quinta-feira, 31 de julho de 2025

Deus quis nascer menino, porque quis ser amado.

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Capítulo X

Parvulus natus est nobis, et filius datus est nobis – “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado” (Is 9, 6)

A razão de haver querido o Filho de Deus nascer menino foi para se fazer acessível aos corações de todas as idades, e para mais facilmente roubar o nosso amor.

E por que razão, pergunta São Francisco de Sales, tomou Jesus esta tão doce e amável condição de menino, se não foi para nos obrigar a amá-lo e nele depositar toda a confiança? Já antes dissera São Pedro Crisólogo: Deus quis nascer menino, porque quis ser amado.

Nosso Senhor Jesus Cristo, escreveu o piedoso padre Guéric, ardentemente deseja que o amemos com esse abandono com que um menino bem formado ama o melhor dos pais; que nós o temamos como escravos temem um senhor severo e cruel, isso é que ele não pode sofrer. E assim é que manifestando-se aos homens não ostenta já um aparato de poder e majestade capaz de fazer tremer; na forma de um menino prefere antes aparecer, pois a salvar e a fazer-se amar é ao que ele vinha, não a julgar e fazer-se temido. Afoitamente corramos pois agora a lançar-nos ante o trono da sua misericórdia, nós que outrora no trono de sua majestade nem pensar ao menos podíamos sem nos sentirmos possuídos de um certo pavor religioso. No presépio de Belém nada há que inspire temor; misericórdia e amor é o que ali tudo respira. Lá está Jesus cheio de doçura; nem o que é irritar-se, ele sabe quando é ofendido, ou se alguma coisa se irrita, é fácil em apaziguar-se. Vamos, pois, ao presépio, tomemos a Jesus nos braços, abracemo-lo ao coração, e peçamos-lhe que nos abrase das chamas do seu amor.

Senhor Jesus, doce Salvador da minha alma, qual é a minha confiança nesta vida? Ou qual a minha mais doce consolação de tudo que aos meus olhos se apresenta debaixo do céu? Não sois vós, Senhor meu Deus, cujas misericórdias não têm número? Onde me foi bem sem vós? E convosco onde me foi mal? Mais quero ser pobre por vós, que rico sem vós. Por melhor hei o peregrinar convosco na terra, que sem vós possuir o céu; onde estais vós, aí está o céu, onde faltais está a morte e o inferno. Todos os meus desejos sois vós, e por isso, longe de vós devo plenamente confiar, e nas minhas necessidades só de vós, ó meu Deus, posso esperar socorro. Vós sois a minha esperança, a minha confiança, o meu sempre fiel consolador… Meus olhos a vós se elevam; em vós ponho toda a minha confiança, o meu Deus. Santificai a minha alma e abençoai-a com a nossa bênção celeste, para que seja vossa santa morada, trono da vossa eterna glória, e para que neste templo que vos dignais habitar nada haja, nada haja que ofenda os vossos olhos. Olhai para mim, Senhor, em vossa imensa bondade; e segundo a multidão de vossas misericórdias ouvi a oração deste pobre servo vosso, longe de vós desterrado na região as trevas e da morte. Conservai, protegei a alma do vosso pobre filho no meio dos perigos desta vida corruptível: a vossa graça o acompanhe e conduza pelo caminho da paz à pátria da eterna luz. Ó Jesus! Jesus Menino, de vossa misericórdia espero esta graça.

São Francisco de Assis, ao falar do mistério do nascimento do Filho de Deus, transportes de admiração e amor o enleavam. Sentimentos iguais partilhava São Bernardo; ouçamo-lo: Eis soou nesta nossa terra de exílio, em nossas tendas de pecadores, um brado de alegria, de regozijo e salvação. Uma palavra cheia de doçura e consolação acaba de ferir nossos ouvidos. Jubilai, ó montes, e fazei retumbar os louvores do Senhor. Regozijam-se os céus e exulte a terra, inundem-se de alegria os campos e tudo o que neles habita, saltem de contentamento as árvores das florestas, ante a face do nosso Deus, que acaba de chegar ao meio de nós. Escutai, ó céus, presta ouvidos, ó terra; tu sobretudo, tu ó homem, fica tomado de pasmo; Jesus Cristo, Filho de Deus, acaba de nascer em Belém de Judá! Que coração há tão de pedra, tão insensível, que não se derreta a uma tão doce palavra? Que mais agradável nova se nos podia dar? Quando se ouviu tal? Quando ouviu jamais o mundo tão consoladoras palavras: Jesus Cristo, Filho de Deus, acaba de nascer em Belém de Judá! De que doce suavidade não são repassadas! Pudesse eu fazer sentir sua doçura e energia; mas expressões me faltam, e temo tirar-lhes a força, fazendo a mínima mudança. Jesus Cristo, Filho de Deus, acaba de nascer em Belém de Judá. Ó nascimento adorável!… Ó vós todos, todos que estais no pó, levantai-vos e adorai a Jesus menino; vem salvar-nos, curar-nos e cobrir-nos de glória.

Ó vós, pecadores, pobres ovelhas desgarradas, já podeis respirar; para vos procurar e salvar o que estava perdido é que Jesus vem à terra. Ó vós, que estais doentes, havei ânimo; Jesus vem curar os corações com a unção da sua misericórdia. Ó vós todos que nutris em vossa alma desejos de chegar às grandes dignidades, regozijais-vos, o Filho de Deus desce à terra para vos fazer participantes do seu reino. Ide ao presépio, ide sem temor visita-lo; quando está sobre o trono de sua majestade impõe respeito e temor; mas aqui, na forma de um menino, só instila amor e confiança. Poderiam os olhos de Jesus inundados em lágrimas não vos tocar o coração? Chora este divino Salvador, mas não como os outros meninos nem pela mesma razão; os demais meninos por temor e fraqueza é que choram, Jesus chora de compaixão e amor por nós.

Nasceu-nos um menino; foi-nos dado um filho. Vamos ao presépio e com respeito escutemos as instruções que nos queira dirigir. Sua língua não pode ainda articular palavra, mas todos os membros do seu corpinho são outras tantas bocas que clamando-nos estão: Amai a Deus de todas as vossas forças; bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados; tomai o último lugar; o que se humilha será exaltado, o que se exalta será humilhado; não queirais entesourar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consome, e onde os ladrões os desenterram e roubam; mas entesourai para vós tesouros no céu onde não os consome a ferrugem nem a traça e os ladrões não os desenterram nem roubam; só uma coisa é necessária, e esta coisa necessária é a vossa salvação; de que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma?…

Meu melífluo Jesus, quão belas acho eu vossas lições! Quão admiráveis! Oh! Quanto eu desejaria pô-las todas em prática por amor vosso! Mas aí! Sou tão fraco, tão fraco, que para o bem é não poder nada de todo.

Ó meu Jesus, ó Jesus menino, Jesus tão bom, tão terno, tão compassivo! Tende piedade de mim. Amar-vos quero eu, bem o sabeis, pois vedes o fundo dos corações: eia pois, concedei-me o vosso santo amor. Oh! Que se eu pudesse amar-vos como a santa Virgem e todos os santos! Quão doce me fora! Oh! Quem me dera poder fazer-vos amar de todos os homens! Mas sequer ao menos, ó Jesus meu! Graças a vós, esse vivo e ardente desejo já o tenho; dignai-vos, eu vo-lo suplico, aceitar estes votos do meu coração.

Nasceu-nos um menino, foi-nos dado um filho. O Eterno tornou-se menino, o Onipotente fez-se fraco, o Infinito e Independente submeteu-se às suas próprias criaturas; humilhou-se até ao ponto de se fazer homem e nascer num curral, e o amor que nos tem é que o levou a operar todos estes prodígios. Ó caridade, exclama Santo Tomás de Vilanova, ó mais potente triunfo do amor! O invencível tu o fizeste vencer o Onipotente deixou-se cativar. Ó verdadeiro excesso de caridade! Um Deus menino! E por amor de nós! E para nos inspirar confiança! E para melhor cativar o nosso coração! Amemos, pois, esse Deus tão bom e tão amável, e para de mais em mais nos excitarmos a amá-lo, não nos cansemos de repetir, e cada vez com uma nova efusão de alegria e amor estas tão tocantes palavras: Nasceu-nos um menino, foi-nos dado um filho.

Ó meu rico menino Jesus, doce Salvador meu! A vós amo e em vós confio; sim, toda a minha esperança, e amor sois vós. Ah! Que seria de mim agora pobre miserável, se não descêsseis do céu para salvar-me? Muito tempo há já que as ofensas de que me tornei culpado me haveriam arremessado às chamas do inferno. Para sempre seja bendita a vossa misericórdia por ainda estardes pronto a receber-me se me arrepender dos meus pecados. Ó Jesus meu, vós estais lendo no fundo do meu coração e vedes quão arrependido estou. Recebei-me em vossa graça, e fazei que eu morra para mim mesmo, a fim de só para vós, ó meu único bem, viver.

Consumi, em mim, ó fogo abrasador, tudo o que desagrada aos vossos olhos, e tomai posse de todos os meus afetos. Amo-vos, ó doce e amável menino Jesus! Amo-vos, ó Deus de minha alma! Amo-vos, ó meu tesouro, minha vida, meu tudo! Amo-vos, e meu último suspiro quero exalar a dizer: Amo-vos, meu Deus, a fim de então começar amar-vos com um amor mais perfeito, e que jamais terá fim.

RESOLUÇÕES PRÁTICAS

Amor do Próximo

Se alguém disser: Amo a Deus, e aborrecer o seu irmão, é um mentiroso. Porque aquele que não ama a seu irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê? Apesar destas palavras de São João, muitos há que andam grosseiramente iludidos. Para com os pobres são duros, dos outros gostam de dizer mal, injúria por mui leve isso dificilmente a perdoam; desprezam os mais; mas lá porque repetem a miúde: “Meu Deus, amo-vos! Amo-vos, meu Deus?” julgam-se estar mui sobre o seguro. Não imites tal proceder, meu caro Teótimo; a todos os homens ama como a teus irmãos, como a criaturas em que está gravada a imagem de Deus. De todos deseja ardentemente a salvação. Doce e meigo rosto mostra sempre a todos os teus inimigos e aos que te perseguem muito principalmente. De tua boca somente saiam palavras de paz e a suave unção da caridade tempere sempre o agro do teu coração. Para socorrer e consolar os teus irmãos está sempre pronto, sê todo compaixão para com os aflitos e pecadores. Das virtudes dos outros te alegra como se tuas foram, doi-te das suas misérias, como das tuas; transforma-te, por assim dizer, em cada um de teus irmãos. A ninguém desprezes. Repele cuidadosamente os juízos temerários e suspeitas desfavoráveis ao próximo. De todos te habitua a julgar bem. As palavras e ações de outrem sempre com singelo coração as toma à boa parte, dizia Luiz de Blois. Oh! Quão bela é a virtude da caridade para com o próximo! Mas ai! Meu caro Teótimo, é tão rara! Entra no fundo do teu coração, e vê até que ponto a possuis.

Estás verdadeiramente disposto a perdoar a todos os teus inimigos e até mesmo a fazer-lhes bem? Não gostas de quando em quando de criticar a vida do próximo? Sonda bem o teu coração, repito; ama os teus irmãos como a ti mesmo, é o que de ti exige Jesus Cristo, e hás de ser tu que não queiras obedecer a um tão justo pedido? Nem um dia deixes passar sem tomar as medidas necessárias, para a noite em verdade puderes dizer: Meu Deus, amo-vos de todo o meu coração, e amo também ao meu próximo como a mim mesmo por amor de vós.

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(Pinnard, Abade Dom. As Chamas do Amor de Jesus ou provas do ardente amor que Jesus nos tem testemunhado na obra da nossa redenção. Traduzido pelo Rev. Padre Silva, 1923, p. 66-72)

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA C’EST LA CONFIANCE DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE A CONFIANÇA NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
C’EST LA CONFIANCE
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE A CONFIANÇA
NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS
POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
DO NASCIMENTO DE
SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE

AR  - BE  - DE  - EN  - ES  - FR  - IT  - LA  - PL  - PT  - SL

1. « C’EST LA CONFIANCE et rien que la confiance qui doit nous conduire à l’Amour – só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor». [1]

2. Estas palavras tão incisivas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face dizem tudo, sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o facto de ter sido declarada Doutora da Igreja. Só a confiança e «nada mais»… Não há outra via que devamos percorrer para ser conduzidos ao Amor que tudo dá. Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos.

3. É a confiança que nos sustenta cada dia e nos manterá de pé diante do olhar do Senhor, quando nos chamar para junto de Si: «Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo». [2]

4. Teresinha é uma das santas mais conhecidas e amadas em todo o mundo. Como sucede com São Francisco de Assis, é amada até por não-cristãos e não-crentes. Foi também reconhecida pela UNESCO entre as figuras mais significativas para a humanidade contemporânea. [3] Far-nos-á bem aprofundar a sua mensagem, ao comemorarmos o 150º aniversário do seu nascimento que teve lugar em Alençon a 2 de janeiro de 1873 e o centenário da sua beatificação. [4] Mas não quis publicar esta Exortação em nenhuma dessas datas, nem no dia da sua Memória, para que a mensagem se situe além das ocorrências e seja assumida como parte do tesouro espiritual da Igreja. A data da presente publicação, Memória de Santa Teresa de Ávila, quer apresentar Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face como fruto maduro da reforma do Carmelo e da espiritualidade da grande Santa espanhola.

5. A sua vida terrena foi breve (apenas vinte e quatro anos) e simples como qualquer outra, passada primeiro em família e depois no Carmelo de Lisieux. A extraordinária carga de luz e amor, que irradiava da sua pessoa, manifestou-se logo depois da sua morte, com a publicação dos seus escritos e as graças inumeráveis obtidas pelos fiéis que a invocavam.

6. A Igreja reconheceu, rapidamente, o valor extraordinário do seu testemunho e a originalidade da sua espiritualidade evangélica. Teresa encontrou o Papa Leão XIII, por ocasião da peregrinação a Roma em 1887, e pediu-lhe autorização para entrar no Carmelo com a idade de quinze anos. Pouco depois da sua morte, São Pio X apercebeu-se da sua enorme estatura espiritual, a ponto de afirmar que se tornaria a maior Santa dos tempos modernos. Declarada venerável em 1921 por Bento XV, que elogiou as suas virtudes focalizando-as no «caminhito» da infância espiritual, [5] foi beatificada há cem anos e, depois, canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, que agradeceu ao Senhor ter-lhe permitido que Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face fosse «a primeira beata que elevou às honras dos altares e a primeira santa canonizada por ele» [6]. Em 1927, o mesmo Papa declarou-a padroeira das missões. [7] Foi proclamada uma das padroeiras da França, em 1944, pelo venerável Pio XII, [8] que em diversas ocasiões aprofundou o tema da infância espiritual. [9] São Paulo VI gostava de recordar que recebera o Batismo em 30 de setembro de 1897, dia da morte de Santa Teresinha, escrevendo no centenário de seu nascimento uma carta sobre a sua doutrina, que dirigiu ao Bispo de Bayeux e Lisieux. [10] Durante a sua primeira viagem apostólica à França, no mês de junho de 1980, São João Paulo II visitou a Basílica a ela dedicada e, em 1997, declarou-a Doutora da Igreja, [11] contemplando-a depois em tal catálogo «como perita da scientia amoris». [12]Bento XVI retomou o tema da sua « ciência do amor», propondo-a como «uma guia para todos, sobretudo para aqueles que, no Povo de Deus, desempenham o ministério de teólogos». [13] Por fim, em 2015, tive eu a alegria de canonizar os seus pais Luís e Célia durante o Sínodo da família e, recentemente, dediquei-lhe uma Catequese na série sobre o zelo apostólico. [14]

1. Levar Jesus aos outros

7. No nome que escolheu como religiosa, põe-se em evidência Jesus: o «Menino» que manifesta o mistério da Encarnação, e a «Santa Face», isto é, o rosto de Cristo que Se dá até ao fim na Cruz. O seu nome é «Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face».

8. O Nome de Jesus cadenciou continuamente a «respiração» de Teresa como ato de amor, até ao último respiro. Na sua cela, gravara estas palavras: «Jesus é o meu único amor». Foi a sua interpretação da afirmação culminante do Novo Testamento: «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16).

Alma missionária

9. Como sucede em todo o encontro autêntico com Cristo, esta experiência de fé chamava-a para a missão. Teresa pôde definir a sua missão com as seguintes palavras. «Eu desejarei no Céu o mesmo que na terra: amar Jesus e fazê-Lo amar». [15] Escreveu que entrara no Carmelo «para salvar as almas». [16] Por outras palavras, não concebia a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos irmãos. Partilhava o amor misericordioso do Pai pelo filho pecador e o do Bom Pastor pelas ovelhas perdidas, distantes, feridas. Por isso, é padroeira das missões, mestra de evangelização.

10. As últimas páginas da História de uma alma [17] são um testamento missionário, exprimem a sua maneira de entender a evangelização por atração, [18] e não por pressão ou proselitismo. Vale a pena ler como ela própria a sintetiza: «“ Atraí-me, correremos ao odor dos vossos perfumes”. Ó Jesus, nem sequer é necessário dizer: “Atraindo-me, atraí as almas que amo!” Esta simples palavra: “Atraí-me”, basta. Senhor, eu compreendo. Quando uma alma se deixou cativar pelo odor inebriante dos vossos perfumes, não seria capaz de correr sozinha: todas as almas que ama são arrastadas atrás dela. Isto faz-se sem constrangimento, sem esforço; é uma consequência natural da sua atração para Vós. Assim como uma torrente, lançando-se impetuosamente no oceano, arrasta consigo tudo o que encontrou no seu percurso, do mesmo modo, ó meu Jesus, a alma que mergulha no oceano sem limites do vosso amor, leva com ela todos os tesouros que possui... Senhor, bem o sabeis, não tenho mais nenhum tesouro a não ser as almas que Vos aprouve unir à minha». [19]

11. Aqui cita as palavras que a esposa dirige ao esposo no Cântico dos Cânticos (1, 3-4), seguindo a interpretação aprofundada pelos dois doutores do Carmelo, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz. O Esposo é Jesus, o Filho de Deus que Se uniu à nossa humanidade na Encarnação e a redimiu na Cruz. Lá, do seu lado aberto, deu à luz a Igreja, sua Esposa amada, pela qual ofereceu a vida (cf. Ef 5, 25). O que impressiona é ver como Teresinha, ciente de estar próxima da morte, não vive este mistério fechada em si mesma, procurando apenas um sentido consolador, mas vive-o com um ardente espírito apostólico.

A graça que nos liberta da autorreferencialidade

12. Sucede algo semelhante quando se refere à ação do Espírito Santo, que adquire imediatamente um sentido missionário: «Eis a minha oração. Peço a Jesus que me atraia para as chamas do seu amor, que me una tão estreitamente a Ele, que viva e atue em mim. Estou certa de que quanto mais o fogo do amor abrasar o meu coração, tanto mais eu direi: “Atraí-me”; e mais as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacito de ferro inútil, se me afastasse do braseiro divino), correrão, ligeiras, ao odor dos perfumes do seu Bem-amado, pois uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa». [20]

13. No coração de Teresinha, a graça do Batismo tornou-se uma torrente impetuosa que desagua no oceano do amor de Cristo, arrastando consigo uma multidão de irmãs e irmãos, o que se verificou especialmente depois da sua morte. Foi a sua prometida «chuva de rosas». [21]

2. O caminhito da confiança e do amor

14. Uma das descobertas mais importantes de Teresinha, para bem de todo o Povo de Deus, é o seu «caminhito», o caminho da confiança e do amor, conhecido também como o caminho da infância espiritual. Todos o podem seguir, em qualquer estado de vida, nos mais diversos momentos da existência. É o caminho que o Pai celeste revela aos pequeninos (cf. Mt 11, 25).

15. Teresinha conta a descoberta do caminhito na História de uma alma[22] «Posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o Céu por um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito completamente novo». [23]

16. Para o descrever, recorre à imagem do elevador: «O ascensor que me há de elevar até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena». [24] Vê-se pequena, incapaz de fiar-se em si própria, embora firmemente certa da força amorosa dos braços do Senhor.

17. É o «doce caminho do amor», [25] aberto por Jesus aos pequeninos e aos pobres, a todos. É o caminho da verdadeira alegria. Diversamente da ideia pelagiana de santidade, [26] individualista e elitista, mais ascética do que mística, que põe o acento principalmente no esforço humano, Teresinha realça sempre o primado da ação de Deus, da sua graça. Assim chega a dizer: «Sinto sempre a mesma confiança audaciosa de me tornar uma grande Santa, pois não conto com os meus méritos, não tenho nenhum, mas espero n’Aquele que é a Virtude, a própria Santidade. Só Ele, contentando-Se com os meus fracos esforços, me elevará até Ele e, cobrindo-me dos seus méritos infinitos, me fará Santa». [27]

Para além de qualquer mérito

18. Este modo de pensar não contrasta com a doutrina católica tradicional sobre o crescimento da graça, isto é, que, uma vez justificados gratuitamente pela graça santificante, ficamos transformados e capacitados para cooperar, com as nossas boas obras, num caminho de crescimento na santidade. E assim somos elevados de modo a poder obter méritos reais para o desenvolvimento da graça recebida.

19. Teresinha, porém, prefere sublinhar o primado da ação divina e convidar à plena confiança, tendo diante dos olhos o amor de Cristo que Se nos deu até ao fim. No fundo, é este o seu ensinamento: como não podemos ter qualquer certeza olhando para nós mesmos, [28] é impossível estar seguros de possuir méritos próprios. Por conseguinte, não é possível confiar nestes esforços ou realizações. O Catecismo quis citar estas palavras de Santa Teresinha dirigidas ao Senhor: «Aparecerei diante de Vós com as mãos vazias», [29] para exprimir que «os santos tiveram sempre uma consciência viva de que os seus méritos eram pura graça». [30] Esta convicção suscita uma jubilosa e terna gratidão.

20. Por isso, a atitude mais adequada é depositar a confiança do coração fora de nós mesmos, ou seja, na infinita misericórdia de um Deus que ama sem limites e que deu tudo na Cruz de Jesus[31] Daí que Teresa nunca usa a expressão, frequente no seu tempo, «hei de fazer-me santa».

21. Todavia a sua confiança sem limites encoraja aqueles que se sentem frágeis, limitados, pecadores a deixarem-se conduzir e transformar para chegar ao alto: «Ah! se todas as almas débeis e imperfeitas sentissem o que sente a mais pequena de todas as almas – a alma da vossa Teresinha – nem uma única perderia a esperança de chegar à Montanha do Amor, uma vez que Jesus não pede grandes ações, mas apenas o abandono e a gratidão». [32]

22. E esta mesma insistência de Teresinha na iniciativa divina faz com que, ao falar da Eucaristia, não coloque em primeiro lugar o seu desejo de receber Jesus na Sagrada Comunhão, mas o desejo de Jesus que quer unir-Se a nós e habitar nos nossos corações. [33] No Oferecimento ao Amor Misericordioso, sofrendo por não poder comungar todos os dias, diz a Jesus: «Ficai em mim, como no Sacrário». [34] O centro e o objeto do seu olhar não é ela própria com as suas necessidades, mas Cristo que ama, que procura, que deseja, que mora na alma.

O abandono quotidiano

23. A confiança que Teresinha fomenta não deve ser entendida apenas em referimento à própria santificação e salvação. Mas possui um sentido integral, que abraça o conjunto da existência concreta e aplica-se a toda a nossa vida, onde muitas vezes nos dominam os medos, o desejo de seguranças humanas, a necessidade de ter tudo sob controle. É aqui que aparece o convite ao santo «abandono».

24. A confiança plena, que se torna abandono ao Amor, liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. Nos últimos dias da sua vida, Teresinha insistia nisto: «Creio que nós, que corremos pelo caminho do Amor, não devemos pensar no que nos pode acontecer de doloroso no futuro, porque é faltar à confiança». [35] A verdade é que, se estamos nas mãos dum Pai que nos ama sem limites, venha o que vier havemos de o ultrapassar e, duma forma ou doutra, cumprir-se-á na nossa vida o seu projeto de amor e de plenitude.

Um fogo no meio da noite

25. Teresinha experimentava a fé mais forte e segura no meio da escuridão da noite e até na escuridão do Calvário. O seu testemunho atingiu o ponto culminante no último período da vida, na grande «provação contra a fé», [36] que começou na Páscoa de 1896. Na sua narração, [37] coloca esta provação em relação direta com a dolorosa realidade do ateísmo do seu tempo. De facto, viveu no final do século XIX, isto é, na «idade de ouro» do ateísmo moderno como sistema filosófico e ideológico. Quando escrevia que Jesus permitira que a sua alma «fosse invadida pelas mais espessas trevas», [38] pensava na obscuridade do ateísmo e na rejeição da fé cristã. Em união com Jesus, que acolheu em Si toda a obscuridade do pecado do mundo quando aceitou beber o cálice da Paixão, Teresinha prova, naquela escuridão tenebrosa, o desespero, o vazio do nada. [39]


quarta-feira, 23 de julho de 2025

domingo, 13 de julho de 2025

La spiritualità di Gesù Bambino


La storia di Gesù Bambino - Santuario Gesù Bambino di Praga
La spiritualità di Gesù Bambino, spesso associata al Bambino Gesù di Praga, si concentra sull'infanzia di Gesù come modello di umiltà, fiducia e abbandono alla volontà di Dio. Si ispira alla semplicità, all'innocenza e all'amore incondizionato che si attribuiscono all'infanzia, invitando a un rapporto di fiducia e abbandono filiale verso Dio. 
Ecco alcuni aspetti chiave:
  • Umiltà e semplicità:
    Gesù Bambino, nella sua condizione di infante, rappresenta l'umiltà e la semplicità che dovrebbero caratterizzare la vita spirituale di ogni credente. 
  • Fiducia e abbandono:
    La fragilità e la dipendenza del bambino Gesù invitano a un abbandono totale alla volontà di Dio, confidando nella sua provvidenza e amore. 
  • Amore e accoglienza:
    La figura di Gesù Bambino richiama l'amore incondizionato di Dio per ogni creatura, invitando a un atteggiamento di accoglienza e apertura verso gli altri, specialmente i più deboli. 
  • Pregare con il cuore:
    La spiritualità legata a Gesù Bambino incoraggia una preghiera semplice e spontanea, espressa con il cuore, come quella di un bambino. 
  • Protezione e intercessione:
    Si crede che Gesù Bambino abbia il potere di proteggere e intercedere per coloro che si rivolgono a lui con fiducia, specialmente i bambini. 
In sintesi, la spiritualità di Gesù Bambino è un invito a vivere con semplicità, fiducia e abbandono alla volontà di Dio, coltivando un cuore puro e aperto all'amore divino, sull'esempio della sua infanzia.