segunda-feira, 23 de março de 2009
CARDEAL SIRI -PROGRESSISMO
Progressismo - Cardeal Siri - Parte V
9. O antijuridicismo
Quem o afirma é sempre considerado verdadeiro progressista. Nem todos têm a coragem de dizer que toda lei deveria ser abolida, mas muitíssimos o pensam; e não desejam dar-se conta de que a lei é o único instrumento dos homens livres para manter a ordem e com o menor dano para eles. A afirmação já está no extremo confim da razoabilidade.
A mania é como um vento do deserto, que tudo queima e se acha em toda parte, mesmo sob falsas cinzas. Enumeramos as mais óbvias aplicações, em cuja armadilha cai um número enorme de pessoas, embora fosse possível evitar, em tempo útil, as danosas consequências.
Em toda parte desejam Assembleias: elas indicam, elas decidem. A razão? O número dissolve e aniquila – assim creem – aquele que comanda, o regulamento que limita. Autoridade e regulamentos são instrumentos – além do mais – também jurídicos. Uma vez que não poucos percebem como vão terminar as Assembleias, procuram restringi-las e usar qualquer coisa que se assemelhe a uma “assembleia reduzida”, com algum regulamento e com um responsável. Sim, falamos de “responsável”, porque o terror de maquiar-se de juridicismo é tal que não se quer mais ouvir chamar-se “presidente”, termo muito jurídico, e é possível salvar-se com uma simples variação lexical.
Outra forma é o uso impróprio da palavra “base”. Dizemos impróprio porque o termo pode ser usado também em sentido correto. Mas o uso mais recorrente é aquele em que o medo do temível juridicismo é tal que faz temer as “responsabilidades” (termo jurídico e moral) e portanto tudo se deposita sobre a “base”.
Não dizemos de fato que os termos, aqui propostos como exemplo das posições contrárias ao juridicismo, sejam perversos. Pelo contrário! Dizemos apenas que escondem, na boca de alguns, uma fraqueza.
Para falar claramente, dizemos que escondem facilmente uma “hipocrisia”. Muitos – o que se pode observar nos grupinhos, mesmo nos menores – temem dizer-se “chefe” ou “presidente”, mas aspiram de toda forma, inclusive violentas, a se tornar “tiranos”.
A verdade é esta: os homens livres se freiam, de maneira a realizar uma compatível vida social, somente de dois modos: “a violência ou a lei”. Recordemos que o medo é um reflexo da violência.
Não se quer a lei? Escolhe-se a violência?
E isto seria progresso? Sabem exatamente o que dizem e o que escrevem?
Quando foi publicado – como rascunho – um esboço de “Lei Fundamental” para o futuro Código de Direito Canônico, foi o fim-do-mundo, também e sobretudo em alguns ambientes católicos. A razão não era tanto o fato de que o esboço punha conjuntamente e pouco oportunamente elementos de direito divino e elementos de direito humano (o que teria sido um bom motivo para criticá-lo), mas somente porque era uma “Lei”. Preferiam os sermões.
A contestação na Igreja estava toda aqui ou, ao menos, originalmente aqui. E nascia de uma falta de lógica, como fica evidente pelo que foi dito acima e pelo fato de que a força substituiu a lei. E pensar que a gritar mais forte eram as pessoas acostumadas a cantar nas Laudes e Vésperas o hino à “divina” liberdade do homem, ou melhor, da “pessoa humana”!
Eis aonde se chega em virtude de se esvaziar a Teologia e zombar do velho Catecismo pelas suas ideias claras e precisas.
Continua...
O progressismo - do Cardeal Giuseppe Siri [in «Rivista Diocesana Genovese», janeiro de 1975, pp. 22-36]
Fonte: Pontifex
Tradução: OBLATVS