gerações mais jovens. Gosto de encontrar algumas vezes os jovens sacerdotes e seminaristas que pretendem ir numa direcção de busca do Eterno.
Nós que somos da geração do Concílio Vaticano II, que proclamou o dever de estar sempre alerta para os sinais dos tempos, não se deve muito menos agora tornarmo-nos cegos e surdos. Os sinais dos tempos mudam com a história. Se estivermos atentos não só aos sinais dos tempos sessenta e oito, mas também aos de hoje, então teremos que abrir-nos a este fenómeno, reflectir sobre ele e examiná-lo.
É estranho que em alguns países da Europa, as irmãs se vistam como mulheres comuns e abandonem o véu. O véu é um símbolo de algo eterno, algo de “um já e todavia ainda não". Daquele sentido escatológico pregado pelo Senhor: ainda que agora estejamos na terra pertencemos a uma realidade distinta.
Então que sentido tem deixar tudo isso para nos integrarmos em uma cultura moribunda? Tenho visto tantos jovens padres e freiras que são fiéis a seus sinais de consagração. . Não que o hábito seja tudo, mas ele também tem um significado. . Lembro-me de um dia em que estava viajando sobre o TGV entre Paris e Lyon, vestido como sacerdote com um cabeção, e assim por diante. Num determinado momento um homem aproximou-se de mim e perguntou-me se eu era um padre católico. Eu respondi que sim e ele pediu -me para o confessar Então fomos para um canto onde pudéssemos estar sem ser incomodados. Ele me disse que ele era um católico não praticante, e que estava procurando alguém com quem falar. Dizia estar contente por ter-me encontrado porque via que eu era um padre. Mas teria ele tido essa oportunidade se eu tivesse vestido com casaco e gravata?
Repito, é surpreendente e triste que, num mundo com tantos jovens desiludidos pela banalidades, cansados da superficialidade, do consumismo e materialismo, muitos padres e freiras vão vestindo roupas civis, abandonando o seu sinal de pertença a uma realidade diferente. Ler os sinais dos tempos significa discernir que agora os jovens buscam a Deus, buscam um objectivo pelo qual se possam sacrificar, que estão prontos e são generosos. E onde existem essas disposições devemos estar presentes.
Se não, estamos a falar em nome do Concílio, criticamos os outros em nome do Concílio, mas somos incoerentes quando não conseguimos ler estes sinais dos tempos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O cardeal Dário Castrillon Hoyos presidente da comissão Pontifícia “Ecclesia Dei” explica como o motu próprio de Bento XVI é uma grande riqueza espiritual para toda a Igreja.

-Eminência , qual o balanço que faz da promulgação do Motu próprio ?
-Com o Motu próprio o Papa quis dar a todos uma oportunidade renovada de usufruir da enorme riqueza espiritual, religiosa e cultural presente na liturgia do rito gregoriano.O Motu próprio nasce como tesouro oferecido a todos, e não para vir ao encontro dos pedidos de alguns .Muitos dos que antes não sentiam qualquer relação com esta forma extraordinária do rito romano, agora manifestam grande estima pela mesma.
-A propósito da riqueza, alguns liturgistas, sublinharam o facto que o rito extraordinário não oferece a riqueza bíblica introduzida pelo novus ordo…
-Esses não leram o Motu próprio, porque o Papa afirma que as duas formas devem enriquecer-se mutuamente.É evidente que tal riqueza litúrgica não pode ser desprezada.No novus ordo , em alguns anos lê-se praticamente toda a Bíblia , e esta é uma riqueza que não se opõe, mas que vai integrada no rito extraordináro.
-Uma outra objecção é sobre o perigo que celebrações separadas e diferentes podem criar comunidades separadas…
-É uma multiplicidade que enriquece, é uma mais ampla liberdade cultural que o Papa introduz de forma audaz. De resto nas paróquias há muitas diferenças nas celebrações.
-Outro problema é a falta de padres…
-Se numa diocese faltam padres e só três ou quatros fiéis pedem o rito extraordinário.é uma coisa de bom senso pensar que será difícil satisfazer esse pedido. Mas, dado que a intenção do Papa é conceder este tesouro para o bem da Igreja, lá onde não existem sacerdotes , a coisa melhor seria oferecer uma celebração segundo o rito extraordinário numa das Missas dominicais que se celebram na paróquia.Seria uma Missa para todos, e todos, mesmo as jovens gerações, usufruiriam da riqueza do rito extraordinário, por exemplo daqueles momentos de contemplação que no novo ordo desapareceram.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Extracto de uma Entrevista com o bispo. Albert Malcolm Ranjith Patabendige
Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos


Lamento muito que alguns países de antiga tradição religiosa, por exemplo, na Ásia, têm introduzido este novo gesto, sem sequer considerar a sua própria cultura. Estou a falar de locais onde existem religiões de importância mundial e no qual o senso de respeito pelo sagrado é muito elevado. Quando se entra no templo é necessário descalçar-se. No templo hindú inclusive a camisa, por respeito à divindade. Também no templo budista se entra sem calçado e envolvido em uma longa túnica em sinal de respeito.Também nesses países, infelizmente, os bispos introduziram a Comunhão na mão, um gesto que não reflecte nada a sua cultura. Vejo isso como uma espécie de imperialismo intelectual de algumas escolas ocidentais . Isso magoa-me, porque é a imposição de uma cultura estrangeira sobre as pessoas que têm um alto sentido de respeito em relação ao mistério e ao sagrado.
A medida tomada por estes bispos dá-me pena, porque não compreenderam a cultura local e a inculturação. Vê-se que foram influenciados por escolas teológicas e litúrgicas escolas que não fizeram uma investigação séria.
Às vezes, sem que se negue explicitamente a presença real de Jesus Cristo nas espécies eucarísticas, vê-se uma tendência para pensar que certas formas clássicas de reverência ao Santíssimo Sacramento sejam superadas, como por exemplo , ajoelhar em certas circunstâncias. É verdade que algumas convenções humanas podem mudar em diferentes épocas. Mas para si existem atitudes que não são só convenções ligadas a uma época, mas que valem para toda a história da Igreja?
A situação da fé na presença real da Eucaristia é bastante preocupante. Não quero dizer que todos já perderam a fé. Não obstante nós, da Congregação para o Culto Divino, fizemos recentemente um estudo sobre a Adoração Eucarística, que será o tema da nossa próxima reunião plenária.
Dos relatórios de várias conferências episcopais, no que diz respeito aos aspectos negativos, existe a constatação de que no clero influenciado por certas tendências teológicas, não há mais uma clara fé na presença real de Cristo. Em alguns seminários ensina-se que Cristo está presente apenas no momento da Consagração e da Comunhão, depois não. Trata-se de uma posição de origem protestante que abre a porta a abusos e até mesmo a sacrilégios das espécies eucarísticas. Uma situação lamentável.
É necessário aquele sentido de reverência a fruto da consciência que temos em relação ao Corpo do Senhor, Jesus vivo em sua forma eucarística, que nós comemos, que nós adoramos. Por isso se necessita ver com urgência como dar uma formação teológica e sacramental que assegure aos jovens seminaristas, aos sacerdotes e aos religiosos e religiosas, o reforço deste sentido da real e contínua presença de Cristo nas espécies eucarísticas. Se isso não acontecer, as consequências só podem ser dramáticas para a Igreja e causa de inúmeros problemas.

domingo, 5 de outubro de 2008

Extracto da Entrevista com o bispo. Albert Malcolm Ranjith Patabendige
Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos


Há não muito tempo atrás falava-se muito no relacionamento do fiel com Deus na Comunhão. . Hoje a maior parte das vezes destaca-se uma espécie de "dimensão social" da Eucaristia, entendida como um símbolo da participação comunitária. Essa não é uma concepção que poderia pôr em perigo a fé na presença real nas espécies eucarísticas?
Ao ler o Exortação Apostólica pós sinodal Sacramentum Caritatis, o Santo Padre divide-a em três capítulos: a Eucaristia que se acredita, a Eucaristia que é celebrada e a que se vive. Não se pode dizer que a Eucaristia tem apenas uma dimensão social. . A dimensão social é naturalmente o resultado da dimensão de fé e da celebração. Todos somos chamados a viver a nossa fé cristã com heroísmo. Mas não se pode fazer sacrifícios heróicos se não se crê e não se celebra esta fé. É por isso que não faz sentido separar uma coisa da outra.
Naturalmente, a celebração é como uma ponte entre o aspecto da fé e o aspecto da vida. Quanto mais intensa for a celebração, tanto mais coerente será a vida cristã.
Não existe apenas alex orandi, lex credendi, mas também há uma lex vivendi. Ou seja, faço o bem aos outros, porque é o convite de Cristo para celebrar e viver. Se se descuida a fé e a sua celebração, chega-se a uma dimensão social privada de conteúdo, sem razão de ser, sem poder de convicção, que se torna formalismo e banalidade. Não se terá o valor de ser um cristão coerente se a Eucaristia é reduzida a mera experiência horizontal, sem a dimensãovertical .
A Comunhão na mão não estava prevista nem pelo Concílio nem pela Reforma litúrgica. Os historiadores afirmam que o Papa Paulo VI teve muitas reticências em admiti-la e só o fez depois de prementes pedidos, ou seja, , é mais, em alguns países depois do facto consumado . Porque acha que existiram então essas reticências em adoptar uma práxis, que hoje é vista como uma "conquista", um sintoma da maturidade dos fiéis?
Quanto à questão de como nasceu esta práxis da Comunhão na mão há um grande debate. A saber, esta práxis foi iniciada, no sentido de exaltação e euforia que se criaram na sequência da conquista de uma certa liberdade, uma certa abertura para a criatividade nas igrejas locais.
E então, antes que estas questões fossem estudadas, antes de terem sido introduzidos os novos livros litúrgicos, e que fossem estabelecidas as novas normas, alguns países e alguns episcopados tomaram a liberdade, usando a famosa categoria ad experimentum , de introduzir em alguns países esta nova praxis da Comunhão na mão. Talvez era vista como um gesto amigável ao ecumenismo com protestantes, um gesto de abertura para com eles.
A nova práxis uma vez iniciada consolidou-se. Querendo regularizar a situação, o Santo Padre Paulo VI, de feliz memória, fez uma consulta aos bispos. E muitos bispos, como está escrito no documento papal Memoriale Domini, não aceitaram esta nova práxis. Mas esta já estava difundida em certas zonas e certamente que o papa encontrou dificuldades em fazê-los voltar atrás. Para legalizar esta anomalia, permitiu que alguns países a continuassem. Mas não indicava de modo nenhum este exemplo como válido para todo o mundo. Além disso, o Papa decidiu que, se em certas condições, as conferências de bispos queriam adoptar a nova práxis, era necessário pedir o indulto à Santa Sé.
. Então as conferências episcopais de outros países começaram a adoptá-la, sob a pressão de várias escolas teológicas e litúrgicas que diziam que a nova práxis era um gesto mais aberto, mais moderno. Em seguida, que os viajantes que iam aos países do Terceiro Mundo pediam para receber Comunhão desta forma. De qualquer forma, manteve –se a obrigação de pedir o indulto à Santa Sé. O próprio facto de ter de pedir o indulto indica que a prática normal é a outra. Agora, a praxis extraordinária tornou-se a práxis normal. Mas não deveria ser assim em todos os países.