domingo, 25 de novembro de 2012
BENTO XVI : “Ser discípulo de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder”. “Dar testemunho do reino de Deus, da verdade, significa fazer sempre sobressair a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes”.
Não se deixar fascinar pela lógica do poder. Sublinhar sempre a prioridade de Deus. O convite do Papa aos novos cardeais, na missa na basílica de São Pedro
“Ser discípulo de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder”. “Dar testemunho do reino de Deus, da verdade, significa fazer sempre sobressair a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes”. – Reflexões propostas pelo Papa aos novos cardeais “criados” ontem pelo Papa, assim como a toda a assembleia congregada neste domingo de manhã, na basílica de São Pedro, no domingo em que a Igreja celebra Jesus Cristo, rei do universo. Uma solenidade que convida “a dirigir o olhar em direção ao futuro, ou melhor em profundidade para a meta última da história, que será o reino definitivo e eterno de Cristo”.
Comentando o Evangelho do dia, em que Jesus se encontra na situação humilhante de acusado, depois de ter sido preso, insultado e escarnecido, Bento XVI recordou a pergunta de Pilatos «Tu és rei dos judeus?» e a esclarecedora resposta de Jesus:
“Jesus esclarece a natureza do seu reino e da própria messianidade, que não é poder terreno, mas amor que serve; afirma que o seu reino de modo algum se confunde com qualquer reino político: «A minha realeza não é deste mundo (...) o meu reino não é de cá».
É claro que Jesus não tem nenhuma ambição política. Depois da multiplicação dos pães, o povo, entusiasmado com o milagre, queria fazê-Lo rei, para derrubar o poder romano e assim estabelecer um novo reino político. Mas Jesus sabe que o reino de Deus é de género totalmente diverso; não se baseia sobre as armas e a violência. Justamente a multiplicação dos pães assinala uma viragem decisiva na sua actividade:
“a partir daquele momento aparece cada vez mais claro o caminho para a Cruz; nesta, no supremo acto de amor, resplandecerá o reino prometido, o reino de Deus. Mas a multidão não entende, fica decepcionada, e Jesus retira-Se para o monte sozinho a rezar, a falar com o Pai”
Na narração da Paixão, vemos que os próprios discípulos continuavam ainda a pensar num reino político, instaurado mesmo com o uso da força. Pedro desembainha a espada, mas Jesus detém-no.
“(Jesus) não quer ser defendido com as armas, mas deseja cumprir a vontade do Pai até ao fim e estabelecer o seu reino, não com as armas e a violência, mas com a aparente fragilidade do amor que dá a vida. O reino de Deus é um reino completamente diferente dos reinos terrenos.”
Diante de um ser indefeso, frágil, humilhado como se apresenta Jesus, um homem de poder como Pilatos fica surpreendido e faz uma pergunta, a seu ver paradoxal: «Logo, Tu és rei!». Que tipo de rei pode ser um homem naquelas condições!?... Jesus fala de rei, de reino, referindo-Se não ao domínio mas à verdade, mas Pilatos não entende: “Poderá haver um poder que não se obtenha com meios humanos? Um poder que não corresponda à lógica do domínio e da força? Jesus veio para revelar e trazer uma nova realeza: a realeza de Deus. Veio para dar testemunho da verdade de um Deus que é amor e que deseja estabelecer um reino de justiça, de amor e de paz”.
Encontramos já esta perspetiva na primeira leitura, do profeta Daniel, que prediz o poder de um personagem misterioso colocado entre o céu e a terra, um rei que domina de mar a mar até aos confins da terra, com um poder absoluto, que nunca será destruído. Esta visão do profeta, uma visão messiânica, é esclarecida e realiza-se em Cristo: “o poder do verdadeiro Messias – poder que não mais desaparece e nunca será destruído – não é o poder dos reinos da terra que surgem e caem, mas o poder da verdade e do amor. Assim entendemos como a realeza, anunciada por Jesus nas parábolas e revelada aberta e explicitamente diante do Procurador romano, é a realeza da verdade, a única que dá a todas as coisas a sua luz e grandeza.”
Na segunda leitura, o autor do Apocalipse afirma que também nós participamos na realeza de Cristo. Também aqui está claro que se trata de um reino fundado na relação com Deus, com a verdade, e não de um reino político. Com o seu sacrifício, Jesus abriu-nos a estrada para uma relação profunda com Deus: “ser discípulos de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus.”
Depois o autor do Apocalipse estende o olhar até à segunda vinda de Jesus – quando Ele voltar para julgar os homens e estabelecer para sempre o reino divino – e recorda-nos que a conversão, como resposta à graça divina, é a condição para a instauração desse reino (cf. 1, 7). É um vigoroso convite dirigido a todos e cada um: “converter-se sem cessar ao reino de Deus, ao domínio de Deus, da Verdade, na nossa vida. Pedimo-lo diariamente na oração do «Pai nosso» com as palavras «Venha a nós o vosso reino», que equivale a dizer a Jesus: Senhor, fazei que sejamos vossos, vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que em Vós tudo se submeta ao Pai da misericórdia e do amor.”
A concluir a homilia, dirigindo-se aos Cardeais, de modo particular aos seis novos purpurados, Bento XVI recordou-lhes a “responsabilidade impelente” que lhes está confiada: “dar testemunho do reino de Deus, da verdade”. “Isso significa fazer sobressair sempre a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes. Fazei-vos imitadores de Jesus, que diante de Pilatos, na situação humilhante descrita pelo Evangelho, manifestou a sua glória: a glória de amar até ao fim, dando a própria vida pelas pessoas amadas. Esta é a revelação do reino de Jesus. E por isso, com um só coração e uma só alma, rezemos: «Adveniat regnum tuum». Amen.”
No meio da assembleia que participou nesta soleníssima eucaristia presidida pelo Papa, encontravam-se, para além de delegações oficiais de autoridades dos países de origem dos novos cardeais, os representantes do Corpo Diplomático, todos os membros do Colégio Cardinalício que se puderam deslocar a Roma nesta ocasião, e numerosos fiéis leigos, religiosos e padres, vindos nomeadamente das dioceses onde desenvolvem a sua atividade os novos purpurados.
As delegações oficiais incluíam: do Líbano, o presidente da República, general Michel Sleiman, com a esposa e o séquito; das Filipinas, o Vice-presidente da República, Jejomar Binay, com o séquito; da Índia, o presidente do Parlamento, Professor Kurien, com o séquito; e da Nigéria, o Senador David Mark, com o séquito.
Para além da beleza variegada das cores e vestes usadas pelos presentes, a variedade de proveniências dos novos cardeais espelhou-se também, na liturgia da missa, através das línguas usadas na oração dos fiéis: árabe, francês, hindi, yoruba (da Nigéria) e filipino.