quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Biografia breve do Papa Pio XII

Eugénio Pacelli, de família da nobreza, era neto de Marcantonio Pacelli, fundador do L'Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano, sobrinho de Ernesto Pacelli, conselheiro de finanças papal do Papa Leão XII, e filho de Filippo Pacelli, deão dos advogados do Vaticano.

Pacelli tornou-se sacerdote em Abril de 1899. Entre 1904 e 1916, Fr. Pacelli assistiu o Cardeal Gasparri na codificação do direito canónico. Foi nomeado Núncio Apostólico na Baviera pelo Papa Bento XV em 1917, e depois na Alemanha, na República de Weimar em Junho de 1920.

Elevado a Cardeal em 16 de Dezembro de 1929 pelo Pio XI, logo em 7 de Fevereiro de 1930 o Papa Pio XI nomeou-o Secretário de Estado. Durante a década de 1930 o Cardeal Pacelli fez concordatas com a Baviera, Prússia, Áustria e Alemanha. Fez ainda visitas diplomáticas na Europa e América, incluindo uma longa visita aos Estados Unidos da América em 1936.

Primeiro filho de um advogado com altas responsabilidades seculares da Santa Sé, iniciou os seus trabalhos apostólicos na igreja de Santa Maria Vallicella, fazendo parte de um grupo juvenil. No dia 2 de Abril de 1899 é ordenado sacerdote, passando a executar funções na Secretaria de Estado de monsenhor Gasparri. Ali, pode dizer-se, o futuro Pontífice aprendeu a escola do Papa Pio X, a quem ele mesmo canonizou meio século depois.

A 13 de Maio de 1917, em plena Primeira Grande Guerra, é nomeado núncio na Baviera, onde trabalhará tendo a paz e o auxílio às vítimas do conflito como principal objectivo. Três anos mais tarde, ocupa a Nunciatura de Berlim, tarefa que desempenhou até 1929, quando depois de ser investido cardeal, é designado secretário de Estado da Santa Sé.

Assistiu e assinou várias concordatas com vários Estados: Áustria (1933), Alemanha (1933), Iugoslávia (1935) e Portugal (Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940). Juntamente com o Arcebispo alemão Michael von Faulhaber rascunhou o documento que serviria de base para a encíclica Mit brennender Sorge que condenou os erros do nazismo.
Túmulo de Pio XII na Basílica de São Pedro
Túmulo de Pio XII na Basílica de São Pedro

A 2 de Março de 1939, no dia de seu 63º aniversário, é eleito Sumo Pontífice: toma o nome de Pio XII, em plena preparação de uma nova conflagração mundial. Evitá-la a todo o custo foi a sua primeira preocupação. Em maio, envia aos governos do Reino Unido, França, Polônia, Alemanha e Itália uma proposta para resolver, mediante uma reunião conjunta, os problemas inerentes à comprometida estabilidade política. A 24 de julho do mesmo ano, dirigiu por rádio um apelo à paz no mundo.

Pode-se dizer que Pio XII foi um dos principais protagonistas daqueles dias tão carregados de tragédia, porque procurou, com todas as suas forças, evitar a guerra. Na noite de Natal de 1942, condenou a perseguição judia na sua famosa alocução de Natal. Igualmente, em 1943 pronunciou um importante discurso aos cardeais, em que reafirmou a sua condenação da política alemã.

O seu silêncio durante os primeiros anos da guerra foi reconhecido por muitos historiadores como útil para salvar inumeráveis vidas humanas. Pio XII organizou a assistência da Santa Sé a favor dos perseguidos. Morreu a 9 de Outubro de 1958.

Pontificado
Estátua de Pio XII em Braga Portugal
Estátua de Pio XII em Braga Portugal

Em 2 de Março de 1939, Pacelli tornou-se o primeiro Secretário de Estado, desde 1667, a ser eleito Papa; escolheu o nome de Pio XII. Seu papel durante a Segunda Guerra Mundial é controverso. O que é geralmente aceito é que o Papa seguiu uma política neutra à semelhança do que o Papa Bento XV havia feito na Primeira Guerra Mundial. O principal argumento tinha duas razões: a condenação pública de Adolf Hitler e do nazismo trariam pouco ou nenhum benefício ao desenrolar da guerra, já que seria certamente censurada na Alemanha e desconhecida para os católicos alemães (embora já houvesse na década anterior à guerra declarações de que catolicismo e nazismo eram incompatíveis); segundo, isso poderia desencadear uma forte perseguição religiosa aos católicos alemães, cortando as rotas de fuga usadas por opositores do nazismo, judeus e ciganos.

Quando, em 10 de Setembro de 1943 os nazistas invadiram Roma, o Papa abriu a Santa Sé aos refugiados, estimando-se que tenha concedido a cidadania do Vaticano a entre 800.000 e 1.500.000 de pessoas, e nos meses em que Roma se encontrava sob ocupação alemã, Pio XII instruiu o clero italiano sobre como salvar vidas usando de todos os meios possíveis.

Cento e cinqüenta e cinco conventos e mosteiros em Roma deram asilo a aproximadamente cinco mil judeus. Pelo menos três mil encontraram refúgio na residência de verão do pontífice, em Castel Gandolfo. Sessenta judeus viveram por nove meses dentro da Universidade Gregoriana e muitos foram escondidos no subsolo do Pontifício Instituto Bíblico. Seguindo as instruções de Pio XII, muitos padres, monges, freiras, cardeais e bispos italianos empenharam-se para salvar milhares de vidas judias. O cardeal Boetto, de Gênova, salvou pelo menos oitocentas vidas. O bispo de Assis escondeu trezentos judeus por mais de dois anos. O bispo de Campagna e dois de seus parentes salvaram outros 961 em Fiume.

Como consequência, e apesar do fato de Mussolini e dos fascistas terem cedido à exigência de Hitler de dar início às deportações também na Itália, muitos católicos italianos desobedeceram às ordens alemãs. É sabido que, enquanto cerca de 80% dos judeus europeus encontraram a morte durante a Segunda Guerra Mundial, 80% dos judeus italianos se salvaram.

O que é certo é que o Papa desenvolveu na sombra uma forte campanha de apoio aos judeus, e os seus críticos, todavia, não perdoam o fato de o Papa Pio ter mantido silêncio ao não falar publicamente contra o nazismo durante a guerra (talvez por temer represálias nazistas contra os católicos).

Robert M. W. Kempner, referindo-se à sua própria experiência durante o processo de Nuremberg, afirmou em uma carta à redação, depois de o Commentary ter publicado um trecho do livro de Guenter Lewy em 1964: "Qualquer movimento de propaganda da Igreja Católica contra o Reich hitlerista não só teria sido um 'suicídio voluntário' (...) mas teria também acelerado a execução capital de um maior número de judeus e sacerdotes". Porém, apesar de ninguém considerar a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis. E ela se omitiu, segundo os seus críticos.

As eleições italianas de 1948

Em fins de 1947, a Assembléia Constituinte italiana havia concluído o texto de um nova constituição que entraria em vigor em 1 de janeiro de 1948. Haviam sido convocadas eleições gerais para 18 de abril de 1948, comunistas e socialistas coligaram-se contra a Democracia Cristã liderada por De Gasperi.

À vista do bloqueio de Berlim naquele ano, a guerra fria entre a Rússia e as democracias ocidentais e a perseguição religiosa por trás da "Cortina de Ferro" levaram Pio XII a declarar que "soara a hora capital da consciência cristã". Em suas palavras "toda a nação estava em plena transmutação dos tempos, que requeria por parte da Cabeça e dos membros da Cristandade, suma vigilância, incansável diligência e uma ação abnegada." [1]

Coerente com o magistério da Igreja que já condenava o marxismo como heresia desde antes[2] de Leão XIII e através da encíclica Rerum Novarum e de outros documentos pontifícios[3] [4]de seus sucessores, naquelas eleições prestou claro apoio a De Gasperi e à Democracia Cristã italiana que, afinal, saiu-se vitoriosa, e proibiu o clero católico de votar no PCI (Partito Communista D'Italia) o que, segundo seus críticos, seria mostra de seu viés conservador.

Na verdade Pio XII se empenhara naquela eleição e com ele toda a Igreja Católica para garantir a vitória da Democracia Cristã na Itália e evitar que sucedesse na nascente democracia italiana o que vinha ocorrendo então, na denominada Cortina de Ferro. Em várias oportunidades tratou do tema como na Carta Apostólica Dum maerenti animo - A Igreja perseguida na Europa do Leste (29 de junho de 1956) [5] e na Carta Apostólica "Sacro vergente anno" - Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria (7 de julho de 1952) [6]
Processo de Beatificação

Em 1965 o Papa Paulo VI deu início à causa da sua beatificação. No dia 8 de maio de 2007, a Congregação para a Causa dos Santos, à unanimidade, reconheceu que Pio XII praticou as virtudes teologais e as virtudes humanas em grau de heroísmo, submetendo a Bento XVI a decisão de declará-lo Venerável, último estágio que antecede à declaração de beato. A Congregação revisou três mil páginas de documentos e testemunhos sobre a vida de Pio XII. Em dezembro de 2007 o Papa Bento XVI determinou o estudo mais aprofundado de alguns documentos para o que criou uma comissão dentro da sua Secretaria de Estado [7] o que implica num retardamente na tramitação do processo.