domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Concílio Vaticano II não é mais um bloco.

Mons. Brunero Gherardini no Congresso dos Franciscanos da Imaculada. Na mesma foto (à direita), Dom Luigi Negri, bispo de San Marino.
Mons. Brunero Gherardini no Congresso dos Franciscanos da Imaculada. Na mesma foto (à direita), Dom Luigi Negri, bispo de San Marino.
I – O congresso dos Franciscanos da Imaculada.
Começa-se a ouvir falar muito, aqui e acolá, deste seminário teológico, de um elevado nível universitário, realizado em Roma, de 16 a 18 de dezembro. Em suma, ele conferiu — ou melhor: confirmou — um direito de cidadania efetivo, na Igreja, a uma análise crítica e contraditória dos enunciados do concílio pastoral Vaticano II.
Faz bastante tempo, com efeito, meio século depois de sua convocação; e cinco anos depois do discurso de 22 de dezembro de 2005 com o qual Bento XVI liberou a palavra para um debate necessário a esse respeito.
Esperamos uma próxima tradução francesa dos discursos pronunciados nesse congresso. Por ora, temos o relato publicado por Correspondance européenne de Roberto de Mattei.
II – Quem é, portanto, responsável pelo “pós-Concílio”?
- Foi fortemente debatido, durante o congresso, a fim de se saber se o pós-concílio pertence ou não ao concílio. Sobre este ponto, como nos outros, o simples fiel há muito tem uma opinião segura: o concílio foi bem ou mal aplicado, mas, em todo caso, foi aplicado por aqueles que o fizeram; isto é, qualquer que seja o texto de sua lei, esta lei foi aplicada pelo próprio legislador e segundo a sua intenção. Emile Poulat observava que na sociedade civil não é o legislador o encarregado de aplicar a lei. Seria melhor? Não é certo. De toda forma, foram efetivamente os bispos do concílio os responsáveis pelo pós-concílio. Assim como Paulo VI, que durante quinze anos, de 1963 a 1978, foi o Papa do concílio, do pós-concílio e das destruições cujas conseqüências sofremos.
III – O esforço doutrinal.
- Foi dito no congresso que o erro do pós-concílio foi o de “dogmatizar um concílio que quis ser pastoral”. Que quis? Digamos melhor: que pretendia não ser mais que pastoral. Mas é difícil acreditar que bispos e teólogos absolutamente não percebiam a ruptura doutrinal subentendida por aqueles que a criavam. O simples fiel ouviu perfeitamente que o Vaticano II se proclamava “pastoral” por distinção explícita do “doutrinal”. Mas ele observou imediatamente que esses enunciados pastorais tinham inevitáveis e dramáticas implicações doutrinais: assim constatavam, entre outros, pela supressão radical dos catecismos tradicionais, substituídos por nada. Constatavam também pela interdição ilegítima da missa secular, substituída por uma improvisação de alguns meses.
IV – Classificar e retratar.
- Naturalmente, em muitas passagens o Vaticano II recorda, em uma linguagem mais ou menos precisa, verdades dogmáticas: elas o são não por sua própria autoridade, que é apenas pastoral, mas pela autoridade dos concílios anteriores que as definiram. A página se vira sobre a invenção barroca de um “magistério pastoral” que se propõe como magistério não doutrinal, mas igual ou mesmo superior ao magistério doutrinal. O simples fiel se recorda que este “magistério não doutrinal” atribuía a seu concílio, em bloco, “tanta autoridade e maior importância” que o concílio de Niceia [ndr: não podemos deixar de recordar a frase de Paulo VI: "O Concílio Vaticano II não tem menor autoridade e em certo sentido é ainda mais importante que o de Niceia"]. O bloco se rompe, está rachado.
Sim, estes são verdadeiramente tempos em que os teólogos se pronunciam publicamente sobre os erros e os abusos de poder conciliares, de cujos espíritos seremos completamente libertados quando forem suficientemente retratados.
JEAN MADIRAN (extrato de Présent , sábado, 5 de fevereiro)
Fonte: Revue Item
De:Fratres in unum