- E senti o espírito
inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)
sábado, 18 de outubro de 2008
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O DIA MISSIONÁRIO MUNDIAL DE 2008
"Servos e apóstolos de Jesus Cristo"
Queridos irmãos e irmãs
Por ocasião do Dia Missionário Mundial, gostaria de vos convidar a reflectir acerca da urgência que subsiste em anunciar o Evangelho inclusivamente nesta nossa época. O mandato missionário continua a constituir uma prioridade absoluta para todos os baptizados, chamados a ser "servos e apóstolos de Jesus Cristo" neste início de milénio. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, já afirmava na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, que "evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade" (n. 14). Como modelo deste compromisso apostólico, apraz-me indicar particularmente São Paulo, o Apóstolo das nações, uma vez que no corrente ano celebramos um Jubileu especial a ele dedicado. Trata-se do Ano Paulino, que nos oferece a oportunidade de familiarizar com este insigne Apóstolo, que recebeu a vocação de proclamar o Evangelho aos gentios, em conformidade com quanto o Senhor lhe tinha prenunciado: "Vai! É para longe, é para junto dos pagãos que Eu te hei-de enviar" . Como deixar de aproveitar a oportunidade oferecida por este Jubileu especial às Igrejas locais, às comunidades cristãs e a cada um dos fiéis separadamente, para propagar até aos extremos confins do mundo "o anúncio do Evangelho, força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita ?
1. A humanidade tem necessidade de libertação
A humanidade tem necessidade de ser libertada e redimida. A própria criação afirma São Paulo sofre e nutre a esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus . Estas palavras são verdadeiras também no mundo de hoje. A criação sofre. A humanidade sofre e espera a verdadeira liberdade, aguarda um mundo diferente, melhor; espera a "redenção". E, em última análise, sabe que este novo mundo esperado supõe um homem novo, supõe "filhos de Deus
Existe esperança para o futuro, ou melhor, há um futuro para a humanidade? E como será este futuro? A resposta a estas interrogações provêm-nos do Evangelho. Cristo é o nosso futuro e, o seu Evangelho é a comunicação que "transforma a vida", incute a esperança, abre de par em par as portas obscuras do tempo e ilumina o porvir da humanidade e do universo . São Paulo compreendeu bem que somente em Cristo a humanidade pode encontrar a redenção e a esperança. Por isso, sentia impelente e urgente a missão de "anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo" , "nossa esperança" , a fim de que todos os povos possam participar na mesma herança e tornar-se partícipes da promessa por meio do Evangelho .Ele estava consciente de que, desprovida de Cristo, a humanidade permanece "sem esperança e sem Deus no mundo ; sem esperança porque sem Deus" . Com efeito, "quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida .
2. A Missão é uma questão de amor
Por conseguinte, anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos. "Ai de mim afirmava São Paulo se eu não anunciar o Evangelho!" . No caminho de Damasco, ele tinha experimentado e compreendido que a redenção e a missão são obra de Deus e do seu amor. O amor de Cristo levou-o a percorrer os caminhos do Império Romano como arauto, apóstolo, anunciador e mestre do Evangelho, do qual se proclamava "embaixador aprisionado" . A caridade divina tornou-o "tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo" .
Considerando a experiência de São Paulo, compreendemos que a actividade missionária é a resposta ao amor com que Deus nos ama. O seu amor redime-nos e impele-nos rumo à missio ad gentes; é a energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça, a comunhão entre as pessoas, as raças e os povos, à qual todos aspiram .Portanto é Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem "da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus" . Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.
3. Evangelizar sempre
Enquanto a primeira evangelização em não poucas regiões do mundo permanece necessária e urgente, a escassez de clero e a falta de vocações afligem hoje várias Dioceses e Institutos de vida consagrada. É importante reiterar que, mesmo na presença de dificuldades crescentes, o mandato de Cristo de evangelizar todos os povos permanece uma prioridade. Nenhuma razão pode justificar uma sua diminuição ou uma sua interrupção, dado que "a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja" . Esta missão "ainda está no começo e devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço" . Como deixar de pensar aqui no Macedónio que, tendo aparecido em sonho a Paulo, clamava: "Vem à Macedónia e ajuda-nos"? Hoje são inúmeros aqueles que esperam o anúncio do Evangelho, aqueles que se sentem sequiosos de esperança e de amor. Quantos se deixam interpelar profundamente por este pedido de ajuda que se eleva da humanidade, abandonam tudo por Cristo e transmitem aos homens a fé e o amor por Ele!
4.E vós, amados religiosos e religiosas, caracterizados por vocação por uma forte conotação missionária, levai o anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos que estão distantes, mediante um testemunho coerente de Cristo e um seguimento radical do seu Evangelho.
Todos vós, prezados fiéis leigos que trabalhais nos diversos âmbitos da sociedade, sois chamados a participar na difusão do Evangelho de maneira cada vez mais relevante. Assim, abre-se diante de vós um areópago complexo e multifacetado a ser evangelizado: o mundo. Dai testemunho com a vossa própria vida, do facto de que os cristãos "pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada" .
5. Conclusão
Caros irmãos e irmãs, a celebração do Dia Missionário Mundial encoraje todos vós a tomar uma renovada consciência da urgente necessidade de anunciar o Evangelho. A colecta, que no Dia Missionário Mundial se realiza em todas as paróquias, seja um sinal de comunhão e de solicitude recíproca entre as Igrejas. Enfim, que no povo cristão se intensifique cada vez mais a oração, meio espiritual indispensável para difundir no meio de todos os povos a luz de Cristo, "a luz por antonomásia" que resplandece sobre "as trevas da história" . Enquanto confio ao Senhor a obra apostólica dos missionários, das Igrejas espalhadas pelo mundo e dos fiéis comprometidos em várias actividades missionárias, invocando a intercessão do Apóstolo Paulo e de Maria Santíssima, "Arca da Aliança viva", Estrela da evangelização e da esperança, concedo a todos a Bênção apostólica.
Vaticano, 11 de Maio de 2008.
PAPA BENTO XVI
PARA O DIA MISSIONÁRIO MUNDIAL DE 2008
"Servos e apóstolos de Jesus Cristo"
Queridos irmãos e irmãs
Por ocasião do Dia Missionário Mundial, gostaria de vos convidar a reflectir acerca da urgência que subsiste em anunciar o Evangelho inclusivamente nesta nossa época. O mandato missionário continua a constituir uma prioridade absoluta para todos os baptizados, chamados a ser "servos e apóstolos de Jesus Cristo" neste início de milénio. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, já afirmava na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, que "evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade" (n. 14). Como modelo deste compromisso apostólico, apraz-me indicar particularmente São Paulo, o Apóstolo das nações, uma vez que no corrente ano celebramos um Jubileu especial a ele dedicado. Trata-se do Ano Paulino, que nos oferece a oportunidade de familiarizar com este insigne Apóstolo, que recebeu a vocação de proclamar o Evangelho aos gentios, em conformidade com quanto o Senhor lhe tinha prenunciado: "Vai! É para longe, é para junto dos pagãos que Eu te hei-de enviar" . Como deixar de aproveitar a oportunidade oferecida por este Jubileu especial às Igrejas locais, às comunidades cristãs e a cada um dos fiéis separadamente, para propagar até aos extremos confins do mundo "o anúncio do Evangelho, força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita ?
1. A humanidade tem necessidade de libertação
A humanidade tem necessidade de ser libertada e redimida. A própria criação afirma São Paulo sofre e nutre a esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus . Estas palavras são verdadeiras também no mundo de hoje. A criação sofre. A humanidade sofre e espera a verdadeira liberdade, aguarda um mundo diferente, melhor; espera a "redenção". E, em última análise, sabe que este novo mundo esperado supõe um homem novo, supõe "filhos de Deus
Existe esperança para o futuro, ou melhor, há um futuro para a humanidade? E como será este futuro? A resposta a estas interrogações provêm-nos do Evangelho. Cristo é o nosso futuro e, o seu Evangelho é a comunicação que "transforma a vida", incute a esperança, abre de par em par as portas obscuras do tempo e ilumina o porvir da humanidade e do universo . São Paulo compreendeu bem que somente em Cristo a humanidade pode encontrar a redenção e a esperança. Por isso, sentia impelente e urgente a missão de "anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo" , "nossa esperança" , a fim de que todos os povos possam participar na mesma herança e tornar-se partícipes da promessa por meio do Evangelho .Ele estava consciente de que, desprovida de Cristo, a humanidade permanece "sem esperança e sem Deus no mundo ; sem esperança porque sem Deus" . Com efeito, "quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida .
2. A Missão é uma questão de amor
Por conseguinte, anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos. "Ai de mim afirmava São Paulo se eu não anunciar o Evangelho!" . No caminho de Damasco, ele tinha experimentado e compreendido que a redenção e a missão são obra de Deus e do seu amor. O amor de Cristo levou-o a percorrer os caminhos do Império Romano como arauto, apóstolo, anunciador e mestre do Evangelho, do qual se proclamava "embaixador aprisionado" . A caridade divina tornou-o "tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo" .
Considerando a experiência de São Paulo, compreendemos que a actividade missionária é a resposta ao amor com que Deus nos ama. O seu amor redime-nos e impele-nos rumo à missio ad gentes; é a energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça, a comunhão entre as pessoas, as raças e os povos, à qual todos aspiram .Portanto é Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem "da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus" . Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.
3. Evangelizar sempre
Enquanto a primeira evangelização em não poucas regiões do mundo permanece necessária e urgente, a escassez de clero e a falta de vocações afligem hoje várias Dioceses e Institutos de vida consagrada. É importante reiterar que, mesmo na presença de dificuldades crescentes, o mandato de Cristo de evangelizar todos os povos permanece uma prioridade. Nenhuma razão pode justificar uma sua diminuição ou uma sua interrupção, dado que "a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja" . Esta missão "ainda está no começo e devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço" . Como deixar de pensar aqui no Macedónio que, tendo aparecido em sonho a Paulo, clamava: "Vem à Macedónia e ajuda-nos"? Hoje são inúmeros aqueles que esperam o anúncio do Evangelho, aqueles que se sentem sequiosos de esperança e de amor. Quantos se deixam interpelar profundamente por este pedido de ajuda que se eleva da humanidade, abandonam tudo por Cristo e transmitem aos homens a fé e o amor por Ele!
4.E vós, amados religiosos e religiosas, caracterizados por vocação por uma forte conotação missionária, levai o anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos que estão distantes, mediante um testemunho coerente de Cristo e um seguimento radical do seu Evangelho.
Todos vós, prezados fiéis leigos que trabalhais nos diversos âmbitos da sociedade, sois chamados a participar na difusão do Evangelho de maneira cada vez mais relevante. Assim, abre-se diante de vós um areópago complexo e multifacetado a ser evangelizado: o mundo. Dai testemunho com a vossa própria vida, do facto de que os cristãos "pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada" .
5. Conclusão
Caros irmãos e irmãs, a celebração do Dia Missionário Mundial encoraje todos vós a tomar uma renovada consciência da urgente necessidade de anunciar o Evangelho. A colecta, que no Dia Missionário Mundial se realiza em todas as paróquias, seja um sinal de comunhão e de solicitude recíproca entre as Igrejas. Enfim, que no povo cristão se intensifique cada vez mais a oração, meio espiritual indispensável para difundir no meio de todos os povos a luz de Cristo, "a luz por antonomásia" que resplandece sobre "as trevas da história" . Enquanto confio ao Senhor a obra apostólica dos missionários, das Igrejas espalhadas pelo mundo e dos fiéis comprometidos em várias actividades missionárias, invocando a intercessão do Apóstolo Paulo e de Maria Santíssima, "Arca da Aliança viva", Estrela da evangelização e da esperança, concedo a todos a Bênção apostólica.
Vaticano, 11 de Maio de 2008.
PAPA BENTO XVI
Entrevista com Padre Rafael Navas Ortiz, Superior do Distrito Latino-Americano do Instituto do Bom Pastor: “a questão litúrgica que o Papa quer solucionar não se reduz ao mero aspecto estético ou cultural”.
Fratres in Unum: O senhor estudou em qual seminário e foi ordenado quando?
Padre Navas: Em Êcone e fui ordenado em 29 de junho de 1984 (naquele ano, festa do Sagrado Coração de Jesus) por Monsenhor Lefebvre.
Fratres in Unum: Por que deixou a Fraternidade São Pio X?
Padre Navas: Em poucas palavras: me inquietei muito ao conhecer as novas determinações de dar-se uma jurisdição, não dada pelo Papa, criando tribunais “canônicos” com a pretensão de ditar verdadeiras sentenças vinculantes (“Nossas sentenças substituem as sentenças da Rota Romana”, afirmou Mons. Tissier); ao apresentar minhas inquietações de consciência ao Presidente da Comissão Canônica que criou tal “jurisdição”, chamada de “suplência”, foi-me dada como única alternativa “buscar um bispo benévolo”.
Fratres in Unum: Hoje o senhor é Superior do Distrito da América Latina do IBP. Como conheceu os padres fundadores do Instituto e como se deu sua entrada no instituto?
Padre Navas: Alguns na França e outros coincidimos na época do seminário. Havendo sido regularizado, se não me recordo mal, no ano de 2000 pelo Sr. Cardeal Jorge Medina que pessoalmente iniciou imediatamente um processo de incardinação em Santiago que se dilatou por vários anos sem conclusão; o qual resultou providencial já que para a criação do IBP não só coincidia com meus antigos e conhecidos irmãos no Sacerdócio (cujas dificuldades seguia muito de perto pela internet), mas que estando regularizado canonicamente estava disponível para ajudar na obra querida e encarregada pelo Papa ao Novo Instituto de Direito Pontifício em que fui muito rapidamente incardinado pelo Superior Geral. Obrigado, Santo Padre!
Fratres in Unum: Com relação ao “ultimato” dado pela Santa Sé à Fraternidade São Pio X, especialmente a seu Superior, Mons. Fellay. O que o senhor constata como motivo principal para que a regularização canônica da FSSPX ainda não se tenha dado?
Padre Navas: “Ultimato” me parece ser uma forma de dizer… ao que parece, as coisas avançam e o resultado dos intercâmbios de cartas parecem positivos. Oremos para que, pelo Bem da Igreja, se supere todos os obstáculos.
Fratres in Unum: O motu proprio Summorum Pontificum completa, neste domingo, 14, um ano em vigor e, não sem dificuldades, a missa na forma extraordinária do rito romano espalha-se pelo mundo todo. Que análise o senhor faz deste primeiro ano?
Padre Navas: Em relação ao que existia anteriormente, me parece que se está avançando na difusão da forma extraordinária, embora ainda reste muito por fazer nesse sentido. Muitos católicos têm podido acessar a riqueza da tradição litúrgica que põe o acento no sobrenatural transcendente que tem como centro, inclusive arquitetônico, Nosso Senhor Jesus Cristo transubstanciado na Hóstia Consagrada, favorecendo o culto de adoração eucarística e a expressão do sentido propiciatório; recuperar estas realidades tem sido uma constante preocupação do Papa inclusive desde sua época de Cardeal Ratzinger.
É de se desejar que a liberdade de direito reconhecida no Motu Proprio chegue a ser logo, em todas as dioceses, aceita e colocada em prática como o Papa deseja. Oremos para que assim seja.
Fratres in Unum: O Papa hoje visita a França, país onde se desenvolve de maneira especial o problema litúrgico. O Padre Laguerie, em seu último artigo, diz que a unidade da Igreja no futuro dependerá da maneira com que os bispos tratarem os institutos que preservam a missa tradicional hoje. O que se pode dizer da reacção do episcopado ao motu proprio?
Padre Navas: Certamente, a necessidade da hermenêutica da continuidade remarcada no ensinamento do Papa requer que não somente se expresse na doutrina, mas também no culto, como o Papa afirma no mesmo Motu Proprio — “Lex orandi, Lex credendi” – citando o conhecido princípio do Papa São Zeferino. É assim que a questão litúrgica que o Papa quer solucionar não se reduz ao mero aspecto estético ou cultural – que existe – mas que, como os bispos da França e mais outros reconhecem publicamente, conota fundamentalmente uma dimensão teológica. De maneira, pois, que o rechaço sistemático (explícito ou implícito) em acolher ou simplesmente em permitir o exercício do carisma dos institutos a que você se refere, queira ou não, constitui um obstáculo colocado na reintegração à unidade católica não somente dos grupos cismáticos ortodoxos (muito fiéis à sua tradição litúrgica), se não que ao mesmo tempo dá fundamento às reticências dos chamados grupos tradicionalistas em relação à convivência canónica que hoje lhes é oferecida pelo Santo Padre.
Da eficaz e entusiasta acolhida destes grupos por parte da autoridade locais depende o êxito da acção pastoral desdobrada pelo Papa visando a unidade da Igreja. O não fazê-lo representa objectivamente – sem querer julgar as intenções – também uma grave falta de caridade ante Deus e a Igreja.
Precisamente a, 12 de setembro de 2008, em sua viagem à França, o Santo Padre referindo-se ao que ele denomina “uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo” neste assunto declarou: “este motu proprio é sensivelmente um ato de tolerância, com um objectivo pastoral, para pessoas que foram formadas nesta liturgia, que a amam, a conhecem, e querem viver com esta liturgia”.“É um pequeno grupo, pois supõe uma formação em latim, uma formação numa certa cultura. Mas me parece uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo de nossa Igreja ter amor e tolerância por estas pessoas e lhes permitir viver com esta liturgia”, reconheceu o Papa.
Fratres in Unum: O senhor estudou em qual seminário e foi ordenado quando?
Padre Navas: Em Êcone e fui ordenado em 29 de junho de 1984 (naquele ano, festa do Sagrado Coração de Jesus) por Monsenhor Lefebvre.
Fratres in Unum: Por que deixou a Fraternidade São Pio X?
Padre Navas: Em poucas palavras: me inquietei muito ao conhecer as novas determinações de dar-se uma jurisdição, não dada pelo Papa, criando tribunais “canônicos” com a pretensão de ditar verdadeiras sentenças vinculantes (“Nossas sentenças substituem as sentenças da Rota Romana”, afirmou Mons. Tissier); ao apresentar minhas inquietações de consciência ao Presidente da Comissão Canônica que criou tal “jurisdição”, chamada de “suplência”, foi-me dada como única alternativa “buscar um bispo benévolo”.
Fratres in Unum: Hoje o senhor é Superior do Distrito da América Latina do IBP. Como conheceu os padres fundadores do Instituto e como se deu sua entrada no instituto?
Padre Navas: Alguns na França e outros coincidimos na época do seminário. Havendo sido regularizado, se não me recordo mal, no ano de 2000 pelo Sr. Cardeal Jorge Medina que pessoalmente iniciou imediatamente um processo de incardinação em Santiago que se dilatou por vários anos sem conclusão; o qual resultou providencial já que para a criação do IBP não só coincidia com meus antigos e conhecidos irmãos no Sacerdócio (cujas dificuldades seguia muito de perto pela internet), mas que estando regularizado canonicamente estava disponível para ajudar na obra querida e encarregada pelo Papa ao Novo Instituto de Direito Pontifício em que fui muito rapidamente incardinado pelo Superior Geral. Obrigado, Santo Padre!
Fratres in Unum: Com relação ao “ultimato” dado pela Santa Sé à Fraternidade São Pio X, especialmente a seu Superior, Mons. Fellay. O que o senhor constata como motivo principal para que a regularização canônica da FSSPX ainda não se tenha dado?
Padre Navas: “Ultimato” me parece ser uma forma de dizer… ao que parece, as coisas avançam e o resultado dos intercâmbios de cartas parecem positivos. Oremos para que, pelo Bem da Igreja, se supere todos os obstáculos.
Fratres in Unum: O motu proprio Summorum Pontificum completa, neste domingo, 14, um ano em vigor e, não sem dificuldades, a missa na forma extraordinária do rito romano espalha-se pelo mundo todo. Que análise o senhor faz deste primeiro ano?
Padre Navas: Em relação ao que existia anteriormente, me parece que se está avançando na difusão da forma extraordinária, embora ainda reste muito por fazer nesse sentido. Muitos católicos têm podido acessar a riqueza da tradição litúrgica que põe o acento no sobrenatural transcendente que tem como centro, inclusive arquitetônico, Nosso Senhor Jesus Cristo transubstanciado na Hóstia Consagrada, favorecendo o culto de adoração eucarística e a expressão do sentido propiciatório; recuperar estas realidades tem sido uma constante preocupação do Papa inclusive desde sua época de Cardeal Ratzinger.
É de se desejar que a liberdade de direito reconhecida no Motu Proprio chegue a ser logo, em todas as dioceses, aceita e colocada em prática como o Papa deseja. Oremos para que assim seja.
Fratres in Unum: O Papa hoje visita a França, país onde se desenvolve de maneira especial o problema litúrgico. O Padre Laguerie, em seu último artigo, diz que a unidade da Igreja no futuro dependerá da maneira com que os bispos tratarem os institutos que preservam a missa tradicional hoje. O que se pode dizer da reacção do episcopado ao motu proprio?
Padre Navas: Certamente, a necessidade da hermenêutica da continuidade remarcada no ensinamento do Papa requer que não somente se expresse na doutrina, mas também no culto, como o Papa afirma no mesmo Motu Proprio — “Lex orandi, Lex credendi” – citando o conhecido princípio do Papa São Zeferino. É assim que a questão litúrgica que o Papa quer solucionar não se reduz ao mero aspecto estético ou cultural – que existe – mas que, como os bispos da França e mais outros reconhecem publicamente, conota fundamentalmente uma dimensão teológica. De maneira, pois, que o rechaço sistemático (explícito ou implícito) em acolher ou simplesmente em permitir o exercício do carisma dos institutos a que você se refere, queira ou não, constitui um obstáculo colocado na reintegração à unidade católica não somente dos grupos cismáticos ortodoxos (muito fiéis à sua tradição litúrgica), se não que ao mesmo tempo dá fundamento às reticências dos chamados grupos tradicionalistas em relação à convivência canónica que hoje lhes é oferecida pelo Santo Padre.
Da eficaz e entusiasta acolhida destes grupos por parte da autoridade locais depende o êxito da acção pastoral desdobrada pelo Papa visando a unidade da Igreja. O não fazê-lo representa objectivamente – sem querer julgar as intenções – também uma grave falta de caridade ante Deus e a Igreja.
Precisamente a, 12 de setembro de 2008, em sua viagem à França, o Santo Padre referindo-se ao que ele denomina “uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo” neste assunto declarou: “este motu proprio é sensivelmente um ato de tolerância, com um objectivo pastoral, para pessoas que foram formadas nesta liturgia, que a amam, a conhecem, e querem viver com esta liturgia”.“É um pequeno grupo, pois supõe uma formação em latim, uma formação numa certa cultura. Mas me parece uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo de nossa Igreja ter amor e tolerância por estas pessoas e lhes permitir viver com esta liturgia”, reconheceu o Papa.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Novamente o Instituto do Bom Pastor nos surpreende com novas ordenações que se realizaram a 11 de outubro na Igreja se S.Éloi em Bordéus na França tendo sido ordenados quatro novos sacerdotes e dois diáconos .Graças a Deus , desejamos as maiores bençãos do Céu para os novos ministros na vinha do Senhor.
Extracto da catequese do Papa Bento XVI sobre S.Paulo:
Resta ainda a questão sobre o que São Paulo sabia do Jesus terreno, de sua vida, de seus ensinamentos, da sua paixão. Antes de entrar nesta questão, pode ser útil ter presente que São Paulo mesmo distingue dois modos de conhecer Jesus e, mais em geral, dois modos de conhecer uma pessoa. Ele escreve na Segunda Carta aos Coríntios: “Por isso, doravante a ninguém conhecemos segundo a carne. Também, se conhecemos a Cristo segundo a carne, agora já não o conhecemos assim” (5, 16). Conhecer “segundo a carne”, de modo carnal, quer dizer conhecer somente de modo externo, com critérios externos: pode-se ter visto uma pessoa várias vezes, conhecer, portanto, os feitos e os diversos detalhes do seu comportamento: como fala, como se move, etc. Todavia, conhecendo alguém deste modo, não se o conhece realmente, não se conhece o núcleo da pessoa. Só com o coração se conhece verdadeiramente uma pessoa. De fato, os fariseus e os saduceus conheceram Jesus de modo externo, escutaram seu ensinamento, tantos detalhes sobre ele, mas não o conheceram em sua verdade. Há uma distinção análoga em uma palavra de Jesus. Depois da Transfiguração, ele pergunta aos apóstolos: “O que diz o povo de mim?” e “Quem dizeis vós que eu sou?”. O povo o conhece, mas superficialmente; sabe diversas coisas dele, mas realmente não o conheceu. Ao contrário, os Doze, graças à amizade que chama à sua causa o coração, entenderam pelo menos na substância e começaram a conhecer quem é Jesus. Também hoje existe este diverso modo de conhecimento: existem pessoas doutas que conhecem Jesus em seus muitos detalhes e pessoas simples que não têm o conhecimento destes detalhes, mas o conheceram em sua verdade: “o coração fala ao coração”. E Paulo quer falar essencialmente de conhecer Jesus assim, com o coração, e de conhecer neste modo essencialmente a pessoa em sua verdade; e, depois, em um segundo momento, de conhecer os detalhes.
Em conclusão, São Paulo não pensa em Jesus em uma veste histórica, como a uma pessoa do passado. Conhece certamente a grande tradição sobre a vida, as palavras, a morte e a ressurreição de Jesus, mas não trata de tudo isto como coisa do passado; propõe como realidade do Jesus vivo. As palavras e as acções de Jesus para Paulo não pertencem ao tempo histórico, ao passado. Jesus vive agora, fala agora connosco e vive por nós. Este é a verdadeira forma de conhecer Jesus e de acolher a tradição sobre ele. Devemos, também nós, começar a conhecer Jesus não só segundo a carne, como uma pessoa do passado, mas como o nosso Senhor e Irmão, que está hoje connosco e nos mostra como viver e como morrer.
Resta ainda a questão sobre o que São Paulo sabia do Jesus terreno, de sua vida, de seus ensinamentos, da sua paixão. Antes de entrar nesta questão, pode ser útil ter presente que São Paulo mesmo distingue dois modos de conhecer Jesus e, mais em geral, dois modos de conhecer uma pessoa. Ele escreve na Segunda Carta aos Coríntios: “Por isso, doravante a ninguém conhecemos segundo a carne. Também, se conhecemos a Cristo segundo a carne, agora já não o conhecemos assim” (5, 16). Conhecer “segundo a carne”, de modo carnal, quer dizer conhecer somente de modo externo, com critérios externos: pode-se ter visto uma pessoa várias vezes, conhecer, portanto, os feitos e os diversos detalhes do seu comportamento: como fala, como se move, etc. Todavia, conhecendo alguém deste modo, não se o conhece realmente, não se conhece o núcleo da pessoa. Só com o coração se conhece verdadeiramente uma pessoa. De fato, os fariseus e os saduceus conheceram Jesus de modo externo, escutaram seu ensinamento, tantos detalhes sobre ele, mas não o conheceram em sua verdade. Há uma distinção análoga em uma palavra de Jesus. Depois da Transfiguração, ele pergunta aos apóstolos: “O que diz o povo de mim?” e “Quem dizeis vós que eu sou?”. O povo o conhece, mas superficialmente; sabe diversas coisas dele, mas realmente não o conheceu. Ao contrário, os Doze, graças à amizade que chama à sua causa o coração, entenderam pelo menos na substância e começaram a conhecer quem é Jesus. Também hoje existe este diverso modo de conhecimento: existem pessoas doutas que conhecem Jesus em seus muitos detalhes e pessoas simples que não têm o conhecimento destes detalhes, mas o conheceram em sua verdade: “o coração fala ao coração”. E Paulo quer falar essencialmente de conhecer Jesus assim, com o coração, e de conhecer neste modo essencialmente a pessoa em sua verdade; e, depois, em um segundo momento, de conhecer os detalhes.
Em conclusão, São Paulo não pensa em Jesus em uma veste histórica, como a uma pessoa do passado. Conhece certamente a grande tradição sobre a vida, as palavras, a morte e a ressurreição de Jesus, mas não trata de tudo isto como coisa do passado; propõe como realidade do Jesus vivo. As palavras e as acções de Jesus para Paulo não pertencem ao tempo histórico, ao passado. Jesus vive agora, fala agora connosco e vive por nós. Este é a verdadeira forma de conhecer Jesus e de acolher a tradição sobre ele. Devemos, também nós, começar a conhecer Jesus não só segundo a carne, como uma pessoa do passado, mas como o nosso Senhor e Irmão, que está hoje connosco e nos mostra como viver e como morrer.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O pão da Palavra e da Eucaristia
Entrevista com Dom Nicola Bux
Por Miriam Díez i Bosch
BARI, domingo, 31 de agosto de 2008 (ZENIT.org).- O Sínodo da Palavra servirá entre outras coisas para esclarecer o que se entende por «unidade do pão da Palavra e da Eucaristia», uma expressão facilmente compreensível para um teólogo, mas que pode confundir os fiéis.
Esse é um dos comentários do teólogo D. Nicola Bux, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e para as Causas dos Santos e professor de ecumenismo no Instituto de Teologia em Bari.
O teólogo, que escreve principalmente sobre questões doutrinais para a Agência Fides, recorda a Zenit que, quando falamos das Escrituras, é importante que o texto precise de imagens e que estas também têm de ser ensinadas mais ativamente na catequese.
–Como teólogo, que expectativa tem do Sínodo dos Bispos centrado na Palavra de Deus, que se celebrará em outubro no Vaticano?
–D. Bux: Dou um exemplo. No próximo Sínodo, nos “Lineamenta” publicados no ano passado, fala-se do pão da Palavra e da Eucaristia. Esta expressão, que um teólogo e um fiel bem preparado entendem, na realidade é incompreensível para a maioria, e tende a confundir.
Sabemos que o Antigo Testamento diz que o homem deve nutrir-se da Palavra que sai da boca do Senhor, mas desde o momento em que esta Palavra se fez carne, na pessoa divino-humana de Jesus, tudo mudou: não há duas palavras e dois alimentos, mas um só: a carne e o sangue de Jesus Cristo.
Os padres da Igreja diziam que é o "verbum brevissimum". O mesmo pode-se dizer da expressão “duas mesas, da Palavra e da Eucaristia”, que por sua vez em outros textos se converte em “uma só mesa”.
Em nosso tempo, as mensagens têm de ser simples, inequívocas e compreensíveis. O católico deve sabre que escutar a Palavra de Deus quando lemos a Escritura é provar os preparativos para uma refeição, e que se depois não houvesse a refeição, o almoço seria suspenso. Sem o sacramento, a Palavra não se converte em sólida, mas continua sendo aeriforme ou com a forma líquida. Pode aplicar este enfoque à expressão do pensamento frágil ou líquido.
Assim, pessoalmente espero que o Sínodo dissipe essa ambiguidade para o bem da verdade católica.
–Os fiéis sabem muito mais sobre a Bíblia que há 40 anos, mas os textos são ainda desconhecidos. Que se pode fazer no campo da formação teológica para colocar o texto sagrado mais à disposição?
–D. Bux: Há já muito, mas frequentemente se tem seccionado os textos e se cria nas pessoas a idéia de que em última instância não é mais que um texto histórico ou literário. Trate de perguntar que é o autor: apenas ouvirá a resposta: Deus. Ou bem, qual é a insperação?
Na civilização da imagem e do DVD se lê sempre menos: devemos voltar a vincular o texto com a imagem na catequese e na liturgia.
As imagens de fato contam e sintetizam o sagrado e santo da história da salvação. Mas hoje no Ocidente os fiéis, seguindo o exemplo do sacerdote, não se dispõem a olhar as imagens da Igreja começando pela cruz, em parte porque frequentemente estão mal colocadas e são feias.
Temos de educar para as imagens, com a finalidade de criar o desejo de aproximar-se da Escritura. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica é exemplar neste sentido.
–Qual é o desafio mais importante deste Sínodo, que também tem um aspecto ecumênico?
–D. Bux: Um amigo meu sacerdote, que é teólogo, matemático e especialista em hermenêutica, notava que diante da secularização externa e do relativismo teológico interno, em essência o “ateísmo galopante”, na Igreja pós-conciliar faltou o compromisso para elaborar uma metodologia integral para estudar a Sagrada Escritura.
Começou-se com o rechaço absoluto dos métodos “modernos” nos tempos de São Pio X (baseados em análises, que hoje deveriam ser reconhecidos essencialmente proféticos do havia suposto o estudo da Escritura "etsi Deus non daretur" (como se Deus não existisse).
Logo, sob Pio XII, a abertura ("Divino Afflante Spiritu") continua e se reforça muito. Mas não há integração entre a insistência nas verdades da fé, que se consideram baseadas na Escritura (na Tradição) e os métodos “ateus” (que excluem a priori o sobrenatural).
Só que, quando o estudo, por exemplo o chamado histórico-crítico, supera os limites estabelecidos pela fé, então há um chamado à fidelidade. Por exemplo: pode-se ler um livro de texto de física nuclear realizado com o método para o estudo das belas artes, e algo poderia sair, mas não é em nada o método adequado para o objeto.
Deste modo, chegamos, por exemplo, ao restabelecimento da “dupla verdade”, como sucede com o teólogo Schillebeeckx, que diz que crê na concepção virginal de Jesus porque a Igreja o ensina, mas que não pode derivar-se da Escritura (que é simplesmente devido a um gênero literário ou uma intenção de ensinamento teológico, e assim sucessivamente).
Schillebeeckx foi corrigido publicamente, mas mais ou menos é assim precisamente o modo com o que se ensina, na realidade, nos seminários e nas Faculdades de Teologia acerca de todo o sobrenatural que nos é dito na Escritura.
Neste sentido, admitamos e tiremos o máximo proveito das metodologias em si mesmas atéias, mas saibamos integrá-las em uma metodologia integral própria.
Se os cristãos do Oriente e Ocidente convergissem nisso...
–Não pode parecer contraditório que se sublinhe a importância da Escritura e, ao mesmo tempo, aplique-se o motu proprio “Summorum Pontificum”, onde a Sagrada Escritura não teria o valor que o Concílio Vaticano II assinala?
–D. Bux: Argumenta-se que o rito pós-conciliar é mais rico em leituras e pregações eucarísticas, enquanto que o missal de Pio V é pobre e menos cuidado. É uma tese anacrônica proque não leva em conta a distância de quatro séculos: seria como fazer acusações contra os sacramentários anteriores aos de Pio V de alguns séculos.
Também se esquece que as perícopes deste missal se formaram sobre a base dos antigos capitulares com epístolas, como o “Liber comitis” de São Jerônimo, fechado no ano 471 ou com perícopes do Evangelho, uma tradição comum do Oriente, já que inclusive o testemunho hoje a liturgia bizantina.
E a atenção dos fiéis dura mais tempo se a leitura é curta. Um pouco como na Liturgia das Horas. Portanto, não existe nenhuma contradição.
Entrevista com Dom Nicola Bux
Por Miriam Díez i Bosch
BARI, domingo, 31 de agosto de 2008 (ZENIT.org).- O Sínodo da Palavra servirá entre outras coisas para esclarecer o que se entende por «unidade do pão da Palavra e da Eucaristia», uma expressão facilmente compreensível para um teólogo, mas que pode confundir os fiéis.
Esse é um dos comentários do teólogo D. Nicola Bux, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e para as Causas dos Santos e professor de ecumenismo no Instituto de Teologia em Bari.
O teólogo, que escreve principalmente sobre questões doutrinais para a Agência Fides, recorda a Zenit que, quando falamos das Escrituras, é importante que o texto precise de imagens e que estas também têm de ser ensinadas mais ativamente na catequese.
–Como teólogo, que expectativa tem do Sínodo dos Bispos centrado na Palavra de Deus, que se celebrará em outubro no Vaticano?
–D. Bux: Dou um exemplo. No próximo Sínodo, nos “Lineamenta” publicados no ano passado, fala-se do pão da Palavra e da Eucaristia. Esta expressão, que um teólogo e um fiel bem preparado entendem, na realidade é incompreensível para a maioria, e tende a confundir.
Sabemos que o Antigo Testamento diz que o homem deve nutrir-se da Palavra que sai da boca do Senhor, mas desde o momento em que esta Palavra se fez carne, na pessoa divino-humana de Jesus, tudo mudou: não há duas palavras e dois alimentos, mas um só: a carne e o sangue de Jesus Cristo.
Os padres da Igreja diziam que é o "verbum brevissimum". O mesmo pode-se dizer da expressão “duas mesas, da Palavra e da Eucaristia”, que por sua vez em outros textos se converte em “uma só mesa”.
Em nosso tempo, as mensagens têm de ser simples, inequívocas e compreensíveis. O católico deve sabre que escutar a Palavra de Deus quando lemos a Escritura é provar os preparativos para uma refeição, e que se depois não houvesse a refeição, o almoço seria suspenso. Sem o sacramento, a Palavra não se converte em sólida, mas continua sendo aeriforme ou com a forma líquida. Pode aplicar este enfoque à expressão do pensamento frágil ou líquido.
Assim, pessoalmente espero que o Sínodo dissipe essa ambiguidade para o bem da verdade católica.
–Os fiéis sabem muito mais sobre a Bíblia que há 40 anos, mas os textos são ainda desconhecidos. Que se pode fazer no campo da formação teológica para colocar o texto sagrado mais à disposição?
–D. Bux: Há já muito, mas frequentemente se tem seccionado os textos e se cria nas pessoas a idéia de que em última instância não é mais que um texto histórico ou literário. Trate de perguntar que é o autor: apenas ouvirá a resposta: Deus. Ou bem, qual é a insperação?
Na civilização da imagem e do DVD se lê sempre menos: devemos voltar a vincular o texto com a imagem na catequese e na liturgia.
As imagens de fato contam e sintetizam o sagrado e santo da história da salvação. Mas hoje no Ocidente os fiéis, seguindo o exemplo do sacerdote, não se dispõem a olhar as imagens da Igreja começando pela cruz, em parte porque frequentemente estão mal colocadas e são feias.
Temos de educar para as imagens, com a finalidade de criar o desejo de aproximar-se da Escritura. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica é exemplar neste sentido.
–Qual é o desafio mais importante deste Sínodo, que também tem um aspecto ecumênico?
–D. Bux: Um amigo meu sacerdote, que é teólogo, matemático e especialista em hermenêutica, notava que diante da secularização externa e do relativismo teológico interno, em essência o “ateísmo galopante”, na Igreja pós-conciliar faltou o compromisso para elaborar uma metodologia integral para estudar a Sagrada Escritura.
Começou-se com o rechaço absoluto dos métodos “modernos” nos tempos de São Pio X (baseados em análises, que hoje deveriam ser reconhecidos essencialmente proféticos do havia suposto o estudo da Escritura "etsi Deus non daretur" (como se Deus não existisse).
Logo, sob Pio XII, a abertura ("Divino Afflante Spiritu") continua e se reforça muito. Mas não há integração entre a insistência nas verdades da fé, que se consideram baseadas na Escritura (na Tradição) e os métodos “ateus” (que excluem a priori o sobrenatural).
Só que, quando o estudo, por exemplo o chamado histórico-crítico, supera os limites estabelecidos pela fé, então há um chamado à fidelidade. Por exemplo: pode-se ler um livro de texto de física nuclear realizado com o método para o estudo das belas artes, e algo poderia sair, mas não é em nada o método adequado para o objeto.
Deste modo, chegamos, por exemplo, ao restabelecimento da “dupla verdade”, como sucede com o teólogo Schillebeeckx, que diz que crê na concepção virginal de Jesus porque a Igreja o ensina, mas que não pode derivar-se da Escritura (que é simplesmente devido a um gênero literário ou uma intenção de ensinamento teológico, e assim sucessivamente).
Schillebeeckx foi corrigido publicamente, mas mais ou menos é assim precisamente o modo com o que se ensina, na realidade, nos seminários e nas Faculdades de Teologia acerca de todo o sobrenatural que nos é dito na Escritura.
Neste sentido, admitamos e tiremos o máximo proveito das metodologias em si mesmas atéias, mas saibamos integrá-las em uma metodologia integral própria.
Se os cristãos do Oriente e Ocidente convergissem nisso...
–Não pode parecer contraditório que se sublinhe a importância da Escritura e, ao mesmo tempo, aplique-se o motu proprio “Summorum Pontificum”, onde a Sagrada Escritura não teria o valor que o Concílio Vaticano II assinala?
–D. Bux: Argumenta-se que o rito pós-conciliar é mais rico em leituras e pregações eucarísticas, enquanto que o missal de Pio V é pobre e menos cuidado. É uma tese anacrônica proque não leva em conta a distância de quatro séculos: seria como fazer acusações contra os sacramentários anteriores aos de Pio V de alguns séculos.
Também se esquece que as perícopes deste missal se formaram sobre a base dos antigos capitulares com epístolas, como o “Liber comitis” de São Jerônimo, fechado no ano 471 ou com perícopes do Evangelho, uma tradição comum do Oriente, já que inclusive o testemunho hoje a liturgia bizantina.
E a atenção dos fiéis dura mais tempo se a leitura é curta. Um pouco como na Liturgia das Horas. Portanto, não existe nenhuma contradição.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Está pronta a instrução sobre a aplicação do Motu Próprio e jáfoi entregue pelo presidente da Ecclesia Dei , cardeal Dario Castrillon ao Papa Bento XVI que a está examinando. O texto será possivelmente assinado nos primeiros dias de Dezembro e publicado nos primeiros dias de Janeiro de 2009. O Documento torna-se indispensável depois de tantos problemas na aplicação do Motu Próprio sobretudo por parte de não poucos bispos que meteram dificuldades na sua aplicação e trata de temas cruxiais como esclarecer o que se entende por grupo estável de fiéis no interior duma paróquia
Ordinária e o problema das paróquias pessoais.
Segundo o documento, os fiéis tradicionalistas presentes numa Paróquia têm o direito de pedir a missa antiga e se o bispo se recusar, afirmando que no lugar não existem sacerdotes capazes de celebrar segundo o rito antigo, então a Comissão Ecclesia Dei enviará um sacerdote habilitado a fazê-lo naquela diocese. Enfim , os bispos não poderão mais recusar-se de fazer celebrar a missa antiga, porque em tais casos, a Comissão Ecclesia Dei enviará um seu sacerdote delegado.
A Santa Sé quer pois esclarecer sobre a definitiva aplicação do Motu Próprio e por esta razão também os poderes e as prerrogativas da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei serão melhor especificadas e reforçadas.
Ordinária e o problema das paróquias pessoais.
Segundo o documento, os fiéis tradicionalistas presentes numa Paróquia têm o direito de pedir a missa antiga e se o bispo se recusar, afirmando que no lugar não existem sacerdotes capazes de celebrar segundo o rito antigo, então a Comissão Ecclesia Dei enviará um sacerdote habilitado a fazê-lo naquela diocese. Enfim , os bispos não poderão mais recusar-se de fazer celebrar a missa antiga, porque em tais casos, a Comissão Ecclesia Dei enviará um seu sacerdote delegado.
A Santa Sé quer pois esclarecer sobre a definitiva aplicação do Motu Próprio e por esta razão também os poderes e as prerrogativas da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei serão melhor especificadas e reforçadas.
De 24 a 28 de Novembro terão lugar em Pontevedra as I Jornadas deformação Litúrgica no Uso Extraordinário do Rito Romano.
Organizadas Pela Fraternidade de Cristo Sacerdote e Santa Maria Rainha, dirigem -se a sacerdotes e clérigos que desejem preparar-se dum modo mais completo para a celebração da Santa Missa segundo a forma extraordinária.
Conhecendo a exigência e perfeição que implica a celebração do Rito Romano ,decidimos dar a estas jornadas um carácter sobretudo prático no que respeita ao conhecimento e familiaridade com os distintos gestos e ritos.
Para isso oferecemos, além da explicação teórica das celebrações, a possibilidade de que os próprios participantes nas Jornadas possam ensaiar as celebrações da missa rezada ,da missa cantada, da missa solene e também os ofícios litúrgicos próprios dos defuntos.
Os sacerdotes podem contar com a assistência dum guia na celebração da missa privada de forma que possam ir adquirindo mais à vontade na celebração dos Sagrados Mistérios.
O programa da Jornadas inclui também a iniciação ao Canto Gregoriano , o uso do Breviário Tradicional, a assistência a distintas celebrações litúrgicas: Missa Cantada, Missa Solene e Missa Solene de Requiem.
Para obter mais informação quanto ao preço, programa, lugar, etc…podem pôr-se em contacto com os Irmãos da Fraternidade , telefone (0034)619 011 226.
Organizadas Pela Fraternidade de Cristo Sacerdote e Santa Maria Rainha, dirigem -se a sacerdotes e clérigos que desejem preparar-se dum modo mais completo para a celebração da Santa Missa segundo a forma extraordinária.
Conhecendo a exigência e perfeição que implica a celebração do Rito Romano ,decidimos dar a estas jornadas um carácter sobretudo prático no que respeita ao conhecimento e familiaridade com os distintos gestos e ritos.
Para isso oferecemos, além da explicação teórica das celebrações, a possibilidade de que os próprios participantes nas Jornadas possam ensaiar as celebrações da missa rezada ,da missa cantada, da missa solene e também os ofícios litúrgicos próprios dos defuntos.
Os sacerdotes podem contar com a assistência dum guia na celebração da missa privada de forma que possam ir adquirindo mais à vontade na celebração dos Sagrados Mistérios.
O programa da Jornadas inclui também a iniciação ao Canto Gregoriano , o uso do Breviário Tradicional, a assistência a distintas celebrações litúrgicas: Missa Cantada, Missa Solene e Missa Solene de Requiem.
Para obter mais informação quanto ao preço, programa, lugar, etc…podem pôr-se em contacto com os Irmãos da Fraternidade , telefone (0034)619 011 226.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Homilia do cardeal Audrys J. Card. Backis, a 13 de Outubro 22008 em Fátima
Venho hoje como simples peregrino para me unir à imensa multidão de peregrinos de Portugal e de outros países, vindos para venerar Nossa Senhora de Fátima, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja, Mãe nossa.
Falando recentemente aos jovens reunidos em Sidney para a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Bento XVI descreveu a bela cena da anunciação do anjo a Maria como uma proposta de matrimónio da parte de Deus. O anjo Gabriel, em nome de Deus, convida a Virgem Maria “a uma particular doação de si mesma, da própria vida, do próprio futuro de mulher e de mãe”. Naquele momento, Maria diante do Senhor representava toda a humanidade. “Era Deus a avançar com uma proposta de matrimónio com a humanidade. Em nosso nome, Maria disse sim”.
Esta cena constitui verdadeiramente o momento fundamental da relação de Deus com o povo eleito, com a humanidade inteira. Que maravilha este sim, este fiat de Maria, que mudou a história da relação de Deus com a humanidade, a história do mundo!
Um sim, com o qual Maria, jovem mulher, cheia de ânsia e a tremer, aceitou o convite do Anjo em nome de Deus. “Como é possível isso?” O anjo teve que a tranquilizar: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus... O Espírito Santo descerá sobre ti...” A proposta de Deus perturbava-a, mas Maria, com a força do Espírito Santo teve a coragem de dizer sim em nome de todos nós.
Maria teve que repetir este sim a Deus em cada dia da sua vida, aceitando participar nas vicissitudes do Filho. Um sim que provocou a incompreensão de José, homem justo. Um sim que teve de voltar a dizer em Belém, onde não havia lugar para dar à luz o seu filho, o Filho de Deus; um sim, quando o velho Simeão profetizou que uma espada lhe havia de trespassar o coração; um sim durante a vida vivida silenciosamente na pequena aldeia da Palestina, onde Maria conheceu a monotonia, a preocupação com o pão de cada dia, os sofrimentos e as lágrimas, e também as pequenas alegrias da vida em Família. Quanta angústia experimentou depois o coração de Maria ao ver a crescente hostilidade da gente de Nazaré, do povo, das autoridades religiosas!
Um sim aos pés da cruz, sofrendo por ver a crucifixão e agonia do seu Filho, sem poder fazer nada para aliviar a sua dor. Um sim, quando ouviu Jesus dizer ao apóstolo João “Eis a tua mãe” e a Maria, “Eis o teu filho”. O sim pronunciado naquela hora envolve-nos a todos, porque Cristo morrendo na cruz confiou a Maria todos os homens.
Desde aquele momento, Maria não podia mais desinteressar-se do caminho dos seus filhos. O coração da Mãe de Deus é um coração humano, um coração de mulher, um coração de mãe. Neste coração materno, Deus pôs tudo o que há de mais belo, de mais doce, de mais nobre. Em Fátima, Maria apareceu tendo na mão direita o seu Coração imaculado, “sinal do amor que salva”, como o explicou a Irmã Lúcia. Por isso, desde há séculos nos lábios dos fiéis de qualquer idade, sejam crianças, adolescentes, adultos, idosos e mesmo moribundos, surge espontânea a oração Ave Maria. Hoje, reunidos em Fátima, repetimos a saudação do anjo, Ave Maria, Ave mãe nossa, sempre próxima dos teus filhos, pronta a alegrar-se ou a chorar com os teus filhos, a consolar-nos, a escutar as nossas orações.
As aparições de Maria aos três pastorinhos na Cova da Iria são uma prova do seu amor materno por Portugal, pela Europa, pelo mundo inteiro.
A cada um de nós Deus confiou uma missão, uma vocação à qual devemos dar o nosso sim, empreendendo como Maria o caminho, a peregrinação da fé.
Um sim que significa fidelidade à voz da consciência, a fim de que as nossas palavras sejam sempre sinceras. “Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal”, disse Jesus (Mt 5,37). Isto vale também para as nossas acções, que devem ser sempre coerentes, conformes com as nossas palavras. Há sempre o perigo de procurar mil desculpas perante as exigências de uma vida autenticamente cristã. Hoje mais do que nunca sente-se a necessidade de um corajoso testemunho cristão para conservar uma fé robusta perante os perigos da indiferença ou da ignorância. É tão importante viver na verdade, não sermos surdos à voz de Deus que ressoa na nossa consciência. O nosso sim quer dizer a aceitação da vontade de Deus concreta, em cada dia da nossa vida.
Um sim nas nossas relações com os irmãos e as irmãs, para poder estabelecer relações humanas verdadeiras, sinceras, inspiradas na caridade. Venho da Lituânia, país que, durante mais de cinquenta anos, esteve sob o jugo do comunismo ateu. Posso testemunhar que, quando se perde o sentido de Deus, se perde também o sentido do homem. Quando se viveu durante anos num clima de mentira, de medo, de suspeita, de falta de sinceridade, de desconfiança no outro, parece que não mais se pode acreditar na possibilidade de estabelecer uma relação fundada no respeito, na sinceridade, na verdade, da abertura ao outro, do amor cristão. Ouso falar de ferida antropológica, de um obscurecimento da consciência e da poluição da mente. Confio, porém, que se sairá desta letargia, deste nevoeiro e alegro-me por encontrar tantas pessoas, tantos jovens que buscam autenticidade, coerência de vida, que procuram a verdade e querem viver na verdade.
É preciso coragem para dizer sim à vida matrimonial, verdadeira vocação selada pelo sacramento com o qual se pronuncia diante de Deus e diante dos homens um sim definitivo, um sim abençoado pelo próprio Deus, um sim para toda a vida: “O que Deus uniu não o separe o homem (Mt 19,6). Isto parece superar as forças humanas, mas precisamente por isso, nos momentos de crise, é preciso dirigir-se a Deus, implorar a ajuda de Maria. A família que reza unida, permanece unida.
Dizer sim ao chamamento ao sacerdócio, à vida consagrada a Deus e ao serviço do próximo, esquecendo-se de si mesmo para seguir Cristo.
Um sim às promessas do nosso baptismo, conscientes de formarmos uma comunidade de irmãos e irmãs empenhada em edificar o Reino de Deus já na terra, um povo em caminho para o Reino celeste. A nossa fé em Deus não se reduz a uma relação privada, íntima com Deus, mas dever permear toda a nossa vida, vida pessoal, vida em família, vida na Igreja, vida na sociedade, procurando o bem comum. O cristão não pode permanecer passivo, indiferente, mas deve empenhar-se na construção de um mundo mais justo e mais fraterno.
Penso na nossa Europa, que esquece as suas raízes cristãs, onde se defendem ideias e mesmo ideologias contrárias ao direito natural, que não correspondem certamente ao desígnio do Criador.
Se alargamos o nosso olhar ao mundo inteiro, vemos em cada dia imagens de guerra, de terrorismo, crianças que morrem de fome, populações inteiras reduzidas a uma extrema insegurança e miséria, às quais devemos oferecer a nossa solidariedade.
Porquê vos falo de tudo isto, aqui, em Fátima? Porque penso que as aparições de Nossa Senhora em Fátima são a expressão da dor do Coração de Maria, do coração da Mãe, ao ver como é pisada a lei divina, e quantas ofensas são feitas ao Seu Filho.
As aparições de Fátima assumem um significado único, profético. Em termos muito concretos, Maria intervém na história do continente europeu, advertindo-nos para os perigos terríveis do comunismo ateu, que semeou tanto mal, ódio, guerras no século passado. No início do século XX, Maria procurou fazer-nos sair do torpor espiritual, anunciando castigos, sofrimentos terríveis para nações inteiras por causa da ideologia ateia, que, rejeitando Deus, pisava também a dignidade do homem, os seus direitos fundamentais e, em particular, a liberdade religiosa. Foi verdadeiramente um século de mártires!
Em Fátima, a Mãe de Deus dirigiu um convite forte à conversão, à penitência, à oração, que podem mudar o curso da história, o destino da Europa e do mundo. O apelo de Maria não foi suficientemente escutado e oportunamente recebido. Hoje ecoam nos nossos ouvidos as advertências de Nossa Senhora de Fátima, que nos convida a rezar com ela o rosário, a fazer penitência, a convertermo-nos.
As suas aparições são um sinal da misericórdia de Maria, da Divina Misericórdia, que não quer a morte mas sim a conversão e a salvação dos pecadores. O servo de Deus João Paulo II, cuja vida esteve profundamente ligada aos mistérios de Fátima, disse-nos que a Divina misericórdia é o último limite posto ao mal no mundo.
Confiemo-nos todos a Maria com a bela oração de João Paulo II:
“Maria, Mãe de Misericórdia, vela por todos, para que não se torne vã a cruz de Cristo, para que o homem não se afaste do caminho do bem, não perca a consciência do pecado, cresça na esperança em Deus rico de misericórdia (Ef 2,4) (Encíclica Veritatis Splendor).
† Audrys J. Card. Backis
Arcebispo de Vilnius
Venho hoje como simples peregrino para me unir à imensa multidão de peregrinos de Portugal e de outros países, vindos para venerar Nossa Senhora de Fátima, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja, Mãe nossa.
Falando recentemente aos jovens reunidos em Sidney para a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Bento XVI descreveu a bela cena da anunciação do anjo a Maria como uma proposta de matrimónio da parte de Deus. O anjo Gabriel, em nome de Deus, convida a Virgem Maria “a uma particular doação de si mesma, da própria vida, do próprio futuro de mulher e de mãe”. Naquele momento, Maria diante do Senhor representava toda a humanidade. “Era Deus a avançar com uma proposta de matrimónio com a humanidade. Em nosso nome, Maria disse sim”.
Esta cena constitui verdadeiramente o momento fundamental da relação de Deus com o povo eleito, com a humanidade inteira. Que maravilha este sim, este fiat de Maria, que mudou a história da relação de Deus com a humanidade, a história do mundo!
Um sim, com o qual Maria, jovem mulher, cheia de ânsia e a tremer, aceitou o convite do Anjo em nome de Deus. “Como é possível isso?” O anjo teve que a tranquilizar: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus... O Espírito Santo descerá sobre ti...” A proposta de Deus perturbava-a, mas Maria, com a força do Espírito Santo teve a coragem de dizer sim em nome de todos nós.
Maria teve que repetir este sim a Deus em cada dia da sua vida, aceitando participar nas vicissitudes do Filho. Um sim que provocou a incompreensão de José, homem justo. Um sim que teve de voltar a dizer em Belém, onde não havia lugar para dar à luz o seu filho, o Filho de Deus; um sim, quando o velho Simeão profetizou que uma espada lhe havia de trespassar o coração; um sim durante a vida vivida silenciosamente na pequena aldeia da Palestina, onde Maria conheceu a monotonia, a preocupação com o pão de cada dia, os sofrimentos e as lágrimas, e também as pequenas alegrias da vida em Família. Quanta angústia experimentou depois o coração de Maria ao ver a crescente hostilidade da gente de Nazaré, do povo, das autoridades religiosas!
Um sim aos pés da cruz, sofrendo por ver a crucifixão e agonia do seu Filho, sem poder fazer nada para aliviar a sua dor. Um sim, quando ouviu Jesus dizer ao apóstolo João “Eis a tua mãe” e a Maria, “Eis o teu filho”. O sim pronunciado naquela hora envolve-nos a todos, porque Cristo morrendo na cruz confiou a Maria todos os homens.
Desde aquele momento, Maria não podia mais desinteressar-se do caminho dos seus filhos. O coração da Mãe de Deus é um coração humano, um coração de mulher, um coração de mãe. Neste coração materno, Deus pôs tudo o que há de mais belo, de mais doce, de mais nobre. Em Fátima, Maria apareceu tendo na mão direita o seu Coração imaculado, “sinal do amor que salva”, como o explicou a Irmã Lúcia. Por isso, desde há séculos nos lábios dos fiéis de qualquer idade, sejam crianças, adolescentes, adultos, idosos e mesmo moribundos, surge espontânea a oração Ave Maria. Hoje, reunidos em Fátima, repetimos a saudação do anjo, Ave Maria, Ave mãe nossa, sempre próxima dos teus filhos, pronta a alegrar-se ou a chorar com os teus filhos, a consolar-nos, a escutar as nossas orações.
As aparições de Maria aos três pastorinhos na Cova da Iria são uma prova do seu amor materno por Portugal, pela Europa, pelo mundo inteiro.
A cada um de nós Deus confiou uma missão, uma vocação à qual devemos dar o nosso sim, empreendendo como Maria o caminho, a peregrinação da fé.
Um sim que significa fidelidade à voz da consciência, a fim de que as nossas palavras sejam sempre sinceras. “Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal”, disse Jesus (Mt 5,37). Isto vale também para as nossas acções, que devem ser sempre coerentes, conformes com as nossas palavras. Há sempre o perigo de procurar mil desculpas perante as exigências de uma vida autenticamente cristã. Hoje mais do que nunca sente-se a necessidade de um corajoso testemunho cristão para conservar uma fé robusta perante os perigos da indiferença ou da ignorância. É tão importante viver na verdade, não sermos surdos à voz de Deus que ressoa na nossa consciência. O nosso sim quer dizer a aceitação da vontade de Deus concreta, em cada dia da nossa vida.
Um sim nas nossas relações com os irmãos e as irmãs, para poder estabelecer relações humanas verdadeiras, sinceras, inspiradas na caridade. Venho da Lituânia, país que, durante mais de cinquenta anos, esteve sob o jugo do comunismo ateu. Posso testemunhar que, quando se perde o sentido de Deus, se perde também o sentido do homem. Quando se viveu durante anos num clima de mentira, de medo, de suspeita, de falta de sinceridade, de desconfiança no outro, parece que não mais se pode acreditar na possibilidade de estabelecer uma relação fundada no respeito, na sinceridade, na verdade, da abertura ao outro, do amor cristão. Ouso falar de ferida antropológica, de um obscurecimento da consciência e da poluição da mente. Confio, porém, que se sairá desta letargia, deste nevoeiro e alegro-me por encontrar tantas pessoas, tantos jovens que buscam autenticidade, coerência de vida, que procuram a verdade e querem viver na verdade.
É preciso coragem para dizer sim à vida matrimonial, verdadeira vocação selada pelo sacramento com o qual se pronuncia diante de Deus e diante dos homens um sim definitivo, um sim abençoado pelo próprio Deus, um sim para toda a vida: “O que Deus uniu não o separe o homem (Mt 19,6). Isto parece superar as forças humanas, mas precisamente por isso, nos momentos de crise, é preciso dirigir-se a Deus, implorar a ajuda de Maria. A família que reza unida, permanece unida.
Dizer sim ao chamamento ao sacerdócio, à vida consagrada a Deus e ao serviço do próximo, esquecendo-se de si mesmo para seguir Cristo.
Um sim às promessas do nosso baptismo, conscientes de formarmos uma comunidade de irmãos e irmãs empenhada em edificar o Reino de Deus já na terra, um povo em caminho para o Reino celeste. A nossa fé em Deus não se reduz a uma relação privada, íntima com Deus, mas dever permear toda a nossa vida, vida pessoal, vida em família, vida na Igreja, vida na sociedade, procurando o bem comum. O cristão não pode permanecer passivo, indiferente, mas deve empenhar-se na construção de um mundo mais justo e mais fraterno.
Penso na nossa Europa, que esquece as suas raízes cristãs, onde se defendem ideias e mesmo ideologias contrárias ao direito natural, que não correspondem certamente ao desígnio do Criador.
Se alargamos o nosso olhar ao mundo inteiro, vemos em cada dia imagens de guerra, de terrorismo, crianças que morrem de fome, populações inteiras reduzidas a uma extrema insegurança e miséria, às quais devemos oferecer a nossa solidariedade.
Porquê vos falo de tudo isto, aqui, em Fátima? Porque penso que as aparições de Nossa Senhora em Fátima são a expressão da dor do Coração de Maria, do coração da Mãe, ao ver como é pisada a lei divina, e quantas ofensas são feitas ao Seu Filho.
As aparições de Fátima assumem um significado único, profético. Em termos muito concretos, Maria intervém na história do continente europeu, advertindo-nos para os perigos terríveis do comunismo ateu, que semeou tanto mal, ódio, guerras no século passado. No início do século XX, Maria procurou fazer-nos sair do torpor espiritual, anunciando castigos, sofrimentos terríveis para nações inteiras por causa da ideologia ateia, que, rejeitando Deus, pisava também a dignidade do homem, os seus direitos fundamentais e, em particular, a liberdade religiosa. Foi verdadeiramente um século de mártires!
Em Fátima, a Mãe de Deus dirigiu um convite forte à conversão, à penitência, à oração, que podem mudar o curso da história, o destino da Europa e do mundo. O apelo de Maria não foi suficientemente escutado e oportunamente recebido. Hoje ecoam nos nossos ouvidos as advertências de Nossa Senhora de Fátima, que nos convida a rezar com ela o rosário, a fazer penitência, a convertermo-nos.
As suas aparições são um sinal da misericórdia de Maria, da Divina Misericórdia, que não quer a morte mas sim a conversão e a salvação dos pecadores. O servo de Deus João Paulo II, cuja vida esteve profundamente ligada aos mistérios de Fátima, disse-nos que a Divina misericórdia é o último limite posto ao mal no mundo.
Confiemo-nos todos a Maria com a bela oração de João Paulo II:
“Maria, Mãe de Misericórdia, vela por todos, para que não se torne vã a cruz de Cristo, para que o homem não se afaste do caminho do bem, não perca a consciência do pecado, cresça na esperança em Deus rico de misericórdia (Ef 2,4) (Encíclica Veritatis Splendor).
† Audrys J. Card. Backis
Arcebispo de Vilnius
domingo, 12 de outubro de 2008
Cardeal Audrys Backis, da Lituânia, preside à Peregrinação de Outubro
Arcebispo de Vilnius/Lituânia em entrevista
2008-10-01
Em entrevista, por Internet, à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o Cardeal Audrys Backis, Arcebispo de Vilnius, Lituânia, que presidirá à Peregrinação de Outubro neste santuário português, repete o lamento já várias vezes reafirmado por muitos responsáveis da Igreja Católica: o secularismo que alastra na Europa. “(Em Fátima) Desejo antes de tudo rezar pela Europa que está a esquecer as suas raízes cristãs”, propõe-se D. Audrys Backis.
A sua viagem a Fátima será um hino de louvor, em agradecimento à acção de Nossa Senhora nos países do Leste Europeu.
1 – Com que sentimento recebeu o convite para presidir a esta peregrinação?
Foi com muito gosto, mas também com alguma hesitação, por causa dos meus conhecimentos rudimentares da língua portuguesa, que aceitei o convite de D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, para presidir às celebrações de encerramento das peregrinações marianas de 2008 (a 12 e 13 de Outubro 2008). O convite foi-me feito quando estive em Fátima com os representantes das Conferências Episcopais de toda a Europa, felizes por nos podermos reunir no âmbito do 90º aniversário das aparições da Virgem Maria.
2- Portanto, já conhece Fátima?
Há cerca de uns trinta anos já tinha estado em Lisboa durante alguns dias e, na altura, visitei o Santuário fora das datas das grandes peregrinações. Lembro-me de uma grande esplanada, quase deserta, bem diferente da de hoje com a nova igreja.
3 – Que expectativa traz consigo para esta peregrinação? Algum pedido, ou agradecimento, em especial a Nossa Senhora?
Eu desejo antes de tudo rezar pela Europa que está a esquecer as suas raízes cristãs. Direi outra vez a Maria a minha afeição filial – a minha divisa episcopal é Sub tuum praesidium* –, com uma acção de graças a Maria pela liberdade religiosa da qual hoje desfruta o meu país. Como sabe, a Lituânia é um dos países incorporados à força na União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial e que suportou a opressão comunista, retomando a liberdade só em 1991. No mesmo ano, o Episcopado da Lituânia em união com o governo consagrou a Lituânia ao Coração Imaculado de Maria. Claro que eu também me unirei a todas as intenções de oração dos peregrinos de Portugal.
4 – A propósito da Mensagem de Fátima, para a humanidade actual, a mensagem deixada por Nossa Senhora em Fátima ainda é necessária, justifica-se?
Sim, a mensagem de Maria ainda hoje é de actualidade. Mesmo em certos países da Europa, estamos longe de usufruir de uma total liberdade religiosa. O secularismo espalha-se e nós somos as vítimas da “ditadura do relativismo”, segundo a expressão do Papa Bento XVI. “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”, disse-nos Jesus.
Maria repetiu-o em Fátima, convidando-nos a uma conversão permanente através da penitência e da oração. Mais do que nunca, nós devemos implorar a misericórdia Divina, mensagem que nos deixou o Papa João Paulo II, ele que tanto amou a Virgem de Fátima.
5 – O Santuário de Fátima tem verificado um aumento do número de grupos de peregrinos oriundos dos países de leste, em especial da Polónia. Também nos chegam peregrinos da Lituânia, ainda que em 2007 apenas um grupo se tenha registado no Serviço de Peregrinos do Santuário. Como analisa este fenómeno?
A devoção a Maria e o culto da Eucaristia foram a força dos católicos da Lituânia e dos países da Europa Oriental no tempo da perseguição religiosa. Hoje, muitos fiéis desejam agradecer à Virgem de Fátima pela sua intercessão, respondendo assim ao seu apelo pela conversão da Rússia.
5 - Os católicos lituanos conhecem a mensagem de Fátima? Sua Eminência tem conhecimento de igrejas, capelas ou instituições com Nossa Senhora de Fátima como padroeira?
Na Lituânia há numerosos santuários e igrejas dedicados à Virgem Maria.
Nós celebrámos no dia 8 de Setembro passado o 400° aniversário das aparições de Maria em Siluva (1608), festa da Natividade da Virgem, com a participação de dezenas de milhares de peregrinos. Em Vilnius nós veneramos Maria, Mãe de Misericórdia, no Santuário de “La Porte d’Aurore” (A Porta da Aurora). Ainda nos resta descobrir a Mensagem de Fátima, e não temos igrejas dedicadas ao seu nome.
LeopolDina Simões, Sala de Imprensa do Santuário de Fátima
Arcebispo de Vilnius/Lituânia em entrevista
2008-10-01
Em entrevista, por Internet, à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o Cardeal Audrys Backis, Arcebispo de Vilnius, Lituânia, que presidirá à Peregrinação de Outubro neste santuário português, repete o lamento já várias vezes reafirmado por muitos responsáveis da Igreja Católica: o secularismo que alastra na Europa. “(Em Fátima) Desejo antes de tudo rezar pela Europa que está a esquecer as suas raízes cristãs”, propõe-se D. Audrys Backis.
A sua viagem a Fátima será um hino de louvor, em agradecimento à acção de Nossa Senhora nos países do Leste Europeu.
1 – Com que sentimento recebeu o convite para presidir a esta peregrinação?
Foi com muito gosto, mas também com alguma hesitação, por causa dos meus conhecimentos rudimentares da língua portuguesa, que aceitei o convite de D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, para presidir às celebrações de encerramento das peregrinações marianas de 2008 (a 12 e 13 de Outubro 2008). O convite foi-me feito quando estive em Fátima com os representantes das Conferências Episcopais de toda a Europa, felizes por nos podermos reunir no âmbito do 90º aniversário das aparições da Virgem Maria.
2- Portanto, já conhece Fátima?
Há cerca de uns trinta anos já tinha estado em Lisboa durante alguns dias e, na altura, visitei o Santuário fora das datas das grandes peregrinações. Lembro-me de uma grande esplanada, quase deserta, bem diferente da de hoje com a nova igreja.
3 – Que expectativa traz consigo para esta peregrinação? Algum pedido, ou agradecimento, em especial a Nossa Senhora?
Eu desejo antes de tudo rezar pela Europa que está a esquecer as suas raízes cristãs. Direi outra vez a Maria a minha afeição filial – a minha divisa episcopal é Sub tuum praesidium* –, com uma acção de graças a Maria pela liberdade religiosa da qual hoje desfruta o meu país. Como sabe, a Lituânia é um dos países incorporados à força na União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial e que suportou a opressão comunista, retomando a liberdade só em 1991. No mesmo ano, o Episcopado da Lituânia em união com o governo consagrou a Lituânia ao Coração Imaculado de Maria. Claro que eu também me unirei a todas as intenções de oração dos peregrinos de Portugal.
4 – A propósito da Mensagem de Fátima, para a humanidade actual, a mensagem deixada por Nossa Senhora em Fátima ainda é necessária, justifica-se?
Sim, a mensagem de Maria ainda hoje é de actualidade. Mesmo em certos países da Europa, estamos longe de usufruir de uma total liberdade religiosa. O secularismo espalha-se e nós somos as vítimas da “ditadura do relativismo”, segundo a expressão do Papa Bento XVI. “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”, disse-nos Jesus.
Maria repetiu-o em Fátima, convidando-nos a uma conversão permanente através da penitência e da oração. Mais do que nunca, nós devemos implorar a misericórdia Divina, mensagem que nos deixou o Papa João Paulo II, ele que tanto amou a Virgem de Fátima.
5 – O Santuário de Fátima tem verificado um aumento do número de grupos de peregrinos oriundos dos países de leste, em especial da Polónia. Também nos chegam peregrinos da Lituânia, ainda que em 2007 apenas um grupo se tenha registado no Serviço de Peregrinos do Santuário. Como analisa este fenómeno?
A devoção a Maria e o culto da Eucaristia foram a força dos católicos da Lituânia e dos países da Europa Oriental no tempo da perseguição religiosa. Hoje, muitos fiéis desejam agradecer à Virgem de Fátima pela sua intercessão, respondendo assim ao seu apelo pela conversão da Rússia.
5 - Os católicos lituanos conhecem a mensagem de Fátima? Sua Eminência tem conhecimento de igrejas, capelas ou instituições com Nossa Senhora de Fátima como padroeira?
Na Lituânia há numerosos santuários e igrejas dedicados à Virgem Maria.
Nós celebrámos no dia 8 de Setembro passado o 400° aniversário das aparições de Maria em Siluva (1608), festa da Natividade da Virgem, com a participação de dezenas de milhares de peregrinos. Em Vilnius nós veneramos Maria, Mãe de Misericórdia, no Santuário de “La Porte d’Aurore” (A Porta da Aurora). Ainda nos resta descobrir a Mensagem de Fátima, e não temos igrejas dedicadas ao seu nome.
LeopolDina Simões, Sala de Imprensa do Santuário de Fátima
6ª Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria em 13 de Outubro de 1917
Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha Mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês passado, mais numerosas e comovederas. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
- Que é que Vossemecê me quer?
- Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre arezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.
- Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
- Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.
E tomando um aspecto mais triste:
- Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.
E abrindo as mãos, fê-las reflectir no sol. E enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar (-se) no sol.
Eis, Ex. mo e Rev.mo Senhor Bispo, o motivo pelo qual exclamei que olhassem para o sol. O meu fim não era chamar para ai a atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua presença. Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso me impeliu.
Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo.
In, Memórias da Irmã Lúcia
Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha Mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês passado, mais numerosas e comovederas. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
- Que é que Vossemecê me quer?
- Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre arezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.
- Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
- Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.
E tomando um aspecto mais triste:
- Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.
E abrindo as mãos, fê-las reflectir no sol. E enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar (-se) no sol.
Eis, Ex. mo e Rev.mo Senhor Bispo, o motivo pelo qual exclamei que olhassem para o sol. O meu fim não era chamar para ai a atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua presença. Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso me impeliu.
Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo.
In, Memórias da Irmã Lúcia
VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA por padre Nicola Bux e padre Salvatore Vitiello - Pio XII, passados 50 anos da sua morte: nenhuma descontinuidade com a Igreja do Concilio
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Uma Igreja que cala, quando deveria falar; uma Igreja que enfraquece a lei de Deus, adaptando-a ao gosto das vontades humanas, quando deveria altamente proclamá-la e defendê-la; uma Igreja que se destaca pelo fundamento sobre o qual Cristo a construiu, para acomodar-se comodamente sobre a areia movediça das opiniões do dia ou para abandonar-se à corrente que passa; uma Igreja que não resiste à opressão das consciências e não protege os direitos legítimos e as liberdades do povo; uma Igreja que, com indecorosa servidão, permanece fechada entre as quatro paredes do templo, esquece do divino mandato, recebido por Cristo: ‘Ide às encruzilhadas (Mt 22,9), ensinai as pessoas (Mt 29,19)’. Prezados filhos e filhas! Herdeiros espirituais de uma incontável legião de confessores e de mártires, é esta a Igreja que vocês veneram e amam? Reconhecem numa tal Igreja as linhas do rosto de sua Mãe? Podem imaginar um sucessor do primeiro Pedro, que se dobre a tais exigências?”.
Da praça são Pedro, tomada pela multidão, ouviu-se um “Não!” a estas perguntas. Quem as pronunciou foi o Papa Pio XII, depois de saber da prisão do primaz da Hungria, o Arcebispo de Budapeste, o Cardeal Josef Mindszenty. Como é ainda possível sustentar, por parte de alguns historiadores, evidentemente ideologizados, a tese do “Papa dos silêncios”?
Tais palavras exprimem a consciência da estrutura martirológica do primaz romano. Que grande atualidade elas têm, não tanto pelas perseguições que em várias partes do mundo se repetem, quanto pela verdade da previsão de Jesus: “Perseguiram-se, perseguirão também a vós”!
São um teste para avaliar se, sobre a verdade do martírio, que é também a fundamental de Cristo, a Igreja não permaneceu sempre a mesma depois do Concílio.
Um exemplo: quando Bento XVI fala da “ditadura dos desejos”, não faz eco a Pio XII que fala do “gosto das vontades humanas”? Onde estaria então a suposta “descontinuidade” entre a Igreja “antes do Concilio” e a atual? Quem denigre Pio XII, na realidade, tem medo dessa verdade: da continuidade invencível do Corpo eclesial.
Se se lesse a “Gaudium et Spes” na contra-luz, com tais ensinamentos, perceber-se-ia que há um mundo a ser salvo porque, perseguida a Igreja e os cristãos – “não são do mundo” disse Jesus dos seus discípulos.
Pode-se imaginar que tal verdade foi esquecida pelos Padres Conciliares em 1962, há pouco mais de cinco anos dos fatos da Hungria, que viram outras atribulações da Igreja do silêncio, milhões de perseguidos e mártires da fé? Seria realmente anti-histórico presumi-lo! Aqueles que hoje, com uma linguagem nem sempre atenta, são definidos como “desafios” do mundo para a Igreja, na realidade são os episódios que são Paulo define como “atribulações”, isto é, espinhos dolorosos: mas somente entre lês está o consolo de Deus.
Pio XII não foi poupado de tais “atribulações”, nem em vida, sem após a morte. Entre todas, basta recordar a “piece teatral”, orquestrada pelo Hochuth, um ator em busca de notoriedade, que deu início, em 1960, à lenda negra sobre o suposto “Papa do silêncio”. Foi bem sucedido, graças à cumplicidade dos que queriam atacar Pio XII pelo decreto do Santo Ofício, sobre a adesão ao comunismo, e pelo apoio, também, de ambientes progressistas e modernistas católicos, que não perdoavam o Pontífice pela canonização de Pio X. Um recente congresso, da área cultural judaica, nas últimas semanas, forneceu ainda mais provas dessa falsidade, testemunhando a favor do grande Pontífice.
Mas Montini, em 1963, quando era ainda Arcebispo de Milão, escreveu ao “The Tablet”, o jornal católico inglês, para defender Pio XII e, como estreito colaborador, o retratava: “O aspecto frágil e doce de Pio XII, a sua palavra contida e refinada escondiam – ou revelavam – um carácter nobre e viril, capaz de tomara decisões firmes e adotar sem medo posições que podiam fazê-lo correr riscos consideráveis…Desejava penetrar no fundo da história da sua época atormentada. Sentia profundamente que ele próprio era também parte desta história e desejava dela participar totalmente, compartilhar os seus sofrimentos no seu coração e na sua alma”.
Deve-se meditar também sobre isso, no dia 9 de outubro de 2008, 50° aniversário da morte de Pio XII, servo de Deus, e rezar pela sua glorificação. (Agência Fides 9/10/2008)
Prova grátis: recebe por e-mail as notícias do dia da agência
Palazzo "de Propaganda Fide" - 00120 - Città del Vaticano Tel. +39-06-69880115 - Fax. +39-06-69880107 - e-mail: fides@fides.va © AGENZIA FIDES
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Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Uma Igreja que cala, quando deveria falar; uma Igreja que enfraquece a lei de Deus, adaptando-a ao gosto das vontades humanas, quando deveria altamente proclamá-la e defendê-la; uma Igreja que se destaca pelo fundamento sobre o qual Cristo a construiu, para acomodar-se comodamente sobre a areia movediça das opiniões do dia ou para abandonar-se à corrente que passa; uma Igreja que não resiste à opressão das consciências e não protege os direitos legítimos e as liberdades do povo; uma Igreja que, com indecorosa servidão, permanece fechada entre as quatro paredes do templo, esquece do divino mandato, recebido por Cristo: ‘Ide às encruzilhadas (Mt 22,9), ensinai as pessoas (Mt 29,19)’. Prezados filhos e filhas! Herdeiros espirituais de uma incontável legião de confessores e de mártires, é esta a Igreja que vocês veneram e amam? Reconhecem numa tal Igreja as linhas do rosto de sua Mãe? Podem imaginar um sucessor do primeiro Pedro, que se dobre a tais exigências?”.
Da praça são Pedro, tomada pela multidão, ouviu-se um “Não!” a estas perguntas. Quem as pronunciou foi o Papa Pio XII, depois de saber da prisão do primaz da Hungria, o Arcebispo de Budapeste, o Cardeal Josef Mindszenty. Como é ainda possível sustentar, por parte de alguns historiadores, evidentemente ideologizados, a tese do “Papa dos silêncios”?
Tais palavras exprimem a consciência da estrutura martirológica do primaz romano. Que grande atualidade elas têm, não tanto pelas perseguições que em várias partes do mundo se repetem, quanto pela verdade da previsão de Jesus: “Perseguiram-se, perseguirão também a vós”!
São um teste para avaliar se, sobre a verdade do martírio, que é também a fundamental de Cristo, a Igreja não permaneceu sempre a mesma depois do Concílio.
Um exemplo: quando Bento XVI fala da “ditadura dos desejos”, não faz eco a Pio XII que fala do “gosto das vontades humanas”? Onde estaria então a suposta “descontinuidade” entre a Igreja “antes do Concilio” e a atual? Quem denigre Pio XII, na realidade, tem medo dessa verdade: da continuidade invencível do Corpo eclesial.
Se se lesse a “Gaudium et Spes” na contra-luz, com tais ensinamentos, perceber-se-ia que há um mundo a ser salvo porque, perseguida a Igreja e os cristãos – “não são do mundo” disse Jesus dos seus discípulos.
Pode-se imaginar que tal verdade foi esquecida pelos Padres Conciliares em 1962, há pouco mais de cinco anos dos fatos da Hungria, que viram outras atribulações da Igreja do silêncio, milhões de perseguidos e mártires da fé? Seria realmente anti-histórico presumi-lo! Aqueles que hoje, com uma linguagem nem sempre atenta, são definidos como “desafios” do mundo para a Igreja, na realidade são os episódios que são Paulo define como “atribulações”, isto é, espinhos dolorosos: mas somente entre lês está o consolo de Deus.
Pio XII não foi poupado de tais “atribulações”, nem em vida, sem após a morte. Entre todas, basta recordar a “piece teatral”, orquestrada pelo Hochuth, um ator em busca de notoriedade, que deu início, em 1960, à lenda negra sobre o suposto “Papa do silêncio”. Foi bem sucedido, graças à cumplicidade dos que queriam atacar Pio XII pelo decreto do Santo Ofício, sobre a adesão ao comunismo, e pelo apoio, também, de ambientes progressistas e modernistas católicos, que não perdoavam o Pontífice pela canonização de Pio X. Um recente congresso, da área cultural judaica, nas últimas semanas, forneceu ainda mais provas dessa falsidade, testemunhando a favor do grande Pontífice.
Mas Montini, em 1963, quando era ainda Arcebispo de Milão, escreveu ao “The Tablet”, o jornal católico inglês, para defender Pio XII e, como estreito colaborador, o retratava: “O aspecto frágil e doce de Pio XII, a sua palavra contida e refinada escondiam – ou revelavam – um carácter nobre e viril, capaz de tomara decisões firmes e adotar sem medo posições que podiam fazê-lo correr riscos consideráveis…Desejava penetrar no fundo da história da sua época atormentada. Sentia profundamente que ele próprio era também parte desta história e desejava dela participar totalmente, compartilhar os seus sofrimentos no seu coração e na sua alma”.
Deve-se meditar também sobre isso, no dia 9 de outubro de 2008, 50° aniversário da morte de Pio XII, servo de Deus, e rezar pela sua glorificação. (Agência Fides 9/10/2008)
Prova grátis: recebe por e-mail as notícias do dia da agência
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