Os Santos Padres da Igreja chamam a Deus de "Filanthropos", o "amigo dos homens".
Esse amor manifestou-se por incompreensíveis e até inacreditáveis atos de Deus : Criação, Encarnação, Redenção e Descida do Espírito Santo.
Chegou aos limites da loucura, amou até o extremo.
Os Sacramentos instituídos pelo Filho feito Homem, para acompanhar o homem desde o nascimento até a morte, permitindo-lhe viver em união com Deus pela graça, fortalecer essa mesma graça e recupera-la quando perdida, não passam de meios ditados pelo amor.
Portanto estes ensaios com uns trechos do livro de Paul Evdokimov, intitulado : Amor louco de Deus.
Diante do sofrimento dos inocentes, das crianças anormais, dos acidentes absurdos, pode-se aplicar a Deus a mais paradoxal noção de fraqueza invencível.
A única resposta adequada é dizer que “Deus é fraco”, que Ele só pode sofrer conosco, que o sofrimento é o pão que Deus reparte com o homem.
Fraco, certo, não em Sua onipotência formal, mas em Seus amor que renuncia livremente a Seu poder.
É sob esse aspecto de fraqueza que aparece a São Nicolas Cabassilas como “amor louco de Deus ao homem”.
O deus temível e impassível de alguns teólogos, perdidos nas concepções do Antigo Testamento, manifesta-se como o Pai Sofredor :”O Pai é o amor que crucifica, o Filho é o amor crucificado, e o Espírito Santo é o poder invencível da Cruz”.
Mistério do amor crucificado, irradiando luz na manhá da Páscoa, “fraqueza triunfando sobre a morte e o inferno.”
Esse mistério estava já pressentido pela corrente mística do pensamento judeu.
O Rabbi Baruc procurava o meio de explicar que Deus é um companheiro de exílio, um solitário abandonado, um estrangeiro desconhecido entre os homens.
Um dia seu neto brincava de esconde-esconde com outra criança. Ele se escondeu, mas o companheiro desistiu de procura-lo e foi-se embora. O neto queixou-se, chorando ao avô.
Com os olhos cheios de lágrimas, o Rabbi Baruc exclamou :
“ Deus diz a mesma coisa : Eu me escondo, mas ninguém vem Me procurar”.
Um santo dizia a uma criança :
“Se pudesse brincar com Deus, seria a coisa mais grandiosa que jamais teria sido feita.
Todo mundo o toma tão a sério que tornam mortalmente enjoativo...Brinca com Deus, meu filho, Ele é o supremo companheiro de brincadeira...”
Porque o homem pode dizer “não”, seu “sim” toma plena ressonância e coloca-se no mesmo plano que o “sim” de Deus. Por isso também Deus aceita ser recusado, desconhecido, rejeitado, eliminado por Sua própria criatura. Na Cruz, Deus contra Deus, tomou o partido do homem.
São Nicolas Cabassilas novamente disse, admiravelmente :
Deus apresenta-se e declara o Seu amor...Rejeitado, espera à porta. Em troca de todo o bem que nos faz, só pede o nosso amor. O cristão é um homem miserável, mas sabe que há alguém mais miserável ainda, Aquele mendigo de amor à porta do coração : “Eis que estou a porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e tomarei refeição com ele, e ele comigo” (Ap 3,20)
O Filho vem sobre a terra para sentar-se à “mesa dos pecadores”. O amor só pode ser oblação até a morte.
Deus morre para que o homem viva Nele...
A fé e a reciprocidade de dois “fiat”, de dois “sim”, o encontro do amor descendente de Deus e do amor ascendente do homem. A voz de Deus é silenciosa, exerce uma pressão infinitamente leve, jamais irresistível.
Deus não dá ordens, faz apelos: “Escuta, Israel” ou “Se queres ser perfeito...”
Os desejos divino e humano culminam no Cristo histórico, no Qual Deus e o homem olham-se como num espelho e se reconhecem, porque, conforme diz São Máximo, “o amor de Deus e o amor dos homens são os dois aspectos de um só amor total”.
Retirado do livro Teologia Orante na Liturgia do Oriente, do Monsenhor Pedro Arbex. Editora Ave Maria.