segunda-feira, 23 de agosto de 2010
VENERÁVEL PIO XII : Em verdade, a oferta que o Senhor fez de si mesmo sobre o Calvário não foi somente a imolação do seu Corpo; ele ofereceu-se a si mesmo, hóstia de expiação, como cabeça da humanidade, e por isso "enquanto encomenda nas mãos do Pai o seu espírito, encomenda a si mesmo a Deus como homem, para encomendar a Deus todos os homens". A mesma coisa sucede no sacrifício eucarístico, que é a renovação incruenta do sacrifício da cruz: Cristo oferece-se ao Pai pela sua glória e pela nossa salvação. E enquanto ele, sacerdote e vítima, procede como cabeça da Igreja, oferece e imola não somente a si mesmo, mas a todos os fiéis, e de certo modo todos os homens.
2. Necessidade da graça para a santificação
Verdades consoladoras
27. Ninguém ignora, diletos filhos, que não é possível a qualquer cristão, e em especial aos sacerdotes, imitar os admiráveis exemplos do divino Mestre, sem o auxílio da graça e sem o uso daqueles instrumentos da graça que ele mesmo pôs à nossa disposição: uso tanto mais necessário quanto mais elevado o grau de perfeição que devemos alcançar e quanto mais graves as dificuldades que procedem da nossa natureza inclinada ao mal. Por esse motivo, julgamos oportuno passar à consideração de outras verdades tanto mais sublimes e consoladoras, das quais ainda mais claramente ressalta quão sublime deve ser a santidade sacerdotal e quão eficazes são os auxílios que nos dá o Senhor, para que possamos realizar em nossos desígnios da divina misericórdia.
Vida de sacrifício
28. Assim como toda a vida do Salvador foi ordenada para o sacrifício de si mesmo, também a vida do sacerdote, que deve reproduzir em si a imagem de Cristo, deve ser com ele, por ele, e nele um sacrifício aceitável.
A exemplo de Jesus sobre o Calvário
29. Em verdade, a oferta que o Senhor fez de si mesmo sobre o Calvário não foi somente a imolação do seu Corpo; ele ofereceu-se a si mesmo, hóstia de expiação, como cabeça da humanidade, e por isso "enquanto encomenda nas mãos do Pai o seu espírito, encomenda a si mesmo a Deus como homem, para encomendar a Deus todos os homens".(11)
Na santa missa
30. A mesma coisa sucede no sacrifício eucarístico, que é a renovação incruenta do sacrifício da cruz: Cristo oferece-se ao Pai pela sua glória e pela nossa salvação. E enquanto ele, sacerdote e vítima, procede como cabeça da Igreja, oferece e imola não somente a si mesmo, mas a todos os fiéis, e de certo modo todos os homens.(12)
Os tesouros do sacrifício eucarístico
31. Ora, se isso vale para todos os féis, por maior título vale para os sacerdotes, que são ministros de Cristo, principalmente para a celebração do sacrifício eucarístico. E precisamente no sacrifício eucarístico, quando "na pessoa de Cristo" consagra o pão e o vinho que se tornam corpo e sangue de Cristo, o sacerdote pode tirar da mesma fonte da vida sobrenatural os inexauríveis tesouros da salvação e todos os auxílios que lhe são necessários pessoalmente e à realização da sua missão.
Viver a santa missa
32. Enquanto está tão estreitamente em contato com os divinos mistérios, o sacerdote não pode deixar de sentir fome e sede de justiça (cf. Mt 5,6), ou deixar de sentir estímulo para adaptar a sua vida à sua excelsa dignidade e orientá-la para o sacrifício, devendo imolar-se a si mesmo com Cristo. Ele, portanto, não somente celebrará a santa missa, mas a viverá intimamente; somente assim poderá alcançar aquela força sobrenatural que o transformará e o tornará partícipe da vida de sacrifício do Redentor.
Transformação em vítimas com Jesus
33. S. Paulo estabelece o seguinte preceito como princípio fundamental da perfeição cristã: "Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,14). Esse preceito, se vale para todos os cristãos, vale de modo particular para os sacerdotes. Mas revestir-se de Cristo não é somente inspirar os próprios pensamentos na sua doutrina, mas também entrar em uma nova vida, a qual, para brilhar com os esplendores do Tabor, deve conformar-se com os sofrimentos de nosso Salvador no Calvário. Isso comporta em longo e árduo trabalho, que transforme a alma no estado de vítima, para que participe intimamente do sacrifício de Cristo. Esse árduo e assíduo trabalho não se realiza com vãs veleidades, nem se consuma com desejos e promessas, mas deve ser um exercício indefesso e contínuo que leve ao renovamento do espírito; deve ser exercício de piedade, que tudo refira à glória de Deus; deve ser exercício de penitência, que refreie e governe os movimentos do espírito; deve ser ato de caridade, que inflame o ânimo de amor a Deus e ao próximo e estimule a praticar obras de misericórdia; deve, enfim, ser vontade operosa de luta e de fadiga para fazer todo o bem.