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Porém, quando se volta a tantas publicações contemporâneas, algumas delas da autoria de teólogos famosos, outras de teólogos de menor renome, outras ainda de leigos que nos oferecem as suas diletantes elucubrações teológicas, chega-se a ficar profundamente entristecido, e até mesmo refém de graves apreensões.
Será realmente difícil conceber maior contraste do que o existente entre os Documentos oficiais do Vaticano II, e as declarações oficiais insípidas, de vários teólogos e leigos, que têm brotado por toda parte, como verdadeira praga.
De um lado, achamos o verdadeiro Espírito de Cristo, a voz autêntica da Igreja, deparando-nos com textos que, no fundo e na forma, respiram gloriosa atmosfera sobrenatural.
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A distorção da autêntica natureza do Concílio, produzida por essa epidemia de diletantismo teológico, tem a sua mais forte expressão nas falsas alternativas, as quais nos ordenam a todos escolher: ou aceitar a secularização da Cristandade, ou negar a autoridade do Concílio.
Essas alternativas drásticas e dissidentes são, com bastante frequência, rotuladas de respostas “progressistas” e respostas “tradicionalistas”.
São termos que se aplicam facilmente a muitos domínios naturais, mas podem ser extremamente enganadores quando aplicados à Igreja.
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A Revelação Divina e o Corpo Místico de Cristo diferem completamente de todas as entidades naturais.
Ser 'conservador' ou ser 'tradicionalista', é neste caso um elemento essencial da resposta que é devida a esse fenómeno original, a Igreja.
Mesmo um homem que não seja, de modo nenhum, conservador por temperamento, mas progressista em muitos outros aspectos, deve ser conservador na sua relação com o Magistério infalível da Igreja, se pretende ser Católico verdadeiro.
É possível ser, ao mesmo tempo, progressista e católico; mas não se pode ser progressista a respeito da Fé católica.
A ideia de “católico progressista”, neste sentido, é uma contradição "in adjecto".
Infelizmente, há muitos que, hoje em dia, já não entendem tal contradição, pelo que orgulhosamente se proclamam “católicos progressistas”.
O legalismo, o abstraccionismo, a pressão externa em problemas de consciência, graves abusos de autoridade nos conventos, assim como mudanças rebeldes na Fé católica, o que obviamente só pode representar o seu abandono.
Mas essas alternativas são falsas; porquanto existe realmente uma terceira opção, que acolhe bem as decisões oficiais do Concílio Vaticano e, ao mesmo tempo, rejeita enfaticamente as interpretações secularizantes que lhes são propostas pelos chamados teólogos e leigos 'progressistas'.
Esta terceira opção baseia-se, de facto, na inabalável Fé em Cristo e no Magistério infalível da Sua Santa Igreja.
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Não admite nenhuma possibilidade de mudança, excepto o “desenvolvimento” na formulação explícita do que já se achava presente na Fé dos Apóstolos, ou do que necessariamente daí decorre, como diz o Cardeal Newman.
Sustenta a atitude de que a Moralidade Cristã da Santidade, a Moralidade revelada na Sagrada Humanidade de Cristo e nos Seus Mandamentos, exemplificada em todos os Santos, permanece a mesma para sempre.
Sustenta que o objectivo da nossa existência é sermos transformados em Cristo, tornando-nos, por Ele e n´Ele, criaturas novas, segundo as palavras de S. Paulo: “É esta a Vontade de Deus, a vossa santificação”.
Esta posição assevera a diferença radical entre o Reino de Deus e o "saeculum".
Leva em conta a luta entre o Espírito de Cristo e o espírito de Satanás, através de todos os séculos passados e futuros, até ao fim do mundo.
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É esta, pura e simplesmente, a posição católica, sem mais nenhuma interpretação, nem excepções.
Alegra-se com toda a mudança que amplia o "instaurare omnia in Christus", e leva a Luz de Cristo aos sectores da vida que positivamente foram adicionados.
É de facto um encorajamento específico, sobretudo dirigido aos católicos, no sentido de confrontar e identificar tudo com o Espírito e a Verdade de Cristo, no tempo e fora do tempo, apesar do espírito mundano da nossa época ou de qualquer época passada.
Esta renovação aprecia, com especial reverência, aqueles grandes dons dos séculos cristãos que nos precederam, que reflectem a sagrada atmosfera da Igreja, como por exemplo, o Canto Gregoriano e os admiráveis Hinos da Liturgia latina.
Sustenta que isso jamais deve deixar de desempenhar grande papel na nossa Liturgia, e que em nossos dias, como no passado, constitui relevante missão apostólica.
Representa uma atitude de profunda e filial devoção ao Santo Padre e de reverente amor à Igreja, em todos os seus aspectos, como sendo o autêntico "sentire cum Ecclesia".
Deve ficar bem claro que esta terceira resposta, perante a crise actual da Igreja, não é timidamente comprometedora, mas consistente e sem rodeios.
Não é saudosista, nem antecipa um futuro meramente terreno, pois está focalizada para a Eternidade.
Assim, está apta a viver plenamente no presente, pois somente experimentamos em plenitude um presente efectivo quando conseguimos libertar-nos da tensão do passado e do futuro, quando já não somos prisioneiros do frenético impulso para o momento a seguir.
Portanto, devemos fazer justiça à nossa era, mas somente considerando-a à luz do destino eterno do homem, à luz de Cristo.
A resposta, que acabamos de descrever, envolve sérios cuidados e apreensões, devido à actual invasão da vida da Igreja pelo secularismo, considerando a crise actual como a mais séria de toda a História da Igreja.
Se bem que este ideal cristão viva na firme esperança de que a Igreja sempre triunfará, pois o Senhor prometeu:
“E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela”.
(HILDEBRAND, Dietrich Von
- in "Cavalo de Tróia na Cidade de Deus"
- Ed. Agir. 1970, capítulo I, p. 19-22)
fonte:nova evangelização católica