quinta-feira, 10 de agosto de 2023

O SANTO PADRE CRUZ

 


A 2 de outubro, lia-se no Diário de Notícias: "Morreu o Padre Cruz, o homem que fez da sua vida uma dádiva constante aos que precisavam de auxílio e amparo".

Nascido em Alcochete em 1859, formado em Teologia em Coimbra, Francisco da Cruz era considerado "o mais sensível dos padres", lembra o vice-postulador Dário Pedroso. "Não havia terra por onde passasse e não visitasse os pobres nos seus bairros, os doentes nos hospitais e manicómios, mas também os presos". E ainda hoje "não há nenhum outro padre em Portugal que se compare a este", garante.



"Era um apaixonado por servir", de norte a sul do país, principalmente os oprimidos. Por isso, mesmo nas épocas políticas mais conturbadas "ninguém lhe tocava". "Os pobres protegiam-no tanto que não deixavam que nada de mal lhe acontecesse", conta Dário.

Na fila para o jazigo, partilham-se histórias deste falecido sacerdote. Evocam milagres nos quais escolheram acreditar, sem pensar duas vezes, mesmo não tendo assistido aos mesmos. "Ai, era um homem tão bom". Tão bom, dizem, que um dia, à entrada da igreja de São Domingues, recebeu uma esmola guardada num envelope de uma senhora e, no minuto a seguir, terá dado o envelope a um pobre que ali passou, sem o ter aberto primeiro. "Eram seis contos". Isto em tempo de fome e guerra, acrescenta o padre Dário Pedroso.

A mais célebre das histórias talvez nem seja esta, adianta. E também se ouve na fila dos que esperam para orar junto do corpo do falecido. Sem dinheiro nos bolsos, o padre Cruz terá pedido para que o deixassem fazer uma viagem de comboio. A resposta foi negativa, mas "o milagre aconteceu", ouve-se: sem explicação, o comboio não andou enquanto não embarcasse.

Foi considerado santo ainda em vida, mas ainda hoje espera pela conclusão do processo de beatificação. O pedido de canonização foi iniciado em Lisboa em 1951, três anos após a sua morte, e encontra-se atualmente em Roma. Aguarda por relatos históricos da população que conviveu com ele e assistiu aos seus feitos. Não existe, remata o padre, por "falta de conhecimento" destas pessoas, que não sabem como é necessário chegar a estas narrações. "Mas lá chegaremos."