Catedral de Sens |
É comum essa má vontade em relação à arte medieval. Citemos como exemplo “The Architectural Reviw”, que se publica em Londres, dedicou um número especial ao gótico.
Em sua apresentação, afirmam os editores claramente que tal manifestação de interesse pela arte ogival “só se tornou possível pelo agora indisputável estabelecimento do movimento moderno como o estilo próprio de nosso século”.
Por outras palavras, pode-se falar agora abertamente do gótico, porque teria passado perigo de qualquer tentativa de restaurá-lo, estaria ele irremediavelmente morto e enterrado sob o chão duro em a arquitetura moderna orgulhosamente ergue seus mastodontes de concreto armado.
Uma surpresa, porém aguarda o leitor desprevenido. Era de esperar que publicada na terra das maravilhosas catedrais de Canterbury, de York, de Salisbury, de Peterborough, a revista se valesse desses monumentos para ilustrar os textos.
Que vemos, todavia? Em lugar de tantos puros góticos ingleses, com ar de derrisão aparecem nas várias páginas desse número especial de “The Architectural Reviw” quase que exclusivamente reproduções de obras primas do mau gosto, autenticas contrafações do estilo ogival, que os editores foram buscar na tentativa de restauração gótica timidamente surgida na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX.
Essas ilustrações, escolhidas talvez facciosamente, sugerem um problema: uma vez perdido o espírito que provocou o nascimento do gótico na Idade Média, como restaurar um estilo que foi fruto genuíno da plena aceitação da concepção católica da vida? Como fundir a estatua enquanto permanece quebrado o molde?
Catedral de Chartres: Cristo glorioso |
Queremos demonstrar, tomando como ponto de partida o gótico, que a plena aceitação da verdade católica é capaz de gerar, não somente um autentico e inconfundível estilo de vida, mais também um estilo arquitetônico, uma estética própria.
Segundo Wilheim Woringer, foi Godofredo Semper, com sua atitude parcial em favor do classicismo, quem primeiro empregou a expressão “escolástica de pedra” numa canhestra tentativa de desacreditar o estilo ogival.
Mas diz o mesmo autor, “este juízo tão exato sobre a arte gótica não pode significar descrédito, a não ser para os que, incapazes de superar o estreito ponto de vista moderno, não conseguem contemplar em conjunto o grande fenômeno da escolástica”.