Na audiência que, dentre tantas outras, Pio IX concedeu a Dom Bosco em janeiro de 1875, o bondoso Pontífice, a pedido do Servo de Deus, depois de um instante de recolhimento deixou esta palavra de ordem para ser transmitida aos salesianos e a seus alunos: “Recomendai a todos a obediência e a fidelidade ao Vigário de Jesus Cristo”.
- Que coincidência, Santo Padre! respondeu Dom Bosco. Pois justamente uma coisa faltava para dizer a V. Santidade. Está notada neste papelzinho.
O Papa quis ver e leu: “Na última audiência, antes de partir, penhorar ao Papa a obediência e fidelidade de todos os Salesianos e de todos os alunos”.
- Está vendo como nos encontramos? disse o Papa todo jubiloso.
A obediência e a fidelidade ao representante de Jesus Cristo na terra foi uma das grandes virtudes que Dom Bosco se empenhou, durante o curso de toda a sua vida, em inculcar a todos os seus filhos. Pode-se dizer que sua vida inteira de apóstolo se encerra entre dois episódios comoventes que dizem toda a sua devoção à Cátedra de São Pedro.
No dia 15 de novembro de 1848, foi apunhalado covardemente em Roma o Primeiro Ministro do Papa Pio IX, Peregrino Rossi, e hordas revolucionárias tentaram dar o assalto aos Palácios Pontifícios. Mons. Palma, Secretário de Pio IX, tombou prostrado por uma bala em pleno rosto. O perigo era ameaçador. De uma hora para outra a Revolução poderia apoderar-se da pessoa do Sumo Pontífice. Portanto era necessário tomar providências urgentes. No dia 23 de novembro, à noite, Pio IX, acompanhado de um simples criado, deixava o Quirinal por uma porta secreta, e se entregava à proteção do Embaixador da Baviera, que o aguardava a pouca distância numa carruagem fechada. Poucas hora depois, o augusto Pontífice se achava em território do Reino de Nápoles, e aí o Rei Fernando de Bourbon punha à sua disposição a cidade e o castelo de Gaeta. Iria, ficar seis meses. Esse exílio forçado comoveu o mundo católico todo, e pensou-se antes de mais nada, em prover à manutenção do Pai comum dos fiéis. Data desse ano a obra do óbolo de São Pedro.
Abriram-se subscrições em toda a parte. Em Turim, foi uma surpresa para a Comissão o dia que viram figurar, na lista a soma fabulosa e modesta ao mesmo tempo, oferecida pelos meninos do Oratório de Dom Bosco: trinta e três liras!
Sabemos que esses pobres meninos recebiam de Dom Bosco apenas a importância de 5 soldos por dia, para comprarem alguma coisa que servisse para completar o pobre cardápio, onde figurava apenas sopa ou polenta. E no entanto, filhos dedicados do Papa, tinham sabido economizar na própria miséria e tinham conseguido em poucos dias esse óbolo, que Pio IX recebeu chorando de comoção e que agradeceu por meio de seu Núncio, na Côrte de Turim.
Tal fato acontecia bem no início do apostolado do Santo. E vêde o que ele balbuciou no leito de morte, no dia 28 de dezembro de 1887, na presença de seu Arcebispo, Cardeal Alimonda, que lhe fôra fazer uma visita: “Tempos difíceis, Eminência! Atravessei tempos bem difíceis!… Mas a autoridade do Papa… Já o disse a Monsenhor Cagliero, aqui presente, para que o transmita ao Santo Padre; os Salesianos existem para defender o Papa, onde quer que trabalhem”.
Dom Bosco, A. Auffray SDB, tradução de Dom João Resende Costa, cap. XI, A serviço do Papa.
de:fratres in unum