"É preciso fazer todas as ações com Maria, isto é, em todas as ações olhar Maria como modelo acabado de todas as virtudes e perfeições"  |               
Fazer todas   as ações “com Maria” é ser contra-revolucionário na perfeição  |                     
Plinio Corrêa de Oliveira
“É  preciso  fazer todas as acções com Maria, isto é, em todas acções olhar Maria como   modelo acabado de todas as virtudes e perfeições que o Espírito Santo  formou  numa pura criatura, e imitá-la na medida de nossa capacidade.  Cumpre, portanto,  que em cada acção consideremos como Maria fez ou faria  se estivesse em nosso  lugar. Devemos por isso  examinar e meditar as grandes virtudes que Ela praticou  durante a  vida, especialmente: 1º)  Sua fé viva pela qual creu fiel e  constantemente até o pé da cruz sobre o  calvário; 2º) Sua humildade  profunda que A levou a esconder-se e calar-se  e submeter-se a tudo, e a  colocar-se em último lugar, 3º) Sua pureza  divinal que jamais teve nem  terá semelhante sob o céu. E, por fim, todas as  outras virtudes. ”Lembrai-vos,   repito em uma segunda vez, que Maria é o grande e único molde de Deus,  próprio  para fazer imagens vivas de Deus, com pouca despesa e com pouco  tempo. E que  uma alma que encontrou este molde e que nele se perde,  fica em breve inundada  em Jesus Cristo aí representado ao natural.” (São   Luís Maria  Grignion de Montfort, "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima  Virgem", 19ª edição – Editora Vozes – Petrópolis, 1992.)  |                     
     * Fazer  as ações "com Maria" é essencialmente ter  Maria como modelo ou  molde 
     O  pensamento  de fazer as ações com Maria é essencialmente ter  Maria como modelo. Por  que ter Maria como modelo é fazer as ações "com  Maria"? Por que a palavra  "com" se aplica aí?[1]
Fazer as ações "com Maria" supõe uma compreensão das altíssimas virtudes d’Ela, e um hábito de vigilância interior e introspecção contínua  |                       
     Aplica-se  por  causa da idéia do molde, que ele desenvolve no Tratado da Verdadeira   Devoção. Ele mostra a diferença entre um estatuário esculpir uma  estátua e  uma pessoa fazer uma estátua com  molde. Num molde de ferro,  metal ou   madeira, o trabalho é muito mais simples, é só aplicar gesso  ali, deixar que  seque e sai a figura que se quer obter. Enquanto que o  trabalho do escultor —  do estatuário que faz com formão e martelo a sua  estátua — é um trabalho muito  maior, muito mais arriscado. Às vezes  parte um pedaço do mármore, acontece uma  coisa ou outra... Enquanto que  fazendo no molde é rápido, é barato e é seguro,  porque é certo que a  figura assim modelada sai parecida com o original. 
     Diz  ele que  Nossa Senhora é o molde de Nosso Senhor Jesus Cristo. E que  Ela é também, para  nós, o nosso molde. Quer dizer: se nós nos  modelarmos inteiramente conforme  Ela,  como Ela é o molde de Cristo e   nós somos o gesso aplicado àquele molde,   ficamos parecidos com Nosso  Senhor Jesus Cristo. Ter a Ela como  modelo, é ter a Ela como molde; ter  a Ela como molde, é fazer tudo com Ela. Este  é o sentido de fazer "com  Ela".
     * Como fazer as ações tendo Maria como modelo: 1º) ter  idéia clara das virtudes que Ela praticou; 2º)  saber ver em si mesmo com vigilância interior se  de fato em todas as  ações  a imitamos
     Agora,  como  é que se tem Maria como modelo? Ele dá alguns elementos para  isto.
     1º)  O primeiro  elemento é tê-la em vista em todas as ações que se pratica.  O que supõe um  hábito de vigilância interior, um hábito de  introspecção contínua. Se para cada ação que faço devo ter Nossa Senhora  como modelo, devo ter  muita atenção posta em cada uma das minhas  ações. É inevitável. Devo ver com  clareza como é minha ação,  devo  saber analisar minha ação. Está de acordo  com Nossa Senhora ou não?  Então, supõe muita vigilância, muita atenção sobre  mim mesmo. Supõe que  se tenha um tipo de alma que o dia inteiro está a par do  que acontece  dentro de si mesma,  capaz de formar um juízo sobre o que está  fazendo.
     2º) De   outro lado, supõe que a alma conheça bem Nossa Senhora, tenha idéia de  qual é o  ideal que deve imitar. Até, numa ordem inteiramente lógica,  se deveria dizer a  coisa de um modo diferente: primeiro, ter uma idéia  clara do ideal que se deve  imitar, e, em segundo lugar, saber ver em si  mesmo se está de fato imitando  aquele ideal.
     * As   principais virtudes de Nossa Senhora a serem imitadas — fé, humildade e  pureza — são virtudes eminentemente  contra--revolucionárias
     Ele  indica a  imitação das virtudes de Nossa Senhora e, na imitação dessas virtudes,   indica três principais: a fé, a humildade e a pureza, três virtudes   eminentemente contra-revolucionárias.[2]
     A fé é o   fundamento de toda virtude. Sem ela, nenhuma virtude merece  verdadeiramente ser  chamada virtude. Ela é a raiz de todas as virtudes.  Quando uma planta não tem a raiz sadia, toda ela padece, porque todo  o  seu sistema de nutrição, ou pelo menos grande parte dele, fica  prejudicado. Assim também:  a Igreja Católica é o solo, a nossa fé é a  raiz com que nossas almas imergem  neste solo bendito que é a Igreja  Católica. O solo da  Igreja Católica é sempre fecundo, o problema é  saber se nossa fé é viva, se a  raiz de nossa virtude é viva. 
     * A  virtude da fé em Maria pode ser vista  de modo separado e distinto ou  também em conexão e correlação com  outras virtudes 
     São Luís  Grignion de Montfort toma a palavra fé  em dois sentidos. Ele a toma no  sentido de crer em tudo que a Igreja ensina.  Mas também em outro  sentido: é uma confiança em Deus por onde, nas  circunstâncias mais  adversas, se está certo de que a bondade de Deus não nos  desampara. E   apresenta   o exemplo supremo: Nossa Senhora deu prova da fé, em ambos  os  sentidos da palavra,  ao pé da Cruz, no alto do Calvário. [3]
     Ela ali  tinha,  antes de tudo, uma prova para a fé, quer dizer, quanto à crença. Porque   é verdadeiramente terrível para Ela, Mãe de Deus, sabendo que seu Filho  era a vítima  inocente por excelência, ver o Filho tratado como um  perseguido pela justiça de  Deus e dos homens.                    Há um  mistério em torno de Nosso Senhor, a partir do  momento do Horto das Oliveiras,  em que se tem a impressão de que toda a  cólera do Pai Celeste, do Padre Eterno,  se descarrega sobre Ele, e de  que todas as coisas acontecem para fazê-Lo  sofrer. É uma seqüência  impressionante de tormentos e de dores que Ele  atravessa, com aquela  grandeza, com aquela serenidade, com aquela resolução, com  aquela  determinação, que vai desde o momento em que começa a suar sangue e a   ter pavor, até o momento em que exclama do alto da cruz: "Meu Pai, Meu   Pai, por que Me abandonaste?" E depois disso, o Consumatum est.  Como  quem diz: "A medida foi cheia, Eu bebi o cálice inteiro".
     Nossa  Senhora,  ou pelas revelações ou a partir do momento do encontro, assiste àquilo   tudo e crê sem um minuto de vacilação. Ela crê no que deve crer. Crê que  isto que parece uma injustiça pasmosa é um pasmoso ato de justiça. Crê  que o  Filho d’Ela se ofereceu para ser o expiador de todos os pecados  do mundo, e  que, portanto, a cólera merecida por todos os pecados do  mundo se descarrega de  fato sobre Ele. E que sublimemente triturado  pela cólera divina, Ele está, com  isto, resgatando o mundo. Que isto  tem um sentido altíssimo, profundíssimo, e  que aí Ele realiza a missão  d’Ele, e Ela realiza a missão d’Ela.                     Ela crê  nisso o tempo inteiro, e esta fé a mantém de  pé junto à Cruz, sem nenhuma  vacilação.
     Mas, de outro  lado, Ela tem uma confiança sem limites na bondade de  Deus. E Ela sabe  que esses tormentos darão numa glória:  na Ressurreição,   na Ascensão,   no Pentecostes,  na glorificação do nome d’Ele em  todas as épocas da  História. Darão naquele momento supremo de glória que é o  fim do mundo,  quando toda humanidade de todos os tempos estiver aos pés d’Ele e  Ele  pronunciar o juízo definitivo em função d’Ele: os que foram d’Ele vão  para  o Céu, os que não foram dEle vão para o inferno.                    Toda esta imensidade de glória Ela sabia que era o  prêmio que a bondade divina  daria a tanta fidelidade. Ela estava ao pé  da Cruz, animada por essa  esperança sublime. Esta era Maria.
     * Nossa  Senhora como modelo de fé, considerada em função dos  problemas de fé  para as novas  gerações e das  aflições de nossa vida particular 
     Poderia se  pôr  também para nós o problema: nas horas de aflição, de dor, de trevas,  temos  esta confiança em Deus? Antes de tudo, cremos com uma fé tão  viva? E, em  segundo lugar, temos essa confiança na bondade de Deus?  Qual é o problema de  crer com esta fé tão viva?
     Se eu   interpreto bem os estados de alma da minha dileta geração-nova — tão   majoritária no auditório, que é  a ela que me dirijo —, se eu  entendo  bem os estados de alma de minha cara geração-nova, os problemas de fé   não se põem propriamente em termos apologéticos. Não é saber se está  provado  que Deus existe ou não, quais são as provas apologéticas de que  Nosso Senhor  Jesus Cristo existiu, de que Ele foi Deus. Tudo isto não  preocupa tanto.
     Mas o problema é  quando  acontece alguma coisa com que não se contava, alguma coisa que  não queríamos, e  que acontece de um modo que não se imaginava. Então  ficamos estupefatos:  "ah! como é que foi isto?" [....]
      Como nós  estamos sob o olhar de Nossa Senhora, as derrotas mais cedo ou mais   tarde revertem em glória. É preciso ter confiança, acreditar na bondade  d’Ela.  E naquilo que é completamente sem sentido, nós fazermos  a  seguinte  pergunta: "O que desta hecatombe aproveitar?"
     É preciso  crer  em tudo quanto a Igreja ensina, em todo o sobrenatural, em toda  a  bondade de Nossa Senhora. É preciso, de outro lado, além de crer nessa   bondade, quando vêm vagalhões que nos parecem dar a entender que essa  bondade  não existe, nós então confiarmos com os olhos fechados.  Confiarmos que virá o momento em que  vai se manifestar — para nosso  caso concreto nesta vida —   uma grande expressão da bondade d’Ela. E  então  veremos isto chegar.
     Esta é a   posição de Nossa Senhora diante das circunstâncias difíceis da vida. É a   posição que Ela  pede que tomemos,  olhando para Ela, pensando: "Ela  é  nossa Mãe e nossa Rainha. Por onde Ela passou, nós devemos passar, e se  Ela  nos deu o exemplo, nós devemos seguir."
     Mas, com uma   diferença, com que colossal e imensa diferença, com que fabulosa  diferença: é  que Nossa Senhora não tem comparação com ninguém, nenhum  ente criado tem  qualquer forma de comparação possível com Nossa  Senhora. Podemos tomar o  mais rutilante dos Anjos, o santo mais  assombroso como virtude, eles não têm nenhuma  comparação possível com  Nossa Senhora. Um grão de areia e o mais belo dos  brilhantes, são muito  mais próximos um do outro, do que o é o mais alto Querubim,  ou o mais  alto Serafim, ou o mais alto santo, e Nossa Senhora.
     Ela sabe  disso e   conhece a nossa fraqueza. E, por causa disto,  é Mãe de  Misericórdia  também num outro sentido:  não nos pede apenas sacrifícios de   estrangular, aflições de escaldar, mas Ela mesma é nossa consoladora.  Socorre os que sofrem, lhes diminui as penas, lhes atenua as aflições,   intervém a propósito de mil circunstâncias para mostrar que  é Mãe. Para   sorrir e para nos fazer entender que não nos será exigido o que foi  exigido  d’Ela. Porque se um de nós tivesse que suportar a dor que Ela  teve num só dos  episódios da Paixão de Nosso Senhor, se desintegraria.  [....]
     Ela muitas   vezes nos dá forças para suportar uma aflição, outras vezes Ela afasta  de nós  essa aflição. Quantas e quantas e quantas vezes! 
     Esta é a posição  que a fé nos ensina que devemos tomar. [....] Aí está a  referência a  Nossa Senhora como modelo de fé, considerada em função das  aflições de  nossa vida particular.
     * A  humildade de Maria é o não querer ser mais do que   é, e  atribuir  a  Deus tudo quanto  tem
     Nós  poderíamos  falar da humildade de Nossa Senhora. Bem entendido, não é uma  humildade  sentimental e adocicada de pessoa que nega tudo quanto Deus pôs nela  e  toda sua própria grandeza. Vê-se isso no Magnificat, quando  Ela diz  que “bem-aventurada a chamarão todas as gerações”.
     Onde está a   humildade d’Ela? Está em compreender que Ela deve atribuir a Deus tudo  quanto   tem; isto sim é humildade. Também está em não querer ser mais  do que Ela é.
     Alguém dirá:   "Mas Dr. Plinio, se Ela era tudo, como não querer ser mais do que  é?".  Há abismos de miséria no homem. Não havia n’Ela, porque era  concebida  sem pecado original. Muitas vezes, quem é mais tem inveja de quem  é  menos, porque  quereria ser o que o outro é, e ter mais do que ele.                    Então, o  sujeito é, digamos, um grande violinista,  mas vê um outro que assobia bem — uma  coisa tão inferior — e fica com  inveja: "Aquele bandido assobia bem, eu  queria saber assobiar também"!
     Nossa Senhora  não tinha inveja dos que eram  menos. Ela estava bem na sua posição.  Estar na sua posição é a verdadeira  humildade.
      * A pureza de Maria 
     E por fim,  São  Luís Grignion de Montfort fala da pureza de Nossa Senhora. Sobre a  pureza  de Nossa Senhora não há o que dizer. Ela é a Santa Virgem das  virgens. Ela é a  Virgem Mãe, Virgem antes, durante e depois do parto.  Ela é o próprio modelo da  pureza. Ela é a fonte da pureza.
     * Seremos  os  contra-revolucionários por excelência, de senso hierárquico e  sacralidade, se formos cheios de fé, humildade e pureza. Seremos contra-revolucionários na perfeição, se  fizermos tudo "com Maria"
     Se formos   cheios de fé, cheios de humildade – quer dizer, de senso hierárquico, de   sacralidade — que atribui tudo a Deus,  e cheios de pureza, seremos os   contra-revolucionários por excelência, porque esse é o  contra-revolucionário.
     Então, fazer   tudo "com Maria" é ser contra-revolucionário na perfeição. Se a tomamos  como  modelo, fica-nos muito mais fácil. Ela nos ajuda. Rapidamente  seremos como Ela,  desde que creiamos inteiramente na eficácia da  devoção a Ela. Quer dizer, desde  que compreendamos que é preciso fazer  como diz São Luís Grignion de Montfort:  fazer tudo muito unidos a Ela.  Se fizermos tudo muito unidos a Ela, tudo  obteremos. Se nos custa a  obter é porque não estamos bem unidos a Ela. Isso é o  que devemos  considerar.
     Conclusão:   pedir a Nossa Senhora com todo empenho que Ela nos dê esta vigilância,   sobretudo nos dê a compreensão das altíssimas virtudes d’Ela, para  fazermos  tudo querendo ser perfeitos contra-revolucionários como Ela,  que é o modelo  supremo, a fonte, o canal, se quiserem, da  Contra-Revolução. Nós nos  transformaremos rapidamente.                     É o que eu  tinha a dizer.
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     Notas  de Sacralidade:
    [1] Plinio Corrêa de Oliveira numa  reunião privada realizada em 26/05/1972 comentou um trecho do Tratado da Verdadeira Devoção à   Santíssima Virgem,  no qual São Luís Maria Grignion de Montfort explica como "Fazer todas  as ações com Maria" (Tratado, nº. 260). 
     O  grande santo francês apresentou as linhas centrais da espiritualidade  mariana: a vida de dependência e de imitação que devemos ter para com  Maria. Para os que são chamados pelo Espírito Santo à mais alta  perfeição,  recomendou quatro práticas interiores muito santificantes:  fazer todas as suas ações  "por Maria, com Maria, em Maria e para  Maria", a fim de fazê-las mais  perfeitamente por Jesus, com Jesus, em  Jesus e para Jesus. Dr. Plinio correlacionou  a prática interior  montfortiana com a Contra-Revolução. 
    [2] As três virtudes  referidas relacionam-se profundamente com a Contra-Revolução, tanto  consideradas no plano da vida espiritual individual quanto no plano  social. Vale lembrar a respeito estas palavras de Plinio Corrêa de  Oliveira: "Se a Contra-Revolução é a luta para extinguir a Revolução e   construir a Cristandade nova, toda  resplendente de fé, de humilde  espírito hierárquico e de ilibada pureza, é claro que isto se fará  sobretudo por uma  ação profunda nos corações. Ora, esta ação é obra  própria da Igreja, que ensina  a doutrina católica e a faz amar e  praticar. A Igreja é, pois, a própria alma  da Contra-Revolução (Plinio  Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte II,  Cap. XII, 5).
     Também  no Catecismo Anticomunista há uma interessante referência às  três virtudes: Virtudes que fundamentam a Cristandade e paixões que  movem a Revolução.
    [3] É oportuno lembrar que  "as virtudes, distintas e separadas na teoria, são inseparáveis  praticamente e mesmo se interpenetram uma à outra"; pois "na ordem  espiritual todas as virtudes, como ensina São Tomás, são conexas e se  condicionam mutuamente". (R. P. H. Petitot, O. P., Introduction a la  Sainteté, Les Editions du Cerf, pp. 38-9.) O mesmo se aplica à  humildade e à pureza.fonte:Sacralidade