terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ven. Pio XII : " Com clareza não menor, os ritos e as orações do sacrifício eucarístico significam e demonstram que a oblação da vítima é feita pelos sacerdotes em união com o povo. De fato, não somente o sagrado ministro, depois da oferta do pão e do vinho, voltado para o povo diz explicitamente: "Orai, irmãos, para que o meu e o vosso sacrifício sejam aceitos junto a Deus-Pai omnipotente",(86) mas ainda as orações com as quais é oferecida a vítima divina são, além do mais, ditas no plural, e nelas se indica que também o povo toma parte como ofertante neste augusto sacrifício. Diz-se, por exemplo: "Pelos quais nós te oferecemos, e que te oferecem ainda eles... Por isso te suplicamos, ó Senhor, aceitar aplacado esta oferta dos teus servos e de toda a tua família... Nós, teus servos, como ainda o teu povo santo, oferecemos à tua excelsa majestade os dons e dádivas que tu mesmo nos deste, a hóstia pura, a hóstia santa, a hóstia imaculada"

  1. Os fiéis oferecem junto com o sacerdote

77. Tudo isso consta da fé verdadeira; mas deve-se, além disso, afirmar que também os fiéis oferecem a vítima divina, sob um aspecto diverso.
Já o declararam abertamente alguns dos nossos predecessores e doutores da Igreja. "Não somente - assim afirmava Inocêncio III, de imortal memória - oferecem os sacerdotes, mas ainda todos os fiéis; pois isto que em particular se cumpre pelo ministério dos sacerdotes, cumpre-se universalmente por voto dos fiéis".(84) E apraz-nos citar ao menos um dos muitos textos de são Roberto Belarmino a esse propósito: "O sacrifício - diz ele - é oferecido principalmente na pessoa de Cristo. Por isso a oblação que segue à consagração atesta que toda a Igreja consente na oblação feita por Cristo e oferece juntamente com ele".(85)

78. Com clareza não menor, os ritos e as orações do sacrifício eucarístico significam e demonstram que a oblação da vítima é feita pelos sacerdotes em união com o povo. De fato, não somente o sagrado ministro, depois da oferta do pão e do vinho, voltado para o povo diz explicitamente: "Orai, irmãos, para que o meu e o vosso sacrifício sejam aceitos junto a Deus-Pai omnipotente",(86) mas ainda as orações com as quais é oferecida a vítima divina são, além do mais, ditas no plural, e nelas se indica que também o povo toma parte como ofertante neste augusto sacrifício. Diz-se, por exemplo: "Pelos quais nós te oferecemos, e que te oferecem ainda eles... Por isso te suplicamos, ó Senhor, aceitar aplacado esta oferta dos teus servos e de toda a tua família... Nós, teus servos, como ainda o teu povo santo, oferecemos à tua excelsa majestade os dons e dádivas que tu mesmo nos deste, a hóstia pura, a hóstia santa, a hóstia imaculada".(87)

79. Nem é de admirar que os fiéis sejam elevados a uma tal dignidade. Com a água do baptismo, com efeito, os cristãos se tornam, a título comum, membros do corpo místico de Cristo sacerdote, e, por meio do "carácter" que se imprime nas suas almas, são delegados ao culto divino, participando, assim, de modo condizente ao próprio estado, do sacerdócio de Cristo.

80. Na Igreja católica, a razão humana iluminada pela fé sempre se esforçou por ter a maior consciência possível das coisas divinas; por isso é natural que também o povo cristão pergunte piamente em que sentido se diz no Cânon do sacrifício eucarístico que também ele o oferece. Para satisfazer esse piedoso desejo apraz-nos tratar aqui do assunto com clareza e concisão.

81. Há, acima de tudo, razões muito remotas: frequentemente acontece que os fiéis, assistindo aos sagrados ritos, unam alternadamente as suas orações às orações do sacerdote; alguma vez; ainda, acontece - isto antigamente se verificava com maior freqüência - que ofereçam ao ministro do altar o pão e o vinho para que se tornem corpo e sangue de Cristo; e, enfim, porque, com as esmolas, fazem com que o sacerdote ofereça por eles a vítima divina.

82. Mas há ainda uma razão mais profunda para que se possa dizer que todos os cristãos e especialmente aqueles que assistem ao altar realizem a oferta.

83. Para não dar ensejo a erros perigosos neste importantíssimo argumento, é necessário precisar com exactidão o significado do termo "oferta". A imolação incruenta por meio da qual, depois que foram pronunciadas as palavras da consagração, Cristo está presente no altar no estado de vítima, é realizada só pelo sacerdote enquanto representa a pessoa de Cristo e não enquanto representa a pessoa dos fiéis. Colocando, porém, no altar a vítima divina, o sacerdote a apresenta a Deus Pai como oblação à glória da SS. Trindade e para o bem de todas as almas. Dessa oblação propriamente dita os fiéis participam do modo que lhes é possível e por um duplo motivo: porque oferecem o sacrifício não somente pelas mãos do sacerdote, mas, de certo modo ainda, junto com ele; e ainda porque com essa participação também a oferta feita pelo povo pertence ao culto litúrgico. Que os fiéis oferecem o sacrifício por meio do sacerdote, é claro, pois o ministro do altar age na pessoa de Cristo enquanto Cabeça, que oferece em nome de todos os membros; pelo que, em bom direito, se diz que toda a Igreja, por meio de Cristo, realiza a oblação da vítima. Quando, pois, se diz que o povo oferece juntamente com o sacerdote, não se afirma que os membros da Igreja de maneira idêntica à do próprio sacerdote realizam o rito litúrgico visível - o que pertence somente ao ministro de Deus para isso designado - mas sim que une os seus votos de louvor, de impetração, de expiação e a sua ação de graças à intenção do sacerdote, aliás do próprio sumo pontífice, a fim de que sejam apresentados a Deus Pai na própria oblação da vítima, embora com o rito externo do sacerdote. É necessário, com efeito, que o rito externo do sacrifício manifeste, por sua natureza, o culto interno; ora, o sacrifício da nova Lei significa aquele obséquio supremo com o qual o próprio principal ofertante, que é Cristo, e com ele e por ele todos os seus membros místicos, honram devidamente a Deus.

84. Com grande alegria da alma fomos informados de que essa doutrina, especialmente nos últimos tempos, pelo intenso estudo da disciplina litúrgica da parte de muitos, foi posta em sua luz; mas não podemos deixar de deplorar vivamente os exageros e os desvios da verdade, que não concordam com os genuínos preceitos da Igreja.

85. Alguns, com efeito, reprovam de todo as missas que se celebram privadamente e sem a assistência do povo, como se se desviassem da forma primitiva do sacrifício; nem falta quem afirme que os sacerdotes não possam oferecer a divina vítima ao mesmo tempo em muitos altares, porque desse modo dissociam a comunidade e põem em perigo a unidade; também não falta quem chegue ao ponto de crêr necessária a confirmação e a ratificação do sacrifício por parte do povo, para que possa ter sua força e eficácia.

86. Erroneamente, nesse caso, se faz apelo à índole social do sacrifício eucarístico. Toda vez, com efeito, que o sacerdote repete o que fez o divino Redentor na última ceia, o sacrifício é realmente consumado e tem sempre e em qualquer lugar necessariamente e por sua intrínseca natureza, uma função pública e social, enquanto o ofertante age em nome de Cristo e dos cristãos, dos quais o divino Redentor é Cabeça, e oferece a Deus pela santa Igreja católica e pelos vivos e defuntos.(88) E isso se verifica certamente, quer assistam os fiéis - e desejamos e recomendamos que estejam presentes numerosíssimos e fervorosíssimos - quer não assistam, não sendo de nenhum modo requerido que o povo ratifique o que faz o sagrado ministro.

87. Se, pois, daquilo que foi dito resulta claramente que o santo sacrifício da missa é oferecido validamente em nome de Cristo e da Igreja, nem fica privado dos seus frutos sociais, mesmo quando celebrado sem assistência de nenhum acólito todavia, pela dignidade deste mistério, queremos e insistimos, como sempre quis a madre Igreja, que nenhum sacerdote se aproxime do altar sem ter quem o ajude e lhe responda, como prescreve o cân. 813.