segunda-feira, 18 de maio de 2009
O Instituto do Bom Pastor acaba de lançar um site de estudos teológicos chamado “Disputationes theologicae”
Cerimônia de beija-mãos do Padre Stefano Carusi (centro) e Diácono Raffray à direita do padre.
O coordenador do projeto é o Padre Stefano Carusi (centro), que conta com a colaboração do Diácono Matthieu Raffray (à direita do padre). Ambos foram também os responsáveis, a convite da Fraternidade de Cristo Sacerdote e Maria Rainha, pela instrução de quinze sacerdotes no Rito Tradicional nas I Jornadas de Formação Litúrgica para Sacerdotes, em novembro do ano passado, em Cuntis e Pontevedra, Espanha.
Conforme o Padre Phillipe Laguérie, superior geral do Instituto, a iniciativa “participa deste trabalho de interpretação e de recepção do Magistério autêntico pedido aos membros do Instituto no ato da sua fundação”. Trabalho já realizado desde 1997 de maneira informal pelo G.R.E.C. - Grupo de Reflexão entre Católicos – em reuniões onde se encontram representantes de todas as tendências dentro do mundo que se convencionou chamar “Tradição católica”: Fraternidade São Pio X, Fraternidade São Pedro, Instituto Cristo Rei, Instituto do Bom Pastor, etc, e que agora vai tomando um caráter oficial dentro dos muros eclesiais com o este trabalho do IBP e as vindouras discussões doutrinais entre Santa Sé e Fraternidade São Pio X.
A arte sutil de contornar as perguntas embaraçosas e espinhosas.
Segundo o Abbé Carusi, “já há alguns anos os estudos eclesiásticos parecem esmorecer num estado que, sem ter renunciado ao debate teológico, contudo, voluntariamente pôs de lado a instituição da disputa teológica, afogando a ciência de Deus numa vulgata que canta em uníssono e que freqüentemente renuncia à especulação rigorosa, ao aprofundamento convincente, à argumentação estruturada, à refutação decidida de uma tese falsa”. Segundo o Padre, o irenismo teológico contemporâneo “parece ter levado um número de teólogos a produzir publicações prolixas (…) que se distinguem sobretudo pela ausência de escolhas teológicas e pela arte sutil de contornar as perguntas embaraçosas e espinhosas”
A crise no cerne da Cristandade.
Continua o padre: “Em muitas universidades, infelizmente mesmo romanas – nas quais alguns dos nossos colaboradores estudam ou ensinam – pura e simplesmente se renunciou a fazer teologia. Assiste-se assim a uma inversão da atitude acadêmica que deixa cada dia mais perplexo: enquanto são postos em discussão dogmas solenemente definidos, é impossível aprofundar e mais ainda contestar teses que são, na melhor das hipóteses, simples opiniões teológicas”.
O valor “magisterial” dos documentos do Concílio Vaticano II.
Sobre o assunto o site publica a opinião de Mons. Brunero Gherardini, o último grande teólogo da chamada “Escola Romana”, decano da faculdade de teologia da Lateranense e cônego da Basílica de São Pedro desde 1994. Autor de cerca de oitenta obras e inúmeros artigos, sua última publicação trata do diálogo inter-religioso sob o título “Que acordo entre Cristo e Belial?”
Afirmando que todo Concílio, independente de seu caráter, tem um valor magisterial e é sempre o Supremo Magistério da Igreja, Mons. Brunero distingue que isso não significa que seja absolutamente vinculante de modo a requerer um assentimento incondicional, que engaje a fé, de todos, embora o fato de provir de uma cátedra de tão grande autoridade nos requeira uma homenagem religiosa interna e externa.
Relembrando as palavras de Mons. Pericle Felice acerca dos limites impostos ao caráter vinculante do Concílio Vaticano II por João XXIII, Mons. Brunero não exclui a possibilidade de haver erros nos documentos do Vaticano II. Depois de cinqüenta anos de euforia pelo hosana contínuo que cercou o Concílio, “no entanto os problemas não faltam, e são extremamente sérios. Não falo, evidente, de heresia, mas de sugestões doutrinais que não estão na linha da Tradição de sempre e que não se pode por conseguinte facilmente conduzir ao “quod semper, quod ubique, quod ab omnibus” do Padre de Lérins, dado que lhes faltam a continuidade do “eodem sensu eademque sententia” de seu Commonitorium”.
Por fim, Mons. Brunero sintetiza seu pensamento « salvo meliore iudicio » ao concluir que o “Concílio Ecumênico Vaticano II é indubitavelmente magisterial; sem dúvida alguma ele não é dogmático, mas pastoral, dado que sempre se apresentou como tal; suas doutrinas são infalíveis e irreformáveis somente onde são retiradas de declarações dogmáticas; as que não gozam de fundamentos tradicionais constituem, tomadas em conjunto, um ensino autenticamente conciliar e portanto magisterial, embora não dogmático, que gera por conseguinte não a obrigação de fé, mas um acolhimento atento e respeitoso, na linha de uma adesão leal e deferente; aquelas, finalmente, cujas novidades aparecem inconciliáveis com a Tradição ou mesmo opostas a ela, poderão e deverão ser seriamente submetidas a um exame crítico com base na mais rigorosa hermenêutica teológica”.
Fala um dos fundadores.
Pe. Christophe Héry, um dos fundadores e assistente geral do Instituto do Bom Pastor, ordenado padre por Mons. Lefebvre em 1988, é um dos protagonistas do acordo com a Santa Sé e da convenção do IBP com a diocese de Bordeaux; publicou recentemente a obra “Non-lieu sur un schisme” na qual refuta magistralmente as acusações de cisma por conta das sagrações episcopais de 1988 realizadas por Mons. Marcel Lefebvre.
O Instituto do Bom Pastor recebeu as atenções especialmente por causa de sua exclusividade litúrgica pelo rito tradicional, mas segundo o Padre ele merece maior atenção sobretudo por conta de sua posição com relação ao Concílio Vaticano II. Conforme Pe. Hery, “alguns desejam que seja dado ao concílio ‘um assentimento inequívoco’. Ora, não há equívoco na nossa posição. Trata-se de uma missão de vigilância teológica. Ela se inscreve na clareza do pensamento do papa. Perante o falso ‘espírito do Concílio’ que ele nominalmente rejeitou em 22 de Dezembro 2005 perante a Cúria como causa de ‘rupturas’, ‘em vastas partes da Igreja’, Bento XVI afirma que é chegado o tempo de submeter o texto do Vaticano II a uma releitura para dar-lhe uma interpretação autêntica, ainda por vir. Nesta perspectiva, somos convidados por nosso ‘empenho fundador’ (assinados no dia da nossa fundação), a participar de maneira construtiva num trabalho crítico. O debate fundamental, sufocado há quarenta anos, se abre enfim na Igreja sem espírito de sistema nem de revanche, sobre os pontos de descontinuidade doutrinal postos pelo concílio Vaticano II, sujeitos a reservas”.
Para o pe. Hery, por ter se proclamado ‘pastoral’, o “Vaticano II não se impõe à Igreja como objeto de obediência absoluta de fé (cf. Canon 749), mas como objeto ‘de recepção’” que deve dar-se através de “uma vasta operação de pôr em questão (no sentido escolástico); de esclarecimento (no sentido de discernir) entre o que vale ser guardado e o que não o vale; e além disso, uma interpretação correta do que pode ou deve ser guardado”.
Continuem!
Bento xvi e Abbé FourniéNum encontro com o Papa Bento XVI na Praça São Pedro no dia 1º de abril, alguns membros do Instituto do Bom Pastor, encabeçados pelo Padre René-Sébastien Fournié, receberam do Santo Padre um incentivo para seu apostolado na Cidade Eterna. Pe. Fournié falou ao Santo Padre do documentário apresentado por KTO (televisão da diocese de Paris) sobre a casa do IBP em Roma, que respondeu: “Eu o vi”. O IBP acaba de se mudar para uma casa maior e mais apropriada para receber os clérigos que estudam na cidade. Além dos estudos, o apostolado na Cidade Eterna se volta também para as confissões administradas pelo Pe. Fournié e as aulas de catecismo dadas pelos seminaristas numa paróquia romana. Após dar algumas lembranças e agradecer o Santo Padre por “agir e sofrer pela paz da Igreja”, o grupo recebeu do Sumo Pontífice seu incentivo: “Continuem!”.
Fonte:fratres in unum