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O Cardeal Raymond Burke disse recentemente que o patriotismo é necessário por lei natural e que Deus, “em concordância com a ordem gravada nos corações humanos, não justifica e legitima um único governo mundial”.


O Cardeal fez um discurso nesta manhã, 17, em Roma, para o Rome Life Forum, com o tema “A piedade filial e o patriotismo nacional como virtudes essenciais dos cidadãos do Céu que trabalham nesta terra”. Sua fala vem em um momento em que não há somente uma pressão advinda de autoridades seculares, mas igualmente de lideranças de dentro da Igreja para a formação de um órgão supranacional legalmente constituído que implemente políticas de “mudança climática” e que faça cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas em todo o mundo.

Ao final de sua palestra, ele expressou que a “lei divina” permite-nos enxergar que um governo mundial seria a instauração do “totalitarismo”.

“Em face dos desafios de nosso tempo, temos aqueles que propõem e trabalham por um único governo mundial, isto é, que empenham-se na eliminação de todo e qualquer governo nacional individual, de modo que toda a humanidade esteja sob o controle de uma única autoridade política. Para estes que estão convencidos de que a única maneira de alcançar o bem comum esteja na concentração de todo o governo em uma única autoridade, a lealdade à pátria – ou o patriotismo – tornou-se um mal.
A autoridade divina, em concordância com a ordem gravada nos corações humanos, não justifica e legitima um único governo mundial. De fato, a lei divina ilumina nossa razão e coração para enxergar que tal governo seria, por definição, totalitário, quando consideramos a autoridade divina acima do controle mundial.”

O Prelado disse que o “orgulho pecaminoso, que inspira a busca por um governo mundial, é o mesmo orgulho de nossos ancestrais que, depois do Dilúvio, pensaram poder unir o céu e terra com suas próprias forças ao construir a Torre de Babel”.

“Ao contrário, Deus deixa-se encontrar e ordena nossas vidas para o bem dentro de nossas famílias e de nossa pátria”.

Cardeal Burke iniciou sua palestra introduzindo o duplo conceito de piedade e patriotismo. Nossa relação com nossa pátria “exige de nós a prática daquela parte da piedade que chamamos de patriotismo”. O amor ao próprio país não é um pecado, explicou o Cardeal, mas, pelo contrário, inclui-se no Quarto Mandamento de amar pai e mãe. Santo Tomás de Aquino refletiu sobre esta relação quando ensinou que “o homem é devedor sobretudo dos pais e de sua pátria, depois de Deus. Por conseguinte, assim como pertence à religião prestar culto a Deus, pertence à piedade, em segundo plano, prestar culto aos pais e ao próprio país.”

Dessa forma, o Cardeal inferiu que o patriotismo é exigido por lei natural. Ele citou a New Catholic Encyclopedia para ilustrar como “a prática do patriotismo é uma forma de caridade, uma pela qual vivemos plenamente a verdade do nosso ser em seu relacionamento com Deus e com o resto da Criação”.

Ao olhar para a relação histórica entre piedade e patriotismo, o Cardeal observou como o adjetivo latino “pius”, atribuído aos heróis romanos, indicava, nas palavras de Anthony Esolen, “cumprir seu dever perante seus pais, seus anciãos, seus deuses domésticos, a cidade e o estado e os deus maiores”. O Prelado afirmou que esta antiga virtude pagã foi aperfeiçoada pela “graça de Cristo”:

“Pela graça de Cristo, a piedade do mundo pagão é elevada e aperfeiçoada para ser uma resposta a Deus, nosso Criador e Redentor, que desejou nos trazer à vida em Cristo na família e na pátria.”

O Cardeal também falou da devida honra aos líderes civis estar “intimamente ligada à honra devida aos pais e aos pastores da Igreja”, como atestam as Cartas de São Pedro e São Paulo. O Catecismo do Concílio de Trento, disse ele, explicou como a “honra dada aos governantes civis está essencialmente ligada à honra que devemos, acima de tudo, a Deus”.

Mas este Catecismo também reconhece que alguns governantes civis são maus e, portanto, ressalta que a honra mostrada a eles não é por seus delitos, mas pela “autoridade de Deus que eles possuem”. Ele também afirma que as ordens das autoridades civis, se são contrárias a lei moral, não devem ser obedecidas.

Cardeal Burke refletiu que muitos governos hoje, ao não reconhecer que sua autoridade vem de Deus, fazem leis contrárias à lei moral:

“Nos tempos atuais, muitos governos falham ou se recusam em reconhecer que sua autoridade vem de Deus e, por consequência, fazem leis que violam direta e gravemente a lei moral. Exemplo disto se dá quando fala-se do respeito devido a todas as vidas humanas, da integridade da sexualidade humana ordenada para o casamento e família e do livre exercício da própria religião.
Em muitas sociedades reina uma cultura contrária aos valores da vida, da família e da religião, imperam em franca rebelião diante da reta ordem com a qual Deus nos criou.”

Isso tem criado um desafio para o patriotismo, declarou o Cardeal: como “mostrar o devido respeito à nossa pátria e ao seu governo e recusar, ao mesmo tempo, o consentimento com leis injustas”. Ele enalteceu os cristãos que, corajosamente, tem vivenciado este duelo, apesar de todo sofrimento, e afirmou que os cidadãos cristãos estão sendo chamados “frequentemente” para serem mártires:

“O cidadão cristão deve, frequentemente, executar as exigências do patriotismo hoje através do martírio, que normalmente trata-se do martírio branco ou, às vezes, vermelho.
O seu testemunho da verdade da lei moral defronta-se, regularmente, com o martírio branco da indiferença, do ridículo e da perseguição e até, em algumas circunstâncias, com o martírio vermelho da morte.”

O Prelado dos Estados Unidos observou também que o Catecismo de São João Paulo II de 1992 fala dos deveres das autoridades civis, dos cidadãos e até dos imigrantes em novos países. As autoridades civis devem proteger os direitos individuais dados por Deus (que não inclui nada fora da ordem moral); os cidadãos devem pagar os impostos, votar e defender seu país; e os imigrantes devem “respeitar com reconhecimento o patrimônio material e espiritual do país que o acolheu, de obedecer às suas leis e de contribuir para o seu bem.”

Depois de ter reiterado o decreto divino de desobedecer as exigências imorais vindas de autoridades civis, O Cardeal levantou a questão da resistência armada a um governo injusto, o que é permissível sob certas circunstâncias. Ele, então, retornou ao tema do patriotismo e disse que o ser patriota ensina-nos a reconhecer nossa “condição natural de membros de uma família e cidadãos de uma pátria”.

“Nossa identidade pessoal vem principalmente da família, mas, também, de nossa pátria – porque, de fato, a família cresce e prospera apenas em uma ampla sociedade. Esta condição natural define nossos direitos e deveres como cidadão.”

O Prelado afirmou ainda que o patriotismo leva a um amor ao próximo, caridade que respeita seu apreço pela pátria e suas tradições únicas:

“É evidente que nós e nossa pátria temos responsabilidades dentro da comunidade internacional, mas tais responsabilidades só podem ser cumpridas através de uma vida saudável na família e na pátria.
O patriotismo, de fato, estimula a virtude da caridade que claramente abraça os cidadãos de outras nações, reconhecendo e respeitando sua distinta identidade cultural e histórica.”