domingo, 20 de maio de 2012

Uma geração que desponta . Missa pro sponso et sponsa – Igreja da Rainha Santa, Coimbra (Portugal)

 

Uma geração que desponta


Três minutos antes da hora marcada, entrei, nervosíssimo, na Igreja da Rainha Santa (Isabel), na sempre encantadora cidade de Coimbra. Tratava-se de um casamento que, não sendo o meu, o senti como meu. Há casamentos a que se vai por obrigação, há casamentos a que se vai com o maior gosto. Se a profunda admiração pelos noivos garantia a minha alegria, a clara noção de ver a história a acontecer – e de ter consciência disso – colocava-me em sentido, com aquele nervosismo próprio de quem se sente espectador e participante privilegiado de um grande momento.

Ouvi num sermão (homilia), há algum tempo, uma observação interessantíssima: os jornais quase nunca publicam os eventos realmente mais importantes, caso contrário as suas páginas estariam repletas de descrições eucarísticas e dos restantes sacramentos, que são o que de realmente importante se faz (ou, melhor dito, é feito) nesta terra.

Estou certo de que, se os jornais atendessem deveras à verdadeira importância dos acontecimentos, o casamento e a respectiva missa nupcial em que tive a honra de assistir e participar ocupariam grande parte da primeira página, porventura com um título como: “O despontar de uma geração”, ou, citando a Sagrada Escritura, “Eis que renovo todas as coisas”.

Tratou-se do primeiro casamento em Portugal anunciado e celebrado publicamente no rito tradicional (“forma extraordinária do rito romano”) de acordo com as disposições do Motu Proprio “Summorum Pontificum” de Bento XVI.

Impressionou-me de sobremaneira, no alargado compasso de espera até à entrada processional da noiva, contemplar o espaço em que tudo isto se iria realizar. A magnífica igreja, de uma imponência que não esmaga, mas ao contrário, protege, qual Arca de Noé. O olhar materno da nossa Rainha Santa Isabel, o qual recorda um olhar de outra Mãe e Rainha nossa. Por fim, aquilo que talvez tenha captado mais a minha atenção: no topo da igreja, o escudo de Portugal.

Ao altar, à hora marcada, subiu o Rev. Cónego Raul Olazábal, acompanhado de quatro ajudantes de missa, três deles espanhóis, que, não sendo seminaristas, fizeram, tal como o Rev. Cónego, uma dura e longa viagem desde Madrid sem outro motivo que a Caridade, o Amor Cristão. Que contraste com tantos eclesiásticos e leigos, acomodados nas suas torres de marfim, presos em burocracias ou escravos da rotina.

Perante todo este cenário, relembrava repetidamente um trecho do histórico sermão da Missa de Coroação do Rei Juan Carlos I de Espanha, proferido pelo Cardeal Enrique y Tarancón, que me parecia resumir os meus sentimentos: “Oxalá um dia, quando Deus e as gerações futuras do nosso povo, que nos julgarão a todos, julgarem esta hora, possam também bendizer os frutos da tarefa que hoje começais – e começamos!”

“E começamos!”. Sim, este casamento foi também meu, nosso, de todos os Portugueses comprometidos com o verdadeiro renovamento da Igreja. Quantas dificuldades, quantos obstáculos, quantas armadilhas tentaram impedir este dia. Quanto não tiveram os noivos que suportar por terem escolhido o rito tradicional para o seu casamento. Houve uma altura em que eu próprio não os compreendi: para quê sofrer tanto por uma “mera” forma litúrgica?

Mas então compreendi. Suportando tudo com heroicidade e paciência Cristã, os noivos crucificaram-se com Cristo, oferecendo-se eles próprios em sacrífico espiritual propter nos homines, et propter nostram salutem. Ofereceram-se em particular por todos os Portugueses, pela Igreja Portuguesa, por Portugal, para que a chama da fé, anémica, quase extinta nos nossos dias, volte ao fulgor de outrora.

Se o grão de trigo morrer, dará muito fruto. Enquanto o incenso subia até à face de Deus, compreendi presenciar o primeiro e fulgurante raio de luz que dispersa a noite mais sombria, e que anuncia já o amanhecer. Eis que uma nova geração toma nas mãos o seu destino, para o oferecer a Deus. Suscipe Sancta Trinitas, hanc oblationem, quam tibi offerimus.

Por Hugo Pinto Abreu


Como tínhamos anunciado, realizou-se no passado dia 12 de Maio, na igreja da Rainha Santa em Coimbra, uma Missa Cantata. Foi, especificamente, uma Missa pro sponso et sponsa. O sacramento do Matrimónio foi oficiado pelo Rev. Pe. Raul Olazábal, ICRSS, que também celebrou a Missa. De que tenhamos conhecimento, este é o primeiro casamento ao abrigo de Summorum Pontificum em Portugal desde 2007. Seguem algumas fotografias; em tempo será disponibilizado alguns vídeos da Missa.
A sua realização deveu-se, em parte, devido aos esforços tanto da Una Voce Portugal como da FIUV. Esperamos que, com este casamento, os demais Portugueses interessados em receber os Sacramentos segundo o usus antiquior sejam encorajados a entrar em contacto connosco, para os podermos ajudar a implementar o Summorum Pontificum em Portugal.













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