quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
O PROGRESSISMO DO CARDEAL SIRI
Progressismo - Cardeal Siri - Parte I
Vivemos na época das “palavras”. Para vencer batalhas civis (e não somente estas) cunham-se palavras e ditos icásticos, resumidos (slogans). Para vencer homens se emprega qualquer termo ou classificação que as circunstâncias sugerem ser aptos ao escopo de destruir.
Para anestesiar cidadãos e fiéis cunham-se palavras. Aquilo que surpreende é o fato de os homens, em vez de se deixarem abater por autênticas espadas, se deixam abater tão somente por palavras.
1. Ser independentes da lógica teológica
Muitas vezes o “progressismo” significa isto, ou ainda mais, quando se atribui a si uma tal independência, há quem se glorie de ser “progressista”. Vejamos pois o que quer significar. Conclusões para depois. O que é este “desinteresse total pela lógica teológica”?
Lógica teológica é o conjunto das normas pelas quais, sendo aplicadas, se pode chegar a afirmar como revelada, ou também como simplesmente certa, uma proposição.
Estas normas, que constituem a lógica teológica, na realidade se reduzem (falamos, note-se bem, da “lógica”, não da Revelação) a um princípio: o magistério infalível da Igreja. De fato é ao magistério infalível da Igreja, seja solene, seja ordinário, que é confiada a interpretação certa e autêntica tanto da Escritura quanto da divina tradição. E é lógico.
De facto, se Deus tivesse entregado aos homens uma quantidade de rolos escritos ou de fitas magnéticas para fazer ouvir a palavra viva e se tivesse parado aí, a um certo ponto nada teria funcionado, se encontraria um modo de fazer com que a Palavra divina diga tudo o que se quer, o contrário daquilo que se quer, o contraditório daquilo que se quer e não se quer, infinitamente.
A verdade salvífica não teria podido funcionar entre os homens. As provas? Nós as temos diante dos olhos e apelamos somente para duas.
A primeira é que com uma natureza imensamente nítida, a história humana teve continuamente filosofias turvas, o contrário, o contraditório desse. A demonstração do que o homem sabe fazer com o seu pensamento, entregue a si mesmo e aos estímulos do próprio eu ou das próprias trevas, nos dá a história da filosofia e, ainda melhor, a filosofia da história da filosofia.
A segunda está na auto-intitulada grande produção teológica hodierna, em que exactamente pelo esquecimento da lógica se afirma o contrário de tudo, não excluída a morte de Deus.
O desígnio divino na instituição do Magistério, ao qual está conectado tudo quanto se acha na obra da história da salvação, se prova claro e necessário pelo redemoinho das desenfreadas coisas humanas.
O que hoje acontece é a demonstração ab absurdo da verdade e da necessidade do magistério eclesiástico!
O magistério eclesiástico canoniza outros instrumentos que se tornam assim “meios” para atingir com certeza a verdade teológica. Eles são: os Padres, os Doutores, os Teólogos, a Liturgia... na medida em que tenham sido consentidos e tenham tido a aprovação explícita ou implícita da Igreja. Tal aprovação torna patrimônio do próprio Magistério a verdade expressa pelas outras fontes.
Nenhum Teólogo, nenhum grupo de Teólogos ou Doutores, sem esta aprovação segura do Magistério, conta alguma coisa na afirmação teológica. Tudo mais, se corresponder às regras ordinárias de um método científico, poderá levar a formular uma hipótese de trabalho. Como o campo permanece amplo. Aqueles que havíamos chamado “meios” de reflexão do magistério eclesiástico constituem, juntamente com o próprio, a “lógica” da teologia.
Esta lógica é abandonada por muitos. E é por isto que se lêem revistas e livros que contradizem tranquilamente o que o Concílio de Trento definiu, aceitam modos de pensar que são expressamente condenados na encíclica Pascendi de São Pio X, assim como no seu Decreto Lamentabili; promovem a reabilitação de Loisy;
Põem em dúvida o valor histórico dos Livros históricos da Sagrada Escritura, elevam a critério as teorias destrutivas do protestante Bultman, ouvem com indiferença as proposições de qualquer escritor transalpino, mesmo se tocam o centro da revelação divina, ou seja, a divindade de Cristo.
Naturalmente, tratados sem freio os princípios, tem-se aquilo que se quer da moral e da disciplina eclesiástica.
Sob este fundamental ângulo de visão, o progressismo consiste em tratar como relativa a verdade revelada, em mudá-la o mais rapidamente possível, em dar aos homens uma liberdade, com a qual em breve não saberão o que fazer, em face do Absoluto.
Reduzido a esta fronteira, o “progressismo” coincide com o “relativismo”, e ao homem, “adorado”, não se deixa mais nada, nem mesmo suas esperanças!
Naturalmente nem todas as pessoas etiquetadas como progressistas conhecem estas coisas. Mas eles aceitam as consequências e as deduções lógicas daquilo que ignoram. Se têm alguma culpa – que os julgue Deus! – esta consiste em não perguntar o porquê daquilo por que são fanáticos.
De toda forma, o esquecimento da lógica teológica funciona, também se não conhecida, como permissão para as outras manifestações sobre as quais devemos discorrer.
Tudo aquilo que lançámos através de catecismos de várias línguas, que inundou o ar, e que poderia vir a aparecer em catecismos futuros, significaria a lenta destruição da Fé e a fraude mais culpável perpetrada em prejuízo dos pequenos que crescem.
Nem se pode calar a consequência última do abandono da lógica teológica: a ausência da certeza nos fiéis. Na palavra de Deus se pode e se deve crer; ninguém pode ser condicionado, se não há confirmações justas e apropriadas, pelas opiniões dos teólogos. Recordo o meu grande mestre de Teologia, o alemão padre Lennerz S.J., que repetia sempre e com razão: “Credo Deo Revelanti et non theologo opinanti!” (creio em Deus que revela e não no teólogo que opina)
O progressimo - do Cardeal Giuseppe Siri (in «Rivista Diocesana Genovese», janeiro de 1975, pp. 22-36)
continua...
Fonte: Pontifex
Tradução:OBLATVS