Método de São Leonardo de Porto-Maurício (As Excelências da Santa Missa) O desígnio exclusivo do presente opúsculo é levar aqueles que o quiserem ler, a adotar com fervor um método de assistir à Santa Missa, conforme vou expor. Como, porém, muitas maneiras de assistir à Santa Missa, todas louváveis e santas, têm sido ensinadas até hoje, não tenho a intenção de impor-vos a minha. Deixo-vos, portanto, a liberdade de escolher aquele modo que mais vos agradar e vos parecer mais conforme à vossa devoção e capacidade, e farei junto de vós apenas o ofício de Anjo da Guarda, propondo-vos o método mais frutuoso, quero dizer, o que, a meu humilde julgamento, poderá ser para vós mais vantajoso e fácil. Neste fim, distinguimos três classes de métodos. O PRIMEIRO é o das pessoas que, de livro na mão, seguem atentamente todas as ações do sacerdote, a cada uma recitam outra prece vocal que lêem no livro, e assim passam todo o tempo da Missa a ler. Não há dúvida que, se a essa leitura se junta a meditação dos grandes mistérios, é uma excelente maneira de assistir ao Santo Sacrifício e produz também grandes frutos. Visto, porém, exigir atenção excessiva, pois é necessário seguir todas as cerimônias que o sacerdote efetua, e em seguida dirigir os olhos ao livro para aí ler a oração correspondente, torna-se uma prática fatigante, na qual poucas pessoas, creio, hão de persistir, dada a fraqueza do nosso espírito que se enfada facilmente de refletir sobre tantas ações diversas que o sacerdote executa no altar. Enfim, aquele que se acha bem assim e tira proveito espiritual, continue a seguir este sistema; pois à prática tão laboriosa não faltará uma recompensa da parte de DEUS. A SEGUNDA maneira de assistir à Santa Missa é a das pessoas que não se servem de livros e não lêem absolutamente nada durante todo o tempo do santo Sacrifício, mas que, com viva fé, fixam os olhos da alma em JESUS crucificado, e, apoiadas na árvore da Cruz, dela recolhem os frutos por meio de doce contemplação. Passam todo esse tempo em piedoso recolhimento interior e na consideração dos sagrados mistérios da Paixão de JESUS CRISTO, que são, não somente representados, mas misticamente reproduzidos na Santa Missa. É certo que estas pessoas, mantendo suas almas assim recolhidas em DEUS, exercem atos heróicos de Fé, Esperança e Caridade e de outras virtudes, e não há dúvida que esta maneira de assistir à Santa Missa é muito mais perfeita que a primeira, e também mais doce e mais suave, como o atesta a experiência de um bom irmão converso. Costumava ele dizer que, ao assistir à Santa Missa, não lia mais que três letras: a primeira, negra, era a consideração de seus pecados que lhe produziam confusão e arrependimento, e ocupava-o desde o começo até ao ofertório. A segunda era vermelha: a meditação da Paixão de CRISTO, na qual considerava o preciosíssimo Sangue que JESUS derramou por nós no Calvário, sofrendo morte tão cruel; nisto se entretinha até à Comunhão. A terceira letra era branca, pois enquanto o sacerdote comungava, ele se unia a JESUS pela comunhão espiritual, ficando, em seguida, todo absorto em DEUS, contemplando a glória eterna que esperava como fruto do divino Sacrifício. Esse homem simples assistia à Santa Missa com grande perfeição; quisera eu que todos aprendessem dele tão alta sabedoria. O TERCEIRO método para assistir com fruto à Santa Missa, é como que a média dos dois precedentes. Não exige a leitura de inúmeras preces vocais do primeiro, nem obriga a um espírito de contemplação tão elevado como o segundo. Bem compreendido, porém, é o mais conforme ao espírito da Santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote que celebra. Ora, o sacerdote deve oferecer o sacrifício pelos quatro fins explicados na instrução precedente, pois que a Missa, no dizer de Santo Tomás, é o meio mais eficaz de cumprir os quatro grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, já que exerceis de certo modo o ofício do sacerdote, ao assistir à Santa Missa, deveis aplicar-vos quanto possível à consideração dos ditos quatro fins, que atingis muito facilmente se, durante a Missa fizerdes as quatro ofertas indicadas a seguir. Tomai convosco, durante algum tempo, este livrinho, até que tenhais aprendido bem estes atos, ou ao menos até lhes terdes penetrado bastante o sentido, pois não tenho em mira que estejais ligados demais às palavras. Logo que a Santa Missa começa, enquanto o sacerdote se humilha ao pé do altar, dizendo o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai em vosso coração um ato de contrição sincera, pedindo a DEUS perdão de vossos pecados. Implorai, ao mesmo tempo, o auxílio do ESPÍRITO SANTO e da Santíssima Virgem Maria, a fim de assistir à Santa Missa com todo o respeito e devoção possíveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa, para, nessas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes deveres, e isso do modo que segue: Na primeira parte, que irá desde o começo até ao Evangelho, cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos. Para isso humilhai-vos com JESUS, abaixando-vos na consideração do vosso nada, e confessai sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade divina. Dizei-o, humilhando-vos não só em vosso coração, como também exteriormente, pois importa assistir à Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta: “Ó meu DEUS, adoro-vos e reconheço-vos como meu Senhor e o Mestre de minha alma. Tudo que sou, tudo que tenho, reconheço dever a vós. E, como vossa soberana Majestade merece homenagem e adoração infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente incapaz de pagar-vos esta grande dívida, ofereço-vos os méritos das humilhações e homenagens que JESUS vos tributa sobre o altar. O que Ele faz, eu tenho a mesma intenção de fazer. Humilho-me e prostro-me com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas próprias humilhações que JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito-me de que vosso FILHO bem-amado Vos preste por mim homenagem e honra infinitas”. Amém. Fechai agora o livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes: Sim, meu DEUS, regozijo-me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifício, para Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso. Não vos preocupeis em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS. Deste modo tereis saldado bem a primeira dívida. Durante a segunda parte da Santa Missa, do Evangelho à elevação, desobrigar-vos-eis do segundo dever. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados, e vendo a dívida imensa que por eles contraístes com a Justiça Divina, dizei, com o coração humilhado: Eis aqui, ó meu DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vós. Infeliz que sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrição meus enormes pecados, e ofereço-vos em reparação a própria satisfação que JESUS vos dá sobre o altar. Ofereço-vos o CRISTO total, com seu preciosíssimo Sangue, e todos os Seus méritos, DEUS e Homem, que na qualidade de vítima, de novo se sacrifica por mim. Pois que o Senhor JESUS se faz, sobre este altar, meu mediador, meu advogado, e por seu Sangue implora o perdão para mim, eu me uno à voz deste SENHOR tão amante, e vos peço misericórdia por tantos pecados tão graves, que tenho cometido. Misericórdia! Clama-vos o Sangue de JESUS. Misericórdia! Clama-vos meu coração desolado. Ah! Meu adorável SENHOR, se minhas lágrimas não vos comovem, deixai-vos tocar pelos gemidos de JESUS. Por que não obteria Ele para mim, sobre este altar, o perdão que, na Cruz, mereceu para todo o gênero humano? Em virtude deste preciosíssimo Sangue, espero que me perdoeis, também, todos os meus pecados, os quais não cessarei de chorar até meu último suspiro. Amém. Fechai o livro e repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrição. Dai livre curso a vossos sentimentos e, sem confusão de palavras, mas do fundo do coração dizei a JESUS: JESUS adorável, dai-me as lágrimas de São Pedro, a contrição de Madalena, e a dor daqueles santos que, depois de terem sido grandes pecadores, se tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Santa Missa, eu obtenha o mais completo perdão de meus pecados. Amém. Fazei muitos destes atos, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim pagareis completamente todas as dívidas que, por vossos pecados, contraístes com DEUS. Na terceira parte, isto é, depois da Elevação até à Comunhão, considerai os imensos benefícios de que fostes cumulado e, em troca, oferecei a DEUS um presente de valor infinito: o Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO. Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graças a DEUS, por vós, da maneira seguinte ou de outra qualquer equivalente: Eis-me aqui, meu amado SENHOR, cumulado de benefícios, tanto gerais como particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheço que vossas misericórdias para comigo foram e são infinitas. Eis aqui, portanto, em reconhecimento e em paga, este Sangue Divino, este Corpo Sacratíssimo, que vos apresento pela mão do sacerdote. Estou certo de que esta oferenda é suficiente para vos pagar por todos os bens que me tendes concedido. Este dom de valor infinito vale por si todos os dons que recebi, que recebo, e que ainda receberei de vós. Ah! Santos Anjos e vós todos os habitantes do Céu, ajudai-me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em ação de graças não só esta Santa Missa, mas todas as que se celebram neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua bondade tão cheia de amor seja dignamente agradecida, por tantas graças que me concedeu e que quer conceder-me agora e nos séculos dos séculos. Amém Ah! Quanto agradará a nosso boníssimo DEUS tão afetuoso reconhecimento! Como não ficará pago com esta única oferta que vale mais que tudo, porque é de valor infinito! E, para mais excitar estes piedosos sentimentos, convidai o Céu a cooperar convosco. Invocai os Santos aos quais tendes mais devoção e dizei-lhes do fundo do coração: Ó queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de infinita bondade, não viva e morra eu como ingrato. Peco-vos, suplicai-Lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece, por mim, o adorável JESUS. Amém. Não vos contenteis em dizer isto uma vez, mas repeti-o, e ficai certo de que assim chegareis a pagar completamente esta grande dívida. Maior sucesso ainda tereis se cada manhã fizerdes o ato de oferecimento que começa com as palavras DEUS ETERNO a fim de com este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro. Na quarta parte, depois da Comunhão até ao fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote comunga sacramentalmente, fareis a COMUNHÃO ESPIRITUAL. Em seguida, contemplando a DEUS no íntimo de vosso coração, não receeis pedir-Lhe muitas graças, pois neste momento JESUS une-se todo a vós e Ele mesmo ora por vós. Expandi, portanto, vosso coração, pedindo, não coisas de pouca importância, mas grandes graças. Já que tão grande é a oferenda que Lhe fazeis, o seu Divino Filho. Dizei-Lhe, então, com o coração repleto de humildade: Ó meu DEUS, reconheço-me por demais indigno de vossos favores; confesso minha suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e tão grandes pecados, não mereço ser atendido. Como poderíeis, porém, deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este altar, pede por mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? Ó meu DEUS, fonte do Amor, ouvi as súplicas deste poderoso advogado, e, em consideração a Ele, concedei-me todas as graças que sabeis que necessito para realizar o grande trabalho de minha salvação eterna. É agora que ouso pedir-vos o perdão geral de todos os meus pecados e a graça da perseverança no bem. Mais ainda, confiante nas preces de JESUS, peço-vos, ó meu DEUS, todas as virtudes num grau heróico, e todas as graças eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peço-vos a conversão de todos os infiéis e de todos os pecadores e particularmente daqueles a quem estou unido pelos laços do sangue ou por um parentesco espiritual. Imploro-vos a libertação não só de uma, mas de todas as almas do Purgatório: libertai-as todas e que, pela eficácia deste Divino Sacrifício, fique vazia aquela prisão. Peço-vos, humildemente, a conversão de todos os vivos, a fim de que este miserável Mundo se transforme num paraíso de delícias onde sejais amado, reverenciado, adorado por todos no tempo, para depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. Amém Pedi ainda, graças para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e conhecidos; implorai socorro para todas as vossas necessidades espirituais e temporais; rogai para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de todos os males. Rezai muito, especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa, mais do que todos, ele merece sua gratidão. Peça ao boníssimo DEUS a perseverança para ele e, muito especialmente, que faça dele um grande santo. E não façais com negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas orações, unidas às de JESUS, serão atendidas. Terminada a Santa Missa, fazei um ato de agradecimento a DEUS, dizendo-Lhe: Agimus tibi gratias, etc., Se puderdes, ficai uns quinze minutos em Ação de graças, depois saí da Igreja com o coração compungido, como se descêsseis do Calvário. Dizei-me agora: se tivésseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado até ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa alma!? Oh! Que enormes prejuízos vos causastes, quando assistíeis à Santa Missa, olhando para um e outro lado, observando os que entravam e saíam da igreja e, muitas vezes até, conversando ou cochilando, ou, sobretudo, engrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor recolhimento interior. Tomai, portanto, a resolução de adotar este método tão fácil, tão suave, de assistir com fruto à Santa Missa, e que consiste em cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS: não tenhais dúvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de graças especiais, e nunca mais vos virá à idéia dizer: “Uma missa a mais, uma missa a menos, que importa!” |
fonte: http://www.filhosdapaixao.org.br/missa_tridentina/missa_tridentina_metodo_6.htm |