domingo, 3 de maio de 2009
MONS. FELLAY: o “espírito do Vaticano II”, o qual percebemos com evidência que é a origem e a causa principal dos actuais infortúnios da Santa Igreja"
Carta do Superior-Geral
Não se trata de nossas pessoas, mas de uma atitude que, durante os séculos, tem sido a de todos os membros da Igreja e que continua sendo a nossa, oposta à do novo espírito, baptizado de “espírito do Vaticano II”, o qual percebemos com evidência que é a origem e a causa principal dos actuais infortúnios da Santa Igreja. Portanto, a motivação fundamental de nossa acção e de nossas relações com as autoridades romanas sempre foi, prudentemente, fazer de tudo pelo retorno da Igreja àquilo de que ela não pode se privar sem correr rumo ao suicídio.
Nossa situação é muito delicada: por um lado, reconhecemos essas autoridades, tanto romanas quanto episcopais, como legítimas, mas, por outro lado, contestamos algumas de suas decisões, pois se opõem, em diversos níveis, àquilo que o Magistério sempre ensinou e ordenou. Não há nisso qualquer pretensão nossa de nos pormos como juízes ou de escolher aquilo que nos apraz. Trata-se simplesmente da constatação extremamente dolorosa de uma oposição que fere nossa consciência e Fé católicas.
É de tal modo claro para nós que a questão da Fé e do espírito da Fé vem em primeiro lugar, que não podemos considerar uma solução prática antes de a primeira questão ser resolvida com certeza. A Igreja, nossa Mãe, sempre nos ensinou que devemos estar prontos a perder tudo, até mesmo a vida, para não perder a Fé.
O que é estranho é que os golpes agora vêm de dentro da Igreja, e é precisamente aí que está o drama que estamos vivendo.
A resposta a um dos pontos em 2007, o Motu Proprio
Em 2007, o novo Soberano Pontífice Bento XVI finalmente concedeu o primeiro ponto que havíamos pedido, a Missa tradicional para todos os padres do mundo inteiro. Somos profundamente gratos por esse gesto pessoal do Papa. E causa-nos uma alegria imensa, pois temos uma grande esperança de que possamos ver aí uma renovação para todo o Corpo Místico. Contudo, o motu proprio tornou-se, devido à própria natureza daquilo que ele afirma e restitui —a Missa tradicional—, o objecto do combate que mencionamos acima: pois o culto tradicional opõe-se ao culto que pretendeu ser “novo”, o “novus ordo missæ”.
Tornou-se ocasião de briga entre, de um lado, os progressistas, que falam da boca para fora de sua plena comunhão eclesial ao mesmo tempo que se opõem mais ou menos abertamente às ordens e disposições do Soberano Pontífice, e, de outro lado, os conservadores, que consequentemente vêem-se em situação de resistência a seus bispos... Então a quem se deve obedecer? Os progressistas sabem muito bem que o que está em jogo é muito mais que uma disputa litúrgica. Apesar dos esforços do motu proprio de minimizar a oposição afirmando a continuidade, o que está em jogo é o destino de um concílio que se quis pastoral e que foi aplicado de tal modo que já Paulo VI pôde falar em “autodemolição da Igreja”.
A esperança de que o segundo ponto se realize bem depressa
Confrontados com estas novas dificuldades, tomamos a liberdade de apelar novamente à vossa generosidade e, em vista do sucesso de nossa primeira Cruzada do Rosário para obter o retorno da Missa Tridentina, gostaríamos de oferecer a Nossa Senhora um novo buquê de um milhão de terços para obter, de sua intercessão, a retirada do decreto de excomunhão. A partir de 1.º de novembro até o Natal, tomaremos a peito rezar com fervor renovado para que o Santo Padre, nestas horas difíceis da história, possa cumprir com fidelidade suas augustas funções em conformidade com o Sagrado Coração de Jesus, para o bem de toda a Igreja. Estamos intimamente persuadidos de que um gesto desses vindo do Soberano Pontífice produziria efeitos tão profundos no Corpo Místico quanto a liberdade da liturgia tradicional.
Com efeito, a excomunhão não nos separou da Igreja, mas separou um bom número de seus membros do passado da Igreja, de sua Tradição, daquilo de que ela não pode se despojar sem sofrer grave dano. É evidente que a Santa Madre Igreja não pode ignorar seu passado, ela que recebeu tudo e que ainda hoje recebe tudo de seu divino fundador, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pois pela excomunhão, foi a própria atitude que especificava o combate do Arcebispo Lefebvre que foi fustigada e penalizada, este relacionamento com o passado da Igreja, com sua Tradição. Desde então, por causa dessa reprovação, muitos temem vir às fontes da água viva, as únicas capazes de trazer dias bons à nossa Santa Madre Igreja. Todavia, o Arcebispo Lefebvre não fez nada além de adotar a atitude de um São Paulo, ao ponto de ele pedir que em seu túmulo fosse gravado “tradidi quod et accepi”: eu transmiti aquilo que recebi. Não escreveu o próprio São Pio X que os “verdadeiros amigos da Igreja não são os revolucionários, nem os inovadores, mas os tradicionalistas”?
Eis por que, caros fiéis, relançamos uma Cruzada do Rosário por ocasião de nossa peregrinação a Lourdes para o 150.º aniversário das Aparições da Santíssima Virgem. Agradecemos à Mãe de Deus por sua maternal proteção durante todos esses anos, e especialmente pelos vinte anos desde as consagrações episcopais, e confiamos a ela todas as vossas intenções pessoais, familiares e profissionais. A ela confiamos nosso futuro e imploramos por esta fidelidade à Fé e à Igreja sem a qual ninguém pode trabalhar por sua salvação. Agradecendo-vos de todo o coração por vossa generosidade incansável, que nos permite continuar a magnífica obra fundada pelo Arcebispo Lefebvre, pedimos à nossa boa Mãe do Céu que vos proteja e vos guarde a todos em Seu Imaculado Coração.
+ Bernard Fellay