sábado, 26 de fevereiro de 2011

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA Por S. E. O CARDEAL VAUGHAN Arcebispo de Westminster



Retirado do livro: “O Santo Sacrifício da Missa” – Cardeal Vaughan – Arcebispo de Westminster.

CAPITULO I

O Santo Sacrifício da Missa é uma ação e não uma simples forma de oração

O Santo Sacrifício da Missa (1) é, por excelência, o ato divino e solene da religião cristã, o maior que se pode exercer aqui, na terra. Outra cousa não é senão Jesus Cristo oferecendo-se a si mesmo, em sacrifício, a Deus, por nós, pecadores.

A Missa é uma ação e não, uma simples forma de oração. Difere, pois, essencialmente, de todas as outras formulas de devoção, como orações da manhã e da noite, vésperas, rosário, benção, etc.

Por desconhecerem a verdadeira natureza da Missa, os que não pertencem à nossa religião, admiram-se do que vêem e ouvem, quando entram nas nossas igrejas e, pela primeira vez, assistem à Missa. Vêem paramentos, velas; notam, da parte do padre, a exata observância de um cerimonial minucioso e formal; reparam que o padre se serve da língua latina e que muitas orações são ditas por ele em voz tão baixa que se torna absolutamente impossível ouvi-las. Ficam, por isso, escandalizados, por julgarem que o povo deve tomar parte nas orações.

E, no caso, nem sequer podem ouvi-las. Retiram-se, então, achando tais ritos muito esquisitos, declarando que, com esse latim e semelhantes cerimoniais e orações em voz baixa, jamais poderiam compreender a Missa. Os católicos, pensam eles, devem ser bastante excêntricos para gostarem de semelhante forma de oração.

Tudo isso provem de não compreenderem que a Missa é, essencialmente, uma ação e não, uma simples forma de oração. É verdade que as orações ditas pelo padre são em latim e um grande numero delas são pronunciadas em voz baixa, mas é que, para tomar parte na Missa e dela retirar os devidos frutos, é absolutamente inútil saber latim. Como não é, de modo algum, necessário entender nem mesmo seguir as palavras do padre. Mais adiante tudo será explicado.

2. – O fim deste livrinho é insistir sobre a essência mesma desse grande ato de adoração, é explicar a natureza e os benefícios do sacrifício e a maneira de a ele assistir. As coisas exteriores – velas, cerimônias, orações, não passam de um invólucro, de uma espécie de veste secundaria e insignificante, quando comparadas com os sagrados mistérios de que fazem parte. Não constituem a substancia e a essência da Missa, como o vestuário da corte e o seu cerimonial não constituem a vida nem a pessoa do rei.

Por isso, não explicarei as orações da Missa, apesar da sua grande beleza e por mais ricas que sejam, em textos da Sagrada Escritura. Nem tão pouco direi coisa alguma sobre a origem e o simbolismo profundo das vestes sacerdotais, nem sobre as cerimônias sagradas que , no altar, do começo ao fim do santo sacrifício, determinam o modo de agir do sacerdote.

A sua historia remonta aos tempos apostólicos. Não me é preciso falara respeito nesta obra, porque a sua explicação se encontra em muitos livros, e numerosas são as traduções do missal.

3. – Antes, porém, de continuar, será bom, talvez, lembrar que nunca houve tempo, desde o começo do mundo até hoje, durante o qual o sacrifício exterior não fosse considerado como parte essencial do culto divino. Os profetas declararam que o sacrifício seria sempre oferecido na lei nova, e que a abolição do sacrifício perpétuo seria a obra e o sinal do Anticristo (Dan. XII). A primeira tentativa formal para suprimi-lo, foi um dos traços característicos da revolta do século XVI, contra a Igreja.

4. – O sacrifício consiste na imolação de uma vítima, imolação que se faz com a morte, com a destruição ou com alguma mudança considerada, praticamente, como equivalente. Imolação que tem por fim reconhecer o soberano domínio de Deus sobre todas as criaturas e a nossa absoluta dependência para com ele.

O sacrifício deve ser oferecido por pessoa legitimamente designada para este fim e só pode ser oferecido a Deus.

Estais, pois, a ver que o sacrifício não é simplesmente uma oração, mas uma ação de natureza sagrada e solenissima, exercida por um sacerdote.

Para realizá-lo é preciso um instrumento. Para o sacrifício, tomou Abraão consigo uma espada e um pouco de lenha. Os sacrifícios da antiga lei e o sacrifício da Cruz só foram oferecidos com o auxílio de certos instrumentos. Na missa, não há necessidade de espada ou cutelo materiais, nem de fogo e lenha; certas palavras sagradas determinadas pelo próprio Cristo, constituem a espada do sacrifício.

“As palavras de Cristo são um instrumento que opera o que elas significam.” (Sermo Christi operatorius est).

Escrevendo a um padre, a propósito da Missa, disse-lhe S. Gregório Nazianzeno estas palavras: “Não deixes de orar por nós e de ser verdadeiramente o nosso embaixador quando, com uma palavra, fizeres descer o Verbo de Deus sobre o altar, e, servindo-te da tua voz, como de uma espada, separares (na consagração) com um golpe não sangrento, o corpo e o sangue do Senhor.” (Ep. 171).

Nada disso, aliás, pode apresentar dificuldade alguma para o cristão que crê ter o Senhor, com uma só palavra, criado todas as coisas e ser a sua palavra onipotente.

A Missa é, pois, um ato sacrifical realizado pelo padre. Não é preciso que os assistentes, para dele participarem, ouçam as palavras pronunciadas pelo sacerdote, ou delas se sirvam, nem que sintam, por assim dizer, a ação da espada do sacrifício, que só o padre recebeu a missão de manejar.


Basta que se associem voluntariamente ao sacerdote com a sua presença pessoal diante do altar, e ao próprio sacrifício, com fé e devoção.

5. – Tudo isto foi admiravelmente exposto pelo Dr. Newman: “A Missa, diz ele, não é uma simples formula. É uma grande ação, a maior que, na terra se pode realizar. Não é só a invocação, é, se assim me posso exprimir, a evocação do eterno. No altar, torna-se presente, com a sua carne e o seu sangue, Aquele diante de quem se inclinam os anjos e tremem os demônios. Eis o grande acontecimento que constitui o fim da solenidade e torna compreensível o sentido de cada uma das suas partes.

São necessárias algumas palavras, mas unicamente como meios e não, como fins. Não são simples suplicas dirigidas ao trono da graça, são os instrumentos de alguma coisa muito maior, os instrumentos da consagração, do sacrifício. Elas passam depressa como tudo mais, por constituírem as partes de uma só e mesma ação. Passam depressa, porque são as palavras admiráveis do sacrifício e realizam uma obra mui grandiosa para serem repetidas.

Como diz a Escritura: “O que fazes, faze-o depressa.” E todos os que cercam o altar, cada qual no seu lugar, preparam-se para o grande acontecimento, “esperando o movimento da água.” Todos, nos nossos lugares, com o nosso coração, os nossos pensamentos, necessidades, intenções, orações, separados, bem que unidos, atentos ao desenvolvimento do sacrifício, unidos na sua realização, tomamos todos parte no que faz o sacerdote de Deus, acompanhando-o, guiados por ele, e não como se seguíssemos, do começo ao fim, com esforço e pesar, uma forma penosa de oração, mas, sim, como músicos cujos instrumentos, embora mui diversos, se combinam, para produzirem uma suave harmonia. (Newman, Perda e Ganho).



Notas:

(1) – A palavra missa que é latina, deriva-se provavelmente de missio , a despedida depois do sacrifício. O emprego da palavra neste sentido, remonta, pelo menos, ao segundo século, O Papa São Pio I dela se serviu numa carta escrita em 166. Os Padres da Igreja deram muitos outros nomes a este sacrifício. Chamaram-no “Oblação”, “Santos Mistérios” , etc.

Obs: O tradutor deste livro o fez com o objetivo de juntar católicos interessados na celebração da Missa de São Pio V (ou Missa Tridentina, que é a Missa de sempre apesar das mudanças ocorridas após o Concilio Vaticano II).



"O altar da crucifixão sempre lhe esteve presente aos olhos. Os trinta e três anos de sua vida foram outros tantos degraus consecutivos pelos quais a ele subiu. Suspirava pela consumação do sacrifício. Na véspera da morte, como legislador e sacerdote, ofereceu e instituiu, para sempre, o incruento sacrifício de si próprio, e, dessa vez, de modo cruento, na cruz."


CAPITULO II

O Sacerdócio de Jesus Cristo

A Santa Missa, como acabamos de ver, é mais do que uma simples oração. É um ato infinitamente augusto e solene, o ato do sacrifício.

Vejamos agora quem verdadeiramente realiza este ato sagrado, quem seja realmente o sacerdote sacrificador.

Se me disserdes: “Mas é o padre F. a quem muito conhecemos, cuja fisionomia e sotaque nos são familiares,” eu vos responderei dizendo que muito vos enganes. Talvez, quem sabe julgueis conhecer verdadeiramente qual seja o principal sacerdote da Missa, e, não o estimando, tenhais deixado de a ela assistir, durante a semana, e, até, aos domingos?

Que cegueira! Porque não gostais de quem exerce, em segundo lugar, o ofício sacerdotal, porque tendes contra ele um mesquinho ressentimento, vos afastais do principal sacrificador!

Pois sabei que é artigo de fé ser o mesmo Jesus Cristo o principal sacerdote, o principal sacrificador da Missa.

Para melhor compreenderdes esta verdade, vou, em largos traços, descrever o sacerdócio de Jesus Cristo. Ser-vos-á, então, mais fácil compreender a sua presença na Missa, como principal sacerdote.

2 – Segundo crença universal e constante do gênero humano, sacerdote é aquele que recebeu delegação para estar entre Deus e o povo. Tem, pois, duas sortes de deveres a cumprir: uns para com Deus, e outros para com os homens. Em tudo o que diz respeito ao ministério, é o intermediário entre o homem e Deus.

Antes de tudo, é o delegado para oferecer a Deus o ato supremo do culto público e externo que só a ele é devido, e que consiste no sacrifício. Todos os homens devem a Deus homenagens de adoração , de ação de graças , de propiciação e de súplica . São estes os quatro grandes fins do sacrifício.

Além disso, o sacerdote tem deveres positivos para com os homens. É obrigado a instruí-los em tudo que se relaciona com o serviço de Deus e a salvação das almas, a santificá-los, auxiliá-los, de acordo com a natureza do seu sacerdócio e os poderes recebidos de Deus, neste sentido.

Daí resulta que a direção dos fiéis, em todas as coisas que dizem respeito ao culto divino e à salvação das almas, pertence ao sacerdote, sujeito, é verdade, às restrições e condições que a Deus aprouve estabelecer.

O mundo, no seu orgulho, revolta-se contra esta verdade, e, zombando da autoridade sacerdotal, protesta contra todo o intermediário entre Deus e ele. Parece esquecer-se de que, em tal questão, é a Deus e não, a ele, que compete o direito de decidir.

Não vemos como as sociedades humanas nos negócios políticos ou nacionais, escolhem sempre os seus representantes, a quem encarregam de agir em seu nome, e que estes são estabelecidos como intermediários, entre o povo e o soberano? Esta analogia entre a natureza e a graça, confunde admiravelmente, no homem, o espírito de revolta.

3- Desde o começo, tiveram os homens os seus sacerdotes para oferecerem sacrifícios em seu próprio nome e ensinarem-lhes a lei divina.

Sob a lei da natureza e a de Moisés, houve sacerdotes, sacrifícios e uma autoridade docente. Vindo Jesus ao mundo, concentrou em si todo o ofício sacerdotal e, desde a sua vinda até ao fim dos tempos, Deus não reconhecerá mais nenhum outro sacerdócio nem sacrifício ou ensino, a não serem os de Jesus Cristo.

É de fé que Nosso Senhor é sacerdote, no sentido pleno e literal da palavra. A definição do sacerdócio dada por São Paulo verificou-se estritamente na pessoa de Cristo: “Todo o pontífice, diz o Apostolo, tomado dentre os homens, é estabelecido a bem dos homens naquelas coisas que se referem a Deus, afim de oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.” (Heb. V, 1).

Embora, de toda a eternidade, o Divino Mestre tenha possuído a natureza divina, a substância de Deus, entretanto, no tempo ele assumiu, também, uma natureza humana completa. Essa natureza humana foi tomada dentre os homens, pois Nosso Senhor nasceu de mulher, é filho da Bemaventurada Virgem Maria. O seu sacerdócio firma-se sobre a sua natureza humana e não, sobre a natureza divina, sendo nessa mesma santa humanidade que ele exerceu, exerce e exercerá até ao fim do mundo, as suas sagradas funções.

4- Por quem, onde e como foi o Cristo ordenado e sagrado sacerdote, para servir de intermediário entre Deus e o homem? São questões estas certamente de grande e profundo interesse.

Mão nenhuma de homem jamais se pôs sobre a sua cabeça. Ele não foi ungido por nenhuma unção terrestre. “O Cristo nunca assumiu por si mesmo a glória de ser pontífice, mas ele a deve a quem lhe disse: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”! Como disse ainda alhures: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melchisedech.” (Heb., v. 5).

Assim, foi Deus quem o sagrou sacerdote, sem a intervenção de homem nem de anjo algum. Foi na hora silenciosa do maravilhoso fiat pronunciado pela Virgem Maria, e no obscuro retiro do seu bendito seio, que a Divindade derramou, em profusão, sobre a natureza humana de Jesus Cristo, a plenitude do poder sacerdotal.

E foi aí, no casto seio de sua Mãe imaculada, como num templo escolhido por Deus, no ato propriamente dito da Encarnação, foi aí, repito, que Jesus foi constituído chefe, representante e sacerdote da raça humana, para governá-la e instruí-la em tudo o que diz respeito a Deus, e para oferecer à adorável trindade, em nome dessa mesma raça, para sua salvação e felicidade, um sacrifício que, não só apagasse o pecado, mas fosse ainda um ato de adoração, de ação de graças e de redenção digno de ser aceito por Deus.

Ele foi chamado Cristo, diz São Cirilo, por ter sido sagrado sacerdote por Deus, e Jesus porque é o sacerdote destinado a ser o nosso Salvador .

5- Em virtude da união da santa humanidade com a natureza divina e a pessoa do Filho de Deus, o sacerdócio de Jesus Cristo possui uma plenitude absoluta e ilimitada de poder e de excelência e, em razão desta mesma plenitude, o sacerdócio de Cristo não pode ser comunicado.

Ele revelou a sua doutrina quando e como quis; organizou a Igreja como quis; promulgou as suas leis como quis; instituiu sacramentos e fontes de graças como quis; ofereceu o sacrifício da última Ceia e o sacrifício da Cruz como quis e para produzir os efeitos por ele determinados, comunicando enfim aos homens algo do poder sacerdotal, com tais e tais limites e restrições como bem lhe aprouve. São Paulo descreve o seus sacerdócio como “mais elevado do que os céus” (Heb.); São João diz que “todos nós recebemos gratuitamente da sua plenitude e graça” (João, I), e Nosso Senhor mesmo proclama a plenitude deste sacerdócio, quando diz: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra” (Mat., XXVIII).

6- Santo Tomás, Suarez e outros teólogos ensinam que não só os homens foram plenamente remidos pelo mediador e sacerdote Jesus Cristo – “e nele se encontra uma plena redenção” – mas ainda que todas as hierarquias dos anjos devem inteiramente Àquele que é “o Primogenito de toda a criação”, não a redenção, de que não tinham necessidade, mas o dom indizível de todos os maravilhosos tesouros de glória e de graça. Muitas vezes achamos, na Sagrada Escritura, a afirmação deste fato, isto é, que os anjos do céu, seguem, servem e adoram o Salvador.

7- Vede como Nosso Senhor desde o momento da sua Encarnação, se apressa em exercer as funções sacerdotais. Não espera pelo nascimento, mas, ainda oculto nessa arca da aliança que é o seio de Maria, começa “como um gigante” a sua carreira. Atravessa as montanhas da Judéia para ir santificar a João Batista que Santa Isabel trazia ainda em si. Enche-a do Espírito Santo, comunica a Zacarias o dom de profecia e inunda a alma de sua própria mãe de uma onda de conhecimentos e de graças que excedem, em valor e esplendor, a tudo o que uma criatura jamais recebeu de Deus.

Durante os trinta e três anos de sua vida tanto oculta como pública, continuou fielmente a exercer para com os homens, segundo a inspiração da sua sabedoria, os diferentes ministérios do sacerdócio, orando, abençoando, curando e absolvendo, ensinando, repreendendo, governando e guiando as almas “nas coisas relativas a Deus”.

8- Quanto ao ofício de sacerdote sacrificador, não o exerceu, com menos generosidade e poder, orando e preparando com solenidade a vítima para o sacrifício, desde o momento da sua conceição.

O altar da crucifixão sempre lhe esteve presente aos olhos. Os trinta e três anos de sua vida foram outros tantos degraus consecutivos pelos quais a ele subiu. Suspirava pela consumação do sacrifício. Na véspera da morte, como legislador e sacerdote, ofereceu e instituiu, para sempre, o incruento sacrifício de si próprio, e, dessa vez, de modo cruento, na cruz.

9- A propósito do sacerdócio de Nosso Senhor, devem-se fazer duas observações.

Eis a primeira: ensina São Paulo que todo o sacerdócio legítimo terminou em Cristo, tendo sido para ele “transferido”.

Não há mais agora senão um sacerdote, uma vítima, um sacrifício e um altar. Todos os demais são sacerdócios, sacrifícios e altares dos demônios (I Cor., IX), quer por terem sido instituídos ou inspirados pelos demônios, quer por serem (talvez inconscientemente) empregados em seu serviço.

Tertuliano, escritor do II século, serve-se de uma expressão profunda para designar o Cristo. Chama-o “ Catholicus Patris Sacerdos ”, o que quer dizer, primeiro que Jesus Cristo é o Sacerdote da Igreja Católica; segundo, que Ele é o único sacerdote reconhecido pelo Eterno Padre como católico ou universal , por cujas mãos devem passar todas as orações e sacrifícios a serem oferecidos a deus e por Ele recebidos, e, finalmente, que Deus só cura, perdoa, ensina, abençoa, recompensa e salva pela mediação única de Jesus Cristo. Tudo passa “por Nosso Senhor”. A mesma doutrina é ensinada por São Cipriano, quando chama a Nosso Senhor Summus Sacerdos Patris , o Sumo Sacerdote do Pai.

10- Perguntarão talvez: “Mas então não há sacerdotes na Igreja Católica”? Jesus Cristo não tem sucessores que ofereçam, em seu próprio nome, sacrifícios seus, como se fazia na antiga lei. Mas os sacerdotes que receberam regularmente a sua missão participam do Sacerdócio de Cristo , e recebem do seu poder a parte que a ele apraz dar-lhes. Tal participação é verdadeira, bem que limitada. Não é o próprio sacerdócio, mas o de Cristo que eles recebem e exercem. Eis porque muitos Padres da Igreja os chamam “vigários”, “embaixadores”, “representantes” e “ministros” de Cristo, o que significa que, quando eles ensinam, absolvem e oferecem o sacrifício, exercem as funções sacerdotais de Cristo.

11- A segunda observação a fazer é esta: Nosso Senhor exerce o seu sacerdócio no tempo e na eternidade, conforme a condição da sua Igreja. Assim, residindo atualmente no céu, “assentado à direita do trono da majestade divina”, é “nosso advogado intercedendo constantemente por nós”. E isto não é simples maneira de falar. Aquele que neste mundo, nos amou até a morte, continua agora, que está na glória de Deus, a amar-nos e a pensar em nós, e assiste-nos nos nossos combates. Advoga em nosso favor com as suas chagas, com a sua paixão e morte.

São João contemplou-o no meio do céu, na atitude de um “cordeiro que lá permanecia como que imolado”. A sua intercessão é realmente sacerdotal.

Além disso, Nosso Senhor exprime livremente a Deus os desejos de sua vontade humana e as preferências de sua santa alma, em favor de cada um de nós. Ele se preocupa com a nossa salvação.

12- Entretanto, segundo o ensino de Santo Tomás, embora possamos dizer que Jesus Cristo, enquanto homem , ora realmente por nós, não devemos dizer: “Cristo, orai por nós”, mas sim: “Cristo, atendei-nos” e isto porque a pessoa de Cristo é divina e, por conseguinte, a sua função não é orar, mas atender, e também porque o emprego desta expressão poderia levar os ignorantes à heresia ariana ou à de Nestorio. (S.Tomás, in IV, Sent., dist. 15). – Suarez, porém, acrescenta que, se distinguirmos claramente a natureza humana da divina, poderemos “legitimamente e sem impropriedade de termos” pedir à natureza humana de Cristo que ore por nós. Santo Afonso de Liguori, numa passagem cujo sentido é claríssimo, diz o seguinte: “Vós orastes por mim, e eu vos suplico que não deixeis mais esta vossa oração; sei que mesmo no céu, continuais a ser o nosso advogado; continuai, pois, a orar; mas, oh! Jesus, orai mui particularmente por mim”. (Da Encarn., p. 102). A Igreja, aliás, faz apelo à sua intercessão sempre que diz: “Por Jesus Cristo Nosso Senhor”.

13- Demais, sendo sacerdote para sempre, isto é, por toda a duração dos tempos segundo a ordem de Melchisedech, deve Nosso Senhor estar sempre a oferecer, d'uma ou d'outra maneira, o sacrifício de que o de Melchisedech fora figura. Melchisedech ofereceu, em sacrifício, pão e vinho. Cristo deve, pois, oferecer, no decorrer dos tempos, um sacrifício, sob as aparências de pão e de vinho. É o que ora faz, como veremos no capítulo seguinte.

Enfim, não cremos que o sacrifício de Cristo haja de desaparecer no último dia do mundo. Quando este mundo tiver passado e “todas as coisas houverem sido submetidas a Cristo”, ele continuará a oferecer a Deus, durante toda a eternidade em oblação perfeita, a si próprio, na sua natureza humana, e a nós que somos o seu corpo místico, “afim de que Deus seja tudo em todos”. (Cor., XV, 28).

A felicidade que nos espera nessa união de louvores e de ação de graças, com Nosso Senhor, é atualmente incompreensível.

Como ele mesmo diz: “Nesse dia conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós”. (João, XIV, 20). Mas aqui, na terra, tais coisas não podem ser bem explicadas nem bem compreendidas.

“Quando virdes o padre oferecendo o santo sacrifício, diz São João Crisostomo, não considereis o padre como sendo o celebrante, mas vede a mão de Cristo estendida invisivelmente".

CAPITULO III

Jesus Cristo, principal sacerdote da Missa

Se bem compreendestes o capítulo precedente, não vos será difícil tirar a seguinte conclusão: Jesus Cristo é o principal sacerdote do sacrifício da Missa.

É o sacerdote principal, o principal sacrificador da Missa, não só porque a instituiu, não só porque o valor, poder e graça desse sacrifício dele provêm e dele unicamente dependem, mas ainda por ser ele o único perfeita e absolutamente capaz de oferecê-la.

Duas coisas são necessárias para se exercer perfeitamente o múnus sacerdotal: primeiro, que o ato da imolação esteja bem no poder do sacerdote, dependendo da sua vontade, e, depois, que o sacerdote ofereça o sacrifício a Deus, após ter sido legitimamente delegado para tal fim.

Na Missa, o ato de imolação ou consagração requer o exercício do poder divino. É um milagre que excede a todo poder humano e criado. Aprouve a Deus servir-se da humanidade sagrada do Eterno Filho como de um instrumento, para realizar esse milagre estupendo, tornando assim a Jesus Cristo na sua humanidade, um sacerdote sacrificador, até o fim dos séculos.

Desse modo, Cristo é o principal sacerdote, embora tenha-se dignado associar a si, como sacerdotes secundários e ministros, os apóstolos e seus sucessores.

Assim agiu para que o seu sacrifício pudesse ser sempre visível e “tal como o exige a natureza do homem”, “o próprio Cristo como ensina o Concílio de Trento, oferecendo agora o seu sacrifício por intermédio dos sacerdotes".

É, pois, com muita razão que as palavras da consagração se pronunciam em nome de Cristo, uma vez que é ele o principal sacrificador, e não, em nome do sacrificador secundário, que só age como representante oficial de Cristo.

Diz Suarez que, quando o celebrante pronuncia as palavras da consagração, a Humanidade sagrada de Nosso Senhor, por um concurso atual e físico, opera o milagre sublime chamado transubstanciação.

2.- Declaram os padres que, por justo título, Cristo é chamado “Sacerdote Eterno” por ter tomado o compromisso de oferecer sempre o sacrifício da Missa.

São Paulo, mostrando aos hebreus a diferença entre o sacerdócio do Antigo e “o do Novo Testamento”, diz que, na antiga lei, havia muitos sacerdotes oferecendo um grande número de sacrifícios, ao passo que, na nova, só há um sacerdote e um só sacrifício e que esse sacerdote único é “o sacerdote para sempre”, não tendo sucessor, mas unicamente representantes. Esse sacerdote é Jesus Cristo.

Por isso ensina São Paulo que uma das notas características da nova lei consiste em continuar o mesmo Cristo a agir como sacerdote principal, embora associando ao seu sacerdócio agentes secundários.

A diferença que estabelece entre a pluralidade de sacerdotes, na antiga lei, e o único sacerdote da lei nova, focaliza muito bem a doutrina católica relativa à Missa, doutrina segundo a qual nós só temos um sacrifício e um só sacerdote principal que é Jesus Cristo.

O concílio de Trento (sessão XXII) declara também que o valor do sacrifício do altar “jamais poderá ser alterado pela malícia ou indignidade dos que o oferecem”. É evidente o motivo. É que o Cristo e não outro é que é o sacrificador principal e o sacerdote da Missa.

A aceitação dos sacrifícios por Deus sempre dependeu do mérito do principal sacrificador. Deus, na antiga lei, muitas vezes “detestou e aborreceu” os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes judeus, por causa da indignidade deles, o que não pode suceder na nova lei, pois que o Cristo, e não um pecador, é que é o principal sacrificador da Missa.

“Cristo, diz Santo Agostinho, é o sacrificador e também a vítima”. “Quando virdes o padre oferecendo o santo sacrifício, diz São João Crisostomo, não considereis o padre como sendo o celebrante, mas vede a mão de Cristo estendida invisivelmente”. (Hom.de Prod, Jud.)

O sábio Alcuino, no século VIII, nada mais era do que o eco de toda a cristandade, quando escrevia na sua “Profissão de fé católica”:

“Apesar de ver, com os meus olhos de carne, o padre oferecendo no altar de Deus, o pão e o vinho, com o olhar da fé e na pura luz da alma, vejo distintamente a esse Sumo Sacerdote e verdadeiro Pontífice, o Senhor Jesus, oferecendo-se a si mesmo. Eis, com toda a certeza, o sacerdote e o sacrifício. A vítima redentora, por conseguinte, em tempo nenhum e em nenhum lugar, foi diminuída, aumentada, amesquinhada, nem mudada, quer tenha sido o padre oficiante um santo ou um indigno. (Opp., ap. Migne. P. 1887) .

3.- Na coleção das revelações de Santa Gertrudes, acha-se a narrativa de uma admirável visão: a Santa percebeu Nosso Senhor celebrando a Missa. Deus, a pouco tempo, parece ter dado uma brilhante prova do seu amor a uma pobre costureira da diocese de Rochelle, Maria Eustelle Harpain. As suas cartas foram reunidas pelo piedoso cardeal Villecourt e publicadas, conforme desejo manifestado por ele, antes de morrer.

Diz ela numa dessas cartas, que, meditando na grandeza do sacrifício que era oferecido na sua presença, viu o próprio Jesus no lugar do padre, oferecendo a Deus com grande majestade, a vítima sagrada. E a vítima era ele mesmo.

“Um Deus oferecendo-se a si mesmo a um Deus, exclama ela, que sacrifício! O meu espírito é incapaz de compreender toda a sua grandeza. Foi sobretudo no momento da consagração, que o meu espírito possuído de respeito e amor. À vista desse Homem-Deus consagrando a sua própria Carne e o seu próprio Sangue encheu-me de alegria e de felicidade. Com que avidez não suspirei pelo momento em que o esposo de minh'alma viria a dar-me o Pão dos anjos! Ele mesmo dando-se a si mesmo a mim! Vi dois espíritos celestes servindo-o, durante o santo sacrifício”.

4.- Não vos deixeis enganar pelos sentidos, não julgueis que o celebrante, cujo nome, voz e fisionomia conheceis, seja o principal sacerdote a oferecer o sacrifício. Há alguém que vos vê, embora não o vejais, que vos ouve, embora não o ouçais, e que realiza um ato pessoal. Não é um representante, nem um instrumento inanimado da Divindade, mas oferece o sacrifício com pleno conhecimento humano, servindo-se da sua inteligência e vontade humanas. E oferece-o à Santíssima Trindade sem distrações, sem esforço, sem fadiga.

Quando alguém consegue compreender bem esta verdade capital, isto é, que Jesus Cristo, no altar, é o principal sacerdote, desaparecem todas as dificuldades e a fé torna-se fácil. O nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Cristo provam que os milagres de amor, longe de serem exceções, são alei essencial do seu ser.



Continuando a transcrição do livro “O Santo Sacrifício da Missa” – Cardeal Vaughan – Arcebispo de Westminster.

"A sua presença, como sacerdote, na Missa, é um maravilhoso ato de amor. Eis, porém, um abismo de amor ainda mais profundo: na Missa, ele não somente é o sacerdote, mas ainda a vítima."

CAPITULO IV

A vítima divina da Missa

Se pessoa fidedigna garantisse que Jesus Cristo vos espera em tal lugar, a tal distância da vossa casa, com que alegria, com que esperança e ardor não correreis ao seu encontro! Levantar meia hora mais cedo, antecipar a refeição da manhã, não perder tempo, parecer-vos-iam mui pouca coisa comparada com semelhante felicidade. Nada vos custaria para poder estar junto a ele, na hora determinada.

Entretanto, sabeis que diariamente ele oferece por vós o adorável sacrifício da Missa, o que, salvo caso de impossibilidade deveria levar-vos, todos os dias, a esse sacrifício. Para isso, devereis considerar como nonada (sic), qualquer inconveniente leve, qualquer pequena privação.

A sua presença, como sacerdote, na Missa, é um maravilhoso ato de amor. Eis, porém, um abismo de amor ainda mais profundo: na Missa, ele não somente é o sacerdote, mas ainda a vítima.

“Quem é o sacerdote, diz Santo Agostinho, senão o que entrou no santo dos santos? Quem, senão o que foi, ao mesmo tempo, vítima e sacerdote? Quem senão o sacerdote que, nada achando, neste vasto mundo, que fosse bastante puro e imaculado para oferecê-lo em sacrifício a Deus, ofereceu-se a si mesmo?” (In. Ps., CXXXII e XXVI)
Oh! Meu Deus! Por não terdes encontrado, na criação, coisa alguma que pudesse prestar à majestade divina a devida adoração, por não terdes encontrado coisa alguma que pudesse satisfazer à justiça divina pelos nossos pecados, vítima humana capaz de pagar o preço da nossa redenção, assumistes uma natureza humana e vos oferecestes a vós mesmo!

“Não quisestes sacrifício nem oblação (vítimas terrenas), porém me formastes um corpo. Então eu disse: eis-me”. (Heb., X,6) . Será possível imaginar prova mais evidente de sincero e generoso amor?

Talvez me pergunteis agora: mas como, de que modo é que Jesus Cristo se torna vítima na Missa? Para tal compreender devidamente, mister se faz lembrar que Nosso Senhor tem dois modos diferentes de existência.

O modo natural de existência no céu , onde todos os traços e faculdades do seu Corpo sagrado e da sua Alma são glorificados aos olhares dos eleitos. A indescritível luz de glória que emana da humanidade de Cristo é tal que a cidade celeste não tem necessidade de sol nem de astro algum para iluminá-la. O Cordeiro é a sua luzerna. (Apoc., XXI) .


Contemplá-lo na sua glória, falar-lhe, estar unido a ele, é para os bemaventurados:

Imensa alegria, júbilo inefável,

Vida sem fim, paz e amor,

Riqueza inesgotável e felicidade imensa

(Dante, Paraíso , canto XXVII).

Mas ele possui também um segundo modo de existência inventada pelos inesgotáveis recursos do seu amor. É o modo de existência chamado sacramental . A palavra hóstia sagrada no sentido literal, quer dizer vítima sagrada, o que define admiravelmente o novo estado de Nosso Senhor.

Para a realização do sacrifício não é necessário que a vítima seja destruída fisicamente ou realmente imolada. Basta uma mudança no seu estado, mudança que leve a reconhecer o absoluto poder e o supremo domínio de Deus, mudança que, segundo o comum parecer dos homens, possa ser considerada como equivalente à destruição.

Ora, em virtude das palavras da consagração, Cristo, tanto na sua natureza humana como na divina, se acha real e substancialmente presente no altar, como vítima, numa forma de alimento . “Ainda que pela consagração, diz de Lugo, Cristo não seja destruído substancialmente , é todavia destruído na medida do possível , por se colocar num estado inferior, estado que lhe torna impossíveis as propriedades naturais do corpo humano e o torna capaz de ser empregado em usos diversos, sob a forma de alimento. E tal mudança basta para constituir um verdadeiro sacrifício.”

Neste estado, Cristo adora, agradece à Santíssima Trindade e oferece-se a si mesmo a Deus pela remissão de nossos pecados. Ser colocado em tal condição, é estar colocado num estado e condição de vítima.

Em semelhante modo de existência , torna-se-lhe naturalmente impossível caminhar, mover-se, falar, soltar um brado ou manifestar a sua humanidade, ainda da menor maneira. Acha-se colocado, por assim dizer, num estado de completa dependência, de sorte a podermos fazer dele o que quisermos.
Podemos oferecer-lhe o nosso amor, as nossas homenagens, adorá-lo com milhares de santos e anjos, ou, então tratá-lo com fria indiferença, dele zombar até, blasfemando com os judeus e os demônios.

Não é preciso, diz Lessius, que uma vítima nos seja, por si mesma, visível aos sentidos, uma vez que seja oferecida a Deus, a quem nada é oculto. Basta que se nos tenha tornado perceptível aos sentidos por meio de outra coisa em que exista, de sorte a podermos conhecer o que, sob esta, se acha oculto e sermos capazes de apreendê-la . (De Perfect. div. lib. 12).

E assim, como diz Franzelin, o primogênito de toda criatura, o chefe da Igreja, aquele que tem a primazia (Col., I) entra num novo modo de existência, sob as aparências de pão e de vinho, de maneira a ser reduzido ao estado de alimento e de bebida. Daí, Jesus Cristo, como Vítima , presta verdadeiramente homenagem ao supremo domínio de Deus, proclamando a absoluta dependência de todas as criaturas de quem é o “primogênito e o chefe.”

Não vades crer, entretanto, que Nosso Senhor esteja, na Sagrada Hóstia, inativo ou sem vida. Não, aí é ele realmente uma vítima e vítima viva .

“Sobretudo, escreve o P. Dalgairns no seu livro sobre a Santa Comunhão , convençamo-nos bem de que, no Santíssimo Sacramento, Jesus está vivo.

“Quando se considera todos os graus do maravilhoso reino da vida, desde o mais ínfimo corpuscolo oculto no fundo dos mares, até à vida gloriosa de Maria, até Deus eternamente vivo, não se encontra vida mais poderosa do que a que se acha no pequeno circulo da Hóstia.

“Aí se acha, primeiro, a vida eterna e imutável de Deus, Padre, Filho e Espírito Santo, com todas as operações necessárias de inteligência e de amor, e todos os atos livres relativos às criaturas.

“Depois, a vida de Jesus, o Verbo Eterno, unido à natureza humana por ele assumida. Encontra-se a visão beatífica e, ao lado desta, a vida também de Jesus, no que ela tem de continuamente variável, com numerosas alternativas de amor, de sentimento, de inteligência, as quais se lhe sucedem na alma, de nós dependem e correspondem ao que se passa no coração dos que assistem ao santo sacrifício.

“Cada sopro da nossa oração, cada aspiração do nosso coração, cada suspiro da nossa agonia agita o vasto oceano de amor que se encontra em Jesus, no Santíssimo Sacramento.

Oh! Vida maravilhosa de Jesus! Por mais espessos que sejam os véus que o ocultam aos nossos olhares, ele está sempre atento a tudo o que se passa em redor, de modo a perceber o mínimo desejo de quem o visita. O seu Coração escuta, exultante, os atos de amor que murmuramos. Está tão perfeitamente oculto que as tênues espécies, como um muro de diamante, o separam das criaturas, mas, ao mesmo tempo, tão acessível às nossas preces que o menor suspiro o atinge através desse véu.”

Os livros de espiritualidade notam sempre uma aproximação entre a Encarnação e o estado da vítima, na Missa.

Pela Encarnação, o Verbo que existia na majestade e na glória divina (2) aniquilou-se tomando o humilde estado de escravo, tornando-se semelhante aos homens e apresentando-se sob a forma de um homem. Nesta condição, sem abdicar do poder divino e sem sofrer nenhum apoucamento nem diminuição na sua glória celeste, humilhou-se até ao sacrifício da Cruz. (Phil., II) .


Dessa maneira, cada dia, na Missa, embora sempre subsistente na dupla natureza de perfeito Deus e perfeito Homem, vivendo eternamente na infinita bemaventurança do céu, sem perda nem diminuição de glória ou felicidade, nas duas naturezas divina e humana, ele se aniquila sob as espécies de pão e de vinho, e se humilha no altar, para sofrer, como vítima, uma morte mística.

É o mais estupendo dos milagres realizados neste mundo. É impossível crer nele sem crer na Encarnação de que ele é, de certo modo e sob uma outra forma, a continuação sobrenatural.

Notas:

(2) – Vulgata: Qui cum in forma Dei esset... exinanivit semetipsum, formam servi accipiens.- A palavra fórma não traduz o sentido do latim nem do original grego. A expressão traduzida por forma Dei, designa a natureza ou essência de Deus, de certo modo revestida dos seus atributos e da sua gloria e majestade.

"Depois de ter comido o Cordeiro pascal que, no Antigo Testamento, era a mais perfeita imagem de si mesmo, Nosso Senhor encerrou, por sua vez, os ritos e sacrifícios da antiga lei, instituindo, em seu lugar, o adorável sacrifício da nova lei, a que chamamos Missa."
CAPITULO V

Identidade entre o sacrifício da Missa e o da Cruz

Tem-se dito, muitas vezes, que a grande escola dos Santos é a contemplação da Paixão de Nosso Senhor. Fôra o assunto constante das meditações da Santíssima Virgem e ninguém poderá atingir um grau qualquer de santidade nem de união com Deus, se o seu espírito não se alimentar com a freqüente meditação da Paixão e Morte de Cristo.

Tal afirmação, pode, a princípio, parecer exagerada. É todavia, a pura verdade, verdade profunda que se vos tornará evidente quando, uma vez por todas, tiverdes admitido que a Missa foi instituída para perpétua comemoração e como representação da Paixão e Morte de Jesus Cristo.

Pode-se dizer que as três pessoas da Santíssima Trindade contemplam eternamente a Paixão e a Morte do Filho de Deus. A imagem glorificada da nossa redenção está sempre presente aos olhos dos bem-aventurados, ao mesmo tempo que é o tremendo sacrifício sempre, na Igreja, oferecido.

Como não fazer da paixão de Nosso Senhor o assunto das nossas meditações? Do espírito da Igreja, nem um só dia, nem uma hora sequer, ela se acha ausente, pois o santo sacrifício nunca deixa de ser oferecido cada manhã, por toda a terra. Como não deveriam estar intimamente unidas, no nosso espírito e no nosso coração, a sagrada Paixão e a santa Missa!

2.- Vimos, no capítulo precedente, como é que Nosso Senhor se torna a vítima do santo sacrifício. Resta-nos agora ver como é que a Missa é não só um sacrifício comemorativo do sacrifício da Cruz, mas ainda lhe é idêntico.

Antes de tudo, com relação ao tempo da sua celebração, é preciso notar que Nosso Senhor aproximou, quanto possível, o momento da instituição da Missa do de sua paixão e morte. Estas circunstancias de tempo e de lugar destinavam-se a manifestar a união das duas ações.

Depois de ter comido o Cordeiro pascal que, no Antigo Testamento, era a mais perfeita imagem de si mesmo, Nosso Senhor encerrou, por sua vez, os ritos e sacrifícios da antiga lei, instituindo, em seu lugar, o adorável sacrifício da nova lei, a que chamamos Missa.

Ouvi o tenro apelo que ele dirigiu aos apóstolos: “Desejei com ardente amor, celebrar esta páscoa convosco. Desejei por um termo às celebrações figurativas e, em seu lugar, instituí o incruento sacrifício do verdadeiro Cordeiro que apaga os pecados do mundo. Torrentes de sangue serão, dentro em breve, derramadas; por vós morrerei na Cruz. Antes, porém, de derramar lágrimas de sangue no monte das Oliveiras e de entrar na agonia da morte, faço desde já o meu último testamento. O que vos lego outra coisa não é senão eu mesmo. Sou o Pão descido do céu e quem o come viverá também em mim. Eis o sacrifício incruento da nova lei que será oferecido até a consumação dos séculos, para a remissão dos pecados, em memória dos sofrimentos e da morte que vou sofrer”.

Depois de ter instituído o adorável sacrifício da Eucaristia, no qual ele próprio é sacerdote e vítima, partiu logo para oferecer o mesmo sacrifício, dessa vez, de modo cruento, no Calvário.

3.- Fazem notar os Santos Padres que a semelhança especial entre o sacrifício da Missa e o da Cruz consiste no fato da dupla consagração que neste representa, de modo místico, a real separação entre o corpo e o sangue, ou, em outros termos, a morte real de Jesus Cristo, “servindo-se o sacerdote da palavra como de uma espada”, na expressão de São Gregório Nazianzeno.

De fato, debaixo de cada uma das duas espécies , é Nosso Senhor uma vítima perfeita, mas a dupla consagração é essencial ao sacrifício da Missa: foi assim que Nosso Senhor quis renovar misticamente a sua morte e relembrar a sua memória.

4.- Definiu o Concílio de Trento que o sacrifício da Missa é “ o mesmo ” que o do Calvário. É “ o mesmo ” porque há identidade numérica no principal sacerdote que oferece os dois sacrifícios e identidade numérica na vítima divina para sempre abençoada, que é oferecida. Assim, pois, em tudo o que é essencial ao sacrifício, isto é, quanto ao sacerdote e quanto à vítima, os dois sacrifícios são especificamente unum et idem, um só e o mesmo .

Diferem apenas em algumas particularidades. Primeiro, é diferente o modo de oferecê-los: um realizou-se com sofrimento e efusão material de sangue; o outro é oferecido, sem sofrimento e sem efusão de sangue.

Outra diferença: o da Cruz só foi oferecido uma vez; o outro, inúmeras vezes.

Terceiro, na Cruz, o sacerdote principal e a vítima foram visíveis aos olhos dos homens; na Missa, são invisíveis.

Quarto, há entretanto uma diferença e uma identidade no fim e no efeito desses dois sacrifícios. No da Cruz, o sacerdote adquiriu méritos infinitos e ofereceu a Deus uma satisfação e uma compensação suficiente para expiar os pecados de milhares de mundos. No sacrifício da Missa, o mesmo sacerdote já não adquire novos méritos nem oferece uma nova satisfação, mas concede e aplica às almas, na medida que lhes é conveniente e de que são capazes, os méritos e as satisfações adquiridas com a sua morte de cruz, méritos e satisfações que formam um tesouro inesgotável.

Eis como são essencialmente idênticos os dois sacrifícios, que apenas diferem em certos pontos de vista.

Quanto aos efeitos produzidos na alma, a santa Missa, num certo sentido, leva vantagem sobre o Calvário. De fato, dadas as mesmas disposições, é-nos mais proveitoso assistir diariamente ao santo sacrifício da Missa, do que termos estado presentes, no Calvário, uma só vez.

Eis a razão: na Missa, Jesus Cristo concede e aplica à nossa alma, de acordo com as nossas disposições, o que ele adquiriu, mas não concedeu, na Cruz. Fomos remidos na Cruz, mas, no altar, “é que ele completa a obra da nossa redenção.”

"Ah! Pobre filho, vem até mim, com o teu coração que sangra, vem ao sacrifício; para ti será um grande benefício. Provações, perdas, sofrimentos, pobreza, desonra, isolamento esgotaram-te a coragem? Apressa-te em ir ao santo sacrifício. Aí encontrarás aquele que foi considerado não como homem, mas como um verme. Ele sabe o que é sofrer, pois foi afligido com todas essas provas que, tão pesadamente, te esmagam. Doravante não estarás mais sozinho e sem amigo, porque o tens, a ele, que te falará ao coração e será a tua força, a tua consolação."

CAPITULO VI

A Missa é o ato central do culto

Não nos sentimos às vezes aborrecidos do mundo, aborrecidos também e, sobretudo, de nós mesmos? Oprimidos de pesares, esgotados pelas provações, arruinados quando menos o esperamos, privados de forças, reduzidos a sofrer sozinhos sem um amigo que nos console, não temos, lá um dia ou outro, suspirado pelo momento em que nos será dado estar ao lado de Nosso Senhor, felizes, tranqüilos, confortados e apoiando a nossa pobre cabeça no seu Sagrado Coração?

Oh! Se pudéssemos ir a ele diretamente, para contar-lhe os nossos sofrimentos e poder ele estender a sua mão, dizendo-nos: “Sê curado!”

Pois bem, na Missa, nós o possuímos, não em figura, como outrora Deus residia por detrás do véu do templo, mas substancialmente, pessoalmente, com todo o seu poder, com todo o seu amor misericordioso, oculto no transparente véu das espécies sacramentais.

Aos sentidos e à ciência humana esse véu é tão impenetrável como uma muralha de diamante; mas, para Nosso Senhor, é mais fino e tênue que o mais delgado fio, e Jesus Cristo chega-se para tão perto de nós quanto as próprias espécies.

Não é um conto, uma pintura ou uma história da sua vida que se acha diante de nós, no santo sacrifício. O homem-Deus aí se acha realmente, com todas as fases de sua vida, desde a Encarnação até o momento presente. É, a princípio, o Sacerdote Divino, no casto seio de Maria; é, depois, a criança que chora no presépio, o mestre ensinando aos discípulos como se deve orar, o pastor que se compadece das multidões sem guia, o médico a curar a alma da mulher apanhada em flagrante delito de pecado, e aliviando todas as enfermidades. Aí se acha ele e acha-se presente pessoalmente.

O bom pastor que aos ombros tomou os nossos males, os nossos sofrimentos, as nossas tristes faltas; o sacerdote que, como vítima, se ofereceu pelos nossos pecados pregando na Cruz, com o seu próprio corpo, a sentença de condenação lavrada contra nós; o mesmo corpo que foi sepultado, que ressuscitou dos mortos e subiu ao céu, a vida gloriosa que neste momento, ele tem na eternidade, tudo isso está presente e presente para o nosso bem. Que mais podeis desejar, senão vê-lo na sua glória?

2. – Abri os olhos da fé e contemplai-o no altar. Todos os altares do mundo formam um só altar; todas as vítimas, uma só vítima; Jesus Cristo é o único sacerdote principal, o “Catholicus Patris Sacerdos”. O mesmo sacerdote, a mesma vítima e o mesmo sacrifício do Calvário, sempre presentes no altar, neste templo grande como o mundo, que se chama a Igreja.

Vede que cena maravilhosa! Acima do altar, os céus abertos, a infinita majestade de Deus, a luz inacessível, o orvalho, as fontes e as torrentes inesgotáveis de graça que não cessam de correr, em ondas, para a terra. Maria e José, os apóstolos e os santos com multidões inumeráveis de espíritos bem-aventurados, adoram, louvam, bem-dizem e agradecem a Cristo, com hinos de uma suavidade inefável e encantadora, pelos dons que lhes fez e pelo admirável mistério do Calvário continuamente renovado. Toda a criação é devedora para com Nosso Senhor; não há um anjo sequer que de sua plenitude não tenha recebido a felicidade e a graça. Segundo o ensino de Santo Tomás, a plenitude da graça, em Cristo, é a causa de todas as graças concedidas a cada criatura inteligente. (In Joan. I, 16).

Aos pés do altar comprime-se a multidão dos fiéis, semelhantes a “esse grande número de enfermos, cegos, coxos, paralíticos que esperavam pelo movimento da água” (João, V); mas aqui, é mais do que um anjo o que essa multidão espera. Nós aí encontramos Marias Madalenas com os seus vergonhosos pecados, Simões Pedros de negações reiteradas, Nicodemos com os respectivos temores e covardias. Aqui, é o ladrão que se converte durante a oblação do sacrifício, Longuinho sustendo ainda a lança com que acaba de traspassar o Coração de Jesus; ali, é uma incontável multidão de “criaturas que, até o presente, gemem e sofrem com as dores do parto.”

Ah! Pobre filho, vem até mim, com o teu coração que sangra, vem ao sacrifício; para ti será um grande benefício. Provações, perdas, sofrimentos, pobreza, desonra, isolamento esgotaram-te a coragem? Apressa-te em ir ao santo sacrifício. Aí encontrarás aquele que foi considerado não como homem, mas como um verme. Ele sabe o que é sofrer, pois foi afligido com todas essas provas que, tão pesadamente, te esmagam. Doravante não estarás mais sozinho e sem amigo, porque o tens, a ele, que te falará ao coração e será a tua força, a tua consolação.

Vê como é terna a sua bondade. Não é no esplendor da sua glória nem no triunfo da sua vida eminente e sublime que ele se te revela, mas sim, como uma vítima e em sacrifício, sob aparências tão simples e em altar tão humilde quanto seja preciso para que a pobre humanidade sofredora, miserável e pecadora dele possa aproximar-se e dizer com toda a verdade: “Não temos um pontífice que não se possa compadecer das nossas fraquezas; pelo contrário, ele foi tentado como nós, em tudo, mas sem cometer o pecado”. (Heb., IV).

Podia Nosso Senhor desvendar aos teus olhos quadro mais maravilhoso, mostrando-te, assim, o que deves fazer? Podia, pobre filho da terra, impelir-te com mais humilde condescendência do seu amor, a vencer a tua tibieza, a tua frieza, a comparecer na sua presença, ao menos, uma vez por semana? Que felicidade não será, para ti, poder livrar-te aos seus pés, do teu fardo, e isso, todos os dias!

Vemos, enfim, ao redor de nós e tão longe quanto podem alcançar os nossos olhares, uma multidão de nações ignorantes, incrédulas, mergulhadas no mal; mas estes mesmos povos participam, ao menos indiretamente, dos frutos do sacrifício, porque nenhum dentre eles fica oculto aos olhos de Nosso Senhor e todos são chamados a ser membros da sua Igreja, a tomar parte no seu sacrifício e a conseguir a própria salvação. A Missa é oferecida “pro nostra totiusque mundi salute” , para salvação nossa e de todo o mundo.

Retirado do livro: “O Santo Sacrifício da Missa” – Cardeal Vaughan – Arcebispo de Westminster.

Deste livro de ouro do celebre cardeal Vaughan deveis extrair, como de uma mina de preciosidades, a matéria das vossas meditações de cada manhã.

Tradução por J. A. A. F. BAHIA oficinas Gráficas d'A Luva 1932

NIHIL OBSTAT.

Bahia, 5 de Outubro de 1932. P.E Amilcar Marques, Censor diœcesanus

IMPRIMA-SE

Bahia, 5 de Outubro de 1932. Mons. Appio, Vig. Geral

fonte:sinais dos tempos

The Beauty and Spirituality of the Traditional Latin Mass

  The Holy Mass as referred to in this essay is the traditional Latin Mass

of the ancient Roman rite, as celebrated until 1965 in the Latin Church


It is the Mass that Cardinal Newman, the leader of the Oxford movement into the Church, said that he could attend forever, and not be tired. Father Faber, priest of the Brompton Oratory in the last century, described the Mass as the "most beautiful thing this side of heaven", and he continued:
"It came forth out of the grand mind of the Church, and lifted us out of earth and out of self, and wrapped us round in a cloud of mystical sweetness and the sublimities of a more than angelic liturgy, and purified us almost without ourselves, and charmed us with the celestial charming, so that our very senses seemed to find vision, hearing, fragrance, taste, and touch beyond what earth can give"

Father Adrian Fortescue, a great English liturgical historian, has said that the Mass of the Roman rite is the most venerable rite in Christendom. Pious Popes, too, have often wondered at the majesty of the Mass. Pope Clement VII said in 1604:

"Since the Most Holy Sacrament of the Eucharist by means of which Christ Our Lord has made us partakers of His sacred Body, and ordained to stay with us unto the consummation of the world, is the greatest of all the Sacraments, and it is accomplished in the Holy Mass and offered to God the Father for the sins of the people, it is highly fitting that we who are in one body which is the Church, and who share of the one Body of Christ, would use in this ineffable and awe- inspiring Sacrifice the same manner of celebration and the same ceremonial observance and rite"

and Pope Urban VII in 1634 said:
"If there is anything divine among man's possessions which might excite the envy of the citizens of heaven (could they ever be swayed by such a passion), this is undoubtedly the Most Holy Sacrifice of the Mass, by means of which men, having before their eyes, and taking into their hands the very Creator of heaven and earth, experience, while still on earth, a certain anticipation of heaven. How keenly, then, must mortals strive to preserve and protect this inestimable privilege with all due worship and reverence, and be ever on their guard lest their negligence offend the angels who vie with them in eager adoration!"

The Mass! What a treasure! Christ's very own sacrifice on the cross left for us wrapped in an act seeping with beauty and divine celebration. Below I describe a few of its important qualities that set it apart in this day and age, that truly make it "the most beautiful thing this side of heaven".
1. The Silence of the Canon
The entire Canon of the Mass is devoid of any vocal sounds, other than one phrase "Nobis quoque peccatoribus" where the priest strikes his breast, emphasising his own sinfulness and unworthiness of celebrating such an unspeakably divine action. The only other sound is when the bell is rung, initially at the "Hanc igitur" as a warning bell to inform the faithful of the impending consecration, and then three times at each consecration: when the priest genuflects before the divine oblation, when he raises the divine victim in an elevation of worship and adoration, and finally when he genuflects again. Otherwise, complete silence.
Why this silence, when the canon is the most important part of the Mass? Simply because of that fact. The canon of the Mass joins the earthy sphere to the heavenly sphere. Christ's sacrifice was performed once and for all; it can never be repeated as it was the eternal and perfect sacrifice to end all sacrifices. However, since the victim and the priest was God, the person of our Lord Jesus Christ, the effects are infinite: the entire human race was redeemed wherever they lived, regardless of time or space. But an important fact is that the act that Christ performed was placed within His creation, and at a particular point in time. Therefore, for the sacrifice of the cross to become effective universally over all time, it needed to be perpetuated through the ages by a priesthood acting in the person of our Lord and presenting His sacrifice anew to a new generation. This is why Christ built His Church: to bring forth the graces of the incarnation, to prolong it and "make present" its effects to all people. The sacrifice of the cross, and the consecration in the Mass, are timeless entities in a temporal world.

The silence, therefore, enables us to transcend our present existence and become present at the foot of the cross itself. Our senses, so active in the outside world, are suppressed so that our soul can touch the divine presence of God on the altar, so that we may be lifted up with the oblation to the altar of God Himself in heaven, surrounded by all the Hosts and angels in constant prayer and adoration. We, in effect, dip our toes into the pool of eternity, no longer limited by our earthly existence in time and space, but instead become one with our Lord in offering ourselves to God the Father in the one perfect act of self-giving, love and adoration.
Our senses are not totally silenced though. Through our eyes, we see the Holy Victim raises up to the Father in the form of bread and wine; closing our eyes we see the cross above us and the angelic party beyond. In our ears, we hear the ringing of bells, confirming what we see and what we feel in our hearts. In our nostrils, we smell the sweet odour of incense, floating up to heaven accompanying the Victim to the altar of God. It is truly an entire experience of Body and Soul where the carpet of life is swept from underneath us revealing the eternal reality of the cross and the truth of God's love for each and everyone of us.

Using vocal words in the canon would defy this divine reality, it would seemingly bring the events down to a level of speech and thought, rather than action and sacrifice. We must feel with our heart and soul the event taking place, not hear with our ears the words which enact the event. Only silence can penetrate this mystery, with our spirit lifting us above that temporal actions of the priest into the divine and eternal reality of the High Priest: our Lord on the Cross.


2. The Orientation of the Priest
Traditionally, the priest has always faced east, standing before the altar leading the people in worship and sacrifice with Christ our Lord to our Father in heaven. The east is where the sun rises, a symbol of the rising of the Son of God, His glorious resurrection and the direction of His eventual second coming. Standing before the altar, the symbol of the offering of the sacrifice is clear to all, elevated slightly above the nave and the rest of the sanctuary, lifting the sacrifice heavenward in an act of worship and atonement.
Please note that I do not use the terminology "facing the altar" or "facing the people", because this inevitably confuses why the priest is standing before the altar and not behind it. The people who are there are following the priest along the path to eternal life. Holy Mass is not merely a meeting or an act of praise with the presider guiding the people: it is an act of sacrificial worship and a step to eternal life. We join the priest, who acts in "persona Christi", in offering the sacrifice, Christ Himself, to God the Father. The entire proceedings are a spiritual affair: we leave our worldly worries behind at the doorway and enter a place of dimmed lights, hushed tones and reverence towards the divine presence within. The priest leads the people in prayer and worship, we follow as his obedient flock, as a shepherd leads his sheep to green pastures and lush grass. It allows for intense prayer: the priest concentrates on the offering of the sacrifice, the people concentrate on following him and lifting their hearts up to the Father with their Lord on the cross. The interaction between priest and the faithful is minimised so that the interaction between the soul of each person and God is emphasised through the sacred liturgy.


3. The Prayers at the Foot of the Altar
The job of a priest is awesome indeed. Offering any sacrifice to God is a heavy responsibility. When the offering is also God, with God acting through your ordained ministry, the responsibility is beyond human comprehension. Suppose that when walking you turned a corner and met a priest talking to an angel, who would you greet first? The angel would be constantly in the presence of God, sinless and perfect in his praise and worship of God. However, you should greet the priest before the angel, due to the dignity of his vocation: in his capacity, he acts in "persona Christi" bringing forth the graces of God's sacraments, whilst an angel merely carries messages from God, he does not act in His place.
Due to this immense responsibility, in the traditional Latin Mass the priest approaches the altar with extreme care and awareness of his own unworthiness. Once the altar pieces are in place, he positions himself at the level of the surrounding sanctuary (normally two or three steps down from the altar itself) and starts the prayers at the foot of the altar. These include psalm 42, which pleads for God's grace, preparing the priest for his actions on the altar. He then, without moving forwards, bows down low and prays the Confiteor confessing to God - thrice - that through his own fault he has sinned exceedingly in thought, word and deed. The server pleads to God: "May almighty God have mercy on thee and, having forgiven thee thy sins, bring thee to life everlasting" - asking God for his forgiveness for the poor and frail priest! The Confiteor is then repeated, this time for the server and the faithful present, thus signifying a deep divide between priesthood and laity. The priest continues, with the server, in asking for God's help, and finally - after all this - ascends the steps to the altar with the prayer:

    "Take away from us our iniquities, we beseech Thee, O Lord; that, being made pure in heart we may be worthy to enter into the Holy of Holies. Through Christ our Lord. Amen."
These proceedings reflect the theology of the Old Testament priesthood, thus providing us with a continuation and fulfilment of that priesthood in the person of Christ Himself, and the priests He has since ordained. Once the Mass is over, the priest again bows low and offers up the following prayer:

    "May the lowly homage of my service be pleasing to Thee, O most holy Trinity: and do Thou grant that the sacrifice which I, all unworthy, have offered up in the sight of Thy majesty, may be acceptable to Thee, and, because of Thy loving-kindness, may avail to atone to Thee for myself and for those for whom I have offered it up. Through Christ our Lord. Amen."
Thus the priest further emphasises his inadequacy in offering the divine victim, recognising his human frailty before God and all those present. For me, this is a great expression of humility before Almighty God, who in His own infinite humility in the incarnation, instituted the Catholic priesthood in offering up the Eucharist until the end of the age.


4. The Use of Latin
The use of Latin in the Mass is very important. Firstly, it is the language of the Roman Catholic Church. It symbolises a real and true unity across the many countries in which the Mass is celebrated. Wherever you may enter a church in the Latin rite, the whole proceedings will be instantly familiar to you, bringing home an immediate feeling of the universality of the Church. The Catholic Church is truly universal, not fixed to one country or culture, but transcends national boundaries by simply using the same language, symbolising its unity in faith, authority and sources of revelation.
Secondly, Latin is a dead language. It is no longer used as a language in the streets, therefore it has stopped evolving as vernacular languages constantly do. Due to this, the meaning of the words has set in stone, and the liturgy does not need to be revised to avoid offending certain people for whom the words have taken on a different meaning. The dead language has, then, been turned into a "liturgical language" used for the liturgical celebration of the Church. This is not specific to the Latin rite either. The Russian Orthodox Church (although separate from Rome) uses Church Slavonic and the Greek Orthodox Church uses ancient Greek. When the Church was setting up in China, the missionaries there appealed to Rome that the locals truly could not use Latin as a language since it was so foreign to them. Subsequently, the Vatican decreed that the Church there could use ancient Chinese that was no longer in use, thus retaining its liturgical usage.

Thirdly, Latin exhibits a beauty and elegance that seemingly no vernacular tongue can match. Dietrich von Hildebrand, described by Pope Pius XII as a doctor of the 20th century Church, describes this feature as follows:

"Latin is in a unique position here. First, Latin grammar has an uncommon clarity, and to know it, is an incomparable training for our thinking. Secondly, Latin has a great beauty, a spiritual nobility of quite a special sort. This is also true of medieval Latin, which moreover produced works of highest poetical art and religious depth. One need only think of the Dies irae, which is ascribed to Thomas of Celano, of Jacapone da Todi's Stabat mater, of the magnificent hymns of St. Thomas Aquinas, of the sequences of Venantius Fortunatus, and many others. The role which Latin has played in history, especially in the liturgy, and the universality which it possesses, gives the learning of Latin quite a special place" ("The Devastated Vineyard" by Dietrich von Hildebrand, page 90).
Latin is not a barrier, but an invitation into the treasures of the Church, both in liturgy and music. It cannot be seen as an obstacle to potential converts, or to the laity in general, as the personal piety of the laity, and conversions to the Church and also to the priesthood, were flourishing when the Latin Mass was the jewel in the Church's crown.


5. The Gregorian Chant
As many popular music charts have indicated recently, the Gregorian chant appeals to the soul now as much as ever. Its sublime effect on the proceedings of the Mass is never to be underestimated; it truly seems to be music from heaven. St. Gregory the Great, a Pope in the 6th/7th centuries, organised the Church music and formally defined the Gregorian chant as it has been sung in the Church ever since. St. Pope Pius X further reformed the music of the Church, making a revision "not of the text but of the music. The Vatican Gradual of 1906 contains new, or rather restored, forms of the chants sung by the celebrant, therefore to be printed in the Missal" (according to Adrian Fortescue). Furthermore, the Second Vatican Council stated that the Gregorian chant "should be given pride of place in liturgical services" (Sacrosanctum concilium, 116). Mozart himself said that "he would gladly exchange all his music for the fame of having composed the Gregorian Preface", and Berlioz, who himself wrote a grandiose Requiem, said that "nothing in music could be compared with the effect of the Gregorian Dies Irae" (Latin Mass Society, newsletter no. 111, page 23).
The Gregorian chant connects with the soul, not the mind of the believer (and non- believer alike). Without any knowledge of the traditional Mass, people are somehow drawn towards the divine mysteries of the Church through the treasure of the Gregorian chant. I personally was at a loss in the first Latin Mass I ever attended - a Low Mass - but subsequently I attended a Sung Mass with the Gregorian chant and to term a present day saying: "I was blown away"! It has a mysterious quality that silences the senses and speaks directly to the spirit within, connects with that ever- present desire - however suppressed - that yearns for the "unmoved mover" Who answers all our questions and aspirations. The chant, an expression of most religions, has seemingly found its perfect setting in the Holy Sacrifice of the Mass - not the concert hall or opera house - but praising the merits of our Saviour before the Holy of Holies.


6. The Reception of Communion
The reception of Communion within the rubrics of the traditional Mass takes place within a sublime and prayerful world, separated from the rushed and physical world in which we live. Again, in the traditional Mass the physical actions of the faith are downplayed so that the spiritual aspect of our existence can revel and take precedence.
Firstly, the priest receives Holy Communion at a distinctly separate time apart from the servers and laity. He recites many beautiful prayers whilst consuming the Host and Chalice, before turning his attention to the servers and faithful present. He does, for instance, have a separate "Lord, I am not worthy..." prayer, said three times with the bell ringing. When he turns to the faithful, holding a piece of the Sacred Host towards them, he says "Behold the lamb of God...", and the faithful then recite their own "Lord, I am not worthy...", further emphasising the different roles of priest and laity.
Secondly, when the faithful themselves receive Communion, they receive It kneeling at the altar rail, and directly onto their tongue. This is very significant. Receiving Communion whilst kneeling means that the faithful line up in a row before the sanctuary, and thus have time to prepare themselves for this most sacred of events: coming into spiritual and substantial union with Christ Himself. The communicant kneels down, and whilst he waits for the priest to make his way around, he can settle himself, concentrate on the upcoming Communion with our Lord praying intensely. When it is his turn, the priest says the prayer: "May the body of Our Lord Jesus Christ keep your soul until life everlasting. Amen". This means, besides the beauty and the significance of the words themselves, that the priest says the word "Amen" so that the communicant need not invoke his voice to receive the King of Kings, allowing a constant stream of prayer and thanksgiving to flow from soul to Saviour. The communicant simply needs to expose his tongue, and his side of the proceedings is complete. Upon receiving Christ, he can continue praying for a little while, and only then does he need to return to his seat, leaving room for the next communicant. Moreover, having the priest come over to the communicant signifies that Christ comes to us, feeds us with His own divine life, whilst we wait kneeling and unmoving like little children totally dependent on His love, mercy and compassion. This is the message of the Gospel: to become like little children, submitting our wills to His and depending totally on Him for everything. We cannot even feed ourselves without Christ's help, and the action of Communion in the traditional manner demonstrates this in a very vivid manner.
Finally, receiving Communion directly on the tongue further increases the spiritual tranquillity of the whole act. The priest, as above, performs the entire action in dealing with the sacred Host Itself. The danger of leaving particles of the Host on one's own hands is then avoided, as well as more worrying sacrileges such as the Host being taken away, uneaten, dropped on the floor, or even taken to Satanic gatherings. If a particle is left on the communicant's hand, however small and invisible to the eye, It is still our Lord entire, Body, Blood, Soul and Divinity. He remains fully present in the species of the Host until the Host looses the accidents of bread. Moreover, if we are allowed to directly touch the Blessed Sacrament, we may become casual or careless in our Lord's presence, thus giving rise to irreverence before the great Sacrament Itself. Only allowing the priest to touch the Host also increases our respect and reverence, not only of the Blessed Sacrament, but of the priesthood itself and all who take it upon themselves to enter it. The sacred Host is, after all, the very substance of God incarnate: something that demands our extreme reverence and holy fear. To restrict touching It to the priesthood alone can only increase these virtues.


I have covered six main qualities of the traditional Latin Mass above which are certainly not the only ones. The whole ethos of the Mass exhibits a profound belief in the doctrines of the one true Church of Christ, especially in the Holy Sacrifice and the substantial presence of our Lord, Jesus Christ. The beauty and Catholicism of the offertory prayers confirm the doctrine of the Catholic faith in the upcoming consecration, unambiguously. The rubrics of the Mass are very strict; when we attend a Latin Mass we know what to expect - it depends on the Mass itself, not the personalities that surround it. The repeated genuflections of the priest before the sacred species confirm this most divine presence, as well as his repeated signs of the cross over It, before and after the consecration. Before the consecration these actions serve to bless and set the offering apart, after the consecration to signify the reality of the cross before us and its redemptive quality. The genuflections within the creed and the last gospel emphasise our belief in the profound doctrine of the incarnation, the centre of the Christian faith. The striking of the breast, during the Confiteor and the "Lord I am not worthy..." bring in all aspects of our existence to increase our realisation of own unworthiness and the infinite love and mercy of God.


The traditional Mass is not something heard or listened to. It is a divine experience seeping with the beauty of the faith, that touches the heart and soul of all who participate, giving a boost to the spirituality of those who immerse themselves in its mysteries. The secular world is the battleground; the Mass is the place that charges us up, puts us in touch with our divine mission and motivates us to face the prince of this world with great courage and faith.
I conclude by completing the quote by Cardinal Newman, who composed the following glowing praise for the Holy Sacrifice of the Mass, speaking by the mouth of his hero in his book "Loss and Gain":

"I declare, to me nothing is so consoling, so piercing, so thrilling, so overcoming, as the Mass, said as it is among us. I could attend Masses forever and not be tired. It is not a mere form of words, it is a great ACTION - the greatest action that can be on earth. It is not the invocation merely, but, if I dare use the word, the evocation of the Eternal. He becomes present on the altar in flesh and blood, before Whom the angels bow and devils tremble. This is that awful event which is the end and is the interpretation of every part of the solemnity. Words are necessary, but as means, not as ends; they are not mere addresses to the throne of grace, they are instruments of what is far higher, of consecration, of sacrifice. They hurry on, as if impatient to fulfil their mission. Quickly they go - the whole is quick; for they are all parts of one integral action. Quickly they pass, for the Lord Jesus goes with them, as He passed along the lake in the days of His flesh, quickly calling first one and then another. Quickly they pass, because as the lightning which shineth from one part of the heaven unto the other, so is the coming of the Son of man. Quickly they pass; for they are as the words of Moses, when the Lord came down in the cloud, calling on the name of the Lord as He passed by: 'The Lord, the Lord God, merciful and gracious, long-suffering and abundant in goodness and truth.' And as Moses on the mountain, so we, too, 'make haste and bow our heads to the earth, and adore.' So we, all around, each in his place, looking out for the great Advent, 'waiting for the moving of the water,' each in his place, with his own heart, with his own wants, with his own thoughts, with his own intentions, with his own prayers, separate but concordant, watching what is going on, watching its progress, uniting in its consummation; not painfully and hopelessly following a hard form of prayer from beginning to end, but like a concert of musical instruments, each differing but concurring in a sweet harmony, we take our part with God's priest, supporting him, yet guided by him. There are little children there, and old men, and simple laborers, and students in seminaries, priests preparing for Mass, priests making their thanksgiving; there are innocent maidens, and there are penitent sinners; but out of these many minds rises one eucharistic hymn, and the great Action is the measure and the scope of it."

fonte:http://www.latin-mass-society.org/

Spiritualité de la Messe : L’assistance à la Messe, source de sanctification

La sanctification de notre âme se trouve dans une union chaque jour plus intime avec Dieu, union de foi, de confiance et damour. Dès lors un des plus grands moyens de sanctification est lacte le plus élevé de la vertu de religion et du culte chrétien : la participation au sacrifice de la Messe. Pour toute âme intérieure, la Messe doit être chaque matin comme la source éminente, doù dérivent les grâces dont nous avons besoin dans le cours de la journée, source de lumière et de chaleur, semblable, dans lordre spirituel, à ce quest le lever du soleil dans lordre de la nature. Après la nuit et le som­meil, qui sont comme une image de la mort, le soleil réapparaissant chaque matin rend en quelque sorte la vie à tout ce qui se réveille à la surface de la terre. Si nous connaissions profondément le prix de la messe quo­tidienne, nous verrions quelle est comme un lever de soleil spirituel, pour renouveler, conserver et augmenter en nous la vie de la grâce, qui est la vie éternelle com­mencée. Mais trop souvent lhabitude dassister à la messe, par manque desprit de foi, dégénère en routine, et nous ne recevons plus alors du saint sacrifice tous les fruits que nous devrions en recevoir.
Ce devrait être pourtant l’acte le plus grand de chacune de nos journées, et dans la vie dun chrétien, surtout dun religieux, tous les autres actes quotidiens ne devraient être que l’accompagnement de celui-là, notam­ment toutes les autres prières et les petits sacrifices que nous devons offrir au Seigneur dans la journée.
Rappelons ici : 1° ce qui fait la valeur du sacrifice de la messe, 2° quel est le rapport de ses effets avec nos dis­positions intérieures, 3° comment nous devons nous unir au sacrifice eucharistique.
*
* *

L’oblation toujours vivante au cœur du christ

Lexcellence du sacrifice de la Messe vient, dit le Concile de Trente[1], de ce que cest le même sacrifice en substance que celui de la Croix, parce que cest le même prêtre qui continue actuellement de soffrir par ses ministres, cest la même victime, réellement présente sur lautel, qui est réellement offerte ; seule la manière de loffrir diffère : tandis quil y eut sur la Croix une immolation sanglante, il y a à la Messe une immolation sacramentelle par la séparation, non pas physique, mais sacramentelle du corps et du sang du Sauveur, en vertu de la double consécration. Ainsi le sang de Jésus, sans être physiquement répandu, est sacramentellement répandu[2].
Cette immolation sacramentelle est un signe[3] de loblation intérieure de Jésus, à laquelle nous devons nous unir ; elle est aussi le mémorial de limmolation sanglante du Calvaire. Bien qu’elle soit seulement sacramentelle, cette immolation du Verbe de Dieu fait chair est plus expressive que limmolation sanglante de lagneau pascal et de toutes les victimes de lAncien Testament. Un signe tire en effet sa valeur expressive de la grandeur de la chose signifiée ; le drapeau qui nous rappelle la patrie, fût-il dune étoffe commune, a plus de prix à nos yeux que le fanion particulier dune compagnie ou que linsigne dun officier. De même limmolation sanglante des victimes de lAncien Testament, figure éloignée du sacrifice de la Croix, exprimait seulement les sentiments intérieurs des prêtres et des fidèles de lancienne Loi ; tandis que limmolation sacramentelle du Sauveur sur nos autels exprime surtout l’oblation intérieure toujours vivante au cœur du « Christ qui ne cesse d’intercéder pour nous » (Hébr., VII, 25).
Or cette oblation, qui est comme lâme du sacrifice de la Messe, a une valeur infinie, quelle puise en la personne divine du Verbe fait chair, prêtre principal et victime, dont limmolation continue sous une forme sacramentelle.
Saint Jean Chrysostome écrit : « Lorsque vous voyez à lautel le ministre sacré élevant vers le ciel la sainte hos­tie, nallez pas croire que cet homme soit le prêtre véri­table (principal), mais, élevant vos pensées au-dessus de ce qui frappe les sens, considérez la main de Jésus-Christ invisiblement étendue[4]. » Le prêtre que nous voyons de nos yeux de chair ne peut pénétrer toute la profondeur de ce mystère, mais au-dessus de lui il y a lintelligence et la volonté de Jésus prêtre principal. Si le ministre nest pas toujours ce quil devrait être, le prêtre principal est infiniment saint ; si le ministre, même lorsquil est très bon, peut être légèrement distrait ou occupé des cérémonies extérieures du sacrifice, sans en pénétrer le sens intime, il y a au-dessus de lui quelquun qui nest pas distrait et qui offre à Dieu en pleine connaissance de cause une adoration réparatrice dune valeur infinie, une supplication et une action de grâces dune portée sans limites.
Cette oblation intérieure toujours vivante au cœur du Christ est donc bien pour ainsi dire lâme du sacrifice de la Messe. Elle est la continuation de celle par laquelle Jésus soffrit comme victime en entrant en ce monde et dans tout le cours de son existence terrestre, surtout sur la Croix. Quand le Sauveur était sur la terre, cette oblation était méritoire ; maintenant elle continue sans cette modalité du mérite. Elle continue sous forme dadoration réparatrice et de supplication, pour nous appliquer les mérites passés de la Croix. Même lorsque la dernière Messe sera achevée à la fin du monde, et quil ny aura plus de sacrifice proprement dit, mais sa consommation, loblation intérieure du Christ à son Père durera, non plus sous forme de réparation et de supplication, mais sous forme d’adoration et daction de grâces. Cest ce que nous fait prévoir le Sanctus, Sanctus, Sanctus, qui donne quelque idée du culte des bienheureux dans léternité.
Sil nous était donné de voir immédiatement lamour qui inspire cette oblation intérieure, qui dure sans cesse au cœur du Christ, « toujours vivant pour intercéder pour nous », quelle ne serait pas notre admiration !
La Bienheureuse Angèle de Foligno nous dit[5] : « Jai non pas la pensée vague, mais la certitude absolue que, si une âme voyait et contemplait quelquune des splendeurs intimes du sacrement de lautel, elle prendrait feu, car elle verrait lamour divin. Il me semble que ceux qui offrent le sacrifice, ou qui y prennent part, devraient méditer profondément sur la vérité profonde du mystère trois fois saint, dans la contemplation duquel nous devrions demeurer immobiles et absorbés. »
*
* *

Les effets du sacrifice de la messe et nos dispositions intérieures

Loblation intérieure du Christ Jésus, qui est lAme du sacrifice eucharistique, a les mêmes fins et les mêmes effets que le sacrifice de la Croix, mais il importe de dis­tinguer, parmi ces effets, ceux qui sont relatifs à Dieu et ceux qui nous concernent.
Les effets de la Messe immédiatement relatifs à Dieu, comme ladoration réparatrice et laction de grâces, se produisent toujours infailliblement et pleinement avec leur valeur infinie, même sans notre concours, même si la Messe était célébrée par un ministre indigne, pourvu quelle soit valide. De chaque Messe sélève ainsi vers Dieu une adoration et une action de grâces dune valeur sans limites, à raison de la dignité du Prêtre principal qui offre et du prix de la victime offerte. Cette oblation « plait plus à Dieu que tous les péchés réunis ne lui déplaisent » ; cest là ce qui constitue lessence même du mystère de la Rédemption par manière de satisfaction[6].
Quant aux effets de la Messe, qui sont relatifs à nous, ils ne se répandent que dans la mesure de nos dispositions intérieures.
Cest ainsi que la Messe, comme sacrifice propitiatoire, obtient ex opere operato aux pécheurs qui ny résistent pas, la grâce actuelle qui les porte à se repentir et qui leur inspire daller se confesser de leurs fautes[7]. Les paroles Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine, produisent en ceux des pécheurs qui ny mettent pas dobstacle des sentiments de contrition, comme le sacrifice de la Croix les produisit en lâme du bon larron. Il sagit ici surtout des pécheurs qui assistent à la Messe ou de ceux pour qui elle est dite.
Le sacrifice de la Messe, comme satisfactoire, remet aussi infailliblement aux pécheurs repentants une partie au moins de la peine temporelle due au péché, et cela en proportion des dispositions plus ou moins parfaites avec lesquelles ils y assistent. Cest pour cela, dit le Concile de Trente, que le sacrifice eucharistique peut être offert aussi pour la délivrance des âmes du purgatoire[8].
Enfin comme sacrifice impétratoire ou de Supplication, la Messe nous obtient ex opere operato toutes les grâces dont nous avons besoin pour nous sanctifier. Cest la grande prière du Christ toujours vivant qui continue pour nous, accompagnée de la prière de lEglise, Epouse du Sauveur. Leffet de cette double prière est propor­tionné à notre ferveur, et celui qui sy unit de son mieux est sûr dobtenir pour lui et ceux qui lui sont chers, les grâces les plus abondantes.
Selon saint Thomas et beaucoup de théologiens, ces effets de la Messe relatifs à nous ne sont limités que par la mesure de notre ferveur[9]. La raison en est que lin­fluence dune cause universelle nest limitée que par la capacité des sujets qui la reçoivent. Ainsi le soleil éclaire et réchauffe sur une place aussi bien mille personnes quune seule. Or le sacrifice de la Messe, étant substantiellement le même que celui de la Croix, est, par manière de réparation et de prière, une cause universelle de grâces, de lumière, dattrait et de force. Son influence sur nous nest donc limitée que par les dispositions ou la ferveur de ceux qui la reçoivent. Ainsi une seule messe peut être aussi profitable pour un grand nombre de personnes que si elle était offerte pour une seule dentre elles ; tout comme le sacrifice de la Croix ne fut pas moins profitable au bon larron que sil avait été offert pour lui seul. Si le soleil réchauffe aussi bien sur une place mille personnes quune seule, linfluence de cette source de chaleur spirituelle quest la Messe nest certes pas moindre dans son ordre. Plus on y assiste avec foi, confiance, religion et amour, plus grands sont les fruits qu’on en retire.
Tout cela nous montre pourquoi les saints, à la lumière des dons du Saint-Esprit, ont toujours tant apprécié le Sacrifice de la Messe. Certains, quoique infirmes et malades, voulaient se traîner à la messe, parce quelle vaut plus que tous les trésors. Sainte Jeanne dArc, se rendant à Chinon, importunait ses compagnons darmes et obtenait deux, à force dinstances, dassister chaque jour à la messe. Sainte Germaine Cousin était si fortement attirée vers lEglise quand elle entendait la cloche annoncer le saint sacrifice, quelle laissait ses brebis à la garde des anges et courait assister à la messe ; toujours son trou­peau fut bien gardé. Le saint Curé dArs parlait du prix de la Messe avec une telle conviction, quil avait obtenu que tous ou presque tous ses paroissiens y assistassent. Nombre dautres saints versaient des larmes damour ou tombaient en extase pendant le sacrifice eucharistique ; quelques-uns ont vu à la place du célébrant Notre-Seigneur lui-même, le Prêtre principal. Dautres, à lélévation du calice, virent le précieux sang déborder, comme sil allait se répandre sur les bras du prêtre et dans le sanctuaire, et des anges venir avec des coupes dor pour le recueillir, comme pour le porter partout où il y a des hommes à sauver. Saint Philippe de Néri reçut des grâces de ce genre et se cachait pour célébrer, à cause des ravissements qui souvent le saisissaient à lautel.
*
* *

Comment nous unir au sacrifice eucharistique ?

On peut appliquer à ce sujet ce que saint Thomas[10] dit de lattention dans la prière vocale : « Elle peut porter, soit sur les mots, pour les bien prononcer, soit sur le sens des mots, soit sur la fin de la prière, cest-à-dire sur Dieu et la chose pour laquelle on prie Cette dernière attention, que des simples sans culture peuvent avoir, est quelquefois si grande que lesprit est comme porté en Dieu et oublie tout le reste. »
De même pour bien assister à la messe, avec foi, confiance, vraie piété et amour, on peut la suivre de différentes manières. On peut être attentif aux prières liturgiques, généralement si belles et si pleines donction, délévation et de simplicité. On peut aussi se rappeler la Passion et la Mort du Sauveur, dont la messe est le mémorial, et se considérer comme étant au pied de la Croix avec Marie, Jean, les saintes femmes. On peut encore sappliquer à rendre à Dieu, en union avec Jésus, les quatre devoirs qui sont les fins du Sacrifice : adoration, réparation, demande et action de grâces[11]. Pourvu que lon prie, même en récitant pieusement son chapelet, on assiste fructueusement à la messe. On peut aussi avec grand profit, comme sainte Jeanne de Chantal et beaucoup de saints, y continuer son oraison, surtout si lon est porté à un amour pur et intense, un peu comme saint Jean à la Cène reposant sur le Cœur de Jésus.
Mais de quelque manière quon suive ainsi la Messe, Il Importe dinsister sur une chose importante. Il faut surtout nous unir profondément à l’oblation du Sauveur, prêtre principal : Avec lui, il faut loffrir à son Père, en nous rappelant que cotte oblation plait plus à Dieu que tous les péchés ne lui déplaisent. Il faut nous offrir aussi chaque jour plus profondément, offrir particulièrement les peines et contrariétés que nous avons déjà à porter et celles qui ce présenteront dans la journée.
Cest ainsi quà loffertoire le prêtre dit : « In spiritu humilitatis et in animo contrito suscipiamur a te, Domine : Cest avec un esprit humilié et un cœur contrit que nous vous demandons, Seigneur, de nous recevoir. »
Lauteur de lImitation, I. IV, ch. VIII, insiste à bon droit sur ce point : Le Seigneur y dit : « Comme je me suis offert volontairement à mon Père pour vos péchés, sur la croix, ainsi vous devez tous les jours, dans le sacrifice de la Messe, vous offrir à moi, comme une hostie pure et sainte, du plus profond de votre cœur… Cest vous que je veux et non pas vos dons Si vous demeurez en vous-mêmes, si vous ne vous abandonnez pas sans réserve à ma volonté, votre oblation nest pas entière, nous ne serons pas unis parfaitement. »
Au chapitre suivant, le fidèle répond : « Dans la simplicité de mon cœur, je moffre à vous, mon Dieu, pour vous servir à jamais Recevez-moi avec loblation sainte de votre précieux Corps Je vous offre aussi tout ce quil y a de bon en moi, si imparfait que ce soit, pour que vous la rendiez plus digne de vous. Je vous offre encore tous les pieux désirs des âmes fidèles, la prière pour ceux qui me sont chers la supplication pour ceux qui mont offensé ou attristé, pour ceux aussi que jai moi-même affligés, blessés, scandalisés, le sachant ou non, afin que vous nous pardonniez à tous nos offenses mutuelles et faites que nous soyons dignes de jouir ici-bas de vos dons et darriver à léternelle vie. »
La Messe ainsi comprise est une source féconde de sanctification, de grâces toujours nouvelles ; par elle peut se réaliser de mieux en mieux pour nous chaque jour la prière du Sauveur : « Je leur ai donné la lumière que vous mavez donnée, afin quils soient un comme nous sommes un, moi en eux et vous en moi, afin quils soient parfaitement un, et que le monde connaisse que vous mavez envoyé et que vous les avez aimée comme vous mavez aimé » (Jean, XVII, 23).
La visite au Saint-Sacrement doit nous rappeler la messe du matin, et nous devons penser que dans le Tabernacle, sil ny a pas de sacrifice proprement dit, lequel cesse avec la messe, cependant Jésus réellement présent continue dadorer, de prier et de rendre grâces. Cest à toute heure du jour que nous devrions nous unir à cette oblation du Sauveur. Comme le dit la prière au Cœur Eucharistique : « Il est patient à nous attendre, pressé à nous exaucer ; il est le foyer de grâces toujours nouvelles, le refuge de la vie cachée, le maître des secrets de lunion divine. » Nous devons, près du Tabernacle, « nous taire pour lentendre, et nous quitter pour nous perdre en lui »[12].
Rome, Angelico.
Fr. Réginald Garrigou-Lagrange, O.P.


[1] Session XXII, cap. I et II.
[2] De même lhumanité du Sauveur reste numériquement la même, mais depuis sa résurrection elle est impassible, tandis quau­paravant elle était sujette à la douleur et à la mort.
[3] « Sacrificium externum est in genere signi, ut signum interioris sacrificii. »
[4] Homil. LX au peuple dAntioche.
[5] Livre de ses visions et instructions, chap. LXVII.
[6] Cf. S. Thomas, IIIa, q. 48, a. 2 : « Ille proprie satisfacit pro offensa, qui exhibet offenso id quod æque vel magis diligit, quam oderit offensam. »
[7] Cf. Concile de Trente, sess. XXII, c. II : « Hujus quippe obla­tione placatus Dominus, gratiam et donum pœnitentiæ concedens, crimina et peccata etiam ingentia dimittit. »
[8] Ibidem.
[9] Cf. S. Thomas, IIIa, q. 79, a. 5 et a. 7 ad 2um, où il n’y a pas dautre limite indiquée que celle de la mesure de notre dévotion « secundum quantitatem seu modum devotionis eorum » (id est : fidelium). Cajetan, In IIIam, q. 79, a. 5. Jean de Saint-Thomas, In IIIam, disp. 32, a. 3. Gonet, Clypeus De Eucharistia, disp. II, a. 5. n° 100. Salmanticenses, de Eucharistia, disp. XIII, dub. VI. Nous nous séparons tout à fait de ce qua écrit à ce sujet le P. de la Taille, Esquisse du mystère de la foi, Paris, 1924, p. 22.
[10] IIa IIae, q. 82, a. 13.
[11] La première partie de la messe jusquà loffertoire nous ins­pire des sentiments de pénitence et de contrition (Confiteor, Kyrie eleison), dadoration et de reconnaissance (Gloria in excelsis), de supplication (Collecte), de foi vive (Epitre, Evangile, Credo), pour nous préparer à loffrande de la sainte Victime, suivie de la communion et de laction de grâces.
[12] Nous recommandons, pour lire pendant la visite au Saint­-Sacrement ou pour méditer comme sujet doraison, Les élévations sur la Prière au Cœur Eucharistique de Jésus, qui ont été publiées pour la première fois en 1926, Editions de la Vie Spirituelle.
Par le P. Reginald Garrigou-Lagrange, O.P.
Extrait de la Vie Spitituelle n°187, du 1er Avril 1935
FONTE:SALVE REGINA