quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Extracto de uma Entrevista com o bispo. Albert Malcolm Ranjith Patabendige
Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

- Existe uma situação paradoxal entre o que o que Vossa Excelência diz e alguns acontecimentos recentes. Na Austrália, os jovens pareceram muito respeitoso nas Adorações Eucarísticas e aqueles que eram receberam a Comunhão das mãos do Papa pareciam cheio de alegria em recebê-La de joelhos e na boca.

No Concílio Vaticano II perguntamos frequentemente sobre como estar atento para ler os sinais dos tempos. Além disso,é uma bela expressão. Mas entramos em contradição com nós mesmos quando fechamos os nossos olhos e nossos ouvidos ao que se passa à nossa volta. Existe hoje uma forte procura de espiritualidade, de coerência, de sinceridade, de uma fé não só proclamada mas também vivida. . Isto o vemos sobretudo nas gerações mais jovens. Gosto de encontrar algumas vezes os jovens sacerdotes e seminaristas que pretendem ir numa direcção de busca do Eterno.
Nós que somos da geração do Concílio Vaticano II, que proclamou o dever de estar sempre alerta para os sinais dos tempos, não se deve muito menos agora tornarmo-nos cegos e surdos. Os sinais dos tempos mudam com a história. Se estivermos atentos não só aos sinais dos tempos sessenta e oito, mas também aos de hoje, então teremos que abrir-nos a este fenómeno, reflectir sobre ele e examiná-lo.
É estranho que em alguns países da Europa, as irmãs se vistam como mulheres comuns e abandonem o véu. O véu é um símbolo de algo eterno, algo de “um já e todavia ainda não". Daquele sentido escatológico pregado pelo Senhor: ainda que agora estejamos na terra pertencemos a uma realidade distinta.
Então que sentido tem deixar tudo isso para nos integrarmos em uma cultura moribunda? Tenho visto tantos jovens padres e freiras que são fiéis a seus sinais de consagração. . Não que o hábito seja tudo, mas ele também tem um significado. . Lembro-me de um dia em que estava viajando sobre o TGV entre Paris e Lyon, vestido como sacerdote com um cabeção, e assim por diante. Num determinado momento um homem aproximou-se de mim e perguntou-me se eu era um padre católico. Eu respondi que sim e ele pediu -me para o confessar Então fomos para um canto onde pudéssemos estar sem ser incomodados. Ele me disse que ele era um católico não praticante, e que estava procurando alguém com quem falar. Dizia estar contente por ter-me encontrado porque via que eu era um padre. Mas teria ele tido essa oportunidade se eu tivesse vestido com casaco e gravata?
Repito, é surpreendente e triste que, num mundo com tantos jovens desiludidos pela banalidades, cansados da superficialidade, do consumismo e materialismo, muitos padres e freiras vão vestindo roupas civis, abandonando o seu sinal de pertença a uma realidade diferente. Ler os sinais dos tempos significa discernir que agora os jovens buscam a Deus, buscam um objectivo pelo qual se possam sacrificar, que estão prontos e são generosos. E onde existem essas disposições devemos estar presentes.
Se não, estamos a falar em nome do Concílio, criticamos os outros em nome do Concílio, mas somos incoerentes quando não conseguimos ler estes sinais dos tempos.