Estende-se a polêmica insuflada pelo artigo publicado em Disputationes Theologicae – ‹‹ O fracasso dos colóquios doutrinais com a Fraternidade São Pio X e a questão de um ‘ordinariato tradicional’ ›› –, revista online de teologia dos Padres Stefano Carusi e Matthieu Raffray, do Instituto do Bom Pastor. Em artigo publicado hoje, estes mesmos padres pretendem responder às objeções, algumas das quais classificadas como ‹‹ violentíssimas ››, lançadas tanto pelo que consideram representantes de um ‹‹ tradicionalismo rígido ›› como por ‹‹ fautores de um liberal ‘ecumenismo da Tradição’››. Para tal, propõem, precisamente, uma ‹‹ terceira via ››, outrora apresentada por Monsenhor Brunero Gherardini, com a qual — sempre segundo Disputationes Theologicae — ‹‹ é possível ser ‘romano’ e nutrir um respeito — mesmo verbal — para com a autoridade eclesiástica, mas, ao mesmo tempo, exprimir, também publicamente, a sua divergência quando um perigo para a doutrina da fé assim exigir ››.
Apresentamos, pois, as objeções e as respostas apresentadas no artigo, que, em um primeiro momento, aborda questões de ordem teológica:
Objeção 1) De que a revista, assim como todos os outros institutos ligados à Comissão Ecclesia Dei, apoia a hermenênutica da continudade com uma ‹‹ defesa do texto concíliar, sustentando que tudo nos textos do Vaticano II é absoluta e indistintamente vinculante ›› : afirmando seguir as regras clássicas de avaliação teológica para exprimir uma ‹‹ posição de assentimento ou divergência sobre um argumento teológico não infalivelmente definido ou, de todo modo, suscetível de aprofundamento ››, os editores enfatizam a ‹‹ justa liberdade de investigar e manifestar com prudência ›› as próprias opiniões dada pelo Código de Direito Canônico, sendo que a Comissão Ecclesia Dei, um organismo canônico-jurídico, não teria a ‹‹ sua ›› posição teológica. Antes, os próprios ‹‹ estatutos do Instituto do Bom Pastor, ao qual pertence o diretor deste site [Disputationes Theologicae], não sustentam a absoluta intangibilidade dos textos de tal Concílio pastoral ››, pois são ‹‹ textos que não gozam da infalibidade do Magistério extraordinário infalível, nem daquela do ordinário infalível em cada uma de suas frases ››. No entanto, de acordo com o Pe. Carusi, ‹‹ limitar o debate aos documentos do Concílio, todavia, de maneira fortemente exasperada e imensamente ideológica, é muito simplista, sendo o problema muito mais amplo ››.
Objeção 2) A revista teria atacado o ‹‹ neotomismo dos anos 30 porque sua linha de pensamento já seria uma nova, que despreza o rigor e a linha de raciocínio, misturando a novidade modernista ›› : segundo o editor, ‹‹ não repudiamos o ‘neotomismo’ ››, mas ‹‹ nos referimos ao juízo fácil da parte vaticana ›› , esperando que se ampliassem as perspectivas a fim de ‹‹ evitar o jogo fácil de alguns teólogos modernos que querem chamar de ‘disputa de escolas’ o que mereceria simplesmente o nome de ‘erro de doutrina’ ››.
Objeção 3) De que estariam submetidos visível e canonicamente à autoridade promotora do encontro de Assis, sendo assim, implicitamente, favoráveis ao ecumenismo atual: continua o Padre Carusi, ‹‹ estar canonicamente, logo, visivelmente, submetido ao Romano Pontífice e ao Bispo em comunhão com Ele não significa compartilhar todos e quaisquer atos não infalíveis que a autoridade faz ou tolera, propõe ou parece propor. Significa respeitar a Constituição Divina da Igreja, embora reservando-se a faculdade de exprimir respeitosamente uma divergência teologicamente compatível com a matéria em questão. Afirmamos, sobretudo, um princípio teológico e de lei natural: aquele que regulamenta, e eventualmente permite, a resistência à plena submissão à hierarquia e à imposição de uma ordem moralmente inaceitável ›› . Pelo contrário, para os editores de Disputationes Theologicae, ‹‹ a circunstância de que a hierarquia faça ou diga algo com que não se possa compartilhar não autoriza estender a resistência a uma dimensão habitual ou universal ››.
Objeção 4) De que não denunciam com ‹‹ suficiente convicção ›› o ecumenismo e, sobretudo, Assis III: o autor recorda que foi a própria revista quem denunciou à Congregação para a Doutrina da Fé o artigo de Renzo Gattegna, veiculado por L’Osservatore Romano, no qual se sustentava a tese de que a Igreja deveria renunciar a seu empenho de converter os judeus. ‹‹ Na evidência de uma afirmação em contraste aberto com a doutrina católica, é nossa posição de que tais erros em matéria de fé devem ser denunciados, sem reticência. Quanto a Assis III, permanecemos, em linha de princípio, fortemente contrários aos encontros interreligiosos, posição pública e já conhecida tanto pelo Santo Padre como pela Igreja em geral, mas conhecendo o pensamento do então Cardeal Ratzinger e suas afirmações passadas sobre o impacto desastroso dos eventos anteriores, esperamos o acontecimento para conhecer a fundo qual seria, na ‘mens’ do Papa, o motivo de tal encontro. Talvez ligado, mais do que se imagina, ao atual equilíbrio de forças internacionais ou ao equilíbrio de forças interno do mundo eclesiástico. Dada a complexidade da situação, não nos parece oportuno os rápidos comentários, e mesmo os epítetos, reservados ao sucessor de Pedro nos sites de esfera tradicional”.