os Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos
e demais Ordinários locais em paz e comunhão com a Sé Apostólica
Plinio Corrêa de Oliveira
"Catolicismo" reproduz hoje o artigo de apresentação de seu nº 1, escrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Passaram-se 20 anos... A luta entre os cruzados do século XX e o comunismo tende para o auge. Uma bomba terrorista explodiu na sede da Presidência do Conselho Nacional da TFP, atingindo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição ( esta é agora venerada em oratório que a entidade instalou no mesmo local da explosão - nossa primeira página ). Cruzados do século XX desfilam pelas artérias centrais da maior cidade industrial da América do Sul ( foto abaixo ). Toda a vida de "Catolicismo", como a vida da TFP, constituem uma vitoriosa transposição, para o terreno concreto, dos princípios enunciados neste artigo.
Na Idade Média, os cruzados derramaram seu sangue para libertar das mãos dos infiéis o Sepulcro de N. S. Jesus Cristo, e instituir um Reino Cristão na Terra Santa.
Senhora da Conceição, venerada no oratório da TFP, aceitai benigna a homenagem de "Catolicismo" em seu 20º aniversário
Hoje, corre de novo o sangue dos filhos da Igreja, na Hungria, e na Polônia, como na Checoslováquia e na China. Para que? Para libertar a Cristandade do jugo do anti-Cristo comunista, e restaurar no mundo o Reino de Cristo. Mas o que é o Reino de Cristo, ideal supremo dos católicos, e, pois, meta constante desta folha?
É o que procuramos definir na enumeração de princípios, marco luminar de nossa atividade.
O Reino de Cristo
● A Igreja Católica foi fundada por N. S. Jesus Cristo para perpetuar entre os homens os benefícios da Redenção. Sua finalidade se identifica, pois, com a da própria Redenção: expiar os pecados dos homens pelos méritos infinitamente preciosos do Homem-Deus; restituir assim a Deus a glória extrínseca que o pecado Lhe havia roubado; e abrir aos homens as portas do Céu. Esta finalidade se realiza toda no plano sobrenatural, e com ordem à vida eterna. Ela transcende absolutamente tudo quanto é meramente natural, terreno, perecível. Foi o que N. S. Jesus Cristo afirmou, quando disse a Pôncio Pilatos "meu Reino não é deste mundo" (João, 18-36).
● A vida terrena se diferencia, assim, e profundamente, da vida eterna. Mas estas duas vidas não constituem dois planos absolutamente isolados um do outro. Há nos desígnios da Providência uma relação íntima entre a vida terrena e a vida eterna. A vida terrena é o caminho, a vida eterna é o fim. O Reino de Cristo não é deste mundo, mas é neste mundo que está o caminho pelo qual chegaremos até ele.
● Assim como a Escola Militar é o caminho para a carreira das armas, ou o noviciado é o caminho para o definitivo ingresso numa Ordem Religiosa, assim a terra é o caminho para o Céu.
Temos uma alma imortal, criada à imagem e semelhança de Deus. Esta alma é criada com um tesouro de aptidões naturais para o bem, enriquecidas pelo batismo com o dom inestimável da vida sobrenatural da graça. Cumpre-nos, durante a vida, desenvolver até a sua plenitude estas aptidões para o bem.
Com isto, nossa semelhança com Deus, que era em algum sentido ainda incompleta e meramente potencial, torna-se plena e atual.
A semelhança é a fonte do amor. Tornando-nos plenamente semelhantes a Deus, somos capazes de O amar plenamente, e de atrair sobre nós a plenitude de Seu amor.
Ficamos, assim, preparados para a contemplação de Deus face a face, e para aquele eterno ato de amor, plenamente feliz, para o qual somos chamados no Céu.
A vida terrena é, pois, um noviciado em que preparamos nossa alma para seu verdadeiro destino, que é ver a Deus face a face, e amá-Lo por toda a eternidade.
● Apresentando a mesma verdade em outros termos, podemos dizer que Deus é infinitamente puro, infinitamente justo, infinitamente forte, infinitamente bom. Para O amarmos, devemos amar a pureza, a justiça, a fortaleza, a bondade. Se não amamos a virtude, como podemos amar a Deus que é o Bem por excelência? De outro lado, sendo Deus o Sumo Bem, como pode amar o mal? Sendo a semelhança a fonte do amor, como pode Ele amar a quem é totalmente dessemelhante dEle, a quem é consciente e voluntariamente injusto, covarde, impuro, mau?
Deus deve ser adorado e servido sobretudo em espírito e em verdade (João 4,25). Assim, cumpre que sejamos puros, justos, fortes, bons, no mais íntimo de nossa alma. Mas se nossa alma é boa, todas as nossas ações o devem ser necessariamente, pois que a árvore boa não pode produzir senão bons frutos (Mat.7,17-18). Assim, é absolutamente necessário, para que conquistemos o Céu, não só que em nosso interior amemos o bem e detestemos o mal, mas que por nossas ações pratiquemos o bem e evitemos o mal.
● Mas a vida terrena é mais do que o caminho da eterna bem-aventurança. O que faremos no Céu? Contemplaremos Deus face a face, à luz da glória, que é a perfeição da graça, e O amaremos inteiramente e sem fim. Ora, o homem já goza da vida sobrenatural nesta terra, pelo Batismo. A Fé é uma semente da visão beatífica. O amor de Deus, que ele pratica crescendo na virtude e evitando o mal, já é o próprio amor sobrenatural com que ele adorará a Deus no Céu.
O Reino de Deus se realiza na sua plenitude no outro mundo. Mas para todos nós ele começa a se realizar em estado germinativo já neste mundo. Tal como em um noviciado, já se pratica a vida religiosa, embora em estado preparatório; e em uma escola militar um jovem se prepara para o Exército... vivendo a própria vida militar.
E a Santa Igreja Católica já é neste mundo uma imagem, e mais do que isto, uma verdadeira antecipação do Céu.
Por isto, tudo quanto os Santos Evangelhos nos dizem do Reino dos Céus pode com toda a propriedade e exatidão ser aplicado à Igreja Católica, à Fé que ela nos ensina a cada uma das virtudes que ela nos inculca.
Cruzados do século XX desfilam pelo centro de S. Paulo
Visão de conjunto do magnífico desfile com que a TFP inaugurou sua campanha pelo Natal dos pobres. Avançando pelo Viaduto do Chá, no coração de São Paulo, vêem-se em primeiro lugar 16 tambores; logo depois as farpas, como foram chamadas as formações em "V" inauguradas neste desfile. Segue-se o Conselho Nacional, com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira à testa, e um bloco de sócios e militantes. De tempos em tempos eram erguidas grandes hastes de metal em forma de "V" e de cruz, que enquadravam as farpas, enquanto todos bradavam em coro: - "Violência - não! Vence a Cruz e a caridade!". Outros slogans eram alternados com o canto do hino "Queremos Deus", acompanhado de tambores.
● É este o sentido da festa de Cristo Rei. Rei Celeste antes de tudo. Mas Rei cujo governo já se exerce neste mundo. É Rei quem possui de direito a autoridade suprema e plena. O Rei legisla, dirige e julga. Sua realeza se torna efetiva quando os súditos reconhecem seus direitos, e obedecem a suas leis. Ora, Jesus Cristo possui sobre nós todos os direitos. Ele promulgou leis, dirige o mundo e julgará os homens. Cabe-nos tornar efetivo o Reino de Cristo obedecendo a suas leis.
● Este reinado é um fato individual, enquanto considerado na obediência que cada alma fiel presta a N. S. Jesus Cristo. Com efeito, o Reinado de Cristo se exerce sobre as almas; e, pois, a alma de cada um de nós é parcela do campo de jurisdição de Cristo Rei. O Reinado de Cristo será um fato social se as sociedades humanas Lhe prestarem obediência.
Pode-se dizer, pois, que o Reino de Cristo se torna efetivo na terra, individual e social, quando os homens no íntimo de sua alma como em suas ações, e as sociedades em suas instituições, leis, costumes, manifestações culturais e artísticas, se conformam com a Lei de Cristo.
● Por mais concreta, brilhante e tangível que seja a realidade terrena do Reino de Cristo — no século XIII, por exemplo — é preciso não esquecer que este Reino não é senão preparação e proêmio. Na sua plenitude, o Reino de Deus se realizará no Céu: "O meu Reino não é deste mundo..." (João, 18-36).
Ordem, harmonia, paz, perfeição
● A ordem, a paz, a harmonia, são características essenciais de toda a alma bem formada, de toda a sociedade humana bem constituída. Em certo sentido, são valores que se confundem com a própria noção de perfeição.
Todo o ser tem um fim próprio, e uma natureza adequada à obtenção deste fim. Assim, uma peça de relógio tem fim próprio, e, por sua forma e composição, é adequada à realização deste fim.
● A ordem é a disposição das coisas, segundo sua natureza. Assim, um relógio está em ordem quando todas as suas peças estão ordenadas segundo a natureza e o fim que lhes é próprio. Diz-se que há ordem no universo sideral porque todos os corpos celestes estão ordenados segundo sua natureza e fim.
● Existe harmonia quando as relações entre dois seres são conformes à natureza e o fim de cada qual. A harmonia é o operar das coisas umas em relação às outras, segundo a ordem.
● A ordem engendra a tranqüilidade. A tranqüilidade da ordem é a paz. Não é qualquer tranqüilidade que merece ser chamada paz mas apenas a que resulta da ordem. A paz de consciência é a tranqüilidade da consciência reta: não pode confundir-se com o letargo da consciência embotada. O bem estar orgânico produz uma sensação de paz que não pode ser confundida com a inércia do estado de coma.
● Quando um ser está inteiramente disposto segundo sua natureza, está em estado de perfeição. Assim uma pessoa com grande capacidade de estudo, grande desejo de estudar, posta em uma Universidade em que haja todos os meios para fazer os estudos que deseja, está posta, do ponto de vista dos estudos, em condições perfeitas.
● Quando as atividades de um ser são inteiramente conformes à sua natureza, e tendem inteiramente para seu fim, estas atividades são, de algum modo, perfeitas. Assim, a trajetória dos astros é perfeita, porque corresponde inteiramente à natureza e ao fim de cada qual.
● Quando as condições em que um ser se encontra são perfeitas, suas operações o são também, e ele tenderá necessariamente para o seu fim, com o máximo da constância, do vigor e do acerto. Assim se um homem está em condições perfeitas para andar, isto é, sabe, quer e pode andar, andará de modo irrepreensível.
● O verdadeiro conhecimento do que seja a perfeição do homem e das sociedades depende de uma noção exata sobre a natureza e fim do homem.
● O acerto, a fecundidade, o esplendor das ações humanas, quer individuais, quer sociais, também está na dependência do conhecimento de nossa natureza e fim.
● Em outros termos, a posse da verdade religiosa é a condição essencial da ordem, da harmonia, da paz e da perfeição.
A perfeição cristã
● O Evangelho nos aponta um ideal de perfeição "sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mat. 5,48). Este conselho que nos foi dado por N. S. Jesus Cristo, Ele mesmo no-lo ensina a realizar. Com efeito, Jesus Cristo é a semelhança absoluta da perfeição do Pai Celeste; o modelo supremo que todos devemos imitar.
N. S. Jesus Cristo, suas virtudes, seus ensinamentos, suas ações, são o ideal definido da perfeição para o qual o homem deve tender.
● As regras desta perfeição se encontram na Lei de Deus, que N. S. Jesus Cristo "não veio abolir, mas completar" (Mat. 5,17), nos preceitos e conselhos evangélicos. E para que o homem não caísse em erro no interpretar os mandamentos e os conselhos, N. S. Jesus Cristo instituiu uma Igreja infalível, que tem o amparo divino para nunca errar em matéria de Fé e moral. A fidelidade de pensamento e de ações em relação ao magistério da Igreja é pois o modo pelo qual todos os homens podem conhecer e praticar o ideal de perfeição que é N.S. Jesus Cristo.
● Foi o que fizeram os Santos que praticando de modo heróico as virtudes que a Igreja ensina, realizaram a imitação perfeita de N.S. Jesus Cristo e do Pai Celeste. É tão verdadeiro que os Santos chegaram à mais alta perfeição moral que próprios inimigos da Igreja quando não os cega a impiedade, o proclamam. De São Luís, Rei da França, por exemplo, escreveu Voltaire: "Não é possível ao homem levar mais longe a virtude". O mesmo se poderia dizer de todos os Santos.
● Deus é o autor de nossa natureza, e, pois, de todas as aptidões e excelências que nela se encontram. Em nós, só o que não provém de Deus são os defeitos, frutos do pecado original ou dos pecados atuais.
O Decálogo não poderia ser contrário à natureza que Ele próprio criou em nós: pois, sendo Deus perfeito, não pode haver contradição em suas obras.
Por isto, o Decálogo nos impõe ações que a nossa própria razão nos mostra serem conformes com a natureza, como honrar pai e mãe, e nos proíbe ações que pela simples razão vemos serem contrárias à ordem natural, como a mentira.
● Nisto consiste, no plano natural, a perfeição intrínseca da Lei, e a perfeição pessoal que adquirimos praticando-a. É que todas as operações conformes à natureza do agente são boas.
● Em conseqüência do pecado original, ficou o homem com propensão de praticar ações contrárias à sua natureza retamente entendida. Assim, ficou sujeito ao erro no terreno da inteligência, e ao mal no campo da vontade.
Tal propensão é tão acentuada, que, sem o auxílio da graça, não seria possível aos homens conhecer nem praticar, duravelmente e em sua totalidade, os preceitos da ordem natural. Revelando-os, no alto do Sinai, instituindo, na Nova Aliança, uma Igreja destinada a protegê-los contra os sofismas e as transgressões do homem, e os Sacramentos e outros meios de piedade destinados a fortalecê-lo com a graça, remediou esta insuficiência do homem.
A graça é um auxílio sobrenatural, destinado a robustecer a inteligência e a vontade do homem para lhe permitir a prática da perfeição. Deus não recusa a graça a ninguém. A perfeição é, pois, acessível a todos.
● Pode um infiel conhecer e praticar a Lei de Deus? Recebe ele a graça de Deus? Cumpre distinguir. Em princípio, todos os homens que têm contato com a Igreja Católica recebem graça suficiente para conhecer que ela é verdadeira, nela ingressar, e praticar os Mandamentos. Se, pois, alguém se mantém voluntariamente fora da Igreja, se é infiel porque recusa a graça da conversão, que é o ponto de partida de todas as outras graças, fecha para si as portas da salvação. Mas se alguém não tem meios de conhecer a Santa Igreja — um pagão, por exemplo, cujo país não tenha recebido a visita de missionários — tem a graça suficiente para conhecer, pelo menos os princípios mais essenciais da Lei de Deus, e os praticar, pois Deus a ninguém recusa a salvação.
● Cumpre entretanto observar que, se a fidelidade à Lei exige sacrifícios por vezes heróicos dos próprios católicos que vivem no seio da Igreja banhados pela superabundância da graça e de todos os meios de santificação, muito maior ainda é a dificuldade que têm em praticá-la os que vivem longe da Igreja, e fora desta superabundância. É o que explica serem tão raros — verdadeiramente excepcionais — os gentios que praticam a Lei.
O ideal cristão da perfeição social
● Se admitirmos que em determinada população a generalidade dos indivíduos pratica a Lei de Deus, que efeito se pode esperar daí para a sociedade? Isto equivale a perguntar se, em um relógio, cada peça trabalha segundo sua natureza e seu fim, que efeito se pode esperar daí para o relógio? Ou, se cada parte de um todo é perfeita, o que se deve dizer do todo?
● Há sempre algum risco em exemplificar com coisas mecânicas, em assuntos humanos. Atenhamo-nos à imagem de uma sociedade em que todos os membros fossem bons católicos, traçada por Santo Agostinho: imaginemos "um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juizes, contribuintes, cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem (os pagãos) ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada" (Epíst. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15).
E em outra obra o Santo Doutor, apostrofando a Igreja Católica, exclama: "Conduzes e instrues as crianças com ternura, os jovens com vigor, os anciãos com calma, como comporta a idade não só do corpo mas da alma. Submetes as esposas a seus maridos, por uma casta e fiel obediência, não para saciar a paixão, mas para propagar a espécie e constituir a sociedade doméstica. Conferes autoridade aos maridos sobre as esposas, não para que abusem da fragilidade do seu sexo, mas para que sigam as leis de um sincero amor. Subordinas os filhos aos pais por uma terna autoridade. Unes não só em sociedade, mas em uma como que fraternidade os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações, e os homens entre si, pela recordação de seus primeiros pais. Ensinas aos reis a velar pelos povos, e prescreves aos povos que obedeçam os reis. Ensinas com solicitude a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem o consolo, a quem a advertência, a quem o encorajamento, a quem a correção, a quem a reprimenda, a quem o castigo; e fazes saber de que modo, se nem todas as coisas a todos se devem, a todos de deve a caridade e a ninguém a injustiça" (De Moribus Ecclesiae, cap. XXX, n. 63).
● Seria impossível descrever melhor o ideal de uma sociedade inteiramente cristã. Poderia em uma sociedade a ordem, a paz, a harmonia, a perfeição ser levada a limite mais alto? Uma rápida observação nos baste para completar o assunto. Se hoje em dia todos os homens praticassem a Lei de Deus, não se resolveriam rapidamente todos os problemas políticos, econômicos, sociais, que nos atormentam? E que solução se poderá esperar para eles enquanto os homens viverem na inobservância habitual da Lei de Deus?
● A sociedade humana realizou alguma vez este ideal de perfeição? Sem dúvida. Di-lo o imortal Leão XIII: operada a Redenção e fundada a Igreja, "como que despertando de antiga, longa e mortal letargia, o homem percebeu a luz da verdade, que tinha procurado e desejado em vão durante tantos séculos; reconheceu sobretudo que tinha nascido para bens muito mais altos e muito mais magníficos do que os bens frágeis e perecíveis que são atingidos pelos sentidos, e em torno dos quais tinha até então circunscrito seus pensamentos e suas preocupações. Compreendeu ele que toda a constituição da vida humana, a lei suprema, o fim a que tudo se deve sujeitar, é que, vindos de Deus, um dia devamos retornar a Ele.
"Desta fonte, sobre este fundamento, viu-se renascer a consciência da dignidade humana; o sentimento de que a fraternidade social é necessária fez então pulsar os corações; em conseqüência, os direitos e deveres atingiram sua perfeição, ou se fixaram integralmente, e, ao mesmo tempo, em diversos pontos, se expandiram virtudes tais, como a filosofia dos antigos sequer pôde jamais imaginar. Por isto, os desígnios dos homens, a conduta da vida, os costumes tomaram outro rumo. E, quando o conhecimento do Redentor se espalhou ao longe, quando sua virtude penetrou até os veios íntimos da sociedade, dissipando as trevas e os vícios da Antigüidade, então se operou aquela transformação que, na era da Civilização Cristã, mudou inteiramente a face da terra" ( Leão XIII, Encíclica "Tametsi Futura Prospiscientibus", I-XI-1900 ).
A civilização cristã, a cultura cristã
● Foi esta luminosa realidade, feita de uma ordem e uma perfeição antes sobrenatural e celeste, do que natural e terrestre, que se chamou a civilização cristã, produto da cultura cristã, a qual por sua vez é filha da Igreja Católica.
● Por cultura do espírito podemos entender o fato de que determinada alma não se encontra abandonada ao jogo desordenado e espontâneo das operações de suas potências — inteligência, vontade, sensibilidade — mas, pelo contrário, por um esforço ordenado e conforme à reta razão adquiriu nestas três potências algum enriquecimento: assim como o campo cultivado não é aquele que faz frutificar todas as sementes que o vento nele caoticamente deposita, mas o que, por efeito do trabalho reto do homem, produz algo de útil e bom.
● Neste sentido, a cultura católica é o cultivo da inteligência, da vontade e da sensibilidade segundo as normas da moral ensinada pela Igreja. Já vimos que ela se identifica com a própria perfeição da alma. Se ela existir na generalidade dos membros de uma sociedade humana (embora em graus e modos acomodados à condição social e à idade de cada qual), ela será um fato social e coletivo. E constituirá um elemento — o mais importante — da própria perfeição social.
● Civilização é o estado de uma sociedade humana que possui uma cultura, e que criou, segundo os princípios básicos desta cultura, todo um conjunto de costumes, de leis, de instituições, de sistemas literários e artísticos próprios.
Uma civilização será católica, se for a resultante fiel de uma cultura católica e se, pois, o espírito da Igreja, for o próprio princípio normativo e vital de seus costumes, leis instituições, e sistemas literários e artísticos.
● Se Jesus Cristo é o verdadeiro ideal de perfeição de todos os homens, uma sociedade que aplique todas as Suas leis tem de ser uma sociedade perfeita, a cultura e a civilização nascidas da Igreja de Cristo tem de ser forçosamente, não só a melhor civilização, mas, a única verdadeira. Di-lo o Santo Pontífice Pio X: "Não há verdadeira civilização sem civilização moral, e não há verdadeira civilização moral senão com a Religião verdadeira" ( Carta ao Episcopado Francês, de 28-VIII-1910, sobre "Le Sillon" ). De onde decorre com evidência cristalina que não há verdadeira civilização senão como decorrência e fruto da verdadeira Religião.
A Igreja e a civilização cristã
● Engana-se singularmente quem supuser que a ação da Igreja sobre os homens é meramente individual, e que ela forma pessoas, não povos, nem culturas, nem civilizações.
● Com efeito, Deus criou o homem naturalmente sociável, e quis que os homens, em sociedade, trabalhassem uns pela santificação dos outros. Por isto, também, criou-nos influenciáveis. Temos todos, pela própria pressão do instinto de sociabilidade, a tendência a comunicar em certa medida nossas idéias aos outros, e, em certa medida, em receber a influência deles. Isto se pode afirmar nas relações de indivíduo a indivíduo, e do indivíduo com a sociedade. Os ambientes, as leis, as Instituições em que vivemos exercem efeito sobre nós, têm sobre nós uma ação pedagógica.
● Resistir inteiramente a este ambiente, cuja ação ideológica nos penetra até por osmose e como que pela pele, é obra de alta e árdua virtude. E por isto os primitivos cristãos não foram mais admiráveis enfrentando as feras do Coliseu, do que mantendo íntegro seu espírito católico embora vivessem no seio de uma sociedade pagã.
Assim, a cultura e a civilização são fortíssimos meios para agir sobre as almas. Agir para a sua ruína, quando a cultura e a civilização são pagãs. Para a sua edificação e sua salvação, quando são católicas.
Como, pois, pode a Igreja desinteressar-se em produzir uma cultura e uma civilização, contentando-se em agir sobre cada alma a título meramente individual?
● Aliás, toda a alma sobre a qual a Igreja age, e que corresponde generosamente a tal ação, é como que um foco ou uma semente desta civilização, que ela expande ativa e energicamente em torno de si. A virtude transparece e contagia. Contagiando, propaga-se. Agindo e propagando-se tende a transformar-se em cultura e civilização católica.
● Como vemos, o próprio da Igreja é de produzir uma cultura e uma civilização cristã. É de produzir todos os seus frutos numa atmosfera social plenamente católica. O católico deve aspirar a uma civilização católica como o homem encarcerado num subterrâneo deseja o ar livre, e o pássaro aprisionado anseia por recuperar os espaços infinitos do Céu.
fonte:http://www.pliniocorreadeoliveira.info/
E é esta nossa finalidade, o nosso grande ideal. Caminhamos para a civilização católica que poderá nascer dos escombros do mundo de hoje, como dos escombros do mundo romano nasceu a civilização medieval. Caminhamos para a conquista deste ideal, com a coragem, a perseverança, a resolução de enfrentar e vencer todos os obstáculos, com que os cruzados marcharam para Jerusalém. Porque, se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o sepulcro de Cristo, como não queremos nós – filhos da Igreja como eles – lutar e morrer para restaurar algo que vale infinitamente mais do que o preciosíssimo Sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades, que Ele criou e salvou para O amarem eternamente.
Beatissimo Padre,
permetta la Santità Vostra che io ringrazi di cuore. Decidendo Voi di promuovere la commemorazione di due Vostri Venerati Antecessori, avete dato un esempio a tutti. Molti si dimenticano di quello che devono a chi ha prima lavorato il campo; spero che l’esempio sia seguito.
Si compiono venticinque anni dalla morte del Servo di Dio Pio XII. Nella storia la lontananza permette di leggere meglio i fatti. Quando una grande figura si spegne alla Terra, prevale la cronaca, il particolare, l’aneddoto e - non meno - o l’entusiasmo o il livore. Alla distanza di venticinque anni si vede meglio e si vede in un ambiente più sereno e veritiero.
Il mio compito non è dire di Pio XII quello che dissi allorché il Vostro venerato Antecessore Giovanni XXIII mi affidò il compito di commemorarlo, ma di proporre quello che si vede col beneficio di 25 anni di distanza. La visione a questo punto privilegia la sostanza della storia.
Pio XII, in un’epoca di guerra, la più orribile finora conosciuta dal genere umano, con un’azione magisteriale intensa, precisa, logica mirò a salvaguardare la verità rivelata e quella in qualche modo collegata alla verità rivelata. Non si tratta solo di una accolta di interventi e di affermazioni; si tratta di un disegno, forse maturato a poco a poco, nel qual caso indicherebbe dove era anzitutto volta la preoccupazione del Vicario di Cristo.
La guerra moderna corrompe tutto; nessuno si sottrae alle incisure profonde che essa figge nella psicologia degli uomini singoli e associati. Lo sconvolgimento è totale, anche se talune apparenze ne possono sembrare per qualche tempo indenni. La emotività del sentimento, la integrità fisica, la stessa lucidità logica dell’intelligenza comune ne escono contagiati.
Per questo il Pontefice che resse la Chiesa durante tutto il clamore bellico e per tredici anni dopo la sua fine, non può essere visto al di fuori di questo grande spaventoso contesto. Gli anni che seguono la guerra, sono una guerra di tipo diverso.
Se la figura di Pio XII non si fosse levata pura, inattaccabile per la sua saggezza, non avrebbe potuto compiere la difficile missione del Suo pontificato.
Questa opera magisteriale si volse in più direzioni tra loro collegate.
La prima fu quella della verità rivelata. Essa è intoccabile. Quando Pio fu gravemente ammalato nel 1954 ricevendo brevi istanti un prelato e stringendogli le mani, disse: “Depositum custodi”. Lui era la scolta vigilante. Della Rivelazione toccò in maniera decisa punti fondamentali, intaccati i quali tutto poteva essere intaccato. Questa opera magisteriale fu disegno e non pura casualità. Era la guerra ed era una tal guerra che poteva suggerire a chiunque di occuparsi solo di essa. Le rovine hanno bagliori sinistri, non splendori accecanti.
Il 24 agosto 1939 lanciò l’incisivo messaggio: “Nulla è perduto colla pace; tutto può essere perduto colla guerra”.
Ma Egli vide quello che la guerra stava scavando nel fisico e nel morale degli uomini. Gli altri, i più avrebbero capito solamente dopo a rovine fumanti. Egli vide subito. La rivolta degli spiriti contro l’immane sforzo di una sopportazione bestiale, avrebbe impressa una spinta verso le cose materiali; le voci del mondo, in questa sete di godimento reattiva a tutto, avrebbero oscurato le cose soprannaturali; le tracce della sofferenza prolungata avrebbero scavato segni nei caratteri degli individui e nella collettività; la Chiesa avrebbe sofferto.
In piena guerra, quando tutta l’Europa gemeva sotto i bombardamenti a tappeto, Pio XII, il 29 giugno 1943 pubblicava l’Enciclica “Mystici Corporis”. Si trattava soprattutto della vita interiore della Chiesa, quella che per divina disposizione dà ragione e sostanza alla costituzione gerarchica e giuridica, la più esposta a risentire del frantumarsi di ogni autorità terrena sotto la violenza bruta della forza. Ebbe ragione! Le sequenze del temporale non sono ancora finite oggi!
L’anelito di pace e godimento materiale, reazione al lungo, estenuante patire, avrebbe reso duro il soprannaturale. Egli questo volle ricordare. Anche gli intelligenti avrebbero avuto conseguenze di spasmi interiori e l’avrebbero avuti proprio su questo punto. Quella Enciclica prevenne. La barca di Pietro non può affondare, ma deve essere cullata dalle onde, anche se non la possono risucchiare; ma non è piacevole mantenere l’equilibrio in una barca quando le onde si fanno capricciose.
Nello stesso anno 1943, il 30 settembre, memoria liturgica di San Girolamo, Pio XII pubblicò la “Divino affiante Spiritu”. Meraviglia che durante la guerra Egli abbia rivolto lo sguardo alle Sacre Scritture, aprendo giuste porte agli studi, ma mettendo limiti vigorosi di rispetto verso la parola di Dio. Chi legge il documento può capire che il senso critico col quale in modo non sempre scientifico si era guazzato nel XIX secolo, sarebbe stato un punto debole alla intelligenza provata del dopoguerra. Ed Egli doveva far rispettare il deposito della Fede. Ci si meraviglia che abbia previsto. Quando si aprono le porte, bisogna sempre preoccuparsi che esse non sbattano.
Le due Encicliche che parvero allora fuori tempo, furono semplicemente profetiche.
La guerra finì ed essa, colle sue conseguenze, ebbe ad attirare l’attenzione con particolari interventi dei quali dirò appresso.
Nel 1947 Pio XII pubblicò la “Sacramentum Ordinis” in cui decise per sempre della materia e forma del sacramento. Fu un atto di Magistero solenne mentre chiudeva dispute teologiche durate troppo tempo; ma è il documento che più di tutti gli altri forse dimostrò il coraggio di questo Pontefice che pur vedevamo sbiancato in volto quando nelle canonizzazioni doveva pronunciare la formula, espressione di infallibilità, che ascriveva nell’albo dei Santi.
Il 1° novembre 1950 colla “Munificentissimus Deus” definì il dogma dell’Assunzione. Fu un atto di coraggio, perché un mondo che non ama i precettori, ma piuttosto gli artisti e gli atleti, con una definizione infallibile, Egli lo affrontava direttamente. E in quella limpidissima mattina di novembre nel cielo di Piazza San Pietro c’erano tutte e due: il sole da una parte e la luna calante dall’altra. Nel suo voto, richiesto prima della definizione, un Padre aveva scritto di “opinare che un simile gesto per la Madre di Dio avrebbe allontanata la guerra che allora pareva di nuovo incombere sul mondo”.
Ed eccoci alla Enciclica “Humani Generis”. Si tratta di un documento che va letto con cura. In verità tale Enciclica non solo spazia contro errori perniciosi, ma costituisce una affermazione di rispetto per la verità totale, sia quella che la ragione umana ricava dall’ordine naturale, sia quella che riceve dalla Rivelazione. Ogni verità viene da Dio e pertanto rientra in quella armonia che riflette la perfezione divina. Questa armonia impone il metodo di studio e di ricerca ed indica i limiti che sono posti al lavoro dell’intelligenza, riaffermando la natura, la forza, il beneficio del Magistero della Chiesa.
L’Enciclica “Humani Generis” rappresenta una “Summa” che deve essere tenuta presente, perché la verità non è labile: è superiore agli uomini e non viene da essi forgiata secondo le voglie e secondo i loro ristretti orizzonti.
Ricordo che un giorno Giovanni XXIII disse a me che Pio XII aveva compiuto, nel suo pontificato, un’enciclopedia teologica. Di fatto se si studiano gli indici del Concilio Vaticano II, si può agevolmente rilevare che dopo quelle tratte dalla Sacra Scrittura, le citazioni più numerose sono quelle ricavate dagli scritti di questo Pontefice.
La “mariologia” ebbe la massima attenzione di Pio XII. Ritorno sulla definizione del dogma dell’Assunzione. Non tutti allora capirono quale significato, sia pure secondario, portava quella definizione. Di fronte al mormorio che per allora si levava lontano contro la Chiesa e la sua divina autorità, oppose la sfida di una definizione dogmatica, con un solenne atto di magistero infallibile che poteva sembrare audace. Ed è specialmente in questa circostanza che ricordo quel pallore del Suo volto prima di pronunciare la formula definitoria e il rifluire del sangue non appena pronunciata la formula.
Il campo poteva sembrare sereno, ma non era così. Fu lui ad accorgersene e questo spiega alcuni grandi atti del Magistero. Quando si tratta di obbedire a Cristo, non contano i dissensi di tutti gli altri. E proseguì implacabile.
Avvertì che gli errori filosofici avrebbero tentato di entrare a scardinare la teologia. Sapeva che, avendo Dio data l’intelligenza agli uomini, essi dovevano servirsene per comprendere più utilmente nella verità il dato rivelato e colpì. Le reazioni non furono tutte favorevoli. Lui però proseguì indomito.
Ed ecco la seconda direzione nella quale adempì il suo dovere magisteriale. Si era in guerra; ma dopo la guerra che sorta di pace sarebbe stata concessa al genere umano? Bisognava ripresentare ed eventualmente completare gli elementi della sociologia naturale e cristiana. Usò la via più diretta del messaggio natalizio. Per molti non era difficile capire da che parte la grande tenzone si sarebbe risolta. Era certo che le acredini sociali avrebbero ripreso vigore nel poco rassicurante tacere delle armi. Ed insegnò. Il messaggio del Natale 1941 presentò un piano generale. Si compiva mezzo secolo dalla Enciclica “Rerum Novarum” di Leone XIII, ma la questione sociale si era enormemente allargata oltre il fondamentale impegno di giustizia dei salari e salari familiari. Il quadro che presentò era comprensivo e nitido: la giustizia dei salari era una somma di adempimenti di giustizia in molti altri livelli e situazioni umane. In tal modo proseguì per i restanti anni del terribile conflitto. Vide con chiarezza che “dopo” sarebbe venuto il più difficile; e il più difficile venne. Il Suo sguardo planava da intelletto sovrano sull’immenso rogo e sulle spietate delinquenze. Invece di facili denunce, presentò completi rimedi.
Il Magistero volse ad eliminare le false affermazioni di incompatibilità tra la Fede e le scienze. Molti congressi od equivalenti riunioni di carattere internazionale, si tennero a Roma. Generalmente tali congressi chiedevano di vedere il Papa e di ascoltarlo. A parlare in tali circostanze, Egli, Pio, si preparava da lontano. Voleva avere tutto quanto era ultimo grido circa l’oggetto in causa. A tal fine era stato fatto un accordo con una casa specializzata che Gli forniva il “dernier cri” sull’argomento, e leggeva. Diceva: “Bisogna rispettare ogni verità”. Questi interventi hanno un raggio amplissimo e sono testimoni dei sacrifici per rispettare il criterio della verità. Tale lavoro, a distanza di venticinque anni, bisogna vederlo nell’insieme e diviene dimostrativo. Egli ebbe la intuizione del suo tempo. La parete che divide i due campi, della Fede e della scienza, era diventata molto sorda. Dalla parte di questa si dava per dimostrato che incomunicabilità ci fosse; dall’altra molti non facevano caso alle affermazioni gratuite. La diffusione della cultura o della cosiddetta cultura non permetteva si tacesse.
Le manifestazioni magisteriali di Pio XII in questo campo non restarono soltanto nei limiti dei grandi congressi di alta scienza, ma scesero al livello della professionalità, nella quale, oltre alla chiarezza delle idee, erano facilmente in gioco i problemi morali e deontologici. Basta vedere anche solo il volume che porta i discorsi di Pio XII ai medici, ai paramedici per rendersi conto con quanta diligenza e saggezza Egli abbia affrontato i problemi.
Non sarebbe bastata sulle rovine una riedificazione materiale, specialmente nella ingordigia di chi successe a regimi caduti. Tutto il mondo delle idee, sul quale si edifica poi il costume buono o cattivo dei popoli, era sconvolto dalla guerra e dal periodo spiritualmente peggiore del dopoguerra. La chiarezza delle idee e della Fede e di quanto in qualche modo connesso colla Fede, doveva essere difeso. Egli vide questo ed agì di conseguenza. Sottilmente la generosità mal collocata di taluni pensatori cattolici studiò o credette studiare uno sfruttamento apostolico delle filosofie anche contraddittorie tra loro e venute a maturazione sconvolgente nel secolo scorso: hegelianismo, positivismo ed esistenzialismo. Queste domandavano si pagasse un conto ai danni del soprannaturale e si ebbe così il pericolo maggiore.
Le questioni non furono piamente coperte con un velo di falsa carità. Meglio una lotta aperta e cosciente che una facile anestesia, incapace di reazioni e contestazioni.
Mi chiedo che sarebbe accaduto se fosse mancata al Concilio Vaticano II questa preparazione e se lo spirito di quella non lo avesse condotto per le vie della prudenza e del giusto criterio. So bene che Dio ha resa indefettibile la Sua Chiesa e, per questo appunto, infallibile; ma tutti sappiamo che gli uomini debbono fare in essa la loro parte. Che tutto questo non sia stato anche opera di cultura, nessuno vorrebbe negare, dato che la cultura resterebbe come una statua vuota se non ha idee da proporre. Ma il raggio dell’azione di Pio XII in questo campo è tale che si può logicamente pensare aver Egli con tutta la sua opera voluto affermare che nessuna cultura umana è completa se non si arricchisce del dato rivelato. La natura non può che allietarsi nell’assimilare quello che storicamente le viene dal di sopra della natura. Tanto dico rispettando la libertà di ciascuno di continuare le dispute sulla natura della cultura stessa.
Sarebbe contrario ai fatti negare che durante il pontificato di Pio XII non si sia sentito, da chi aveva orecchie, tuonare molto lontano una qualche tempesta; ma c’era una compostezza, una forza, un equilibrio nell’azione magisteriale di questo Pontefice, che tempesta serpeggiante se c’era, per allora fu tenuta lontana.
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Il mio breve “excursus” non mi dispensa dal toccare aspetti di un pontificato che non fu soltanto magisteriale. Naturalmente lo guardo a 25 anni di distanza. La distanza permette di vedere lo stile. Questo partiva dall’interno e proprio per tale ragione lo rendeva austero, mai duro, equilibrato e mai sospinto da emotività subitanee, educatissimo e controllato nella forma. È straordinario come Egli sia riuscito, continuando il costume di Pio XI, ad apparire alle folle come una visione superiore, con una straordinaria forza di intesa colle moltitudini che lo applaudivano e lo sentivano “Pastor Angelicus”.
Era lo stesso stile che conquideva allorché si trattava con Lui in privato e che costituiva il vero alone attorno al Suo grande magistero, gli dava una credibilità, lo mostrava nella perfetta armonia e coerenza. La precisione e il senso del dovere non lo abbandonavano mai ed erano fortissimi, capaci di renderlo leone, mentre naturalmente aveva una certa timidezza, tempestivo per la vivacità della Sua intelligenza. Azione e uomo apparvero una cosa sola.
Era la aureola che strappava alle folle l’entusiasmo e che ha suggerito al successore Paolo di iniziare, Lui, a Concilio aperto, la causa di Beatificazione e Canonizzazione.
Fu quell’equilibrio affinato dalla lunghissima pratica curiale e diplomatica a segnargli la difficile e coerente strada durante il conflitto mondiale, quando qualunque estrapolazione e qualunque gesto inconsulto avrebbero provocato la ricorrente risposta dei momenti di guerra: distruzione e morte.
Gli fu meno difficile questo perché era il padrone di se stesso. Dopo, per più anni, Gli venne addebitato il silenzio. Quando allora qualcuno ebbe il coraggio di fargli osservare la necessità di alzare, per taluni crimini, la voce, ebbe una risposta illuminante: “I tali hanno parlato fuori luogo; la reazione al loro dire è stata di duecentomila vittime”. Oggi la lontananza del tempo permette di vedere che cosa sia stato di saggezza il silenzio in taluni momenti. Quando la reazione oltraggiosa sugli altri si allontanava, quando poté trattare coi singoli senza il rimbombo di una pubblica opinione, altrettanto imbarazzante quanto inopportuna, parlò da leone. Ne seppe qualcosa qualche grande personaggio che volle trattare direttamente con Lui.
In questo singolare equilibrio, la guerra divenne quello che deve essere per chi ragiona con Cristo: l’occasione della carità. Poteva fare da intermediario al di sopra della linea del fuoco. Il Vaticano diventò il legittimo esportatore delle notizie che potevano diminuire le ansietà; ristabilì per una moltitudine di uomini i rapporti degli affetti familiari al di qua e al di là del fuoco.
Questa realtà, considerata nel complesso di una guerra - la più disumana della storia -, sta a dimostrare come l’equilibrio del quale ho parlato, abbia permesso a Lui di essere il Padre comune.
Tutto fu destinato alla carità; durante la guerra si sottomise ai limiti dei poveri e così fu con loro non a parole.
In mezzo al fuoco e ai contrasti la figura di Pio XII si elevò sui fatti umani come un preludio sereno di pace e di ordine. Tenne la disciplina colla precisione che gli era naturale e non per questo cessò di essere il “Pastor Angelicus”.
L’Anno Santo del 1950 gli permise di abbracciare il mondo, di averne la fiducia e il rispetto, non turbato dalle voci cattive che qualche scrittore diffuse tentando di farne un soggetto letterariamente rilevato, ma rilevato per coprirlo di esecrazione. Oggi sul celebre episodio delle fosse Ardeatine si è fatto chiaro: Egli seppe quando già tutto era deciso ed almeno in parte eseguito. Non c’era più tempo e spazio. Coloro che sotto la guerra orrenda ebbero, in minore scala, le stesse questioni e le stesse parti da compiere, comprendono benissimo il contegno tenuto dal Papa. Si può credere che a salvare Roma da una distruzione come quella di Montecassino sia stato Lui. Ma nessuno può dimenticare che quando Roma fu bombardata il 19 luglio 1943, fu Lui ad accorrere immediatamente tra il popolo terrorizzato, mentre ancora cadevano le bombe e fu Lui ancora a tingersi di sangue le vesti bianche per recar soccorso e conforto a qualche ferito. Roma fu salva.
Molte altre cose si dovrebbero dire, ma i 25 anni che ci separano dal Commemorato, evidenziano le linee ed amano lasciare nell’ombra molti dettagli. Pietro era stato al suo posto, colla dignità che l’armonia delle virtù conferiva, spesso vero eremita nell’immensa casa per evitare conseguenze lamentevoli, vicino a Dio e a tutto il mondo con lo sguardo amoroso d’un padre. Le macchie di sangue del 19 luglio si levavano a simbolo di quanto nella serena dignità, attraverso un lungo pontificato, Egli avesse sofferto!
A venticinque anni di distanza la Sua figura si leva mostrando la statura dell’uomo, lo stile di un Papa.