segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Compenetração na Liturgia da Santa Missa é essencial para a Santificação. A Verdadeira Missa. O Uso Dominicano segundo as Rubricas da Tradição. Entrevista com Dom Luigi Negri, Bispo de San Marino.Missa Tridentina e os Ministros Extraordinários da Eucaristia.

A Compenetração na Liturgia da Santa Missa é essencial para a Santificação.

 
É pela Missa e pelos sacramentos, que constituem a própria essência da Liturgia, que a Santa Igreja nos santifica. Fá-lo ainda unindo-nos à sua oração e iniciando-nos no espírito e na prática da vida cristã mais autêntica. A primeira parte da Missa é uma verdadeira catequese em que, constantemente lembrados no decurso do ano, as verdades do dogma e os preceitos da moral católica são postos em verdadeira e perfeita ligação com a celebração dos mistérios de Cristo e com as festas dos santos. A compenetração deste ensinamento assíduo, da vida sacramental e de uma vida de oração, torna a Liturgia fonte indispensável para a vida cristã. (Fonte: Missal Quotidiano da Abadia de Sancte Andreae)


Pergunta: Por favor, eu fico confuso quando vejo padres dizendo que não é necessário mais se ajoelhar na hora da consagração, que é preciso se modernizar. Quando fiz primeiro catecismo, me ensinaram a mesma coisa e que tudo é uma "cena" do calvário e não o ápice da Missa, por isso pergunto: o que é a Missa?

Uma explicação tradicional da Missa, feita por um monge beneditino, liturgista, escritor e editor do Missal Tridentino para a Missa com o povo e do Missal Quotidiano para os fiéis.Tradução dos Monges Beneditinos de Singeverga.

 por Dom Gaspar Lefebvre, OSB.

O sacrifício da Missa nada menos é do que o mesmo sacrifício do Calvário perpetuado nos nossos altares. Cometido o pecado original, que para sempre afastava o homem de Deus, só o sacrifício de Jesus Cristo, Homem-Deus, restabeleceria no homem a capacidade de render à majestade divina, com a reparação da culpa, aquele preito que toda a criatura deve ao Criador. Como fulcro central da religião, a Missa significa a atualização, levada a efeito pela Igreja, do sacrifício de Cristo sobre a Cruz, sucesso primacial, único ato redentor, posto no centro da história uma vez por todas, mas cuja presença, desta sorte, perdurará na sucessão dos tempos.

No Calvário, Cristo tudo nos reconsquistou. Filho de Deus feito homem e Cabeça da humanidade, substituindo-Se, vítima inocente, à humanidade culpada; chamando a Si a dívida do pecado e dando-Se à morte para a remir, Ele faz revogar a sentença do castigo que sobre nós pesava e restaura-nos na amizado do Pai. Com Seu sacrifício, Jesus justificou-nos, quer dizer, satisfez por nós a Justiça divina e tornou-nos justos pela Sua mesma inocência, participantes da Sua própria vida, enfim, seus co-herdeiros.

Ora, são as riquezas incalculáveis deste tesouro do Calvário que a Missa, quotidianamente, nos faculta e propicia. Não que a morte cruenta do Senhor se repita: para todo o sempre fixado na Glória, Jesus não volve a morrer. Mas o sacramento contido na Missa atualiza o que se operou sobre a Cruz. A separação do Corpo e do Sangue de Cristo, representada pelo pão e pelo vinho separados*, miraculosamente se efetua no altar em virtude da transubstanciação: toda a substância do pão se transmuta na do Seu Corpo, toda a substância do vinho na do Seu Sangue. É, pois, bem a vítima divina, em estado real de imolação, que a Missa faz ressurgir entre nós. O culto infinito de adoração, de ação de graças, de expiação e de súplica que, crucificado, o Filho rendeu a seu Pai, de novo o rende Ele sobre o altar, todas as vezes que se celebra a Santa Missa.

* * *

*Há que se deixar claro, por cautela aos leitores menos dedicados e apressados, o que o autor quis dizer por "a separação do Corpo e do Sangue de Cristo, representada pelo pão e pelo vinho separados" [sic]. A Missa não é uma representação do Calvário, é o próprio Calvário, assim sendo o que o Corpo e o Sangue, verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo, representam sobre o altar, uma vez que estão separados em recipientes diferentes - o Corpo sobre a patena e no cibório; e o Sangue no Cálice -, é a separação do Corpo e do Sangue de Cristo que se operou na Cruz, embora quem comunga o Corpo comunga o Corpo e o Sangue; quem comunga o Sangue, comunga o Sangue e o Corpo, porque em ambos Cristo é total. É esta a verdadeira, e corretíssima, noção de "representar", que não é mera encenação, mas um símbolo do rito romano, verdadeiro que o próprio Cristo instituiu. 


 
O Rito Dominicano Tradicional começou a ser composto em 1235, ao contrário do que uma mente desatenta pode supor, a Ordem não compôs um Missal, ou uma liturgia ao seu modo, ou ainda um rito, mas usaram a forma e estrutura do Rito Romano já existente tanto que o Papa Clemente IV aprovou o uso dominicano em 1256, que na sua forma tradicional permanece praticamente inalterado até os dias de hoje. O que se chama por r é na verdade oito dominicano rito romano com elementos dominicanos.

Após o Concílio Vaticano II a Ordem Dominicana passou a usar a Missa vernácula, mas no início da década 1990, começou a crescer nos padres recém ordenados e nos frades da Ordem Dominicana no Ocidente o interesse pela Missa Tradicional segundo o Uso Domincano e passaram a estudá-lo. Graças ao Motu Proprio Summorum Pontificum, estes padres e frades puderam finalmente ter seus desejos satisfeitos e passaram a usar o Missal anterior ao Concílio.

A Missa foi celebrada em 1995, ou seja, 12 anos antes da Summorum Pontificum, isso mostra que os Superiores da Ordem Domincana não esperaram pelo Motu Proprio e começaram a usar do Missal Tradicional.
Na procissão o padre, o diácono e o subdiácono usam o capuz sobre a cabeça, "o capacete da justiça" que só é descoberto ao pé do altar. O capuz é parte integrante da veste dominicana: o hábito. No rito romano, quando os padres não usam o hábito, mas a batina, o capuz é substituído pelo amito, que nesse caso não é colocado sobre a cabeça, mas envolto na alva na altura do pescoço. A simbologia é a mesma, mas como o amito não é usado sobre a cabeça, o sacerdote ao se paramentar na sacristia, quando veste a peça, no decorrer nas orações de vestição ele deixa que o mesmo corra por sua cabeça e desça até o pescoço e ali seja atado ao corpo.

A cásula e as dalmática são em estilo gótico, nelas vemos estampado o brasão da Ordem Dominicana. Uma tradição belíssima e que nunca foi abolida.



No ofertório, que no rito romano se inicia no altar, no uso dominicano o sacerdote está sentado e o subdíacono deposita no Cálice o vinho que será oferecido no altar, momento equivalente no rito romano. As galhetas são levadas pelo acólito (ao lado direito da foto) que as entrega ao subdiácono.








Fonte : DVD Solemn Mass of St. Thomas Aquinas via NLM.

Apresentamos nossa tradução de uma interessante entrevista de Dom Luigi Negri, Bispo de San Marino que foi concedida ao "La Voce di Romagna." Tratando sobre a reforma da reforma, a Missa Tridentina e as interpretações do Concílio, o prelado discorre sobre os golpes promovidos por Conferências Episcopais contra o Papa.

Excelência, a marca característica deste pontificado é a relação entre fé e razão: por que insistir na liturgia?

A liturgia é a vida de Cristo que se realiza na Igreja e envolve existencialmente os cristãos. A liturgia não é simplesmente um culto que se eleva do homem até Deus, como na grande maioria das formulações de crenças naturais.

A liturgia é um amplo realizar-se do acontecimento da Vida, Morte e Ressurreição do Senhor que toma forma no organismo sacramental e envolve os cristãos em um sentido substancial e fundamental, fazendo-os pertencer a Cristo e à Igreja através dos sacramentos da iniciação cristã, e logo os acompanha nas grandes opções e nas grandes etapas da vida. Nas grandes opções vocacionais – matrimônio e ordem – ou nas etapas do dia-a-dia. Pois bem, a liturgia defende a intimidade de Cristo e da Igreja.

Eu creio que na liturgia se encontra a verdade da fé porque se encontra a grande alternativa que Bento XVI expôs no início da Deus Caritas Est: o cristianismo não é uma ideologia de caráter religioso, não é um projeto de caráter moralista, senão o encontro com Cristo que permanece e se desdobra na vida da Igreja e na vida do cristão.

A liturgia faz presente os feitos de Cristo no fluxo e no refluxo das gerações: “Fazei isto em memória de Mim”. Eu creio que também a defesa de uma consciência exata do dogma depende da verdade com que se vive a liturgia. Neste sentido, desde sempre a Igreja afirmou que a “lex orandi, Lex credendi” é a lei da oração que fazer nascer a lei da fé sobre tudo que vigia da maneira adequada e positiva.

Dois aspectos me parecem centrais no livro de Ratzinger “Teologia da Liturgia”: o prevalecimento, lamentavelmente verificado, de um sentido de Missa como assembléia ou como “evento de um determinado grupo ou igreja local”, e ainda, como ceia, portanto, a participação dos fiéis, entendida como “o atuar de várias pessoas” que, segundo o autor, “se transforma, às vezes em comédia”. E também a celebração para o povo, que por uma série de más interpretações “se apresenta hoje como fruto da renovação litúrgica querida pelo Concílio”, escreve o Papa. Consequências: a comunidade se vê como círculo fechado sobre si mesma e uma clericalização nunca antes vista onde tudo converge no celebrante.
Eu concordo que o Papa deverá continuar a “reforma da reforma” litúrgica do Concílio, usando uma expressão de Dom Nicola Bux. Porém, deve ser dito com extrema claridade que o Papa está custando fazer esta “reforma da reforma”. Existem tendências negativas de resistência não tão passivas. A reforma litúrgica vinda depois do Concílio está, na maioria das vezes, cheia de falsas interpretações e faz com que os casos excepcionais valham como normas – basta pensar no problema da língua litúrgica e da comunhão na mão. Existem verdadeiros golpes das Conferências Episcopais contra Roma [sic].

Certamente houve uma debilidade na reação vaticana [sic], provavelmente devida a tensões e contra-tensões, inclusive das estruturas que deviam regulamentar as interpretações de forma exata e de como fazer a aplicação do Concílio. Agora bem, ainda tendo presentes estes dados condicionantes, frente aos quais o governo da Igreja deve fazer frente de forma realista, e a alternativa é entre uma socialização da liturgia – ou seja, um funcionamento adequado das leis e dos comportamentos da comunidade cristã reunida para celebrar a Eucaristia, que se converte no sujeito da celebração eucarística antes que um interlocutor privilegiado – e novamente trazer ao centro o verdadeiro sujeito da celebração Eucarística, que é Jesus Cristo em Pessoa. A estrutura da tradição litúrgica, assim como a Igreja do Concílio recebeu, resguarda os direitos de Cristo. Então, tudo isto que se faz para esgotar ou reduzir a consciência da presença de Cristo em benefício da modalidade em que a comunidade está presente, é uma perda do valor último da liturgia, do valor ontológico, diria Dom Giussani, e portanto, metodológico e educativo. No tempo em que entrava em vigor pela primeira vez a reforma do Concílio Vaticano II, uma altíssima personalidade vaticana – que não posso dizer qual, mas que li com meus próprios olhos – escreveu que finalmente a celebração da Missa voltava a ser “um espaço saudável de convivência Católica”.

Poderia, ao menos, dizer se esta alta autoridade estava alguns escalões acima de Monsenhor Bugnini?

Muitos escalões acima de Monsenhor Bugnini


“Na Itália, salvo poucos e honrosas execeções, os bispos e superiores das ordens religiosas se opõem à aplicação do Motu Proprio”: assim se declarou o vice-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei um na após o Summorum Pontificum, com que Bento XVI “liberou” [aspas do original] a liturgia tradicional tridentina. É uma denúncia muito forte de desobediência do episcopado italiano. Em que ponto estamos, atualmente, na aplicação do Motu Proprio? Em sua diocese existem celebrações da liturgia na forma do Missal Romano de 1962?

Eu tenho tratado de aplicá-lo, e mais, de receber e explicar ao meu clero o sentido profundo deste Motu Proprio que, em minha opinião, é uma possibilidade dada a quem quiser valorizar dentro da Igreja uma riqueza mais ampla e articulada que está à disposição de todos. É como se o Papa houvesse reaberto a possibilidade de uma celebração litúrgica que o indivíduo e o grupo se sentem mais acordes com seus desejos de crescimento e com seus princípios. No entanto, devo dizer que ainda faltam, até agora, as normas aplicativas, que estamos esperando há anos.

Basicamente, pelo que se pode fazer hoje, ali onde o bispo obedeceu o Papa, como eu meu caso, se celebram não muitas, mas todas aquelas Missas que lhe são pedidas segundo a modalidade precisamente identificada no Motu Proprio. Quando antes eu disse ao Papa que resulta difícil implantar a “reforma da reforma”, tinha precisamente em mente um Motu Proprio. Porém, me parece que o rechaço, a resistência, não tem sido tanto sobre o Motu Proprio, senão sobre o feito da reforma litúrgica do Vaticano II e como os textos e a liturgia são interpretados. A resistência é, sobre a possibilidade mesma, que o Papa tenha aberto a possibilidade de ter outras formas de aplicação da vida litúrgico-sacramental: é isto que está em questionamento, não a aplicação. Por isso, que o Papa disse: - há uma riqueza litúrgico-sacramental, a qual toda a Igreja, se quiser, pode aceder sem que tudo seja reconduzido a uma só forma; em minha opinião, há um amplo extrato de eclesiásticos que consideram que a reforma do Concílio Vaticano II arrasou, como um todo, tudo aquilo que existia antes. É aquela hermenêutica da descontinuidade sobre a qual o Papa interveio com claridade e decisão.

Segundo uma sondagem, 71 por cento dos católicos freqüentariam normalmente uma paróquia onde convivessem as duas formas do rito romano, tradicional e novo. Já 40 por cento dos que iriam à Missa todos os domingos, prefeririam ir todas as semanas à Missa de São Pio V. Como o senhor comenta estes dados?

Sigo sendo da opinião que além desses dados, hoje a Igreja deve ser muito disponível em oferecer formas e modos de participação na vida de Cristo que correspondam em sua diversidade a inevitável diversidade que existe entre homens e entre os jovens. Creio que nos deve animar um sincero entusiasmo missionário. Em um momento que as igrejas se esvaziam e quando existem tantas dificuldades para uma percepção adequada do mistério de Crida e da Igreja, tudo o que pode facilitar deve ser utilizado, porém não para afirmar as próprias opções ideológicas! O choque tradicionalismo-progressismo não tem mais razão de ser, e desta superação estamos endividados com Bento XVI. São contraposições ideológicas que hipnotizam pontos de vista, sensibilidades, formas, em lugar de perguntar quem serve mais à missão da Igreja e, portanto, à sua tarefa educativa.

Íntegra: Sancta Missa Portugal


 
O autor da aclamada obra "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental", o Ph.D Thomas E. Woods Jr., com uma lógica irrefutável, típica de espíritos tomistas, vem escrever sobre a banalização do Sagrado através do uso do ditos "Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística". O autor, já qualificado de aclamado, usa de um dos meios mais marginalizados nos últimos tempos: a razão iluminada pela fé. Esta é, repetimos, marginalizada, porque nada que há de inovador pode superar a lógica da Tradição e por isso, como não conseguem destruir a verdade, partem para a criminalização moral dos católicos que se apegam à doutrina de sempre. Para saber mais sobre a obra aqui. Abaixo o texto, com destaques nossos:

por Thomas E. Woods, Jr.

O espírito de inovação dos últimos quarenta anos tem endurecido a sensibilidade de muitos clérigos para a seriedade e gravidade de suas rupturas quase rotineiras com a Tradição. Tem sido mostrado a eles que algumas inovações obviamente teriam sido detestadas por toda a assembléia dos santos, embora eles os ignorem - uma atitude que outrora seria impensável para um Católico - ou de fato aleguem que temos feito "progresso" desde aqueles tempos. Tal é o nível de nossa idiotice espiritual que uma era tão empobrecida espiritual e esteticamente quanto a nossa pode se descrever como “progresso”, e interpretar o desagrado presumível dos santos em relação a nossa ‘inovação’ como um sinal de seu atraso, ao invés da nossa própria imaturidade.

Como um convertido, sempre considerei o uso dos “ministros de Eucaristia” uma das inovações pós-conciliares mais incômodas. Eu me perguntava: se os Católicos realmente crêem o que dizem sobre a Sagrada Eucaristia, e se eles realmente crêem no que dizem sobre o santo sacerdócio, por que estimulam tanto a introdução dos leigos numa área tão sagrada da vida da Igreja – uma área em que os leigos nunca reivindicaram ou manifestaram o desejo de admissão? Afinal de contas, S. Tomás de Aquino fizera uma ligação explícita entre a ordenação do sacerdote e a sua missão de distribuir a Santa Comunhão, e o Papa João Paulo II uma vez indicou a relação entre a consagração das mãos sacerdotais com o seu inestimável privilégio de distribuir as Hóstias consagradas aos fiéis.

Nada disso, porém, parece sensibilizar os inovadores, cujo ponto ideológico não é exatamente sutil: a introdução dos ministros da Eucaristia clara e obviamente denigre o ofício do sacerdócio sacramental em nome do igualitarismo totalmente estranho à tradição Católica - embora, não coincidentemente, muito bem-vindo ao mundo -. A premissa implícita é de que devemos nos conformar com o mundo: uma vez que a era em que vivemos é aquela que enfatiza a “igualdade”, e uma vez que os privilégios do sacerdócio, portanto, parecem incongruentes e intoleráveis aos fazedores de opiniões do nosso tempo, a exigência do tempo deve ser satisfeita à custa da tradição imemorial.

Em pelo menos um caso, os ministros da Eucaristia estão sendo aparentemente evitados na comunidade da Missa – isto é, pessoas que participam das Missas Latinas tradicionais da Igreja. Certamente, as pessoas que participam daquela Missa o fazem a fim de evitar a familiaridade casual na presença do sagrado que o uso dos ministros da Eucaristia tão claramente reflete. Num mundo que crê que nada é imune às mudanças, que a própria família é objeto de redefinição de acordo com o capricho humano, eles apreciam o fato de que a piedade e a reverência da Missa Latina tradicional, na sua beleza e imponente austeridade, e na sua reserva dos serviços sagrados unicamente ao sacerdote, relembra-nos que algumas coisas de fato não devem ser tocados por homem. Que mensagem a mais a nossa sociedade e os nossos filhos necessitariam, além disso?

O grande Rei Felipe II da Espanha, ao ver uma criança que aprendia a engatinhar tentando escalar a grade da Comunhão, disse-lhe, “Apenas os sacerdotes podem estar aí”. Hoje, uma geração possuidora de uma autoconfiança imerecida e inconseqüente e sem uma maturidade espiritual, ri da piedade bela e solene dos nossos antepassados que nunca teriam sonhado em transgredir o terreno do santo sacerdócio e desmistificar e profanar o lugar mais belo e sagrado de toda a terra.

Bons pais Católicos devem, portanto, trabalhar contra as pressões da mídia, da indústria do entretenimento, e de todo Zeitgeist a fim de aquinhoar nos seus filhos a idéia de que algumas coisas são sagradas, uma idéia que é mais bem expressa na ação e no gesto que em palavras. A Santa Comunhão, dizem aos seus filhos, ao permitir-nos a comunhão com a vida divina, é o maior dom de Deus para nós na terra. A Santa Comunhão, além disso, contém o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do próprio Senhor. A única resposta racional e espiritual madura para tal dom, portanto, deve ser a maior reverência, e esta é a mensagem às crianças que a presença de ministros de Eucaristia, membros não-ordenados dentre os fiéis procura insistentemente minar. Uma vez que, além disso, a custódia exclusiva do sacerdote sobre a Eucaristia tem sido tradicionalmente um dos aspectos que mais fascinava os jovens meninos no sagrado ofício, o uso dos ministros de Eucaristia pode apenas afastá-los do mistério do sacerdócio que tanto os atraía. Por que tanto sacrifício associado à vida de sacerdote se o Sr. Silva pode alimentar o rebanho tanto quanto você e eu?

É esta enfermidade espiritual que nos assedia de todos os lados, e que está praticamente institucionalizada através da vida paroquial, e que as pessoas que participam da Missa Latina procuram evitar. Elas fazem grandes sacrifícios para participar de tais Missas, freqüentemente viajando horas ou mudando-se a fim de que a ‘velha’ Missa ou Missa de sempre, se torne mais acessível. Bispos e pastores que se desviam do caminho para demonstrar a sua “compreensão pastoral” aos Católicos divorciados ou recasados, dissidentes, feministas – a lista se torna cada vez pior – nada têm a oferecer àqueles Católicos que estão simplesmente tentando viver a Fé que seus pais e avós lhes transmitiram, e que por seus meios procuram resistir às obsessões da cultura para a dessacralização e profanação que os bispos e pastores deveriam primeiro resistir ao invés de serem tão indulgentes.

Que os Católicos tenham que discutir com seus próprios pastores em tal combate é um fato suficientemente bizarro e desmoralizante, mas que devem fazê-lo no contexto da Missa tradicional é um fato inescusável. Tal profanação mostra total desconsideração para as sensibilidades dos presentes e se torna um escândalo para as crianças. Há mais do que um toque de fanatismo naqueles que, enquanto aquiesce ou encoraja positivamente tais espetáculos como histeria carismática, a chamada “catedral” de Los Angeles, e as danças litúrgicas ‘ecumênicas’, permitem com reticência a Missa tradicional da própria Igreja – e mesmo assim impõem aos fiéis infelizes uma das inovações mais impiedosas e destrutivas desde o Vaticano II, aquela que viola claramente todo a ética do rito antigo e visão tradicional do sacerdócio – isto é, a única que os santos reconheceriam. Essas pobres criaturas não poderiam ser deixadas em paz?

(Thomas E. Woods Jr., possui bacharelado em História pela Harvard e Ph. D. pela Universidade de Columbia. Seus artigos apareceram em Investor’s Business Daily, the Christian Science Monitor, Modern Age e dezenas de outros periódicos. É professor de História da Suffolk Community College da Universidade Estadual de Nova York e editor associado da revista The Latin Mass).
 
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