terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sto. Antônio Maria Claret : Como Deus é tão bom, não quer a morte do pecador, mas que ressuscite da primeira morte ; para isto e para que não caia na segunda está o sacrifício. Quem oferece sacrifício coloca seus pecados sobre a vítima e esta deve morrer ou ficar destruída por eles e depois o oferente deve comer da vítima para participar dos seus méritos: eis aqui o porquê da missa e comunhão. E o concílio de Trento deseja que em todas as missas os fiéis que assistem comunguem nelas

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9. A santa missa
Nossos pais, Adão e Eva, desobedeceram o preceito de Deus, se rebelaram enganados por Satanás, que lhe disse: “Tomai e comei e sereis como deuses” (89).
O homem, quando peca, se rebela contra Deus e diz com as obras: Non serviam (agora não, não quero te servir) (90). Despreza a Deus, que é seu Senhor e seu Pai. Deste desprezo se queixa muito sentidamente este bom Pai, dizendo por um profeta: criei filhos e os fiz crescer e eles me desprezaram (91).
O homem, por soberba e vaidade, faz-se superior ao que lhe põe resistência, como a água, que se choca e salta por cima do que se opõe à sua corrente, já que o homem é comparado à água: tamquam aquae dilabimur (92). E somos inclinados ao mal desde um princípio (93).
Por pecado ou rebelião, o gênero humano, ou o homem, merece a pena de morte, segundo a ameaça do mesmo Deus, quem disse: Quando comeres dele morrerás, infalivelmente morrerás (94) e como o homem é um composto de alma e corpo, morre nos dois: a alma morre no instante que peca e o corpo, logo que nasce, começa a morrer.
O corpo, mais ou menos cedo, morrerá, mas depois ressuscitará por Cristo, que ressuscitará tudo (95). A alma daquele que peca mortalmente sofre duas mortes: a primeira é a privação da graça e a segunda a privação da glória do céu, a condenação da pena e sepultura eterna do inferno; da primeira morte se pode ressuscitar pelos méritos de Jesus Cristo, mas da segunda não, porque in inferno nulla est redemptio (96)
Como Deus é tão bom, não quer a morte do pecador, mas que ressuscite da primeira morte (97); para isto e para que não caia na segunda (98) está o sacrifício.
Quem oferece sacrifício coloca seus pecados sobre a vítima e esta deve morrer ou ficar destruída por eles e depois o oferente deve comer da vítima para participar dos seus méritos: eis aqui o porquê da missa e comunhão. E o concílio de Trento deseja que em todas as missas os fiéis que assistem comunguem nelas (99).
O pecado é de uma malícia infinita pela razão do objeto ofendido, que é Deus e, por isso, só um Deus feito homem podia dar uma digna satisfação à divina justiça.
Esta digna satisfação a deu Jesus Cristo uma vez no Calvário, morrendo em uma cruz por todos; mas depois é preciso que se faça em particular esta aplicação (100), como se faz na santa missa, segundo mandato de Jesus Cristo, dizendo: Hoc facite in meam commemorationem.(fazei isto em minha memória) (101). E como as pessoas irão se sucedendo e continuando até a consumação dos séculos, assim também continuará este sacrifício até a consumação dos séculos, segundo a promessa do mesmo Jesus Cristo com estas palavras: Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos (102).
Por meio do que disse até aqui, você já quais as razões pelas quais se deve continuar este santo sacrifício da missa até o fim do mundo e a obrigação que têm os cristãos de assistir a ele a fim de participar dos seus méritos. Mas como de algum tempo para cá vejo que alguns cristãos facilmente se dispensam de assistir a missa, não obstante o preceito terminante da Igreja, nossa Mãe, me vejo na obrigação de explicar-lhe a razão; e o motivo é que o vírus protestante infiltrou no coração destas pessoas (103). Você deve saber que no princípio do século XVI o doutor Martinho Lutero disse que deveria ser tirada a missa; e em prova disto citou o testemunho de Satanás, que em uma conferência noturna lhe disse que lhe havia sido demonstrado isto com argumentos irrebatíveis.
Carlostadio, que se gloriava de ter sido professor de Lutero por ter-lhe dado o título de doutor, também tirou a missa.
O suíço Zwinglio ensina também que se deve omitir a missa e diz que assim aprendeu de um fantasma que lhe havia aparecido a ele em sonhos. Calvino ensinou o mesmo e assim todos os seguidores do protestantismo (104).
Realmente não se é de estranhar isto, porque o protestantismo não foi nem é atualmente outra coisa que uma violenta explosão de todas as paixões rancorosas contra a Igreja católica, apostólica, romana (105); e como os mistérios do amor não podem associar-se com os sistemas inventados pelo ódio, do mesmo o homem carnal não pode  perceber nem entender as coisas espirituais (106), eis aqui por que razão os protestantes não têm missa nem os filósofos carnais têm apreço por ela, e finalmente, alguns cristãos já não assistem a santa missa porque são cristão carnais e contagiados pelos protestantes.
Ah! Se alguém dos primeiros cristãos se levantasse do sepulcro, ao ver o que acontece entre os cristãos de hoje, diria: Video christianos, christianorum mores non vídeo (vejo os cristãos, mas não vejo os costumes dos cristãos). Naquele tempo, todos os cristãos assistiam cada dia com devoção a santa missa e todos comungavam nela com grande fervor. E agora? Ai! Que vejo! Volto a esconder-me debaixo da pedra sepulcral para não ver o que acontece entre os cristãos. Temo que lhes seja dito que lhes será tirado o reino de Deus e será dado a outros que produzam frutos de boas obras (107).
Assistamos nós o santo sacrifício da missa, não só nos domingos e festas e dias de preceito, por ser um dever, mas também nos demais dias por devoção (108). Devemos oferecer este santo sacrifício a Deus não só para dar-lhe satisfação de nossas faltas, culpas e pecados, mas também em reconhecimento do seu supremo domínio sobre nós e em testemunho dos benefícios e graças que Ele nos dispensa continuamente, pois tudo o que temos dele recebemos; e em agradecimento por tantas graças recebidas, isto é, devemos assistir este sacrifício que o mesmo Jesus Cristo oferece ao eterno Pai por nós. Ele é a principal oferenda e a vítima oferecida. Jesus Cristo é o advogado que temos no céu com Deus Pai, que intercede por nós, como diz São João (109). E, além disso, o temos sobre o altar, que sempre intercede por nós, como assegura São Paulo (110).
Certamente que não basta, nem é suficiente, cumprirmos, como bons cristãos, o mandato da assistência à santa missa e da comunhão nela para fazer-nos mais participantes dos méritos de Jesus Cristo; é, além disso, indispensável que sejamos sacerdotes ou sacrificadores, não só na missa, juntamente com Jesus Cristo, sacrificador invisível e o sacerdote, sacrificador visível, devemos oferecer-nos também a nós mesmos como vítimas para a glória de Deus e em satisfação das nossas culpas e pecados (111). Os maus não são contados por Deus como sacerdotes, nem seu sacrifício pode ser aceito e agradável, por não ser sacrifício de justiça, que é o único aceito.
Este sacrifício que fazem de si os bons é muito agradável aos olhos de Deus e muito satisfatório por suas faltas e as da nação inteira, como se lê na sagrada Escritura (112).
Disse um dos mártires macabeus: “Eu entrego meu corpo e minha vida à morte. Sobre mim e meus irmãos se acalmará a justa indignação do Onipotente, que está irritado contra nossa nação” (113). E com efeito, assim foi; por meio do sacrifício destes mártires, a ira se mudou em misericórdia: : Ira enim Domini in misericordiam conversa est (114).
Sobre aquelas palavras do Apóstolo aos Colossenses: “Eu que no presente me alegro por saber que padeço por vós e por saber que estou sofrendo em minha carne o que falta na paixão de Cristo em seus membros, sofrendo trabalhos em prol do seu corpo místico, que é a Igreja” (115), dizem os expositores que os méritos de Jesus Cristo são de infinito valor em si mesmos e suficientes para redimir milhares de mundos; mas o eterno Pai não os aceitou senão com a condição de que os adultos façam sua parte nesta paixão para poder gozar do seu fruto; isto é, devemos cooperar ouvindo a santa missa, recebendo a sagrada comunhão, fazendo oração, sofrendo com mansidão e paciência as calúnias, penas e trabalhos, mortificando as paixões e sentidos e oferecer tudo a Deus.
Mas singularmente nas públicas calamidades, nas que padecem os inocentes o mesmo que os culpados, e talvez mais, se cumpre assim a condição e vontade do Pai celestial. Os culpados padecem como réus, e se depois deste castigo não se convertem, é para eles motivo de maior ruína e condenação. Mas os bons, sofrendo com paciência e resignação, se purificam ainda mais de suas imperfeições e crescem na virtude, de modo que se fazem  mais agradáveis aos olhos de Deus e com suas penas bem sofridas dão cumprimento ao que por decreto divino faltava à paixão de Jesus Cristo, como foi dito. Assim é como se acalma a divina justiça e se alcançam as divinas misericórdias. Em prova desta verdade basta ler as sagradas Escrituras e a história eclesiástica. Quantas vezes nações inteiras foram perdoadas pela penitência, paciência e oração dos bons! Quantos bens, graças e conversões não alcançaram as penas e o sangue dos mártires!
Na verdade, não seria contra a razão dizer que o inocente, o santo por excelência, padeça e morra para salvar os pecadores e que a multidão dos pecadores não sofra nada? Desta multidão de pecadores, uns são maus, perdidos e obstinados e outros são pecadores justificados ou que devem ser purificados. Padecer dos males não serve para acalmar e satisfazer a divina justiça, antes, a provocam mais com as maldições e blasfêmias que os pecadores vomitam e com os pecados de toda sorte que cometem; mas os pecadores justificados, como pela graça estão unidos com Deus, seus sofrimentos e méritos estão unidos com os de Jesus Cristo. Por isso, todos os bons são chamados às penas e sofrimentos, como diz São Paulo: que todos aqueles que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições, mais ou menos segundo seus progressos na perfeição (116). Isto diz Cornélio a Lápide, quando fala das penas de Maria Santíssima ao pé da cruz, que quanto mais santa é uma alma e mais perto de Cristo está, tanto mais Jesus Cristo lhe oferece o cálice da sua paixão (117).
Mas devemos nos animar muito por pensar que se com Cristo padecemos sobre a terra, com Ele mesmo reinaremos no céu (118); e devem ser para nós de grande consolo aquelas palavras que o Arcângelo São Rafael disse a Tobias: “Porque és agradável aos olhos de Deus, foi necessário que a tentação te provasse” (119). Alegremo-nos, pois, em meio a penas, ao ver que somos dignos de sofrer algo por seu amor (120), por nossos defeitos, para juntar méritos para o céu e para satisfazer pelas faltas, culpas e pecados de nossos irmãos e poder assim alcançar para eles a misericórdia, a graça e a glória. Este é o sacrifício que de nós mesmos devemos oferecer ao eterno Pai, juntamente com os méritos de Jesus Cristo, de Maria Santíssima, santos do céu e justos da terra.
89 Gén 3, 3.
90 Jer 2, 20.
91 Is 1, 92 Nos deslizamos como el agua (2 Re 14, 14).
93 Cf. Gén 8, 21.
94 Gén 3, 3.
95 cf. Ef 1, 10.
96 No existe ninguna redención en el infierno. Esta frase no pertenece a la Sagrada Escritura. Parece ser una interpretación exegética, corriente en tiempo del P. Claret, del texto de Isaías 38, 18, que traduce así el P. Scío: «El infierno no te glorificará ni la muerte te alabará; no esperarán tu verdad los que descienden al lago»
97 Cf. Ez 33, 11.
98 Cf. Ap 2, 11.
99 Concilio de Trento, ses. 22 c. 6.
100 Cf. San Anselmo, Cur Deus homo? l. 1 c. 5: Obras completas (BAC Madrid 1952) t. l pp. 753‑755.
101 Lc 22, 19; cf. 1 Cor 11, 25.
102 Mt 28, 20.
103 La propaganda protestante se intensificó en España durante todo el siglo XIX debido a la tolerancia de los gobiernos liberales y a la acción de varios predicadores ingleses que propagaron la Biblia a lo largo y ancho de la Península. El mismo P. Claret fue testigo de los estragos de esa propaganda sectaria, sobre todo durante su viaje a Andalucía en el otoño de 1862 (cf. Aut. n. 717‑728). Sobre este punto pueden verse Menéndez Pelayo, M., Historia de los heterodoxos españoles (BAC, Madrid 1956) t. l pp. 1020‑1047; Cárcel Ortí, V., El liberalismo en el poder, en Historia de la Iglesia en España (BAC, Madrid 1979) pp. 196‑198.
104 El P. Claret toma estos datos de Ráulica, V., Las delicias de la piedad. Tratado sobre el culto de la Santísima Virgen (Madrid 1859) pp. 117‑118. Ex libris.
105 Estas expresiones tan marcadamente antiecuménicas hay que enten­derlas en el contexto del tiempo del Santo, como fruto de la educación y del ambiente católico de aquella época. Hoy, la Iglesia, y con ella todos los católicos, ha cambiado su actitud hacia los hermanos separados, sobre todo a raíz de la publicación del decreto sobre el ecumenismo Unitatis redintegratio, del Concilio Vaticano II, y de los gestos de acercamiento realizados por los últimos Papas: Juan XXIII, Pablo VI y Juan Pablo II.
106 Cf. 1Cor 2, 14.
107 Mt 21, 43.
108 Así lo hacía ya desde niño nuestro santo: «Desde muy pequeño escribe – me sentí inclinado a la piedad y a la religión. Todos los días de fiesta y de precepto oía la santa misa; los demás días, siempre que podía».
109 Cf. 1Jn 2, 1.
110 Cf. Heb 7, 25.
111 Esto es precisamente lo que ha indicado con profundidad el Concilio Vaticano II en las siguientes líneas: «Participando del sacrificio eucarístico, fuente y cumbre de toda la vida cristiana, [los cristianos] ofrecen a Dios la Víctima divina y se ofrecen a sí mismos juntamente con ella» (Lumen gentium n. 11).
112 2Mac 12, 43‑44.
113 2Mac 7, 37‑38.
114 2Mac 8, 5.
115 Col 1, 24.
116 2Tim 3, 12.
117 Cornelio Alápide, Commentarius in Evangelium S. Lucae et S. Ioannis (Antuerpiae 1660) t. 13 p. 525. Ex libris.
118 Cf. Rom 6, 5.
119 Tob 12, 13.
120 Cf. Hch 5, 41.

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