quarta-feira, 20 de abril de 2011

O ódio ao gótico é ódio à Igreja Católica

 

Catedral de Bourges, França
 

A civilização medieval foi um todo orgânico e coeso, em suas partes. E seus inimigos não deixam de proclamá-los ao reconhecer essa identidade de espírito que uniu o gótico à escolástica.

Quando não vão frontalmente contra a Igreja, que foi a verdadeira criadora dessa civilização, investem ora contra a escolástica, ora contra o gótico, mas sabem que, atacando um, atingiram também os outros.

A revolução religiosa, política e social dos Tempos Modernos teve como uma de suas primeiras brigadas de choque o humanismo renascentista, que atuou sobretudo no campo estético.

E vem da Renascença a palavra “gótico”, tomada em sentido pejorativo, para designar algo de bárbaro, de grosseiro, que cumpria substituir pelas belezas do classicismo neopagão.

Semelhante ódio a essa expressão estética da civilização católica aparece, através dos séculos, junto a outras formas de destruição revolucionária.

Assim é que na Revolução Francesa são arrasados os últimos resquícios do mundo gótico e feudal, ou da Cristandade como expressão política. E a fúria do barrete frigio se exerceu não somente contra as instituições, mas também contra os castelos, contra os conventos, contra as abadias, contra as catedrais.

Catedral de Troyes, Champagne, França
Até hoje são visíveis as cicatrizes e as ruínas que assinalaram a passagem dessa horda de vândalos.

Em 1793, por exemplo, Saint-Just e La Bas ordenaram a destruição das imagens da catedral de Strasburg para transformar esse esplendido exemplo do alto gótico em “templo da razão”.

Alguém sabendo do que ia acontecer, apressadamente e às escondidas removeu para sua própria casa e instalou em seu jardim duas estatuas, verdadeiras obras primas que simbolizam a Igreja e a Sinagoga.

Mas ainda, para salvar da sanha revolucionaria os altos-relevos do “tímpano” da entrada principal, ocultou-os sob um grosseiro painel de tabuas, no qual fez escrever as palavras mágicas: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”...

Da parte dos inimigos da Cidade de Deus, convenhamos que esse ódio ao gótico é logicamente fundamentado. Para demonstrá-lo basta que atentemos para a história desse estilo.

A arquitetura gótica não teve inicio na decadência de um estilo, mas é produto de uma nova civilização que então se estruturava e que criou novos padrões estéticos, os quais progressivamente foram se impondo a todo o mundo cristão.

Justamente o contrario da arquitetura românica, que se originou do esforço dos monges e do povo por continuar a fazer algo parecido com os edifícios romanos, cujas ruínas se espalhavam um pouco por toda parte.
Fonte: Catolicismo, Junho de 1960, Nº 114
 
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