sábado, 9 de janeiro de 2010

O Calvário e a Missa - Arcebispo Fulton J.Sheen


IN NOMINE PATRIS, ET FILII,
ET SPIRITUS SANCTI



Introibo ad altare Dei



Iudica me, Deus


Confiteor Deo Omnipotenti


Oramus te, Domine, per merita
sanctorum tuorum


Introitus


Gloria in excelsis Deo!


Dominus vobiscum


Oremus (Collecta)


Lectio Epistolae


Munda cor meum ac labia mea


Sequentia Sancti Evangelii


Credo


Oblatio hostiae


...da nobis per huius aquae et vini mysterium...


Lavabo inter innocentes manus meas


Suscipe, Sancta Trinitas, hanc immaculatam hostiam


Orate fratres


Praefatio



Sanctus, Sanctus, Sanctus

Incipit Canon


Memoria sanctorum et memento vivorum


Salve, salutaris victima, pro me et humano
generis in patibulo Crucis oblata
!


Sacrificium verum et propitiatorius


Salve, nobilis et pretiose sanguis de vulneribus
crucifixi Domini mei Iesu Christi profluens!


Hostiam puram, Hostiam sanctam, Hostiam immaculatam


Memoria martyrum et memento vivorum

Per Ipsum, et cum Ipso et in Ipso


Pater noster


Fractio panis


Agnus Dei, qui tollis peccata mundi


Sanguis Domini nostri Iesu Christi custodiat
animam meam in vitam aeternam. Amen.


Corpus Domini nostri Iesu Christi custodiat
animam tuam in vitam aeternam. Amen.


Benedicat vos Omnipotens Deus


In principio erat Verbum

Fonte:miscellanea catholica

O púlpito, onde as palavras de Jesus são repetidas, não nos une a Ele; o coro, no qual os suaves sentimentos são cantados, não nos aproxima tanto da Sua Cruz. Um templo sem altar de sacrifício não existiu entre os próprios povos primitivos, e nada significa entre os cristãos. Na Igreja Católica é, pois, o altar, e não o púlpito, ou o coro, ou o órgão, que representa o centro de amizade, pois é ali que se renova a memória da Paixão.

... A Missa é o maior acontecimento da história da humanidade: o único Ato sagrado que afasta a ira de Deus de um mundo pecador, porque eleva a Cruz entre a terra e o Céu, renovando assim aquele decisivo momento em que a nossa triste e trágica humanidade viu desenrolar-se na sua frente o caminho para a plenitude da vida sobrenatural.

... Não é possível fugirmos à cruz, a não ser que façamos o que fizeram os Fariseus ou vendendo Cristo, como o fez Judas, ou crucificando-O, tal como fizeram os seus carrascos. Todos nós vemos a Cruz, quer para abraçá-la, para nos salvarmos, quer fugindo dela, para nos perdermos.

Como é, porém, que a cruz se torne visível?
Como se perpetuou e renovou o cenário do Calvário?

No Santo Sacrifício da Missa, porque, quer no Calvário, quer durante o Santo Sacrifício, o Sacerdote e a Vítima são os mesmos. As sete palavras derradeiras são idênticas às sete partes da Missa. Assim como as sete notas musicais comportam uma infinita variedade de harmonias e combinações, também na Cruz há sete notas divinas que o Cristo moribundo fez soar através dos séculos e que, no seu conjunto, constituem a sublime melodia da Redenção do mundo.

Cada palavra é uma parte da Missa.

A primeira, "Perdoai-lhes", representa o Confiteor; a segunda, "Hoje estarás comigo no paraíso", é o Ofertório; a terceira, "Mulher, eis aqui o teu filho", é o Sanctus; a quarta, "Por que me abandonaste?", é a Consagração; a quinta. "Tenho Sede", é a Santa Comunhão; a sexta, "Tudo está consumado", é o "Ite missa est"; a sétima, "Pai, nas Vossas mãos entrego o Meu espírito", é o Último Evangelho.

Representai, pois, na vossa idéia, o Sumo Sacerdote, Cristo, saindo da sacristia do Céu para o altar do Calvário. Ele já se revestiu da nossa natureza humana, colocou no braço o manípulo do nosso sofrimento, a estola do sacerdote, a casula da Cruz. O Calvário é a Sua Catedral; a rocha do Calvário é a pedra do altar; o rubor do sol poente a lâmpada do Santuário; Maria e João são as imagens vivas dos altares laterais; a Hóstia é o Corpo de Jesus; o vinho o Seu sangue. Ele está de pé, como sacerdote, e prostrado, como vítima.


Confissão (1ª Parte)

“Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. (Lc 23,34)

A Missa principia com a confissão. A confissão é uma prece na qual confessamos os nossos pecados e pedimos à Nossa Mãe Santíssima e aos Santos para que intercedam junto de Deus pelo nosso perdão, pois apenas os limpos de coração poderão ver a Deus. Nosso Senhor inicia também a Sua Missa com a Confissão, embora ela seja diferente da nossa neste ponto: Ele é Deus e, portanto, sem pecado. “Qual de vós me arguirá de pecado?” A sua Confissão não pode, portanto, ser uma prece pelo perdão dos Seus pecados, mas sim uma oração pelo perdão dos nossos pecados.

Outros teriam gritado, amaldiçoado, ter-se-iam contorcido, quando os cravos atravessaram os Seus pés e as Suas mãos. Nem a revolta nem a vingança encontram, porém, lugar no peito do Salvador; os Seus lábios não proferem uma única exclamação de represália contra os Seus algozes, nem sequer murmuram uma prece para obter mais forças que Lhe ajudem a suportar as Suas dores.

O Amor Incarnado esquece a angústia e, naquele momento da agonia concentrada, revela algo na altura, da profundidade e inspiração do maravilhoso amor de Deus, quando Jesus pronuncia a sua Confissão: “Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”.

Ele não disse “Perdoa-Me”, mas sim “perdoai-lhes”. O momento da morte era, certamente, o mais adequado para provocar a confissão do pecado, porquanto a consciência, na solenidade das últimas horas, afirma a sua autoridade. Nem sequer esboço de contrição se escapou dos Seus lábios. Jesus associou-Se aos pecadores, mas nunca Se associou ao pecado. Tanto na morte como na vida, Ele nunca teve a consciência de ter descurado um único dever para com Seu Pai Celestial. E porque? Porque um homem imaculado, absolutamente isento de culpa, é algo mais que um homem – é Deus. E é nisso que reside a diferença.

Nós vamos buscar as nossas orações às profundidades da nossa consciência do pecado: a própria palavra “perdoa”, prova que Ele é o Filho de Deus. Repare-se nos termos em que Jesus pediu a Seu Pai que nos perdoasse - “Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”.

Quando alguém nos ofende ou censura sem razão, nós comentamos amargamente a falta de conhecimento de quem assim procede. Quando, porém, nós pecamos contra Deus, Ele encontra uma desculpa para perdoar – a nossa ignorância.

Não há redenção para os anjos caídos. As gotas de sangue que caem da Cruz, na Missa de Sexta-Feira Santa de Cristo, não tombam sobre as suas cabeças. E porque? Porque eles sabiam o que faziam. Eles previam as conseqüências dos seus atos, tão claramente como nós vemos que dois mais dois são quatro, e que uma coisa não pode existir e deixar de existir, ao mesmo tempo. Verdades desta natureza, uma vez compreendidas, não podem ser refutadas, pois são irrevogáveis e eternas.

Foi essa razão pela qual, quando os anjos decidiram revoltar-se contra o Altíssimo, não puderam voltar atrás com a sua decisão. Eles sabiam o que estavam a fazer!


Conosco, no entanto, é diferente. Nós não vemos as conseqüências dos nossos atos com a mesma clareza, porque somos mais ignorantes que os anjos. Se, contudo, soubéssemos que cada pecado de orgulho tece uma coroa de espinhos para a fronte de Jesus; se soubéssemos que cada transgressão dos Seus Divinos Mandamentos é a negação da própria Cruz; se soubéssemos que os atos da avareza e soberba correspondem aos cravos que trespassam as mãos e pés de Jesus; se, conhecendo a bondade de Deus, continuássemos a pecar, nunca teríamos sido salvos.

É apenas a nossa ignorância do infinito amor do Sagrado Coração que nos abrange na prece da Sua Confissão, pronunciada do alto da Cruz: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem.”

Estas palavras devem ser gravadas no íntimo das nossas almas, e não constituírem desculpa para a nossa reincidência no pecado, mas serem, antes, um motivo de contrição e penitência. O perdão não é uma negação do pecado. Nosso Senhor não nega o horrível fato do pecado, e é precisamente neste ponto que o mundo erra, pois considera-o como que um retrocesso ao processo evolucionário, uma sobrevivência de influências do passado e identifica-o com a verbosidade psicológica. Numa palavra, o mundo moderno nega o pecado.

Nosso Senhor lembra-nos que ele é a mais terrível de todas as realidades. Sendo assim, porque, é, porém, que Ele deu uma cruz àqueles que não pecam? Porque é que deixou derramar sangue inocente? Porque é que estão ligados ao pecado, sentimentos horríveis, como a cegueira moral, a covardia, o ódio e a crueldade? Porque é que Ele saiu do reino do imaterial, revestiu a forma material, e permitiu que a Inocência fosse crucificada num madeiro?

Jesus, que amou os homens até a ponto de morrer por eles, permitiu que o pecado exercesse a sua vingança sobre Ele, para mostrar todo o horror representado pela crucifixão de Aquele que mais amava. Aqui, não há, portanto, negação do pecado; a despeito de toda a monstruosidade que ele representa, a Vítima perdoa. A morte de Jesus revela a suprema depravação do pecado, mas tem também a marca de perdão divino. Sendo assim, não há homem que, olhando para um crucifixo, possa afirmar que o pecado não uma coisa grave, nem também possa asseverar que ele não tem perdão.


Pela maneira como sofreu, Jesus revelou a realidade do pecado. Pela maneira como suportou os seus tormentos, Ele revela a Sua compaixão pelo pecador. Ele é a Vítima que sofreu e perdoa. Assim na Vítima, tão humanamente bela, tão divinamente adorável, qualquer de nós pode recordar um Grande Crime e um Grande Perdão. Sob o escudo, que é o sangue de Cristo, podem abrigar-se os maiores pecadores, pois esse sangue tem o poder de sustar as marés da vingança que ameaçam submergir o mundo.

O mundo pode explicar o pecado à sua maneira e desculpá-lo; só, no Calvário, podemos encontrar o perfeito conhecimento da divina contradição do pecado perdoado. A renúncia voluntária e o divino amor transformam o pecado na ação mais nobre e na mais suave e piedosa súplica que o mundo jamais viu e ouviu – a Confissão de Cristo: "Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”.

Aquela palavra “perdoai”, que soou do alto da Cruz naquele dia em que o pecado se ergueu a toda a altura e com toda a sua força, para ser vencido pelo Amor, produziu um eco que ainda não se extinguiu.

Pouco antes da Sua Morte, o Divino Salvador instituía os meios para prolongar o perdão, através do espaço e do tempo, até ao fim do mundo. Reunindo à Sua volta os membros da Sua Igreja, Ele disse aos Seus Apóstolos: “Aquele a quem perdoardes os pecados serão perdoados”. Em qualquer ponto do mundo dos nossos dias, desde então, os sucessores dos Apóstolos têm o poder de perdoar. Não nos cabe perguntar:

Mas, como pode um homem absolver os pecados, se, realmente, um homem não tem esse poder? É Deus quem perdoa, por intermédio do homem. Pois não foi essa a maneira como Ele perdoou àqueles que o pregaram na Cruz, visto que estava revestido da natureza humana? Não será, pois, razoável esperar que Ele nos perdoe os pecados por intermédio de outras naturezas humanas, às quais Ele conferiu esse poder?

E onde encontraremos essas naturezas humanas? Lembro, a propósito, a história daquela caixa, cujo conteúdo fora durante muito tempo ignorado e até ridicularizado pela sua provável insignificância, até ao dia em que foi aberta e se descobriu que encerrava o coração de um gigante. Esse caixa existe em todas as igrejas católicas, e damos-lhe o nome de confessionário. Alguns ignoram-na, ou escarnecem-na; mas a verdade é que nela se contém o Sagrado Coração de Jesus que perdoa aos pecadores, por meio da mão do sacerdote que se ergue, tal como Ele perdoou, quando as Suas mãos se ergueram e foram pregadas nos braços da Cruz.

Na realidade, existe apenas o perdão de Deus. A exclamação “Perdoai-lhes”, foi proferida uma vez – num ato divino e eterno, com o qual a humanidade entrou em contacto através dos tempos. Assim como não podemos ouvir as melodias e palavras que pairam no ar, a não ser que liguemos os rádio-receptores, também as nossas almas só podem sentir a alegria eterna da divina exclamação “Perdoai-lhes”, acorrendo ao confessionário, onde nos será dado ouvir a divina palavra soltada do alto da Cruz.

Deus deseja que, em vez de negar a culpa, o espírito dos nossos dias a admita, olhe para a Cruz, em busca do perdão; Deus quer que as consciências desassossegadas, que não podem encarar a luz e receiam as trevas, procurem alívio, não no domínio da medicina, mas sim na Divina Justiça.

Aqueles cujos espíritos estão imersos nas sombras, devem recorrer à confissão, único meio de expurgar as suas culpas. Em vez de enxugar as suas lágrimas em silêncio, os pobres mortais devem procurar a mão que lhes enxugue o pranto e os absolva. A maior tragédia da vida humana não é, precisamente, aquilo que às almas acontece, mas sim aquilo que lhes falta.

E haverá maior tragédia do que a falta de paz, provocada pelo estado de pecado, cuja absolvição se não procura?

A confissão, proferida aos pés do altar, é uma declaração da nossa ausência de merecimento: o “Confiteor” da Cruz é a nossa esperança de perdão e absolvição. As feridas do Salvador foram terríveis; a pior de todas, porém, será aquela que for infligida pelas nossas culpas.

O “Confiteor” pode salvar-nos, pois, quando o pronunciamos, admitimos que carecemos de perdão, e muito mais do que podemos supor.

Conta-se que certa religiosa, estando um dia a limpar do pó uma pequena imagem do Salvador, a deixou cair. Apanhou-a, intacta, beijou-a e colocou-a no seu lugar, dizendo: “Se não tivésseis caído, não teríeis recebido este ósculo”. Penso, a propósito, se Deus Nosso Senhor seria para nós o que é, se jamais tivéssemos pecado, pois, se assim fosse, não poderíamos chamar-Lhe “Salvador”.

(O Calvário e a Missa- Bispo Fulton J.Sheen – 1ª Parte)

O Calvário e a Missa - 2ª Parte : O Ofertório


O Ofertório
"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso". (Lc. 23,43)

Chegamos agora ao Ofertório da Missa, pois Nosso Senhor oferece-Se ao Seu Pai Celestial. Para nos lembrar, porém, que não Se oferece sozinho, mas sim em união conosco, Ele junta à Sua oferta a alma do ladrão crucificado à Sua direita. Para que a Sua ignomínia fosse mais completa, num golpe de maldade suprema, crucificaram-nO entre dois ladrões.

Durante a Sua vida, Jesus andara entre os pecadores; foi, pois, entre eles que Lhe ergueram a Sua cruz. O Salvador modificou o quadro, e fez dos dois ladrões dois símbolos - a ovelha e o bode - representando assim aqueles que estarão à Sua direita e à Sua esquerda, quando Ele descer, por entre as nuvens do Céu, com a Sua Cruz triunfante, a julgar os vivos e os mortos.
Ambos os ladrões, a princípio, revoltaram-se e blasfemaram; mas um deles, aquele a quem a tradição chamou Dimas, voltou a sua cabeça para ler na face do Salvador crucificado a resignação e a dignidade.

Tal como um pedaço de carvão arremessado ao fogo se transforma numa brasa resplandecente, luminosa, também a alma escura daquele ladrão, arremessada às chamas da crucificação, se abrasou no amor do Coração Divino. Enquanto o ladrão da esquerda dizia: "Se és o Cristo, salva-Te e salva-nos", o ladrão arrependido censurava-o; "Não temes a Deus, visto que sofreste a mesma condenação. Nós padecemos justamente, ao passo que este homem nenhum mal praticou". Este mesmo ladrão proferiu então uma prece, não para solicitar um lugar nos céus, mas sim e apenas para não ser esquecido. "Lembra-Te de mim, quando estiveres no Teu reino".

Tal tristeza e fé não podiam ficar sem recompensa. Naquela ocasião, em que o poderio de Roma não consegiu que Jesus falasse, quando os Seus amigos julgavam que tudo estava perdido, e em que os Seus inimigos se julgavam vencedores, o Salvador quebrou o silêncio. Ele, o Crucificado, transformou-Se em Juiz; Ele, o Crucificado, transformou-Se no Divino Protetor de almas: "Eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso".

Por meio dessas palavras, Nosso Senhor, que estava a oferecer-Se a Seu Pai, como grande holocausto, juntava à Sua oferta, na patena da Cruz, a primeira hóstia humilde, jamais oferecida na Missa - a hóstia do ladrão arrependido; uma brasa tirada da fogueira; um feixe desprezado, esquecido pelos ceifeiros da terra; o grão moído da crucificação e transformado em pão pela Eucaristia.

O Salvador não sofre sozinho na Cruz, pois sofre conosco. E foi essa a razão pela qual Ele uniu o sacrifício do ladrão ao Seu próprio sacrifício. É o que significam as palavras de São Paulo quando diz que devemos sofrer aquelas penas que são necessárias aos sofrimentos de Cristo. Isto não significa que Nosso Senhor não sofresse na Cruz tudo quanto pode sofrer, mas sim que o físico, o Cristo histórico padeceu tanto quanto cabia na Sua natureza humana, nem que o Cristo Místico, que é o Cristo e nós, não tenha sofrido pela nossa plenitude.

Nem todos os ladrões que existem na história do mundo reconheceram as suas culpas, nem tampouco pediram para ser lembrados. Nosso Senhor está agora no Céu e já não pode, portanto, sofrer na Sua natureza humana, mas pode padecer ainda mais nas nossas naturezas humanas e pede-nos que, à semelhança do bom ladrão, nos unamos a Ele na Cruz, para que, participando da Sua Crucificação, possamos participar da Sua Ressurreição e da Sua glória celestial.




Assim como, naquele dia, Deus Nosso Senhor escolheu o ladrão para representar a pequena hóstia do sacrifício, escolhe-nos hoje a nós que, assim, representamos outras tantas pequenas hóstias, unidas a Ele, na patena do Altar.

Recordemos a Missa, tal como era celebrada nos primeiros séculos da Igreja, antes que as civilizações tivessem modificado o mundo, sob os pontos de vista econômico e financeiro. Nesses tempos remotos cada qual levava para o Santo Sacrifício, em cada manhã, algum pão ázimo e algum vinho, dos quais o sacerdote tomava uma pequena parte. O restante era posto de lado, abençoado e distruído aos pobres. Nos nossos tempos não trazemos o pão nem vinho, mas trazemos o equivalente, isto é, com que os comprar- as moedas coletadas entre os fiéis durante o ofertório.

Qual a razão desta oferta?

É que o pão e o vinho são, entre as coisas de natureza, aquelas que melhor simbolizam a substância da vida. O trigo é a própria medula, a essência da terra, e o vinho das cepas é o seu próprio sangue. Ambos eles sustentam o nosso corpo e o nosso sangue.

A oferta destas duas substâncias que alimentam a nossa vida, simbolizam a oferta de nós mesmos no Sacrifício da Missa. A nossa presença está, sob as aparências de pão e de vinho - os símbolos do nosso corpo e do nosso sangue. Nós não somos apenas simples espectadores passivos, assistindo a um espetáculo teatral, pois também fazemos a nossa oferta, em união com Cristo.

Poder-se-ia representar o nosso papel neste drama, por meio da seguinte imagem: Uma grande cruz, na qual Jesus está pregado e, em torno do Calvário, uma multidão de pequenas cruzes, outras tantas hóstias, por meio das quais nos oferecemos em união com Ele, numa pura oblação ao Pai Celestial. Naquele momento cumprimos literalmente a ordem do Salvador: "Tomai a tua cruz diariamente e segue-Me".

Ao pronunciar estas palavras, Ele não nos pedia algo que Ele próprio já não tivesse feito. Não há, portanto, desculpa para dizer-mos: "Eu sou uma hóstia, um holocausto pobre, insignificante", pois também o ladrão o era. Repare-se que houve duas atitudes na alma daquele ladrão, e que ambas foram aceitas por Nosso Senhor. A primeira foi o reconhecimento do fato de que ele mereceu o que estava sofrendo, e que Jesus, que não tinha pecados, não merecera a Sua Cruz. A segunda foi a n'Aquele que os homens rejeitaram e que o ladrão reconheceu como sendo o Rei dos reis.

Quais as condições que nos transformam em pequeno holocausto no Sacrifício da Missa?
Como pode o nosso sacrifício unir-se ao de Cristo e ser aceito, como sucedeu com o ladrão?

Apenas reproduzindo nas nossas almas as duas atitudes que a alma do bom ladrão manifestou; penitência e fé. Antes de mais, façamos penitência, dizendo: "Eu mereço castigo pelos meus pecados. Preciso de fazer penitência". Quantos ignoram até que ponto têm sido cruéis e ingratos para com Deus! E, se assim é, não deveríamos queixar-nos das mágoas e reveses da vida. Nestas circunstâncias, as nossas consciências assemelham-se a quartos escuros, de onde a luz foi há muito tempo expulsa. Se corrermos as cortinas, verificaremos que tudo quanto julgávamos limpo está coberto de pó.

Algumas consciências estão de tal maneira integradas no hábito da desculpa, que dizem, orando, como o Fariseu: "Agradeço-Te, ó Deus, não ser como resto dos homens". Outros, blasfemam contra Deus e contra o Céu, à conta dos seus sofrimentos e pecados, mas não se arrependem.

A Guerra Mundial, por exemplo, representou uma expiação do mal e serviu para nos ensinar que não podemos viver no afastamento de Deus; mas o mundo não aprendeu a lição. Tal como o ladrão da esquerda, recusa-se à penitência, nega-se a ver qualquer relação de justiça entre o pecado e o sacrifício, entre a rebelião e a Cruz.


Quantos mais contritos formos, tanto menos esforços faremos para fugir à nossa cruz. Quanto mais reconhecermos o que somos, mais convictos diremos, como o bom ladrão: "Eu mereci esta cruz"
Ele não pediu para ser desculpado, nem para lhe serem atenuadas as culpas, nem tampouco para ser libertado ou despregado do madeiro de suplício. Ele pediu apenas para ser perdoado. Ele fez penitência porque aceitou o seu holocausto, a sua cruz. Nós não temos também coutra maneira de nos transformarmos em pequenas hóstias, senão unindo-nos a Cristo na Santa Missa.

Se os nossos corações não estiverem despedaçados pela tristeza, se não reconhecermos que estamos realmente feridos, como poderemos sentir necessidade de ser consolados e curados? Se não tomarmos a nossa parte de dor na Crucificação, como poderemos pedir que os nosso pecados nos sejam perdoados?


A segunda condição que nos permite ser uma hóstia no ofertório da Missa, é a . O ladrão, olhando por sobre a cabeça de Jesus, leu a palavra rei. Estranho Rei aquele, que estava coroado de espinhos, e cuja púrpura real era o próprio sangue, tinha por trono uma cruz, por cortesãos os seus carrascos, e fora coroado na crucificação! A despeito de todos aqueles horrores, o ladrão viu o "ouro" e ergueu a sua voz, a sua prece, acima de todas as blasfêmias.

A sua fé era tão forte que ele aceitava, contente, a sua cruz. O ladrão crucificado à esquerda pedia para ser despregado; mas não o da direita, porque ele sabia que há males maiores do que a crucificação, e outra vida para além da cruz. Ele tinha fé no Homem da Cruz central, pois sabia que ele poderia, se quisesse, transformar os espinhos em grinaldas e os pregos em flores. Ele acreditava no Reino que fica para além da Cruz, e sabia que os sofrimentos deste mundo são insignificantes, comparados com as alegrias futuras.

Ele disse como o salmista: "Embora eu siga por entre as sombras da morte, não receio o mal, porque o Senhor está comigo". Tal fé assemelhava-se à dos três jovens na fornalha ardente, à qual o rei Nabucodonosor os condenara, por se terem recusado a adorar a estátua de ouro. A resposta dos mancebos foi esta: "Deves saber, ó rei, que o Deus a quem adoramos pode tirar-nos da fornalha de fogo ardente e livrar-nos das tuas mãos. E, se Ele o não fizer, fica tu sabendo, ó rei, que nós não honramos os teus deuses, nem adoramos a estátua de ouro que erigiste".

E, depois de dizerem isto, eles entregaram-se nas mãos de Deus e confiaram n'Ele como Jó. Também o bom ladrão sabia que Nosso Senhor podia libertá-lo, mas não Lhe pediu que o retirasse da cruz, pois também Jesus não Se retirava a Si próprio, embora os Seus carrascos escarninhos O desafiassem a isso.

Isto não queria dizer que o bom ladrão não amasse a vida, porque ele amava-a como todos nós a amamos. Ele desejava a vida, mais a vida eterna que, finalmente, obteve. Também é dado a cada um de nós descobrir essa Vida, mas só entraremos nela por meio da penitência e da fé que nos une à Grande Hóstia - ao Sacerdote e Vítima que é Cristo. Desta maneira nos transformaremos em ladrões espirituais, para, mais uma vez, nos apoderarmos do Céu.



O Calvário e a Missa - 3ª Parte : Sanctus


Sanctus

Mulher, eis aqui o teu filho...Eis aqui a tua mãe.
(João 19,26-27)

Cinco dias antes, Jesus fizera a Sua entrada triunfal em Jerusalém. Aos Seus ouvidos soavam gritos de triunfo; o chão que os Seus pés pisaram foi juncado de folhas de palmeira, e nos ares ecoaram aclamações ao filho de David, e louvores ao Sagrado Filho de Israel. Àqueles que se mantiveram silenciosos durante as demonstrações feitas em Sua honra, Nosso Senhor lembrou que se as suas vozes não se faziam ouvir, as próprias pedras falariam por eles. Esse foi o dia de nascimento das catedrais góticas.

Eles não conheciam a verdadeira razão pela qual Lhe chamavam Sagrado, nem tampouco compreendiam o motivo que levava Jesus a aceitar o tributo dos seus louvores. Eles pensavam que aclamavam uma espécie de rei da terra. Jesus aceitou essas demonstrações porque ia ser o Rei de um império espiritual. Ele aceitou os seus tributos, as suas aclamações e exclamações de louvor porque caminhava, como uma vítima, ao encontro da Sua Cruz.

Toda a vítima deve ser sagrada – Sanctus, Sanctus, Sanctus.

Cinco dias depois, verificou-se o “Sanctus” da Missa do Calvário; mas naquele “Sanctus” da Sua Missa, Jesus dirigiu-Se àqueles que já eram santos – a Sua querida Mãe e ao Seu bem-amado discípulo João.
Palavras tocantes foram essas: “Mulher eis aqui o teu filho... Eis aqui a tua Mãe!”.

Falando agora aqueles que já eram santos, Jesus não carecia da divina intercessão, pois Ele era o Filho de Deus. Nós, todavia, precisamos de santidade, pois cada vítima da Missa deve ser santificada, impoluta.

Como podemos, porém, ser os santos participantes do Sacrifício da Missa?

Segundo a própria resposta de Jesus, consegui-lo-emos colocando-nos sob a proteção da Sua Mãe Santíssima. Ele dirige-Se à Igreja e a todos os seus membros, representados na pessoa de João, e diz a cada um de nós: “Eis a tua mãe”.

Por que foi, porém, que Jesus se dirigiu a Maria, chamando-lhe Mulher, em vez de Mãe? É que ela era agora a Mãe de todos os cristãos, e a Sua missão era universal – Mãe do Corpo Místico da Igreja, Mãe de todos nós.

Há um tremendo mistério oculto naquela palavra “Mulher”. Essa foi, realmente, a última lição de renúncia que Jesus deu a Maria, e a primeira lição de um novo laço. Nosso Senhor alienara gradualmente a Sua afeição por Sua Mãe, não porque a amasse menos, mas sim e apenas porque ela tinha agora mais a quem amar.

Maria desprendia-se da maternidade da carne, para se prender mais à grande maternidade do espírito. Daí, o emprego da palavra "Mulher". Ela havia de fazer de nós outros tantos Cristos, porque fora ela quem criara o Filho de Deus. Só Maria podia transformar-nos em criaturas santificadas, dignas de pronunciar o Sanctus, Sanctus, Sanctus da Missa do Calvário.

...Maria teve o seu primogênito em Belém. Note-se que São Lucas chama a Nosso Senhor primogênito, não porque Maria tivesse outros filhos, segundo a carne, pois a sua segunda maternidade seria de caráter espiritual. No momento em que Nosso Senhor lhe disse "Mulher", Ela tornou-se, de certa maneira, esposa de Cristo e concebeu em dor o seu primeiro filho espiritual, cujo nome foi João.

...A nossa vantagem foi, porém, maior, pois, ao passo que Maria não adquiria mais do que filhos insubmissos e tantas vezes rebeldes, nós obtínhamos a mais adorável das mães que existem no mundo - A Mãe de Jesus.

Nós somos filhos de Maria. - literalmente, filhos. Ela é nossa mãe, não por título de ficção, nem de cortesia; ela é nossa mãe porque sofreu naquele momento memorável, e por todos nós, as dores da maternidade. E porque é que Deus quis que ela fosse nossa mãe? Porque Ele sabia que, sem a sua proteção e auxílio, jamais seríamos santificados. Jesus veio até nós por intermédio da pureza de Maria, e só através da pureza de Maria conseguiremos chegar até junto d'Ele.

...Note-se que quando tal palavra foi dirigida a Maria, estava prostrada junto à Cruz, uma outra mulher. Já repararam que, praticamente, todas as imagens tradicionais da Crucifixão representam sempre Madalena ajoelhada aos pés da Cruz?

Nunca vimos, no entanto, uma imagem de Maria prostrada. João estava presente e refere no seu Evangelho que ela estava de pé. E porque? Porque era a posição que lhe competia no papel que ali desempenhava, em relação a nós. Maria, a nossa Mãe.

Se Maria estivesse prostrada por terra, naquela hora, tal como Madalena, se ela tivesse sequer chorado, a sua mágoa teria tido um lenitivo. As dores que não desafam, esmagam o coração. Essa dor foi parte do nosso preço de compra, pago pela nossa co-Redentora, Maria, a Mãe de Deus!

Nosso Senhor deixou-a ficar sobre a terra quando Ele subiu aos céus, para que ela fosse a mãe da Igreja, a nossa mãe. A Igreja, infante ainda, carecia do amparo materno, tal como Jesus quando era menino. E foi assim que Maria permaneceu sobre a terra, até que os seus filhos, a sua família se criassem e desenvolvessem. E foi essa a razão porque a encontramos orando com os Apóstolos, enquanto aguardavam a vinda do Espírito Santo.

Mais tarde, foi para o céu, coroada de Rainha dos Anjos e dos Santos, para assistir a outra boda de Caná e interceder por nós, junto ao Salvador, pois nós éramos seus filhos, irmãos de Cristo, e filhos do Pai Celestial.

...A nenhum outro santo podemos falar como uma criancinha fala a sua mãe, pois nenhuma outra virgem, ou mãe, ou mártir, ou confessor jamais sofreu tanto por nós como ela sofreu. Ninguém jamais firmou tão solidamente os nossos direitos à proteção e ao amor.

Maria é a medianeira de todas as graças que Jesus pode dispensar-nos, pois foi por intermédio de Maria que Jesus veio até nós. Desejamos ser santificados, mas sabemos que tal só é possível por meio de Maria, pois ela foi a dádiva que Jesus nos ofereceu no Sanctus da Sua Cruz.

Não há mulher que possa esquecer o filho das suas entranhas. Maria não pode, pois, certamente, esquecer-nos. É precisamente isso que nós sentimos no íntimo dos nossos corações. Em todas as circunstâncias da nossa vida, nossa Mãe Santíssima vela por nós, pos ela vê em cada um dos seus filhos a criança inocente da Primeira Comunhão, o pecador penitente, encaminhando-se para a Cruz, o coração despedaçado, suplicando que a água da vida dissipada se transforme no vinho do amor de Deus.

Em todas essas circunstâncias ressoam aos ouvidos de Maria as palavras pronunciadas do alto da Cruz, sobre o Calvário:

"Mulher , eis o teu filho!"

(Excertos de O Calvário e a Missa - Arcebispo Fulton J.Sheen)
PS: Grifos meus

Graças a Deus e aos amigos que nos visitam acabamos de superar as 120 000 visitas ao nosso Blog "Missa Tridentina em Portugal"

BENEDICTO XVI VISITA POR SORPRESA AL CARDENAL ETCHEGARAY EN EL POLICLÍNICO GEMELLI


Esta tarde y por espacio de media hora el Santo Padre ha visitado, por sorpresa, al Cardenal Roger Etchegaray que se encuentra hospitalizado en el Policlínico Gemelli como consecuencia del incidente ocurrido en la Misa de Nochebuena cuando una mujer saltando el recinto de seguridad se avalanzó sobre el Papa tirándolo al suelo. También el Cardenal Etchegaray sufrió las consecuencias del incidente, debiendo ser posteriormente intervenido quirúrgicamente.

Ultima misa del Padre Pio

Exclusiva: gran interés por la forma extraordinaria del rito romano en Italia




En Italia el 63% de los católicos practicantes asistiría regularmente (al menos una vez al mes) a la forma extraordinaria de la misa, si tuviera la posibilidad material de hacerlo. Éste es el interesante resultado del sondeo efectuado por el instituto Doxa para la Asociación Paix Liturgique y el sitio internet “Messa in latino”.

Esta encuesta sobre la recepción del Motu Proprio Summorum Pontificum en Italia ha sido realizada a fines de septiembre sobre una muestra de 1001 personas mayores de 15 años (que es la muestra standard que se toma para un sondeo representativo a nivel nacional). Precisamos que Doxa es uno de los más importantes institutos de encuestas del país, reconocido por el rigor científico de su trabajo.

En exclusiva publicamos hoy los principales resultados de este sondeo y nuestros comentarios.


I – LOS RESULTADOS

:: A la pregunta: “En julio de 2007 el Papa Benedicto XVI ha confirmado que la misa puede ser celebrada tanto en la forma moderna llamada “ordinaria” o “de Pablo VI” –es decir, en lengua italiana, el sacerdote está dirigido hacia los fieles y la comunión se recibe de pie- como bajo su forma tradicional llamada “extraordinaria” o “de Juan XXIII” –es decir, en latín y gregoriano, con el sacerdote dirigido hacia el altar. Usted personalmente, ¿ha escuchado hablar de esto? el 64% de los practicantes –católicos que declaraban ir al menos una vez al mes a misa- respondía “Sí”, contra un 36% que no sabía nada al respecto.

En cambio, si se considera el conjunto de los católicos, practicantes y no practicantes, sólo el 58% tenía conocimiento.

En Francia, según el sondeo efectuado por el instituto CSA el 24 y 25 de septiembre de 2008 a pedido de Paix Liturgique (sondeo CSA 08 01 153 08 01 153 B) el 82% de los católicos practicantes tenía conocimiento de esto (contra el 58% del conjunto de los católicos).

Nota bene:
En el país del Papa sólo el 64% de los católicos practicantes conoce las disposiciones del Motu Proprio Summorum Pontificum promulgado hace dos años sobre el uso de la forma extraordinaria del rito romano. Esta cifra es la triste consecuencia del silencio que algunos obispos y miembros del clero oponen a la política de reconciliación en el seno de la Iglesia llevada adelante por el Santo Padre.

Este resultado subraya además la legitimidad y la necesidad de un trabajo de información desarrollado por los laicos para promover la obra del Soberano Pontífice. Así en Francia, donde de todos modos el episcopado no está mejor dispuesto que en Italia hacia la forma extraordinaria del rito romano, el 82% de los practicantes regulares (sondeo CSA citado precedentemente) está al corriente del Motu Proprio gracias a las iniciativas de asociaciones como Paix Liturgique y otras.

:: A la segunda pregunta: “¿Le parece normal o no que ambas formas litúrgicas (o sea la moderna llamada “ordinaria”, en italiano, y la tradicional llamada “extraordinaria”, en latín y gregoriano) puedan ser celebradas en su parroquia?”, el 71% de los practicantes e igualmente del conjunto de católicos es favorable a la coexistencia de las dos formas litúrgicas en la propia iglesia.

En Francia, siempre según el sondeo CSA efectuado en el 2008, el 61% de los católicos practicantes y el 62% del conjunto de los católicos se declara favorable a esta situación de mutuo reconocimiento.

Nota bene:
Como ocurre en Francia, la convivencia pacífica de las dos formas del rito romano en las parroquias parecería perfectamente natural a los católicos italianos. Podríamos incluso añadir que una cifra ya más bien positiva (71%) podría también crecer si los fieles fueran mayormente informados por el clero. En efecto, si un tercio de los fieles italianos ignora el contenido del Motu Proprio les es difícil saber que la coexistencia de las dos formas del rito es legítima.

:: A la pregunta: “Si la misa llamada “extraordinaria”, en latín y gregoriano, fuera celebrada en su parroquia, ¿Usted iría? Si sí, ¿con qué frecuencia?”, el 63% de los practicantes italianos declara que lo haría al menos una vez al mes (el 33% para el conjunto de los católicos). Una cifra que se subdivide así: el 40% iría todas las semanas y el 23% al menos una vez al mes.

Nota bene:
En sí el número de los católicos italianos ligados a la forma extraordinaria del rito romano –y esto, no obstante la casi ausencia, en la práctica, de esta forma de celebración en las parroquias- es ya una agradable sorpresa: un tercio. Pero si se consideran los practicantes, este resultado es simplemente excepcional: el 63%. ¡Cerca del doble que en Francia! En Italia, donde es todavía casi imprescindible el sentimiento de pertenencia a la parroquia, y donde las ceremonias religiosas siempre son muy concurridas, se podría pensar que los católicos estén plenamente satisfechos de la misa de Pablo VI, y no obstante esto este resultado indica que la misa del papa Juan sería apreciada en una proporción incluso insospechable.

En efecto, esta respuesta revela el malestar en que se encuentra la mayoría de los fieles respecto de los cambios postconciliares. Acostumbrados a seguir con confianza a sus pastores, los italianos han vivido dócilmente la evolución de la Iglesia, que, es oportuno recordar, se ha manifestado allí de un modo menos violento que en otros países europeos. Y sin embargo hoy los italianos están incontestablemente deseosos de poder aprovechar las posibilidades ofrecidas por la reforma iniciada por Benedicto XVI.

En fin, considerando que el apego a la liturgia antigua es juzgado frecuentemente como una simple reacción a los abusos de los decenios pasados, el hecho de que más de dos practicantes italianos sobre tres consideren la forma extraordinaria como absolutamente “normal” demuestra que una celebración “digna” de la forma ordinaria, como por otra parte ocurre prevalentemente en Italia, no vuelve obsoleto para nada el pedido de la forma extraordinaria, sino, al contrario, la consolida.


II – COMENTARIOS DE PAIX LITURGIQUE

1. El sondeo desarrollado por Doxa para Paix Liturgique y messainlatino.it es el primer estudio científico realizado sobre esta materia en Italia. Constituye una prueba suplementaria del hecho de que la cuestión de la liturgia tradicional no es un problema circunscrito a este o a aquel país.

La investigación recuerda igualmente con fuerza que los fieles ligados a la forma extraordinaria del rito romano son extremadamente numerosos y no pueden ser reducidos de manera simplista a los que pertenecen a la Fraternidad Sacerdotal San Pío X, que, dicho sea de paso, está poco radicada en Italia donde no cuenta con más que tres prioratos. Esta precisión es importante porque algunos obispos constantemente intentan reducir el debate litúrgico a la FSSPX que, en realidad, sólo reagrupa una minoría –si bien visible y dinámica- de todos los fieles ligados a la forma extraordinaria del rito.

Hay aquí, por lo tanto, una ulterior demostración de lo correcto de la visión del Santo Padre que ha comprendido que muchísimos de los fieles de base, que permanecen en sus parroquias por razones diferentes o que han hecho la elección de dejar la práctica religiosa, han permanecido ligados a la expresión de la fe de sus padres y no piden otra cosa que poder manifestarla de nuevo.

Lamentablemente, esta realidad, puesta a la luz por los sondeos tanto en Francia como en Italia, permanece sin embargo a voluntariamente ignorada por numerosos obispos que continúan bloqueando la difusión de la forma extraordinaria del rito romano.

2. De todos modos no nos hagamos ilusiones y tengamos en cuenta que este sondeo italiano, no obstante haber sido realizado por un instituto profesional y reconocido, dejará impasibles a aquellos que se oponen al Papa y a su política de pacificación y de unidad. Es bien sabido que para todos los enemigos de la reconciliación en la Iglesia “los fieles ligados a la liturgia tradicional no existen” y “no hay ningún problema litúrgico”. Sin embargo los resultados de este sondeo (en Italia como en Francia) corresponden perfectamente a la tendencia revelada por uno de los indicadores más sensibles y más importantes para la vida y para la supervivencia misma de la Iglesia: el vivo interés por la forma extraordinaria del rito romano entre los jóvenes llamados a la vocación sacerdotal. Así en Francia, como está referido por la edición francesa de nuestra carta, un cuarto de las nuevas vocaciones sacerdotales del 2009 está orientado a la forma extraordinaria (carta 199, 12 de octubre de 2009).

3. Los resultados de este sondeo, tan cercanos a los del sondeo francés (sondeo CSA, Lettre PL145) y al estudio realizado en los Estados Unidos (estudio CARA para la Universidad de Georgetown, Lettre PL196), reafirman que el interés por la forma extraordinaria no es una cuestión marginal para los católicos, y tampoco una cuestión “nacional” o “política”, sino, al contrario, un pedido universal.

Los teólogos contemporáneos que dan mucha importancia al sentido de la fe de los laicos, deberían reflexionar profundamente sobre esto.

En fin, estos resultados nos animan a proseguir nuestras investigaciones en los grandes países de tradición católica, especialmente de cultura hispánica. Y por esto es que lanzamos esta edición es español de nuestra carta.

Second Aim of the Motu Proprio: The Reform of the Reform



The increasing availability of Msgr Nicola Bux’s book The Reform of Benedict XVI [1] is an opportunity for us to depart somewhat from our usual focus on the application of the motu proprio “Summorum Pontificum” and to take stock of the “reform of the reform” that the Holy Pontiff has initiated in liturgy. It is also the occasion to consider what sort of relationship will slowly emerge between the two forms of the Roman liturgy.

The first aim of the motu proprio “Summorum Pontificum” is clear: to make it possible for the traditional Mass to be celebrated in every parish where it is requested. The MP will only truly be applied when we shall see the ten o’clock Sunday Mass celebrated in the ordinary form and the eleven o’clock Mass in the extraordinary form, or the reverse, in the cathedrals of Dublin or Detroit, as well as in the cathedrals of Boise or Aberdeen. In a word: as far as the MP’s application is concerned, we are still on the starting line.

A – The “Reform of the Reform” Project

The second aim of the MP, though implicit, is nonetheless obvious because of all that Cardinal Ratzinger has said on the subject in the past and because of the wish expressed in the 2007 text: a “mutual enrichment” of the two forms, which from that point coexist officially. Enrichment: everybody knows that the more obviously “rich” form is that which benefits from an uninterrupted, ten-centuries long tradition (or even seventeen-centuries long for its essential part, the canon), and whose doctrinal and ritual value is at least similar to that of the other great Catholic liturgies. In his book, Nicola Bux writes: “Comparative studies demonstrate that the Roman liturgy in its preconciliar form was far closer to the Oriental liturgy than is the current liturgy.” This is so much the case that no one can seriously contemplate denying that the form that needs to be enriched/transformed first and foremost is the liturgy that was hastily contrived forty years ago. Indeed, as Nicola Bux points out, “[one] has to admit that the Mass of Paul VI is far from containing all that is found in the missal of Saint Pius V.”

It has thus become customary to call “reform of the reform” this project of enrichment/transformation of Paul VI’s reform with a view to making it more traditional in content and form. Although it would be an exaggeration to say that the reform of the reform is only on the order of a pious wish, one must nevertheless fully understand that it is only—somewhat like the extraordinary form—at its beginnings.

Two preliminary observations about this future process come to mind:

1. The reform of the reform, as the expression indicates, concerns only the reform of Paul VI. It in no way involves an alleged “parallel” transformation of the traditional form of the rite. There is no comparison between the two forms in their relation to tradition or in their ritual structure. Fiddling with the traditional rite would truly sink it and everyone would come away a loser: the reform of the reform would see its backbone collapse. In any event, Cardinal Ratzinger has already clearly and prudently rejected the idea. [2]

2. Add to this that the reform of the reform does not seek to implement a series of reforms through laws and decrees with a view to establishing a third missal halfway between the Tridentine missal and the new one (not to mention that the latter is much more of an indefinite, diverse and open-ended collection than a “missal” in the traditional sense). Cardinal Ratzinger in the past, Pope Benedict XVI today, is averse to implementing a process of authoritarian and continual reforms akin—though in reverse—to what was done under the reform of Paul VI. The point is rather to undertake a gradual narrowing of the gap, the missal of Paul VI becoming progressively closer to the traditional missal. The new liturgy’s characteristic of being malleable at will allows this to occur effortlessly: its non-normative character paradoxically permits it to be infused with the traditional norm it lacks. One may legitimately wonder whether, at the end of the process, it will preserve any interest besides that of serving as a steppingstone to the traditional liturgy...

B – The book by Nicola Bux

The import of this book’s publication is due first of all to its author’s stature. Msgr Nicola Bux, professor of liturgy and sacramental theology at the Ecumenical-Patristic Institute of Theology of Bari in Italy, is a consultor for the Congregation for the Doctrine of the Faith and for the Congregation for the Causes of Saints, consultor too for the Bureau of Liturgical Celebrations for the Supreme Pontiff, advisor to the journal Communio, author of many books (notably Il Signore dei Misteri. Eucaristia e relativismo—The Lord of Mysteries: Eucharist and Relativism [Siena: Cantagalli, 2005]) and of many articles (e.g. “À soixante ans de l’encyclique Mediator Dei de Pie XII, débattre sereinement sur la liturgie”—“Sixty Years After Pius XII’s Encyclical Mediator Dei. On the Liturgy: A Debate Without Prejudice,” Osservatore Romano, 18 November 2007). And he is one of the most influential partisans of the reform of Paul VI’s reform.

Others deserve to be named in his company, such as Fr. Alcuin Reid (The Organic Development of the Liturgy [Saint Michael’s Abbey Press, 2004]), Fr. U. Michael Lang (Turning Towards the Lord. Orientation in Liturgical Prayer [Ignatius Press, 2004]), Msgr Nicola Giampietro (who published the memoirs of Cardinal Antonelli, Apoc 2004), Bishop Athanasius Schneider (Dominus est. It Is the Lord [Newman House Press, 2009]), Fr. Aidan Nichols (Looking At the Liturgy : a Critical View Of Its Contemporary Form [Ignatius Press, 1996]), and Dom Mauro Gagliardi (Liturgia, Fonte di Vita [Fede&Cultura, 2009]), not to mention the initiatives promoted by Father Manelli and the Franciscans of the Immaculate and, of course, the daily action of such important prelates as Archbishop Ranjith, Archbishop Burke, Cardinal Cañizares, et al.

Msgr Bux’s book also benefits from three forewords: one by the famous Italian journalist Vittorio Messori (author of the Ratzinger Report, an interview with then Cardinal Ratzinger) for the Italian edition; one by Marc Aillet, bishop of Bayonne, for the French edition; another by the Prefect of the Congregation for Divine Worship himself, Cardinal Cañizares, for the Spanish edition.

For Nicola Bux, the crisis that wounded the Roman liturgy is due to its no longer being centered upon God and his adoration, but on people and the community. “At the beginning is adoration, and therefore that is where God is (...) The Church stems from adoration, from the mission of glorifying God,” Joseph Ratzinger had written on this subject. The crisis in liturgy begins the moment it ceases to be an adoration, when it is reduced to the celebration of a specific community in which priests and bishops, instead of being ministers, that is, servants, become “leaders”. This is why today “people are requesting more and more respect to ensure a private space of silence, with a view to an intimate faith participation in the sacred mysteries.”

The order of the day, then, is once again to teach a clergy wounded in its ritual praxis and consciousness that liturgy is sacred and divine, that it comes down from above as does the liturgy of the heavenly Jerusalem in the Apocalypse. “In this connection, there ought to be efforts made to find out why, despite appearances, the vernacular is at the end of the day unsuccessful in making the liturgy understandable.” The priest needs to be taught once again how to carry out the holy mysteries in persona Christi, in the Church, as its minister, and not as the coordinator of an assembly that is closed in on itself, which is what he has become.

C – The Reform Of the Reform Project:
Leading By Example Rather Than By Legislative Texts


Despite the seriousness of the conclusion reached by Msgr Bux in particular and by the “Pope’s men” in general—a conclusion that is in keeping with the Holy Father’s thinking in the matter—none of them wants laws and decrees designed to overturn everything in an authoritarian manner, as did those of the Bugnini era. Even though the Church today is quite ill, liturgically speaking, they prefer to act with the sweet medicine of example: the Supreme Pontiff’s example in the first place, then that of those bishops who will be willing to show the example as he does.

And so Benedict XVI multiplies corrective nudges that seem only to affect trifling matters, to be sure; after all, the liturgy is made up only of a collection of details: the very dignified manner of pontifical celebrations; the beauty of the liturgical vestments from St. Peter’s sacristy, which the pontifical master of ceremonies, Msgr Guido Marini, is using once more; the placement of large candlesticks on the altar, which diminish the theatrical effect of facing the people; above all, the distribution of Communion on the tongue, kneeling.

It is up to the bishops to follow suit in their liturgical celebrations. It is a matter of public knowledge that Cardinal Carlo Caffarra, Archbishop of Bologna, one of Italy’s theologically solid bishops, has recently decided in an April 27, 2009 ruling that “in view of the frequency with which irreverent attitudes are reported in the act of receiving the Eucharist,” he was deciding “that from this day forward, in the metropolitan church of San Pietro, in the basilica of San Petronio and in the shrine of the BVM of San Luca in Bologna, the faithful are to receive the Consecrated Bread only from the hands of a minister directly onto the tongue.”

For their part both Bishop Schneider and Dom Mauro Gagliardi [3] ask for a strong reminder that the “normal” way is that of Communion in the mouth, and that Communion in the hand is only a “tolerated” way, even though it has remained the most widespread way for a good long time. Such an encouragement is very important for the rebirth of faith in the real presence. Respect for the divine and for the holy is expressed through signs of reverence, again according to Msgr Bux.

Yet, other points too are constantly brought up by the partisans of the reform of the reform; to wit:
—1. Encouragement to reduce the number of concelebrants, and even of concelebrations: “When it [concelebration] becomes to frequent, the mediating function of each priest as such is obscured.”
—2. Slow reduction of the manifold optional parts of the Mass (particularly the Eucharistic prayers, some of which present doctrinal problems).
—3. Reintroduction of elements of the extraordinary form that encourage the sense of the sacred and of adoration, such as genuflections, kisses on the altar, the very ancient signs of the cross in the Canon: “The sacred is also expressed in signs of the cross and genuflections” (N. Bux).
—4. And much else besides: a reminder that the kiss of peace is a sacred action and not a manifestation of middle-class civility; the massive reintroduction of the liturgical language that is Latin, etc.

Lastly, and above all, one mustn’t overlook the encouragement given to the priest to celebrate facing the Lord, at least during the offertory and the Eucharistic prayer. “The most visible indicator of the liturgical reform,” says Msgr Bux, “was the change in the priest’s position with respect to the people.” In light of these words, one can legitimately reckon the beginning of the reform of the reform from the time when the Pope and the bishops will commonly celebrate towards the Lord.

D – The Spearhead of the Reform of the Reform Project

In his book, Nicola Bux notes that the key of the new liturgy as it left the offices of Bugnini—the author of the liturgical reform—is adaptation to the world. This is the point on which Bux’s thinking, in unison with that of the reform of the reform partisans, is at its most radical: the essence of Catholic liturgy is to be “as a permanent critique that the Church addresses to the world, while the world continually seeks to convince her to belong to it.” Therefore one must bear in mind that revolution is not reform: “the reform cannot be understood as a reconstruction attempt according to the tastes of a specific time.”

That is why Msgr Bux quotes at length, and comments on, the “Ottaviani Intervention” published soon after the Council by Cardinals Ottaviani and Bacci. “They deplored,” he recalls in approval of the two Italian cardinals, “the absence of the normal finality of the Mass, that is to say, propitiatory sacrifice.” Indeed it would take a blind man not to notice that the new rite of the Mass has a de facto effect of immanentizing the Christian message: the doctrine of propitiatory sacrifice, the adoration of the Real Presence of Christ, the specificity of the hierarchical priesthood and generally the sacred character of the Eucharistic celebration are expressed in a far less tangible way than in the traditional rite. That is why attempts to reintroduce the prayers that best express its sacrificial value (see, e.g., the book amounting to a manifesto along these lines by Fr. Paul Tirot, OSB: Histoire des prières d’offertoire dans la liturgie romaine du VIIe au XVIe siècle—History of the Offertory Prayers in the Roman Liturgy From the Seventh to the Sixteenth Century [Edizione Liturgiche, 1985]) into the new Missal are on the rise today.

If, therefore, there is a point on which one can expect legislation to promote the reform of the reform project, it is certainly this: the possibility of introducing the traditional Roman Offertory prayers into the ordinary celebration.

In sum, if this plan were truly to take shape, the inverse situation to what happened between 1965 and 1969 might eventually develop: to that time of brutal transformation when everything changed in a ‘progressive’ direction might correspond a period of slow evolution during which everything would change in a resacralizing direction.

Such an implementation of the reform of the reform would thus be truly reformative, in the traditional (and quite demanding!) sense of the term ‘reform’. It would proceed by ‘contamination’, to use a term familiar to historians of the liturgy when they mean to speak of one liturgy’s influence over another. In this case, it would be that of the traditional liturgy on the new.

In fact, one might even claim that the extraordinary form is perhaps the only chance to save the ordinary form in the long term, precisely by enabling it to become less and less ordinary. It might then become a step by which to reach the extraordinary liturgy. In any event, it would in no way compete with the extraordinary form, but would rather provide it with a far more favorable environment for its dissemination and its affirmation as the official form of reference.

[1] Until an English version is published, Msgr Bux’s book is available in its original version from its Italian publisher, Piemme.

[2] During the 2001 liturgical days of Fontgombault, Cardinal Ratzinger had stated that there was no question, doubtless for a long time, of touching the Tridentine missal, essentially because its presence and life today could serve as a goad to an evolution of the new missal. This “line” is today clearly that of the Congregation for Divine Worship and of the Ecclesia Dei Commission, which hold that the introduction of the new lectionary into the traditional rite is impossible, for example. The only adjustment of the traditional rite that can be envisioned, according to the Roman liturgists, might be the introduction of a few new prefaces.

[3] Interview granted to zenit.org on December 21, 2009.


fonte:paix liturgique

Um segundo escopo do Motu Proprio: a reforma da reforma


A enorme difusão da obra de Monsenhor Nicola Bux, intitulada A Reforma de Bento XVI (1), dá-nos a ocasião de sair o quadro estrito da aplicação do Motu Proprio Summorum Pontifium para fazermos o ponto da situação sobre a “reforma da reforma” que o Sumo Pontífice desencadeou no domínio da liturgia e sobre a relação que, pouco a pouco, se deve estabelecer entre as duas formas da liturgia romana.

O primeiro escopo do Motu Proprio Summorum Pontifium é claro: fazer com que a Missa tradicional possa ser celebrada em todas as paróquias em que se apresente uma solicitação nesse sentido. O MP não estará a ser verdadeiramente aplicado enquanto não pudermos ver nas catedrais de Paris ou de Bayonne e naquelas de Luçon ou de Langres, a Missa das 10 a ser celebrada segundo a forma ordinária e a das 11 em forma extraordinária ou vice-versa. Numa palavra: no que respeita à aplicação do MP, hoje, estamos ainda na linha da partida.

A – O projecto da “reforma da reforma”

O segundo escopo do MP, ainda que implícito, nem por isso é menos evidente, se considerarmos seja tudo aquilo o Cardeal Ratzinger escrevera precedentemente sobre este tema, seja o desejo formulado no próprio texto de 2007: o «enriquecimento recíproco» das duas formas que, a partir de agora, coexistem oficialmente. Enriquecimento: a todos é notório que a forma mais «rica» de modo mais evidente é aquela que goza de uma tradição ininterrupta de dez séculos (e até mesmo de dezassete séculos no que respeita à sua parte essencial, o cânone) e cujo valor doutrinal e ritual é pelo menos semelhante ao das outras grandes liturgias católicas. Na sua obra, Nicola Bux escreve o seguinte: «Os estudos comparativos demonstram que a liturgia romana estava muito mais próxima da liturgia oriental na sua forma pré-conciliar do que a liturgia actual». É por isso que, falando seriamente ninguém se lembra de negar que a forma que, em primeiro lugar, deverá ser enriquecida/transformada há-de ser esta liturgia fabricada à pressa há quarenta anos, pois, como sublinha Nicola Bux: «É preciso confessar que a missa de Paulo VI está longe de ter tudo o que vemos no missal de São Pio V».

Criou-se o hábito de dar o nome de “reforma da reforma” a este processo de enriquecimento/transformação da reforma de Paulo VI com o objectivo de a tornar mais tradicional tanto no fundo como na forma. Se bem que fosse exagerado dizer que a reforma da reforma é algo que pertence ainda ao domínio dos desejos pios, convém todavia admitir que ela está apenas — um pouco como acontece com a forma extraordinária — no começo.

Impõem-se duas observações prévias relativamente ao processo que terá lugar no futuro:

> 1. A reforma da reforma, como o indica a própria expressão, diz apenas respeito à reforma de Paulo VI. De modo algum pode ela induzir uma transformação, supostamente «paralela», da forma tradicional do rito. As duas formas não são de todo comparáveis do ponto de vista da sua relação com a tradição nem do ponto de vista da sua estrutura ritual. Proceder a um bricolage ou a uma composição sobre o rito tradicional seria um verdadeiro torpedeamento com o qual todos sairiam a perder — com isso a reforma da reforma acabaria por ver desabar a sua própria coluna vertebral — e, além do mais, em tempos, uma tal hipótese foi prudente e claramente afastada pelo Cardeal Ratzinger (2).

> 2. Além disso, a reforma da reforma não mira a estabelecer por meio de uma série de reformas feitas por decretos e leis um terceiro missal, a meio caminho entre o missal tridentino e o novo missal (o qual, aliás, é muito mais um conjunto indefinido, diversificado e evolutivo do que um «missal» no sentido tradicional do termo). Ao Cardeal Ratzinger, ontem, e ao Papa Bento XVI, hoje, causa repugnância pôr em prática um movimento de reformas autoritárias e continuadas semelhante — ainda que em sentido inverso — ao que foi realizado pela reforma de Paulo VI. Trata-se, em vez disso, de começar um processo progressivo de aproximação do missal de Paulo VI na direcção do missal tradicional, o que, aliás, é permitido pelo carácter maleável da nova liturgia, alterável a bel-prazer: paradoxalmente, o seu carácter a-normativo permite que se lhe infunda a norma tradicional de que carece. Podemos mesmo perguntar-nos se, no final de um tal processo, ela irá ter um qualquer interesse que não seja o de ser uma mera propedêutica à liturgia tradicional?

B – O livro de Nicola Bux

A importância da publicação deste livro deve-se em primeiro lugar ao peso do seu autor. Mons. Nicola Bux, professor de liturgia e de teologia sacramental no Instituto de Teologia Ecuménico-Patrística de Bari, na Itália, é consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para a Causa dos Santos e ainda do Gabinete para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, conselheiro da revista Communio e autor de numerosos livros (nomeadamente, Il Signore dei Misteri. Eucaristia e Relativismo — O Senhor dos Mistérios. Eucaristia e Relativismo, Cantagalli, 2005) e de múltiplos artigos (“Sessenta Anos Depois da Encíclica Mediator Dei de Pio XII, Debater Serenamente sobre a Liturgia”, in Osservatore Romano, 18 de Novembro, 2007). Além disso, é um dos defensores mais influentes da reforma da reforma de Paulo VI.

À sua volta poderíamos citar muitos outros nomes, como o do Pe. Alcuin Reid (The Organic Development of the Liturgy, Ad Solem, 2006), Mons. Nicola Giampietro (publicação das memórias do Cardeal Antonelli, Apoc 2004), Mons. Athanasius Schneider (Dominus Est - Riflessioni di un Vescovo dell'Asia Centrale sulla Sacra Comunione, Libreria Editrice Vaticana, 2008), Pe. Aidan Nichols (Liturgie et Modernité, Ad Solem, 1998) ou ainda o Pe. Mauro Gagliardi (Lturgia, Fonte di Vita, Fede & Cultura, 2009). Sem esquecer as iniciativas promovidas pelo Pe. Manelli e pelos Franciscanos da Imaculada ou, claro está, a acção quotidiana de importantes prelados como o Bispo Ranjith, o Arcebispo Burke, o Cardeal Cañizares, etc.

A par disso, o livro de Mons. Bux pôde contar com três prefácios, o do famoso jornalista italiano Vittorio Messori (que realizou o Diálogos sobre a Fé com o Cardeal Ratzinger) para a edição italiana, o do Bispo Marc Aillet, bispo de Bayonne, para a edição francesa, e o do próprio Prefeito da Congregação para o Culto Divino, o Cardeal Cañizares, para a edição espanhola.

Segundo Nicola Bux, a crise que feriu a liturgia romana deve-se ao facto de que a mesma já não se centra em Deus e na Sua adoração, mas antes sobre os homens e sobre a comunidade. «No início está a adoração e, logo, Deus (…) A Igreja provém da adoração, da missão de glorificar a Deus», assim escrevera a este propósito Joseph Ratzinger. A crise da liturgia começa no momento em que deixa de ser uma adoração, no momento em que se reduz à celebração de uma comunidade particular, na qual padres e bispos, em vez de serem ministros, isto é, servidores, passam a ser “líderes”. É por isso que, hoje, «as pessoas pedem cada vez mais respeito para que se garanta um espaço pessoal de silêncio, com vista a uma participação íntima da fé nos mistérios sagrados».

Assim, há que voltar a ensinar a um clero machucado na sua prática e consciência cultuais que a liturgia é sagrada e divina, que ela provém das alturas como a da Jerusalém celeste no Apocalipse. «A este propósito, seria necessário envidar esforços para tentar saber porque é que, afinal e apesar das aparências, a língua vernácula não consegue tornar a liturgia mais compreensível.» Será conveniente reeducar o sacerdote para a realização dos sagrados mistérios in persona Christi, na Igreja, enquanto ministro e não como um animador de uma assembleia fechada sobre si mesma, pois foi nisso que ele se transformou.

C – O projecto da reforma da reforma: proceder com base mais no exemplo do que nos textos de leis

Sem embargo da gravidade dos factos observados pelo Mons. Bux, em particular, e pelos “homens do Papa”, em geral, e isto no seguimento da linha do pensamento do Santo Padre nesta matéria, nem ele nem eles pretendem leis e decretos que, ao jeito daqueles da época de Bugnini, tentassem revirar tudo de maneira autoritária. Mesmo estando hoje a Igreja seriamente doente, em termos litúrgicos, eles preferem agir através do medicamento doce que é o exemplo: o do Sumo Pontífice, em primeiro lugar, e depois, o dos bispos que, à semelhança do Papa, também queiram dar o exemplo.

Deste modo, Bento XVI multiplica, em jeito de beliscões, os gestos correctores; estes, sem dúvida, poderão parecer meras questões de pormenor, mas é também certo que a liturgia não pode deixar de ser constituída por um conjunto de pormenores: a grande dignidade das celebrações pontificais, a beleza dos paramentos da sacristia de São Pedro que têm sido usados de novo pelo mestre-de-cerimónias pontifício, Mons. Marini, a colocação dos grandes e pesados castiçais sobre o altar que vêm esbater o efeito teatral do estar voltado face ao povo, e sobretudo a distribuição da comunhão na boca e de joelhos.

Cabe agora aos bispos fazer o mesmo nas suas celebrações públicas. Sabemos também que, recentemente, com uma ordem emanada a 27 de Abril de 2009, o Cardeal Carlo Caffarra, arcebispo de Bolonha e um dos expoentes teológicos mais valiosos do episcopado italiano, decidiu que «dada a frequência das informações sobre comportamentos irreverentes no momento de receber a Eucaristia», «a partir deste dia, na igreja metropolita de São Pedro, na basílica de São Petrónio e no santuário de Nossa Senhora de São Lucas, em Bolonha, os fiéis deverão receber o Pão Consagrado de um ministro, apenas directamente sobre a língua».

Por seu turno, Dom Athanasius Schneider, juntamente com o Pe. Mauro Gagliardi (3), pedem-nos para lembrar vigorosamente que o modo «normal» é o da comunhão na boca e que a comunhão na mão não é senão um modo «tolerado», ainda que, desde há bastante tempo, este seja o modo maioritário. Este encorajamento tem grande importância para o renascimento da fé na presença real. O respeito pelo divino e pelo sagrado exprime-se através de gestos de reverência, acrescenta ainda Mons. Bux.

Mas há ainda outros pontos constantemente invocados pelos adeptos da reforma da reforma, entre os quais podemos citar os seguintes:

> 1. A incitação para que se reduza o número dos concelebrantes e mesmo o das concelebrações: «Quando ela [a concelebração] se torna demasiado frequente, a função mediadora de cada sacerdote enquanto sacerdote fica obscurecida.»

> 2. Fazer com que se diminua pouco a pouco a multiplicação das partes opcionais da missa (em vista estão as orações eucarísticas, entre as quais há algumas doutrinalmente problemáticas).

> 3. Reintroduzir elementos da forma extraordinária que favorecem o sentido do sagrado e a adoração, tais como as genuflexões, os beijos do altar, os antiquíssimos sinais da cruz do cânone: «O sagrado também se exprime através dos sinais da cruz e das genuflexões» (N. Bux).

> 4. E ainda muitos outros: lembrar que o sinal da paz é uma acção sagrada e não um gesto de civilidade urbana, reintroduzir em força o uso do latim como língua litúrgica, etc.

Finalmente, e sobretudo, como não nos haveremos de deter a reflectir sobre o encorajamento que se dá ao sacerdote para que celebre voltado para o Senhor, pelo menos durante o ofertório e a oração eucarística. «A medida mais visível da reforma litúrgica», assim escreve Mons. Bux, «foi a mudança da posição do sacerdote em relação ao povo». À luz de tais palavras, é-nos então legítimo estimar que a reforma da reforma se poderá dar por verdadeiramente lançada e já em marcha, logo que o Papa e os bispos se vejam a celebrar regularmente voltados para o Senhor.

D – O forte do projecto de reforma da reforma

No seu livro, Nicola Bux observa que a chave da nova liturgia, tal como ela saiu do gabinete de Bugnini — que foi o autor da reforma litúrgica —, é a adequação ao mundo. É neste preciso ponto que a reflexão por ela operada, em uníssono com aquela dos adeptos da reforma da reforma, se torna mais radical: a essência da liturgia católica é de ser «como que uma crítica permanente que a Igreja dirige ao mundo, ao mesmo tempo que este tenta constantemente convencê-la de que faz parte dela». É aí que urge lembrarmo-nos de que revolução não é o mesmo que reforma: «A reforma não pode ser entendida como uma tentativa de reconstrução que siga os gostos de uma época determinada.»

É por isso mesmo que Mons. Bux cita e comenta à saciedade o Breve Exame Crítico publicado logo após o Concílio pelos Cardeais Ottaviani e Bacci. «Eles lamentavam», lembra ele dando a sua aprovação aos dois cardeais italianos, «a ausência que se sentia do fim ordinário da missa, isto é, o sacrifício propiciatório.» Com efeito, só um cego podia não ver que, de facto, o novo rito da missa tem por efeito uma imanentização da mensagem cristã: a doutrina do sacrifício propiciatório, a adoração da presença real de Cristo, a especificidade do sacerdócio hierárquico e, em geral, o carácter sagrado da celebração eucarística encontram-se expressos nele de maneira muito menos sensível do que no rito tradicional. É por isso que ganham hoje novo vigor as tentativas feitas no sentido de infundir de novo no novo missal as orações que melhor exprimem o seu valor sacrificial, a saber, as do ofertório (ver, por exemplo, o autêntico manifesto neste sentido que foi o livro do padre beneditino Paul Tirot: Histoire des Prières d’Offertoire dans la Liturgie Romaine du VIIe au XVIe Siècle, Edizioni Liturgiche, 1985).

Assim, se há um ponto em relação ao qual é de contar com legislação que faça avançar o projecto de reforma da reforma, com certeza há-de ser este: a possibilidade de introduzir na celebração ordinária as orações do ofertório romano tradicional.

No final, caso este plano venha realmente a ganhar corpo, no seu termo, poderíamos encontrar-nos diante de uma situação inversa à que se constituiu entre 1965 e 1969: como resposta a este período de transformações brutais, altura essa em que tudo mudava num sentido “progressista”, teríamos agora um período de evolução suave em que tudo mudaria no sentido da re-sacralização.

Levar a cabo a reforma da reforma desta maneira seria algo de realmente reformador, no sentido tradicional — e deveras exigente! — do termo “reforma”. Ela haveria de proceder por “contaminação”, para empregarmos um termo familiar para os historiadores do culto, sempre que pretendem falar da influência de uma liturgia sobre outra: neste caso, a da liturgia tradicional sobre a nova liturgia.

De facto, poderíamos mesmo dizer que, a longo prazo, será talvez a forma extraordinária a oferecer a única hipótese de salvação da forma ordinária, precisamente porque a leva a tornar-se cada vez menos ordinária. Ela poderia transformar-se numa espécie de degrau que permitisse aceder à liturgia. Como quer que fosse, ela nunca iria oferecer concorrência à forma extraordinária, ao contrário, fornecer-lhe-ia um meio bem mais vantajoso para a sua difusão e afirmação como forma oficial de referência.

(1) Estando a aguardar uma versão portuguesa, o livro do Mons. Bux está disponível na sua versão original, publicada pela editora italiana Piemme.

(2) Em 2001, nas jornadas litúrgicas de Fontgombault, o Cardeal Ratzinger havia afirmado que, sem dúvida, durante muito tempo no futuro, não se poria a questão de tocar no missal tridentino, essencialmente porque a sua presença e a sua vida actual podiam servir de estímulo para uma evolução do novo missal. Esta «linha» é hoje claramente a que é adoptada pela Congregação do Culto Divino e pela Comissão Ecclesia Dei, onde se crê, por exemplo, ser impossível a introdução do novo leccionário no rito tradicional. O único arranjo que se pode perspectivar para o rito tradicional, de acordo com os liturgistas romanos, seria o da introdução de novos prefácios.

(3) Entrevista concedida a zenit.org, a 21 de Dezembro de 2009

fonte:Paix liturgique