Iota Unum pela primeira vez em Português
Nota: Apresentamos a nossos leitores, o livro Iota Unum (Romano Amério), através da resenha escrita pelo Prof. Orlando Fedeli. .
DE:http://cruzadosmaria.blogspot.com/2009/01/iota-unum-pela-primeira-vez-em-portugus.html
Iota Unum
Orlando Fedeli
O volumoso, denso e profundo livro Iota Unum - o título alude à frase do Nosso Senhor "nem um jota da lei será tirado"  (Cfr. Mt. 5,18) de Romano Amerio (Ricardo Ricciardo Ed., Milano, 1985)  será certamente considerado um marco na historiografia religiosa de  nosso tempo. A obra é um estudo completo da situação da Igreja no século  do Concílio Vaticano II.
Consideramos  de grande valor sua análise das variações sofridas pela Igreja sob o  influxo do Concílio, embora não aceitemos algumas de suas concepções.  Por exemplo, discordamos absolutamente da afirmação de que é aceitável  um "socialismo cristão" (p. 237). Pio XI na Quadragésimo Anno  ensinou que catolicismo e socialismo são termos contraditórios e que é  impossível conciliar a doutrina católica até mesmo com um socialismo  mitigado.
Entretanto,  o autor faz uma análise muito séria das mudanças da Igreja, fundando-se  em documentos e manifestações de membros da Hierarquia. O resultado é  impressionante.
A  obra mostra como o que foi preconizado por certos pensadores e teólogos  - como Teilhard de Chardin - isto é, a gênese de uma nova Igreja, foi  realizado pelo Concílio Vaticano II e, especialmente, pelo pós-Concílio.
Com  efeito, o famoso antropólogo jesuíta, cujas obras haviam sido  censuradas por um Monutum do Santo Ofício, escreveu em seu diário:
"Eu penso que o grande fato religioso atual é o despertar de uma Religião Nova  que, pouco a pouco, faz adorar o Mundo e que é indispensável para a  humanidade para que ela continue a trabalhar. É portanto capital que nós  mostremos o cristianismo como capaz de divinizar o esforço (nisus) e a  obra (opus) naturais humanos" (Journal,. p.220 apud op.cit.,p.63).
Nessa  mesma linha, Mons. Schmitt, Bispo de Metas, declarava antes do  Concílio: "A situação da civilização que nós vivemos arrasta a mudanças  não só em nosso comportamento exterior, mas também na própria concepção  que fazemos da criação e da salvação trazida por Jesus Cristo" (p. 62)
Aliás, o próprio Paulo VI, quando ainda Cardeal de Milão, entrava nesse mesmo coro, embora de modo mais diplomático e ambíguo:
"O  Concílio deve indicar a linha do relativismo cristão até onde a  religião católica deve ser férrea guardiã de valores absolutos e até  onde pode e deve se dobrar à aproximação e à conaturalidade da vida  humana tal qual historicamente ela se apresenta" (p. 61).
Falar  em relativismo cristão é introduzir uma fórmula que só pode minar a fé e  diluir as resistências. Pior ainda, como bem nota o autor, é dizer que a  Igreja pode e até deve se dobrar à conaturalidade da vida humana atual.  Expressão dúbia que esquece ser missão da Igreja converter o homem,  mostrando-lhe o que ele deve ser, e não aceitá-lo  complacentemente como é. Renunciar a converter o homem é para a Igreja  renunciar a sua própria missão. (pp. 61-62).
Preparar  uma nova Religião, divinizar o mundo, aceitar novas concepções da  criação e da salvação, tornar-se conatural ao homem de hoje são fórmulas  que descrevem bem o que ocorreu no Concílio Vaticano II e no pós-  Concílio.
Paulo VI mesmo, comentando o que foi o Vaticano II, disse:       
"As palavras importantes do Concílio são novidade e ‘aggiornamento’ (...) A palavra novidade nos foi dada como uma ordem, como um programa" (p.98, grifo do autor).
"As palavras importantes do Concílio são novidade e ‘aggiornamento’ (...) A palavra novidade nos foi dada como uma ordem, como um programa" (p.98, grifo do autor).
Quem deu a palavra novidade, tão contrária ao espírito e à doutrina católica, como uma ordem para a Igreja? Quem deu esse programa?
Que essa "palavra de ordem" foi obedecida não há dúvida alguma.
Mons. Pogge, arcebispo de Avignon, "diz com todas as letras que a Igreja do Vaticano II é nova  e que o Espírito Santo não cessa de tirá-la da estaticidade. A novidade  consiste, segundo o bispo, em uma nova definição de si mesma, isto é,  na descoberta de sua nova essência, e a nova essência consiste no ‘ ter  recomeçado a amar o mundo, a abrir-se para ele, a fazer-se diálogo’ "  (p. 100).
Nada mais claro. É uma Igreja nova que tem nova essência. Não é mais a Igreja do Deus que é "Aquele que é". É a Igreja do "Vir-a-ser".
Enquanto  se dá assim um atestado de nascimento à Nova Igreja, Paulo VI reconhece  que a Igreja verdadeira - a Igreja de sempre - vem sendo demolida por  aqueles que deviam mantê-la e defendê-la.
"A  Igreja se acha numa hora inquieta, de autocrítica, dir-se-ía melhor, de  autodemolição. É como uma reviravolta aguda e complexa que ninguém  teria esperado depois do Concílio. A Igreja como que golpeia a si  mesma".
Reviravolta,  autodemolição, autogolpear-se. São palavras gravíssimas com que Paulo  VI constata o processo de destruição da Igreja.
"Também  na Igreja" - é ainda Paulo VI quem fala - "reina este estado de  incerteza". Acreditava-se que depois do Concílio viria um dia de sol  para a história da Igreja. Veio, em vez disso, um dia de nuvens, de  tempestade, de escuridão. (...) Por algum lugar, a fumaça de Satanás  entrou no templo de Deus" (p.8).
Por  onde? Não teria sido exatamente pelo ponto em que se fez alguma maldita  abertura? E não é mais do que conveniente, não é imperioso fechá-la?
Dirão  alguns que culpados são aqueles que interpretam o Concílio do modo  progressista, ou seja, modernista. Mas também isso foi programado,  segundo o P. Schillebeecks, um dos maiores responsáveis pela introdução  da fumaça de Satanás na Igreja: 
"Nós o exprimimos de modo diplomático, mas após o Concílio nós tiraremos as conclusões" (p. 93).
Os  textos do Concílio permitem tantas "leituras" diferentes que só se pode  concluir que o Vaticano II não utilizou o modo de falar recomendado por  Cristo: "Que o vosso falar sim, sim, não, não. Tudo o que passar disso  vem do maligno" (Mt. 5,57).
Uma das manifestações mais agudas da fumaça de Satanás na Igreja é a Teologia da Libertação. E não é por acaso que ela afirma:
"Assiste-se, um pouco por toda a parte, ao surgimento de uma Igreja Nova, gestada no coração da velha (.....)
O  Evangelho não está amarrado a um tipo clássico e consagrado de  articulação, herdado de um passado institucionalmente glorioso".
"Uma Igreja nova está nascendo, nos porões da humanidade"(Igreja, carisma e poder , pp. 106 e 109).
São palavras inequívocas de Frei Leonardo Boff, noticiando o surgimento de uma nova religião.