segunda-feira, 8 de junho de 2009
“Mas que festa? A liturgia é um drama”: afirma Monsenhor Nicola Bux, teólogo e liturgista de clara fama.
A liturgia é um drama, não uma festa. Hoje não se contempla mais a Cruz, frequentemente deixada como um adorno. Celebrar voltados ad orientem a segunda parte da Missa tem um sentido escatológico e recupera o sentido do sagrado.
“Mas que festa? A liturgia é um drama”: afirma Monsenhor Nicola Bux, teólogo e liturgista de clara fama. Com ele confrontamos o tema do sentido do sagrado na liturgia: “Creio que este sentido do sagrado se poderá recuperar quando compreendermos que a Missa não é de modo algum um espetáculo, uma diversão ou uma propriedade do sacerdote, mas um próprio e verdadeiro drama. Frequentemente enchemos a boca com a palavra festa, mas que festa? Na Missa recordamos o sacrifício de Cristo, eis a verdade. Cristo se imolou por nós e aí se usa a palavra festa. Só é correto falar de festa depois de termos compreendido e aceitado o conceito de que Cristo deu a vida por nós. Então, é lícito falar de festa, mas nunca em primeiro lugar”.
Depois acrescenta: “Uma boa liturgia deve ter a cruz ao seu centro, mas esta, sempre mais frequentemente colocada ao lado, ou em lugares pouco visíveis, perdeu o seu verdadeiro e autêntico significado. Parece muito mais um acessório do que um centro de adoração. Às vezes tenho a sensação de que uma cruz no centro do altar incomode, quase como se causasse um impacto. Para ser radical: na maioria das vezes ninguém olha para ela”.
Mons. Bux fala do conceito de devoção: “Para devolver à liturgia o sentido do sagrado, é necessário a devoção. Chega de missas celebradas como se fosssem acontecimentos mundanos e entretenimento. É necessário a devoção, o encontro com a face de Deus. Mas infelizmente isto acontece muito, muito raramente. Sem um encontro com a face verdadeira de Deus, sem devoção, a Missa se torna um ritual, uma auto-celebração do sacerdote que não tem sentido algum”.
Provocatoriamente mons. Bux se questiona e questiona: “Quantos hoje, celebrando a Missa, voltam o olhar para Deus e para a cruz? Poucos, eis porque o sentido do sagrado vai se atenuando em nossas missas”.
E agora, o que fazer? "Penso que uma boa ideia possa ser a seguinte: na segunda parte da Missa, do ofertório em diante, o sacerdote poderia celebrar voltado para a cruz, ad orientem".
Por que razão "ad orientem"? "Deste modo, os fiéis não veriam mais a figura do sacerdote, que não é o protagonista, mas junto a ele, contemplam a cruz, o mistério".
Por isso, então, uma posição "ad orientem" na segunda parte da Missa: "Parece-me conveniente. Desta maneira a liturgia ganharia valor mormente escatológico, de mistério e adoração, e as próprias pessoas começariam a compreender e a apreciar o valor escatológico, para usar um termo difícil, da liturgia. Olhar para o oriente equivale a contemplar o Senhor que vem, penso que esta posição, usada enfim pelos orientais, possa ajudar a encontrar maior recolhimento. Eis a minha modesta proposta para uma reforma gradual e sensata: olhar para o oriente na segunda parte da Santa Missa".
Numa entrevista que nos concedeu há alguns dias o histórico Franco Cardini falou de crise do sentido do sagrado: "É necessário ver em que sentido se fez esta afirmação. Mas o sentido do sagrado é Deus. Aparentemente este sentido do sagrado, isto é, de proximidade e procura de Deus, hoje parece ofuscado realmente. Mas eu não seria tão pessimista. No fundo, o homem por natureza sempre procura a Deus. Muitas vezes mesmo por comodidade pessoal ou com formas corrompidas e confusas como a superstição ou a magia, mas enfim o que se procura é o contato. A aliança com Deus, mesmo egoisticamente, convém ao homem".
De Bruno Volpe (22/04/2009)
Fonte: Pontifex.Roma
Tradução por Luís Augusto - membro da ARS
fonte:associação Redemptoris Sacramentum