No próximo mês de fevereiro terminam as comemorações do IV centenário do nascimento da Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento, carmelita descalça de Beaune (França), que teve um papel preponderante no incremento da devoção à Santa Infância de Jesus.

Margarida Parigot nasceu no dia 7 de fevereiro de 1619, em Beaune. Era a quinta filha do casal Joana Bataille e Pedro Parigot, à qual se seguiram ainda mais dois irmãos. Nascida no seio de uma família profundamente cristã, que vivia do trabalho agrícola e da vinha, Margarida foi batizada no mesmo dia em que nasceu.

Seis meses após o nascimento, algumas religiosas vindas do Carmelo de Dijon, depois de vários intentos e dificuldades fundaram um novo Carmelo em Beaune. O Cónego que cedeu ao Carmelo o priorado de Santo Estevão era tio-avô de Margarida, contudo, ele impôs uma condição: que a sua sobrinha-neta fosse recebida no mosteiro, quando tivesse idade para isso, na qualidade de “fundadora”. E eis que, apenas com seis meses, Margarida se tornou a “fundadora” do Carmelo de Beaune. Como os casamentos eram arranjados e combinados pelas famílias, o mesmo se passava com as vocações. Margarida poderia ter-se revoltado por ter sido destinada à clausura do Carmelo sem o seu consentimento, mas, sempre animada pelo Espírito Santo, aberta à graça de Deus, desde pequenina, atingiu muito precocemente uma grande maturidade espiritual, aceitando não só aquela vocação como vendo nela a vontade de Deus a seu respeito.

De carácter dócil, amável, graciosa, aliava aos seus dons naturais uma profunda vida de piedade. Aos cinco anos sentiu-se totalmente atraída pelo Santíssimo Sacramento que amava profundamente e, no segredo do seu coração, fez a Deus a oferta de si mesma. Manifestou sempre uma grande preocupação e ternura para com os pobres. De rosto fino, sorriso largo, encantava todos os que a rodeavam. Todavia, a sua infância além de rosas, teve também espinhos. Sofreu acessos de melancolia e convulsões que a faziam delirar. Mas em todos os sofrimentos físicos e morais mostrava sempre grande paz e serenidade, não cedendo ao desespero e mantendo-se fiel à oração. Com dez anos ela escreveu: «quando o Bom Deus nos envia sofrimentos nós devemos esforçar-nos por escondê-los e não demonstrá-los aos outros, pois eles não são obrigados a aguentá-los.»

A morte da sua mãe trouxe o luto e a tristeza a Margarida que, imediatamente, diante duma imagem de Nossa Senhora suplicou-lhe que ocupasse o lugar da sua mãe falecida. No íntimo do seu coração sentiu que a sua oração foi atendida.

Na mesma tarde das exéquias da Sra. Parigot Margarida, com onze anos e meio, vestida de luto, foi conduzida pelo seu pai ao Carmelo. Acolhida pela Madre Isabel da Trindade, prioresa, e a Madre Maria da Trindade, mestra de noviças, apesar da tristeza que sentia pela perda da sua mãe, sentiu-se inundada de alegria. No dia seguinte fez a sua Primeira Comunhão e entendeu Jesus dizer-lhe: «Minha pequena esposa».

Rapidamente adaptou-se à vida comunitária. Ela que já nutria uma profunda devoção ao Mistério da Encarnação de Cristo descobriu e encantou-se com a devoção ao Menino Jesus no Carmelo, introduzida e difundida por Santa Teresa de Jesus.

No dia 6 de junho de 1631, com doze anos, Margarida recebeu o hábito e logo a seguir iniciou o seu noviciado, tomando o nome de Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento. Na Epifania de 1632 ela assinou o seu ato de consagração como Esposa do Menino Jesus no presépio. Fez a sua Profissão Solene no dia 24 de junho de 1635 e Jesus apareceu-lhe sob a forma de um menino fazendo-lhe esta promessa: «Eu não recusarei nada do que me pedires na oração».

O ano de 1636 foi um ano medonho para a França com guerras e invasões. Jesus confiou a Margarida: «É pelos méritos do Mistério da minha Infância que tu superarás todas as dificuldades». Foi nesta altura que Margarida criou a “Família do Santo Menino Jesus” em que os membros, envolvidos das virtudes da Santa Infância, deveriam recitar a pequena coroa (terço) do Menino Jesus, composta por ela por inspiração divina, devoção esta que rapidamente ultrapassou os limites do mosteiro. A coroinha do Menino Jesus é um pequeno terço composto por três Pai-Nossos para honrar a Sagrada Família e doze Avé-Marias em honra dos doze primeiros anos de Jesus. O próprio Menino Jesus revelou à Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento o quanto esta prática Lhe era agradável, pelo que a Sua mensageira se empenhou em propagá-la.

Em 1643, o Barão Gaston de Renty, normando, tendo conhecimento das revelações do Menino Jesus à Irmã Margarida e a devoção à Santa Infância de que ela se tornou fervorosa apóstola, enviou para o Carmelo de Beaune uma estátua do Menino Jesus que seria designado por Menino Jesus Rei da Graça. Instalada na capela, a partir de então, tornou-se ponto de referência e de peregrinação dos devotos da Santa Infância de Jesus e onde aos Seus pés pobres e ricos confiavam as suas necessidades e encontravam alívio para os seus males do corpo e da alma.

Margarida faleceu no dia 26 de maio de 1648, contando 29 anos. Depois de um processo de beatificação muito atribulado e com interregnos, a Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento foi declarada Venerável em 1905, aguardando-se, com a graça de Deus que rapidamente chegue aos altares.

António José, ocds