sábado, 20 de fevereiro de 2010

A beleza, a determinação, a cobardia e a anestesia

Manifestação pela Família e pelo Casamento


1. Perante aqueles milhares de pessoas rodeadas de alegria, aquela que se exprime e brota dos vínculos esponsais, paterno/maternais e filiais, isto é, dos laços de amor de uma família verdadeira, apetecia exclamar com a simplicidade que o faz o nosso povo: coisa linda! Que beleza! Não havia ódio nem crispação naqueles rostos bondosos e joviais que se preparavam, na praça do Marquês de Pombal, para o desfile pela avenida da Liberdade até à praça dos Restauradores. Estavam ali avós de cabeças nevadas, muitos filhos casados e ranchadas de netos. Sentia-se, apesar do frio e do vento cortante, um ambiente de família alargada à lareira em noite de consoada. Era uma intimidade cúmplice e confiante de quem, apesar de estar alerta por saber que há um assédio de alcateia que quer arrombar, dilacerar e devorar, se ampara mutuamente. Pouco mais de meia dúzia de pastores Presbíteros irradiavam o Mistério maior que os ultrapassa e que deles transborda, sem mérito algum de sua parte, fortalecendo os presentes.

2. Dada a ordem de marcha, encabeça a manifestação uma larga faixa por detrás da qual se divisa uma Imagem de Nossa Senhora de Fátima, alçada por sobre as cabeças. O tom está dado, a Sagrada Família, representada pela Virgem Maria, abençoa e participa na procissão. Se Ela veio, pensei de mim para mim, ainda bem que não faltei.

Começaram então as palavras de ordem, aquelas frases concisas e acutilantes, fáceis de memorizar, que são utilizadas para comunicar uma mensagem, para exprimir uma ideia, para congregar uma multidão, para congraçar as vontades. Mas o modo como se vozearam foi impressionante. Era como um urro tremendo de ursa que defende as suas crias, um bramir de leão que vê o seu ambiente ameaçado, um rugido uníssono, profundo, das entranhas, como um vulcão prestes a lançar espantosas labaredas de fogo purificador. Não se tratava de uma raiva, detestação ou desprezo por qualquer pessoa ou grupo, mas era uma convicção sólida, uma determinação telúrica, uma firmeza inabalável que afirmava uma verdade primordial, universal, sobre a qual assenta a humanidade do homem, a vida social, as relações justas, o amor genuíno.

Ouvi numa estação emissora que seriam cerca de 5 mil pessoas, para mais que não para menos. Mas eram comandos, tropas de elite, do mesmo Amor que iluminou e possuiu São Paulo. Não foram arrebatados, tanto quanto sei, ao terceiro Céu, como o Apóstolo, mas sabem, como ele, o que têm de sofrer pelo Evangelho e perseveram com Cristo nas suas provações.

3. No meio da multidão reconheci um oficial, Tenente-Coronel, homem de oração e de coragem. Cumprimentou-me com a cortesia marcial própria dos militares. De olhar firme e rosto grave perguntou-me onde estavam os Bispos. Adiantou que compreendia muito bem que os “Generais” tivessem que se resguardar com alguma diplomacia, salvaguardar algumas distâncias, mas que em ocasiões como esta os “Generais” têm que sair â frente das tropas, têm que estar na linha da frente, na primeira fila.

4. Será que é a ausência de “Generais” que explica os diminutos milhares de pessoas que se mobilizaram em prol do casamento e da família? Como é possível que em assunto de tanto melindre e de consequências tão devastadoras para a sociedade esteja a maioria dos portugueses tão anestesiada que é incapaz de dar uma tarde de Sábado para defender-se e aos seus. Que significa esta estupidificação geral? Esta indiferença letal?

Estará esta gente, e em particular os católicos, tão cega que não entenda que a desgraça que se abate sobre o país com estas “leis” iníquas e injustas provocará muitíssimas mais vítimas do que a catástrofe que hoje se abateu sobre a Madeira?!

Povo obstinado e de coração duro! Povo lisonjeado por quem te engana e por quem te devia defender! Povo verdadeiramente desgraçado que te deixas seduzir pelas manhas de Satanás! Povo imbecil que corres atrás da flauta daquele que te quer afogar e rejeitas e repudias quem te diz a verdade e te quer salvar! Povo infeliz, pagarás caro a tua cegueira e a tua obstinação! Povo miserável, choro porque tu não choras! Choro porque não te arrependes nem queres abrir os olhos e mudar e seguir os caminhos do Senhor! Julgas-te inteligente e és néscio! Toma consciência do estado em que estás tu que te rebolas e chafurdas no teu próprio vómito! Arrepende-te e converte-te que o Senhor te purificará, te aperfeiçoará e te elevará! E serás a sua alegria e o seu contentamento, partilhando da felicidade que só Ele te pode conceder.

Nuno Serras Pereira

fonte:Logos