DESCIDA
AO MAIS PROFUNDO CENTRO
P. JEREMIAS CARLOS VECHINA
Que é o homem?
Que é o homem? Quem sou eu? Qual o sentido da vida humana?
De onde venho, para onde vou, o que faço na vida? Estas interrogações
que têm inquietado os homens de todas as épocas apresentam-se, hoje,
com mais acuidade a todos aqueles que queiram viver a sua existência
dum modo verdadeiramente humano.1
Nunca como hoje se desenvolveram tanto as ciências antropológicas: biologia, fisiologia, medicina, psicologia, sociologia, economia, política, etc., ciências que intentam esclarecer a complexidade
da natureza humana.
1 T.H.Huxley escreve que esta é a interrogação de todas as interrogações para a humanidade,
o problema que subjaz a todos os outros e que mais do que qualquer outro suscita o nosso
interesse. O mesmo pensamento é manifestado pelo fenomenólogo Max Scheler: «Num certo
sentido todos os problemas fundamentais da filosofia podem reconduzir-se à questão seguinte:
que é o homem e que lugar e posição metafísica ele ocupa dentro da totalidade do ser, do
mundo, de Deus». Citado por B. MONDIN, O Homem quem é ele?, EP, São Paulo 1980, p. 7.
32 JEREMIAS CARLOS VECHINA
Apesar deste aumento vertiginoso dos conhecimentos técnicos e
analíticos da existência humana cresce cada vez mais a incerteza a respeito
daquilo que constitui o ser profundo e último do homem.2
Parece que
estamos a assistir à mais profunda e ampla crise de identidade que o
homem jamais atravessou. As palavras de Max Scheler, ressoam, hoje,
com toda a sua intensidade: «Na história de mais de 10.000 anos somos
nós a primeira época em que o homem se tornou, para si próprio, radical e
universalmente um ser problemático: o homem já não sabe o que é e é
consciente que não o sabe».3
E Martin Heidegger ao comentar a
antropologia de Kant torna-se eco destas palavras de Scheler: «Nenhuma
época como a nossa soube conquistar tantos e tão variados conhecimentos
sobre o homem... contudo, nenhuma época conheceu tão pouco o homem
como a nossa. Em nenhuma época o homem se tornou tão problemático
como na nossa».4
Isto justifica os esforços de muitos pensadores actuais de
elaborar uma nova antropologia filosófica.
Este debruçar-se sobre a essência do homem e o sentido da
existência humana não nasce duma curiosidade científica desejosa de
aumentar o seu saber. Estas grandes interrogações impõem-se por si
mesmas e de tal maneira que o homem não pode a elas fugir; é obrigado
a responder. Não é o homem que suscita os problemas é o próprio
homem que se torna problemático devido à vida e condição em que
vive. Este, se quer viver com sinceridade e autenticidade, tem que
responder a estas perguntas.
«Que é o homem? Questão banal, questão magnífica, questão
eterna. Há milhões de anos que os homens se agitam pela superfície do
globo como formigas por uma senda do bosque, como mosquitos ao lado
dum estanque; e desde então milhares e milhões de homens e mulheres se
plantearam esta famosa questão. Fizeram-no incansavelmente, com a mesma angústia, com a mesma insistência, com o mesmo sofrimento. Porque
nascemos à luz do dia? Porque amamos? Porque estamos destinados?
Porque nos devoramos mutuamente? Parece-me que através dos caminhos
da história, por cima da diversidade de povos e raças, esta interiorização
do homem sobre si mesmo é o que domina e se eleva sem trégua, sem
2 Cf. G.MARCEL, L’homme problemátique, Paris 1955, pp. 73s. 3 Cit. por JOSEPH GEVAERT, El problema del hombre, ES, Salamanca 1991, p. 13. 4 Cit. por EMILIANO J. HERNANDEZ, Quien soy yo?, DDB, Bilbao 1990, p.16. Cf.
J.Y.JOLIF, Compreender al hombre, ES, Salamanca 1969, p. 20.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 33
descanso. Tudo o que dura, tudo o que une, as obras de arte como as
religiões, têm por objectivo oferecer um balbucio de resposta a esta
inquietante, a esta perpétua questão».5
A reflexão acerca das dimensões fundamentais do homem pode
nascer da admiração e maravilha diante do universo ou do próprio
homem e suas criações, da frustração e desilusão, do negativo ou vazio,
da morte.6
A morte é o acontecimento que mais questiona o homem e
lhe coloca as maiores e profundas interrogações.7
Ao longo da história milhões de homens têm reflectido e procurado
solução a estas interrogações, mas estas respostas não dispensam ninguém
de procurar por si mesmo a razão da sua existência, porque nenhuma delas
nos podem satisfazer plenamente. Cada homem é um caso, um mistério,
um problema; é irrepetível. «Homens são todos os que têm rosto humano
e, contudo, a humanidade do homem supõe uma pergunta para cada um
deles. Com os projectos, com acção e com estilo de vida, todos e cada um
marcham à procura de uma resposta que os ilumine e convença».8
A reflexão feita pelos outros, sobretudo a reflexão sistemática é
muito importante, será um estímulo e um guia mas nunca poderá
substituir o esforço pessoal por esclarecer os problemas da própria
existência. E viver a vida como vida humana significa vivê-la, em
grande parte, na presença destas interrogações.
As perguntas que se colocam a todo o homem formula-as o Concílio
Vaticano II da seguinte forma: «O que é o homem, qual o sentido e o fim da
nossa vida, o que é o bem e o que é o pecado, qual a origem e finalidade do
5 G.HOURDIN, Qu’est-ce que l’homme?, Paris, 1954, 143. 6 Quem sou eu? Esta interrogação pode nascer da admiração diante do mar, duma floresta, do céu
estrelado, do fascínio duma amizade ou do olhar inocente duma criança. É a experiência que traduz
o salmo 8: «Que é o homem, para Vos lembrardes dele, o Filho do Homem, para dele cuidardes?». A
mesma pergunta pode surgir carregada de amarga ironia como no caso de Job (7, 17).
Mas a maior parte das vezes levanta-se por uma experiência de fracasso, frustração ou conflito.
Uma notícia adversa, a morte de um ente querido, uma desgraça, uma desilusão arrancam o homem
da dispersão e mergulham-no no problema fundamental da sua existência. «Converti-me para mim
próprio num grave interrogante». S. Agostinho, Confissões, IV, C. 4. Palavras que manifestam o
trauma por ele sofrido por ocasião da morte dum amigo.
7 Como observa S. de Beauvoir a morte nunca é um acontecimento natural, «já que a sua
presença põe o mundo em questão». Cf. Une mort trés douce, Paris 1964, p. 164. E o marxista
A.Schaff escreve no mesmo sentido: «A morte é de todos os modos o estímulo mais forte para
reflectir acerca da vida. A ameaça da própria morte, e com mais razão a morte da pessoa
amada». Cit. por JOSEPH GEVAERT, El problema del hombre, ES, Salamanca 1991, p. 20. 8 EMILIANO J. HERNANDEZ, o.c., p. 22.
34 JEREMIAS CARLOS VECHINA
sofrimento, qual o caminho para se obter a verdadeira felicidade, o que é a
morte, o julgamento e a recompensa que se lhe hão-de seguir, qual é,
finalmente, aquele derradeiro e inefável mistério que envolve a nossa
existência: donde partimos e para onde vamos»?9
E o Concílio compromete-se porque esperam dele uma resposta:
«Os homens esperam das diversas religiões a resposta aos mais árduos
problemas da condição humana que, hoje como outrora, continuam a
perturbar os seus corações».10
A estas interrogações têm-se dado muitas respostas vindas dos
mais variados campos. Nós vamo-lo fazer a partir da fé. E como o tema
que me foi proposto tratar é: Descida ao mais profundo centro, vamolo fazer acompanhados de S. João da Cruz; ou então vamos
acompanhar S. João da Cruz na descida que ele faz ao mais profundo
centro da existência, para, a partir dessa experiência, que é irrepetível,
cada um responder pessoalmente.
Antropologia sãojoanista
Antes de comerçarmos o nosso recorrido pelo interior do homem
até chegar ao seu «mais profundo centro» convém ter umas certas
noções de antropologia sãojoanista. S. João da Cruz, acerca do homem,
recebe as ideias e principalmente a terminologia que pairavam no
ambiente cultural do seu tempo mas serve-se de tudo isto como de uma
andaimaria dando-lhe um conteúdo cristão marcado com o selo da sua
originalidade. Ele vai beber à teologia escolástica, aos pensadores
cristãos mas principalmente à Bíblia. Na sua antropologia encontramos
ideias dos estratos do ser humano. Ele fala da parte superior e inferior
do homem: «pois estas águas regando, penetram a alma e o corpo que é
a parte superior e inferior».11 E noutro lugar esclarece estes níveis: «já
da parte da natureza inferior, que é a sensitiva, já da parte superior que
é a racional; nestas duas partes se encerra toda a harmonia das
potências e sentidos do homem».12
9 NE.1.
10 Ib. 11 C., 3, 16.
12 CE., 16, 10.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 35
Para S. João da Cruz, o estrato inferior do ser humano é o corpo:
«E nesta parte sensitiva inclui-se o corpo com todos os seus sentidos e
potências, já sejam interiores como exteriores».13
S. João da Cruz não se detém a dar explicações acerca da
realidade corporal do homem. Supõe tudo isso.14
A alma ocuparia na antropologia sãojoanista o segundo plano.
Ele dá a esta palavra diversos significados. Pode tomar a parte pelo
todo e assim quando fala da alma ou das almas entende toda a pessoa.
Outras vezes contrapõe a alma ao espírito. Então a palavra alma
indicaria a parte inferior do homem e a palavra espírito, a parte
racional, a substância da alma, o mais puro, o mais próximo de Deus,
onde Ele se comunica mais directamente e onde não chega a acção do
demónio porque imagens sensíveis já alí não têm lugar.
O santo ao esclarecer a classe de noite porque passa a alma diz:
«que indícios haverá para conhecer se aquilo é purgação da alma, e se o
fôr, se é a do sentido ou a do espírito»?15 E no Cântico Espiritual
escreve: «ela se recolhe a participar e gozar a seu modo das grandezas
espirituais que Deus está comunicando à alma no interior do
espírito».16 É verdade que certos místicos como Santa Teresa e S. João
da Cruz falam do corpo, alma e espírito, mas apresentam, a partir da
experiência, uma distinção tão subtíl entre alma e espírito que quem
não a tenha dificilmente dela se apercebe.
Alguns filósofos dos nossos dias, fazem esta mesma distinção,
entendendo por alma a parte inferior, sede dos sentimentos e afectos,
enquanto que o espírito será a sede dos actos mais imateriais e racionais.
O homem é um todo
Observando todas as interpretações que ao longo dos séculos se
foram dando ao facto do homem ter uma existência corpórea e ao
significado humano do corpo, vemos em todas elas marcas de divisão e
dualidade.
13 CE, 28, 4A. 14 Cf. EULOGIO DE LA V.C., La antropologia sanjuanista, in Monte Carmelo 69 (Burgos 1961) pp.
47-90.
15 S, Pról., 6. 16 CE, 40, 5.
36 JEREMIAS CARLOS VECHINA
Em todas as imagens do homem, tanto a nível pré-filosófico como
filosófico, vemos certa dualidade e divisão. Mas também vemos, mesmo
sumáriamente, que muitas antropologias, com certas influências
platónicas e dualistas, colocam o acento principal na unidade do homem
com o seu próprio corpo deixando na sombra a interpretação dualista.
Isto acontece com S. João da Cruz. Embora use termos próprios
da filosofia grega que, por exemplo em Platão, tem um sentido especificamente dualista, a sua antropologia não o é.
S. João usa a mesma imagem de Platão. A alma está no corpo
como uma prisão, mas enquanto que para Platão a perfeição consiste na
subtracção à influência do corpo e da matéria, para S. João da Cruz é
tudo o contrário; ela vai-se aperfeiçoando através do corpo. «Se não é o
que pelos sentidos vai conhecendo, por mais nenhum outro meio
natural, se lhe comu-nica nada... E assim a alma, se não fôr o que se lhe
comunica pelos sentidos, que são as janelas do seu cárcere, por outra
via natural nada alcança».17
Esta imagem, corpo prisão da alma, tem um sentido simplesmente
prático não ontológico. Prova disto é que S. João da Cruz afirma algumas
vezes, e já no plano ontológico, que o corpo e a alma formam um só suposto. «Como estas duas partes são um só suposto, ordinariamente participam
entre si do que cada qual recebe, mas ao seu modo».18 «Sem a purificação
do espiríto, pela comunicação que há duma parte à outra, em razão de ser
um só suposto a purificação sensitiva não fica completa e perfeita».19
S. João da Cruz tem um sentido cristão do corpo; por isso mesmo
não se pode acentuar a sua oposição com a alma. Numa carta dirigida a
uma rapariga de Ávila recomenda: «procure o rigor corporal com
discreção».20 E ao falar da penitência do espírito que é aquela que mais
agrada a Deus escreve o seguinte: «a penitência corporal, a qual, posta
de parte a outra (espiritual) não é mais que penitência de animais, e
como animais a ela se movem também pelo apetite e gosto que nisso
encontram».21
17 1S, 3, 3.
18 1NE, 4, 2. 19 2NE, 1, 1.
20 Cta. 10.
21 1NE, 4, 2.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 37
Apesar desta união substâncial entre o corpo e a alma S. João da
Cruz é realista, tem pecado original. Se o homem é uno no seu ser, não
o é no seu dinamismo. O Santo tem experiência do drama que o homem
leva dentro, da falta de harmonia interior, e por isso a sua pedagogia
consistirá em ir reduzindo pouco a pouco a tensão alma e corpo para
fazer deste uma expressão do amor de Deus e um colaborador da
santificação da alma, conseguindo deste modo um equilíbrio perfeito.
O homem no mundo
O homem sãojoanista, porque é um ser corpóreo, tem uma
relação muito íntima com o mundo. Se se isola um corpo humano do
resto do mundo, se se reduz a ele mesmo, morre por falta de alimento. E
se esse isolamento é rigoroso, morre ainda antes, por falta de
respiração. A realidade efectiva do corpo humano não termina nos
limites da sua pele, mas envolve o mundo que o rodeia.
Mais ainda: a consciência do homem não se dá nunca em forma
pura, acompanha o contacto concreto e real com as coisas e as pessoas.
Quando falta este contacto, a consciência cai na impotência e no
insconsciente. Se suspendemos a actividade dos sentidos e do corpo, a
actividade humana fica suspensa.
«É evidente que S. João da Cruz se move fundamentalmente num
mundo de realidades que podemos qualificar de interiores. Entendemos
por mundo esse conjunto de valores, aspectos, dimensões, que uma pessoa
percebe com interesse e integra vitalmente na sua existência. O mundo,
neste sentido, não são as coisas por si mesmas, mas na medida em que são
incorporadas, pela via do conhecimento e afecto, à vida do sujeito. Duas
pessoas colocadas perante os mesmos objectivos e circunstâncias, percebem dois mundos diferentes e contrastantes, conforme a sua respectiva
sensibilidade e escala de valores: sensibilidade religiosa ou económica,
artística ou hedonista».22
O homem corre sempre um risco. Pode fazer uma avaliação errada e
construir uma falsa hierarquia de valores. Pode incorporar falsos valores,
fazendo escolhas que em vez de o realizarem e promoverem violam e
22 FREDERICO RUIZ SALVADOR, Interioridad psíquica y espiritual en San Juan de la Cruz
em VARIOS, Dottore mistico, Teresianum, Roma, 1992, p. 47.
38 JEREMIAS CARLOS VECHINA
ofendem a dignidade pessoal. O homem em conflito com ele mesmo cria
conflitos com o mundo que o rodeia; e este exerce tirania sobre o homem.
É este o espectáculo e a realidade que S. João da Cruz tem diante. O
homem é um instrumento, a cítara desafinada que faz parte duma orquestra
desafinada também, que é a criação, que é o mundo que o rodeia. S. João
da Cruz perante esta situação apresenta um plano de ordenamento do
território. Quer ordem, porque nem o homem é de Deus nem o mundo é do
homem, e o homem é um ser para Deus e o mundo é para o homem; assim
vive o homem como a mosca dentro da garrafa.
O santo no seu programa de vida tem em consideração o homem
concreto, feito de carne e osso, submerso no espaço e no tempo. Este
homem tocado nas suas raízes ônticas pelo pecado que leva em si a
desordem das suas paixões e o alboroto entre a parte corporal e
espiritual. Este programa está fundado na realidade do ser humano que
trata de levar à sua perfeição. Daqui nasce a necessidade de ordenar
todas as energias a este fim.
E este programa de vida é um processo de interiorização. Mas
interior e interioridade para S. João da Cruz não é um espaço espiritual
nem lugar físico. Algo que está aí adiante, ou dentro, dado, preexistente,
fixo. A interioridade não significa um corte no trabalho, um espaço de
tempo totalmente livre, um lugar afastado onde possamos ter a sensação de
nos reencontrarmos no recolhimento. Isto pode dispôr a criar estímulos,
mas não transforma. «A verdadeira interioridade é uma intensificação da
vida, não um descanso da mesma».23 Mais trabalho, mais oração, mais
compromisso de todo o género porque se vai descobrindo a razão de ser, o
sentido de tudo. A interioridade não é algo que se improvisa ou cultiva,
como sector independente, como a oração ou o tempo de retiro, mas algo
que apanha a totalidade da pessoa sempre e no conjunto.
«A interioridade é uma dinâmica de transformação, não
recorrido físico ou psicológico. Trata-se de actuar a níveis mais
pessoais, profundos e totais do sujeito. S. João da Cruz trata da
interioridade como uma graça em vias de desenvolvimento, como um
projecto ou programa de acção. É viver em contínua transcendência».24
23 Ib., p. 41. 24 Ib., p. 55.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 39
É um sair para entrar. Mas é um sair para ir atrás de Deus. Porque
«o sair das coisas e entrar em si mesmo não proporcionam ao homem
nenhum descobrimento novo da sua verdadeira interioridade. A chave
está na realidade íntima do seu ser e da sua vida, que é Deus,
verdadeiro centro e fundo do seu ser».25
Deste centro irradia uma luz que permite ao homem conhecer-se
a si próprio em profundidade e compreender as coisas na sua verdade e
substância. «É de saber que este sair espiritualmente se entende aqui de
duas maneiras para ir atrás de Deus; uma, saindo de todas as coisas, o
qual se faz pelo aborrecimento e desprezo delas; a outra, saindo de si
mesma pelo olvido de si, o qual se faz pelo amor de Deus».26
Peregrino do Absoluto
O homem sãojoanista é existencialmente um ser peregrino.
Encontra-se numa situação estranha, tem a sensação de ser um
apátrida. Ele fugiu da sua morada original, da proximidade do ser.
Deixou a Deus e voltou-se para as criaturas. Esta desorientação
materialista, revelou-lhe pela negativa a sua condição peregrinante, a
sua necessidade de voltar a ser, a encontrar o verdadeiro sentido da sua
existência que é a sua verdadeira pátria.
S. João da Cruz convida o homem dum modo impressionante a
passar pela noite escura da vida e a fazer, qual peregrino, a viagem, a
percorrer o caminho de retorno à pátria, à proximidade do ser para
escutar a palavra salvífica que responde a todas as suas interrogações.
O homem sãojoanista deve assumir existencialmente a sua condição de
peregrino se quer encontrar-se autenticamente a si mesmo e voltar à
pátria de origem. Peregrinar é a sua vocação. É alguém sempre em rota,
em êxodo, em caminho permanente à procura de sentido e
25 Ib.
26 CE, 1, 20. Esta é a dinâmica sãojoanista: sair de todas as coisas para entrar dentro de si e sair
de si para entrar em Deus. O processo de interiorização não consiste simplesmente em entrar
dentro de si mesmo; o movimento não finaliza no próprio eu onde a pessoa se auto-compraz. O
homem continua transcendendo-se interiormente até entrar em Deus. Deus é a meta do
movimento. Neste contexto o entrar em si leva consigo, simultaneamente, o sair de si. Cf.
F.URBINA, La persona humana en San Juan de la Cruz, Madrid, 1956, p. 201.
40 JEREMIAS CARLOS VECHINA
autenticidade real. Ele sai perguntando e o perguntar já é procurar. E
procura na direcção que lhe é dada por aquilo ou aquele que procura.
O homem sãojoanista sai da Trindade para a Trindade.
É assim que S. João da Cruz vê o projecto amoroso de Deus.
Antes mesmo de ser criado já está envolvido no amor e ordenado para
um destino de glória desde toda a eternidade. Por isso a alma «se
conhece obrigada para com Deus antes mesmo que nascesse».27
Sali trás ti clamando...
O homem sai clamando, porque está enamorado. Com ânsias em
amores inflamada. É o amor que o move, um amor maior; porque só um
amor maior pode fazer com que se deixem outros amores.28 O homem
sai de si, tocado por Deus, por um caminho e com um ritmo que são de
programação divina.
Do exterior para o interior. Deus não faz outra coisa que seguir e
respeitar os ritmos da sua própria obra, mas condescendendo muitas
vezes... Com amor de mãe.29 A condescendência faz parte da pedagogia
divina.
Do sentido ao espírito, duas palavras fundamentais no
vocabulário sãojoanista. «Assim vai Deus aperfeiçoando o homem ao
modo do homem, pelo mais baixo e exterior ao mais alto e interior.
Primeiro aperfeiçoa-lhe o sentido corporal... Assim vai Deus levando a
alma de grau em grau até ao mais interior; não que seja sempre
necessário guardar tão pontualmente esta ordem de primeiro e último,
porque às vezes Deus faz um sem o outro, e vai pelo mais interior ao menos
interior, e tudo junto; é como Deus vê que convém à alma ou conforme lhe
quer fazer as mercês; mas a vida ordinária é como fica dito.
27 CE, 1, 1.
28 O homem sai clamando atrás de Deus porque as profundas cavernas do ser humano têm uma
capacidade infinita que só pode ser saciada por Deus. A capacidade infinita do homem
converte-se em tensão radical de toda a pessoa para Deus. Há um sentimento deste vácuo e
desta sede a mais que de morte; o vazio do entendimento é sede de Deus...veementíssima; o vazio da
vontade é uma fome tão grande de Deus que faz desfalecer a alma; e o vazio da memória é o
desfazer e definhar da alma pela posse de Deus (C, 3, 18, 19, 20). 29 Cf. 1NE, 1.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 41
Desta maneira, pois, a vai Deus instruindo e fazendo espiritual
desde as coisas exteriores, palpáveis e acomodadas ao sentido, segundo a
pequenez e a pouca capacidade da alma para que, mediante a casca
daquelas coisas sensíveis que de si são boas, vá o espírito fazendo actos
particulares e recebendo tantos bocados de comunicação espiritual, que
venha a ter o hábito do espiritual, e chegue à actual substância do espírito
que é alheia a todo o sentido».30 Deus vai-se comunicando (dimensão
teologal) conforme a capacidade limitada do homem (dimensão
antropológica) mediante as coisas sensíveis que são como a casca da
realidade (dimensão simbólica).
Nasce daqui todo um dinamismo que é fruto da comunicação de
Deus, cada vez mais interior, é crescimento místico em passividade e
intimidade, e é também esforço do homem por abrir-se a essa comunicação de Deus desde zonas cada vez mais profundas e pessoais.
Passando pelo desconhecido
Neste sair e entrar acontecem coisas que nunca ao homem passaram
pela cabeça. O homem é um mundo e em grande parte desconhecido.
Alguém fala das duas metades do homem em que só uma é conhecida. Só
uma aparece à luz, a outra permanece nas trevas, na escuridão.31
E neste peregrinar para o interior Deus vai iluminando essas zonas
ocultas pondo-lhe tudo à vista. É viagem gozosa para o homem porque está
cheio de amor, mas é também dolorosa porque deve passar do familiar ao
desconhecido, dum estado de consciência que goza de coisas belas, a outro
que valoriza coisas diferentes. Muitas vezes o homem anda às apalpadelas.
O terreno que pisa é desconhecido. Entra em zonas da alma que ordinariamente estão adormecidas e inconscientes.
O olho interior que até então estava fechado e adormecido começa a
abrir-se e a despertar. Ouve vozes mais profundas. Têm lugar mudanças
radicais. Começa a ver as coisas duma maneira nova. Parece-lhe que é uma
30 2S, 17, 4-5.
31 A psicologia do homem é como um iceberg; somente aparece à superfície, ou seja, à
consciência uma mínima parte; o mais volumoso permanece na escuridão do nosso
inconsciente, mas que não deixa de ser muito activo comandando frequentemente a nossa vida.
Cf. 2NE, 10. S. João da Cruz compara a acção de Deus no homem ao fogo no madeiro. Faz-lhe
sair para fora as suas fealdades, vendo em si o que antes não via.
42 JEREMIAS CARLOS VECHINA
pessoa diferente até mesmo aos olhos dos outros. «Outras vezes, escreve S.
João da Cruz, pensa se é encantamento ou pasmo e anda maravilhada das
coisas que vê e ouve, parecendo-lhe muito peregrinas e estranhas, sendo as
mesmas que antes costumava tratar comummente».32
Em todo este processo o homem vai crescendo, a sua consciência
se espande e aprofunda; as zonas mais profundas da alma se vão
actuando e iluminando; começa a aparecer uma unidade interior
parecida à da justiça original.
Não obstante aparecem necessariamente os conflitos. O homem
teme a viagem para o desconhecido e tenta agarrar-se àquilo que lhe é
familiar. Por um lado o amor incita-o a seguir as pisadas do Amado,
por outro, os prazeres das criaturas retêm-no. Vão-se abrindo novas
zonas do chamado inconsciente e vê que nem tudo é bonito. Afloram
coisas feias, coisas que chocam e inquietam, coisas que ele preferia não
ver. Surgem grandes tormentos que o sacodem até às raízes do seu ser. É
possível que se sinta aplanado por rachas de ira, por medos indefinidos,
pela sexualidade tumultuosa ou por uma crispada rebelião contra Deus e
contra os outros. Se algum tem qualquer tipo de tendência neurótica é este
o momento em que pode aparecer e às vezes de uma forma intensa. Se
algumas partes da nossa pessoa não foram satisfeitas no devido tempo é
normal que neste momento reclamem a sua satisfação.33
Esta travessia nocturna tem os seus conflitos, os seus fracassos,
as suas desilusões, tentações e neuroses. O homem nesta viagem encontra por diante muitas barreiras inconscientes: a ira reprimida, o
ressentimento enterrado, a falta de perdão; neuroses existentes no
inconsciente humano desde a infância ou herdadas através de um
inconsciente colectivo. É precisamente aqui que todas estas barreiras
se derrubam.
O amor penetra nessas cavernas do inconsciente trazendo à superfície o medo, a ira, a sexualidade reprimida, etc. Expostas à luz, tudo o amor
32 2NE, 9, 5.
33 É interessante reler o que o santo escreve acerca dos vícios capitais nos primeiros capítulos do
primeiro livro da Noite Escura. Razão tem Santo Agostinho quando diz que nem tudo aquilo
que existe no homem está baptizado. Somos um mixto de luz e de treva, de anjo e de besta,
maduros para o heroísmo e ao mesmo tempo solidários com todas as baixezas. O pagão e o ateu
continuam aninhados nessa zona escura do inconsciente. Deus ilumina o homem e chama à
consciência todo um potencial de contradição que se move no subsolo. O homem é atormentado
pelo espírito de blasfémia (cf.1NE. 14, 2) e de fornicação (cf.1NE. 14, 1).
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 43
corrige, aperfeiçoa e sublima. A maior parte das pessoas tem momentos de
angústia existencial, de solidão e medo da noite, e tenta fugir de tudo isto
das mais diferentes maneiras. Nesta viagem o homem místico tem que se
enfrentar, cara a cara, com o facto da sua contingência. Tem que experimentar a própria limitação e a possibilidade da separação de Deus. Isto é
verdadeiramente terrível. É vislumbrar o inferno.
Este amor purificativo de Deus, «despedaça e rasga a substância da
alma», «a alma sente que se desfaz e derrete... com morte de espírito
cruel». E o que a «alma mais sente é parecer-lhe claramente que Deus a
rejeitou; e aborrecendo-a a arremessou para as trevas». «A alma sente
muito ao vivo a sombra e os gemidos da morte e as dores do inferno...; e
mais: parece-lhe que é para sempre». «O mesmo desamparo e desprezo
sente em todas as criaturas a seu respeito, particularmente dos amigos».34
A este estado de espírito chama o homem sãojoanista «noite
tempestuosa e horrenda».35
Esta «purificação será mais ou menos forte e por mais ou menos
tempo», «segundo o grau da união de amor que na sua misericórdia
(Deus) lhe quer conceder».36
Em direcção ao mais profundo centro
Perante a experiência da solidão e da morte o homem sãojoanista
sai totalmente de si mesmo e cai no seu mais profundo centro, no
centro do coração do espírito. Sem saber como o homem sai da noite e
entra no dia. Sente-se banhado de Deus. Está sendo recebido
constantemente de Deus. É dom, é graça. Vê que em primeiro lugar é de
Deus só depois de si mesmo. É de Deus e para Deus. Este é o seu sentido
ontológico e moral. Esta relação a Deus não lhe é algo acrescentado mas
constitutivo do seu ser. O homem é ele mesmo por esta dependência de
Deus; não pode ser definido senão por esta co-relação a Deus.
O centro da alma, para onde tendem todas as suas energias, é Deus
não no sentido subjectivo ou real de centro como zona mais profunda da
alma, mas num sentido que podiamos chamar objectivo ou intencional. «O
34 2NE, 6, 1. 2. 3.
35 2NE, 7, 3.
36 Ib.
44 JEREMIAS CARLOS VECHINA
centro da alma é Deus, ao qual quando ela tiver chegado segundo toda a
capacidade do seu ser, e segundo a força da sua operação e inclinação, terá
chegado ao seu último e mais profundo centro em Deus, que será quando
com todas as suas forças entenda e ame e goze a Deus; e quando não
chegou a tanto como isto, como acontece nesta vida mortal, em que a alma
não pode atingir Deus segundo todas as suas forças, embora esteja no seu
centro, que é Deus, pela graça e pela comunicação que com ela Ele tem,
por quanto tem ainda movimento e força para mais e não está satisfeita,
embora esteja no seu centro, não está porém no mais profundo, pois pode
ir ao mais profundo de Deus».37
Aqui tem lugar o contacto e união substancial de Deus.
«Deleitando-me na substância da alma com a torrente do teu deleite em
teu divino contacto e união substancial segundo a maior pureza da
minha substância e capacidade e amplitude da minha memória».38
Harmonia universal
A partir daqui há uma irradiação. A interioridade é também uma
das dimensões das coisas exteriores, que também é desenvolvida. S.
João da Cruz compara-o ao grão de mostarda, que embora sendo uma
pequena semente desenvolve-se até dar em árvore grande. «E deste
íntimo ponto da ferida, que parece atingir o centro do coração do
espírito, que é onde se sente o mais fino do deleite, quem poderá falar
como convém? Porque a alma sente ali como que um grão de mostarda
muito pequeno, vivíssimo e ardentíssimo que de si lança em
circunferência um vivo e incendido fogo de amor. Este fogo, nascendo
da substância e virtude daquele ponto vivo onde está a substância da
erva, sente-se difundir subtilmente por todas as espirituais e
substanciais veias da alma, segundo a sua potência e força, com o que
se lhe fortalece e cresce tanto o ardor, e neste ardor se afina tanto o
amor que parecem nela mares de fogo amoroso que chega do alto e
baixo das máquinas, enchendo tudo o amor».39 As máquinas são as
esferas celeste e terrestre...
37 C, 1, 12.
38 C, 1, 17.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 45
Vê-se aqui um contraste muito grande entre a pequenez deste
ponto central e a sua força irradiadora que enche toda a criação. Este é
o centro da alma mas governado e administrado totalmente por Deus. O
cosmos fragmentado, o mundo e o homem divididos, aparecem agora
unificados pelo amor. Na substância da alma Deus se manifesta como
centro, não somente da alma, mas como raíz e realização eminente de
todas as restantes criaturas. Como Rei e Senhor de tudo Deus se
comunica secretamente à alma na sua íntima substância: «Esta recordação é um movimento que o Verbo faz na substância da alma, de tanta
grandeza e senhorio e glória e de tão íntima suavidade que parece à
alma... que todos os reinos e senhorios do mundo e todas as potestades
e virtudes do céu se movem. E não só isto, mas que também todas as
virtudes e substâncias e perfeições e graças e todas as coisas criadas,
todas à uma reluzem e fazem o mesmo movimento.
E embora seja verdade que a alma vê ali que estas coisas são
distintas de Deus, quanto ao ser criado, e as vê n’Ele com a sua força,
raíz e vigor, conhece tanto que Deus é no seu próprio ser todas essas
coisas com infinita eminência, que as conhece melhor no ser de Deus
que nelas mesmas».40
Daqui concluímos que o homem se interioriza na medida em que
Deus entra na sua profundidade e dela se apodera. A criação
interioriza-se na medida em que o homem interiorizado por Deus
redescobre pessoas e coisas n'Ele e não somente nelas mesmas.
O homem interior não é aquele simplesmente que sai de si ou das
coisas, das realidades terrenas, mas é aquele que sai de si mesmo e em
si mesmo entra, até chegar ao seu mais profundo centro que é Deus; é
aquele que sai das realidades e entra ao mesmo tempo nelas até
encontrar o sentido de todas elas e descobrir a sua razão de ser. O
homem interior é aquele que ao descobrir o sentido inscrito por Deus
na natureza das coisas por ele se deixa mover. É aquele que desde a raíz
do seu ser se encontra enraizado em tudo pela união com Deus.
39 C, 11, 10.
40 C, 4, 4-5. Razão tem G.Marañon quando escreve: «Coisa estranha: para ver a paisagem é
necessário viver dentro de si mesmo. Na realidade, só vemos na sua imensa plenitude a
natureza que nos rodeia quando somos capazes de a perceber, olhando-a lá no fundo do eu,
como reflectida na água profunda e tranquila de um poço». Cit. por LUIS JORGE
GONZALEZ, La trans-personalidad y su horizonte, México, 1980, p. 141.
46 JEREMIAS CARLOS VECHINA
Então o instrumento está afinado e toda a orquestra em sintonia.
E canta:
«A noite sossegada
tocando já com o surgir da aurora
A música calada
a solidão sonora
a ceia que recria e namora».41
Agora «a alma descobre uma admirável conveniência e
disposição da sabedoria de Deus na diversidade de todas as suas criaturas
e almas; todas e cada uma delas dotadas com certa relação a Deus, em que
cada uma de sua maneira dê voz do que nela é Deus; e isto é para a alma
uma harmonia de música subidíssima que sobrepassa todos os saraus e
melodias do mundo... e assim todas estas vozes cantam, num concerto, a
grandeza de Deus e a sua admirável ciência e sabedoria».42
Conclusão
Concluímos que o homem só tem sentido à luz de Deus e que
Deus é a plenitude do homem. Deus é o princípio e o fim do homem e
por conse-guinte o agir de Deus a seu respeito é sempre um actuar de
graça e por amor. O homem recebe de Deus a orientação radical de todo
o seu ser, «tem a sua vida radical e naturalmente em Deus», «em Deus
temos nossa vida, nosso movimento e ser», «tem sua vida natural em
Deus pelo ser que d’Ele tem».43 Sem este vínculo o homem «se
aniquilaria e deixaria de ser.44
O homem pode saber isto porque o diz a fé; mas há outro meio de
conhecimento que é aquele que nasce da experiência. Santa Teresa
escreve: «Importa muito, não só crer isto, mas procurar entendê-lo por
41 CE, 15.
42 CE, 15, 25-27.
43 CE, 8, 3.
44 2S, 5, 3.
DESCIDA AO MAIS PROFUNDO CENTRO 47
experiência».45 E S. João da Cruz acrescenta a este propósito: «Isto
creio que não acabará de entender bem quem o não houver
experimentado».46
Santa Teresa fala do conhecimento por experiência como de um
conhecimento impresso nas entranhas. É um conhecimento místico,
mas que Deus não deixará de dar a quem a ele se dispuser pelo
conhecimento próprio. Não há conhecimento de Deus sem conhecimento do homem. «Do próprio conhecimento... como do seu fundamento, sai este outro conhecimento de Deus».47 «Conhecimento de
Deus e de si mesmo» nisto, para S. João da Cruz, «consiste o estado de
perfeição».48
O homem deve fazer o que está da sua parte, por isso, o Santo
convida-o a peregrinar para o interior, que Deus iluminá-lo-á com a luz
da contemplação para que ele veja o que só com a sua capacidade não
enxergaria.
Termino com umas palavras de João Paulo II: «Penso que para
compreender a dignidade do homem, as possibilidades da pessoa
humana, é necessário passar, pelo menos uma vez, pela teologia
sãojoanista; passar, diria, pela dimensão do homem que nos descobre a
doutrina de S. João da Cruz. Então se saberá o que quer dizer homem.
Então, o homem não se poderá esquecer da sua dignidade».49
45 CP, 28, 1.
46 CE, 7, 10.
47 1NE, 12, 5.
48 2NE, 18, 4.
49 Discurso pronunciado na Aula Magna da Faculdade TERESIANUM de Roma a 22/4/1979.