I
A manifestação interior realiza-se na alma do comungante. Jesus opera naquele que o recebe um tríplice milagre.
Milagre de reforma. Jesus torna-o senhor de suas paixões. O mesmo Jesus que disse: "Tende confiança, Eu venci o mundo"; à tempestade: "Cala-te"; diz ainda ao orgulhoso, ao avarento, ao homem atormentado pelas revoltas sensuais, ao escravo de suas inclinações perversas: "Quebrai-lhe as cadeias para que ande em liberdade ".
Quem comunga, sentindo-se mais forte ao afastar-se da Mesa Eucarística, pode exclamar com S. Paulo: 'Havemos de vencer todos os obstáculos por Aquele que nos amou ". É uma mudança súbita, um fogo que se acende repentinamente. Não estivesse Jesus Cristo na Hóstia Santa e prodígios tão grandes não se haviam de dar. Mais difícil é reformar o temperamento, que o formar. Mais custa ao homem corrigir-se, vencer-se a si mesmo, do que praticar um acto exterior qualquer de virtude, embora heróico. O hábito é uma segunda natureza.
A Eucaristia, e só a Eucaristia — pelo menos no curso ordinário das coisas e nas experiências feitas — dá-nos a força para corrigir os maus hábitos que nos dominam.
Milagre de transformação.
Existe apenas um meio de mudar a vida natural em sobrenatural, e é o triunfo da Eucaristia, onde Jesus Cristo faz Ele mesmo a educação do homem.
A Eucaristia, alargando nossa fé, ensinando-nos a amar, eleva, enobrece, purifica nosso amor, e o amor é o dom de si. Ora, na Eucaristia Jesus se dá todo inteiro, e ao conselho acrescenta o exemplo.
Transforma nosso próprio interior, comunica ao corpo certa graça, certa beleza — reflexo da beleza interior; transparece no semblante do comungante algo da Divindade, nas suas palavras a doçura, nos seus actos a suavidade, que manifestam a presença de Nosso Senhor. É o perfume de Jesus Cristo.
Milagre de força. A criatura esquece-se a si mesma, imola-se. É o homem confrontado com o infortúnio e tragando na Eucaristia uma força superior à desgraça. É o cristão encontrando, por entre as adversidades, as calúnias e as angústias, a calma e a paz na Eucaristia. É o soldado fiel de Jesus, vencendo as tentações, os assaltos humanos e infernais, pela Santa Comunhão.
Procurar-se-á em vão, fora do Sacramento, esta força sobre-humana. E se a Eucaristia no-la dá, é que Jesus, o Salvador, o Deus forte lá está verdadeiramente presente. Tal a manifestação interior da presença de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
II
Agora, quanto à manifestação pública. Já se viu pecadores, profanadores do augusto Sacramento castigados abertamente pela sua audácia. É Jesus afirmando sua justiça.
Antes da comunhão de Judas, o demónio tentava-o apenas, mas, mal acaba ele de receber sacrilegamente o Corpo de seu Deus, apodera-se dele Satanás: "Et introivit in eum Satanás".
São Paulo descobriu nas Comunhões tíbias, ou más, dos coríntios a razão de sua apatia, de seu sono letárgico na prática do bem. A história narra-nos exemplos terríveis de comungantes indignos, feridos subitamente pela Justiça Divina, ultrajada na Eucaristia.
Jesus manifesta ainda sua Força contra o poder infernal. Nos exorcismos, quando, depois de recorrer inutilmente a todos os meios para vencer os demónios, o exorcista lhes apresenta a Hóstia Santa, eles, soltando gritos de raiva, recuam ante seu Deus presente. Em Milão, S. Bernardo, depois do Pater, coloca o Cálice e a Patena sobre a cabeça de um possesso e o demónio, uivando furiosamente, retira-se. Jesus Cristo, Deus, lá estava.
Quantos doentes curados pela Eucaristia. Não nos é dado conhecer todos os factos desta natureza, mas, afirma a história, Jesus continua a curar os enfermos pela virtude do Santíssimo Sacramento. S. Gregório Nazianzeno conta-nos um episódio comovente. Sua irmã, doente há longo tempo, levanta-se de noite, prosterna-se em frente ao Tabernáculo Santo e, no fervor de sua fé, exclama: "Senhor, não me retirarei daqui sem estar curada por Vós". E levanta-se sarada.
Finalmente, quantas aparições de Nosso Senhor sob formas diversas! Agrada-lhe renovar, de vez em quando, o milagre do Tabor. Tais manifestações não são necessárias, pois temos a mesma palavra da Verdade, mas servem para atestar a eficácia da Palavra de Jesus Cristo.
Sim, Senhor Jesus Cristo, cremos que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar, presente verdadeira e substancialmente. Aumentai, intensificai nossa fé.
Fonte:São Pio V