VATICANO, 09 Ago. 07 / 12:00 am (ACI).- A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) reiterou em uma comunicação enviada aos presidentes das Conferências Episcopais que "não parece oportuna a participação de católicos nos grupos de oração organizados" pela Vassula Ryden, uma controvertida mulher ortodoxa que se autoproclama vidente e receptora de "revelações privadas" diretamente de Cristo.
Na mensagem interna, datada de 25 de janeiro de 2007 e foi publicado por vários sites, o Prefeito da CDF, Cardeal William Joseph Levada, reconhece que seguem chegando a seu dicasterio "cartas pedindo elucidações sobre os textos e atividades da senhora Vassula Ryden, sobre tudo pelo que corresponde ao valor da Notificação de 6 de outubro de 1995 e aos critérios a seguir para definir as disposições da Igreja local sobre a conveniência de difundir os textos da senhora Vassula Ryden".
A CDF afirma primeiro que "a Notificação de 1995 segue sendo válida pelo que se refere ao julgamento doutrinal sobre os textos examinados".
Em seguida, sustenta que Ryden, "depois do diálogo tido com a Congregação para a Doutrina da Fé, fez algumas elucidações sobre certos pontos problemáticos que apareciam em seus textos e também sobre a natureza de suas mensagens, que se apresentam não como revelações divinas, mas bem como meditações pessoais delas".
"Portanto, do ponto de vista normativo, e depois tais elucidações, é necessária uma valorização prudencial caso por caso, levando em consideração a possibilidade concreta que têm os fiéis de ler os textos no contexto das mencionadas elucidações", adverte a CDF.
Finalmente, recorda que "não parece oportuna a participação de católicos nos grupos de oração organizados pela própria senhora Ryden. Por isso respeita eventuais encontros ecumênicos, os fiéis têm que se ater às disposições do Diretório ecumênico, do Código de Direito Canônico (C. 215; C. 223, &2; C. 383, &3) e dos Ordinários diocesanos".
A Notificação de 1995
Em 6 de outubro de 1995, a CDF emitiu uma Notificação em que explica que depois de "uma análise atenta e serena de todo o assunto" se encontraram "junto a aspectos positivos, um conjunto de elementos fundamentais que devem considerar-se negativos à luz da doutrina católica" nas revelações de Ryden.
A Notificação, minimizada pelos seguidores de Ryden, destacou "o caráter suspeito das modalidades com que se produzem essas supostas revelações" e destaca "alguns enganos doutrinais contidos nelas" como o uso de uma linguagem ambígua das Pessoas da Santíssima Trindade, até confundir seus nomes e funções específicas; o anúncio de um período de predomínio do Anticristo no interior da Igreja; a profecia em chave milenarista de uma era de paz e bem-estar universal antes da vinda definitiva de Cristo; e a formação de uma Igreja que seria uma espécie de comunidade pan-cristã, em contraste com a doutrina católica.
A Notificação sustenta que Ryden participando de forma habitual nos sacramentos da Igreja Católica, apesar de ser grego-ortodoxa, criou "uma desordem ecumênica que irrita a não poucas autoridades, ministros e fiéis de sua própria Igreja, situando-se fora da disciplina eclesiástica da mesma".
A Notificação pede aos bispos informar "de forma adequada a seus fiéis, e não se conceda espaço algum no âmbito de sua respectivas diocese à difusão de suas idéias. Por último, convida a todos os fiéis a não considerar sobrenaturais os textos e as intervenções da senhora Vassula Ryden e a conservar a pureza da fé que o Senhor confiou à Igreja".
NOTIFICACAO SOBRE OS ESCRITOS DE VASSULA RYDEN
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
06.10.1995
Muitos bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos se dirigem a esta Congregação para ter um juízo autorizado sobre a atividade da senhora Vassula Ryden, greco-ortodoxa, residente na Suiça, que está a difundir nos ambientes católicos do mundo inteiro, com a sua palavra e com os seus escritos, mensagens atribuídas a presumíveis revelações celestes. Um exame atento e sereno da inteira questão, realizado por esta Congregação a fim de "pôr à prova as inspirações para verificar se provêm verdadeiramente de Deus" (cf. 1Jo 4,1), fez notar - ao lado de aspectos positivos - um conjunto de elementos fundamentais, que devem ser considerados negativos à luz da doutrina católica.
Além de evidenciar o caráter suspeito das modalidades com que acontecem essas presumíveis revelações, é imperioso ressaltar alguns erros doutrinais nelas contidos.
Entre outras coisas, com uma linguagem ambígua, fala-se das Pessoas da Santíssima Trindade até confundir os específicos nomes e funções das Pessoas Divinas. Preanuncia-se nessas presumíveis revelações um iminente período de predomínio do Anticristo no seio da Igreja. Profetiza-se em chave milenarista uma intervenção resolutiva e gloriosa de Deus, que estaria para instaurar sobre a terra, antes ainda da vinda definitiva de Cristo, uma era de paz e de bem-estar universal. Anuncia-se, além disso, o futuro próximo de uma Igreja que seria uma espécie de comunidade pancristã, em contraste com a doutrina católica.
O fato de nos escritos posteriores da senhora Ryden os mencionados erros já não aparecerem, é sinal de que as presumíveis "mensagens celestes" são apenas fruto de meditações privadas.
Além disso, a senhora Ryden, participando habitualmente nos sacramentos da Igreja Católica, embora seja greco-ortodoxa, suscita em diversos ambientes da Igreja Católica não pouca surpresa; parece pôr-se acima de qualquer jurisdição eclesiástica e de todas as regras canônicas e cria, de fato, uma desordem ecumênica, que irrita não poucas autoridades, ministros e fiéis da sua própria Igreja, colocando-se fora da disciplina eclesiástica da mesma.
Considerando que, não obstante alguns aspectos positivos, o efeito das atividades exercidas por Vassula Ryden é negativo, esta Congregação solicita a intervenção dos Bispos, a fim de que informem adequadamente os seus fiéis, e não seja concedido nenhum espaço no âmbito das próprias dioceses à difusão das suas idéias. Convida, por fim, todos os fiéis a não considerarem como sobrenaturais os escritos e as intervenções da senhora Vassula Ryden, e a conservarem a pureza da fé que o Senhor confiou à Igreja.
Cidade do Vaticano, 06 de outubro de 1995.
Acta Apostolicae Sedis AAS 88 (1996) 956-957; OR 23-24.10.1995; EV 14, 1956-1957; LE 5618