sábado, 13 de dezembro de 2008



Papa Bento XVI

Queridos irmãos
e irmãs!

"Gaudete in Domino semper - Alegrai-vos sempre no Senhor" (Fl 4, 4). Inicia com estas palavras de São Paulo a Santa Missa do 3º Domingo do Advento, que por isso é chamado domingo "gaudete". O Apóstolo exorta os cristãos a alegrar-se porque a vinda do Senhor, isto é, a sua vinda gloriosa, é certa e não tardará. A Igreja faz seu este convite, enquanto se prepara para celebrar o Natal e o seu olhar dirige-se cada vez mais para Belém. De facto, nós aguardamos com esperança certa a segunda vinda de Cristo, porque conhecemos a primeira.

O mistério de Belém revela-nos o Deus connosco, o Deus que está próximo de nós, não só em sentido espacial e temporal; Ele está próximo porque "abraçou", por assim dizer, a nossa humanidade; assumiu a nossa condição, escolhendo ser em tudo como nós, excepto no pecado, para fazer com que nos tornássemos como Ele. Portanto, a alegria cristã brota desta certeza: Deus está próximo, está comigo, está connosco, na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença, como amigo e esposo fiel. E esta alegria persiste também nas provações, no próprio sofrimento, e não permanece na superfície, mas no profundo da pessoa que se recomenda a Deus e n'Ele confia.




Papa Bento XVI

Alguns perguntam: mas ainda é possível hoje esta alegria? A resposta dão-na, com a sua vida, homens e mulheres de todas as épocas e condições sociais, felizes por consagrar a sua existência ao próximo! Não foi porventura a Beata Madre Teresa de Calcutá, nos nossos tempos, uma testemunha inesquecível da verdadeira alegria evangélica? Viver quotidianamente em contacto com a miséria, a degradação humana, a morte. A sua alma conheceu a prova da noite escura da fé, mas contudo deu a todos o sorriso de Deus. Lemos num seu escrito: "Nós aguardamos com impaciência o paraíso, onde está Deus, mas depende de nós estar no paraíso já aqui na terra e desde este momento. Ser feliz com Deus significa: amar como Ele, ajudar como Ele, doar como Ele, servir como Ele" .

Sim, a alegria entra no coração de quem se põe ao serviço dos pequeninos e dos pobres. Deus habita em quem ama deste modo, e a alma está em júbilo. Se ao contrário se faz da felicidade um ídolo, erra-se o caminho e é verdadeiramente difícil encontrar a alegria de que fala Jesus. Infelizmente, é esta a proposta das culturas que colocam a felicidade individual no lugar de Deus, mentalidade que encontra um efeito emblemático na busca do prazer a todo o custo, na difusão do uso de drogas como fuga, como refúgio em paraísos artificiais, que depois se revelam totalmente ilusórios.

Queridos irmãos e irmãs, também no Natal se pode errar o caminho, trocar a verdadeira festa com a que não abre o coração à alegria de Cristo. A Virgem Maria ajude todos os cristãos, e os homens em busca de Deus, a chegar a Belém, para encontrar o Menino que nasceu para nós, para a salvação e a felicidade de todos os homens.

Onze anos atrás (1997), foi publicado, na Itália, um livro do Cardeal Ratzinger, no qual ele contava passagens de sua vida até 1977. O livro foi editado pela San Paolo e se intitulava La mia Vita. Somente em 2006, a editora Paulinas publicou esse livro no Brasil, lembrando, na capa de sua edição, que o outrora Cardeal Ratzinger é, hoje, o Papa Bento XVI.
O livro, hoje, depois de onze anos, paradoxalmente se mostra muito mais atual do que em 1997, pois nele se podem ler frases que explicam o que Bento XVI está fazendo em seu pontificado, e indicam o que ele ainda pretende fazer, particularmente no campo da Liturgia. Mesmo que devagar...
Neste artigo, citaremos e analisaremos apenas o que disse o Cardeal Ratzinger em 1997 sobre o lançamento da Nova Missa de Paulo VI, em 1969.

Eis o que escreveu o então Cardeal Ratzinger sobre a nova liturgia de Paulo VI:

“O segundo grande acontecimento no início dos meus anos em Ratisbona foi a publicação do missal de Paulo VI com a proibição quase total do missal anterior, depois de uma fase de transição de apenas meio ano. Era auspicioso o fato de que, depois de um tempo de experimentos, muitas vezes deformando profundamente a liturgia, houvesse agora um texto litúrgico obrigatório.

Mas fiquei consternado pela proibição do Missal antigo, pois algo semelhante nunca tinha acontecido em toda a história da liturgia. Tinha-se a impressão de que isso era uma coisa perfeitamente normal.

Cardeal Ratzinger

O missal anterior tinha sido criado por Pio V, por ocasião de Concílio Tridentino; assim era normal, dizia-se, que após 400 anos e depois de um novo Concílio um novo Papa oferece-se um novo missal. Mas a verdade histórica é outra. Pio V havia mandado fazer apenas uma revisão do Missale Romanum existente, como é normal no crescimento vivo da história através dos séculos. Assim também muitos de seus sucessores tinham novamente trabalhado esse missal, sem jamais opor um missal novo ao missal anterior.

Foi um processo contínuo de crescimento e purificação, no qual, porém, nunca se destruiu a continuidade. Não existe um missa de Pio V que tivesse sido criada por ele. O que existe é a revisão feita por Pio V, como fase de uma longa história de crescimento. O “novo” depois do Concílio de Trento foi de outra natureza: o rompimento causado pela Reforma tinha-se realizado, sobretudo, como “reformas” litúrgicas.

Não havia simplesmente uma Igreja Católica e outra protestante, uma ao lado da outra; a divisão da Igreja realizou-se quase imperceptivelmente, e era mais visível e historicamente mais eficaz na mudança da liturgia, que ainda aconteceu com muita diferença entre um lugar e outro, de sorte que também aí, entre o ainda católico e o já não católico muitas vezes era impossível de discernir.

Naquela situação confusa, que se tornara possível pela falta de uma legislação litúrgica única e pela existência de um pluralismo litúrgico na Idade Média, o papa decidiu que o Missale Romanum, o livro das missas na cidade de Roma, tinha de ser introduzido em toda parte onde não se pudessem alegar liturgias que tivessem pelo menos 200 anos de idade.

Cardeal Ratzinger

Onde isso fosse o caso, podia-se ficar com a liturgia existente, porque então o seu caráter católico podia ser considerado seguro. Não se tratava, pois, de uma proibição de um missal existente e até então considerado válido. Porém, a proibição agora decretada, do missal que se tinha desenvolvido continuamente através de todos os séculos, desde os manuais para os sacramentos na Igreja antiga, causou na história da liturgia uma ruptura cujas conseqüências só podiam ser trágicas. Uma revisão do missal, como já houvera muitas vezes, e que desta vez podia ser mais radical do que até então, sobretudo pela introdução da língua materna, tinha sentido e tinha sido determinada com razão pelo Concílio.

Mas agora aconteceu mais: o edifico antigo foi derrubado e construiu-se um outro. É verdade que, em grande parte, foi feito com o material do anterior e usando-se, também, os projetos antigos. E não há dúvida: este novo missal trouxe, sob muitos aspectos, um verdadeiro melhoramento e enriquecimento. Mas o fato de ter sido apresentado como construção nova, em oposição ao crescimento histórico, e de o missal antigo ter sido proibido, de sorte que a liturgia não apareceu mais como resultado de um crescimento vivo, e sim como produto de um trabalho erudito e de competência juridical, isso nos prejudicou sobremaneira.

Pois agora se devia ter a impressão de que liturgia é algo que “se faz”; não algo preexistente, mas algo que depende de nossas decisões. E aí seria lógico, também, que não somente os eruditos nem somente uma autoridade central fossem reconhecidas como portadores da decisão, mas que, afinal, toda a “comunidade” quisesse adptar sua própria liturgia. Mas quando a liturgia é algo feito por nós mesmos, então ela deixa de nos oferecer o que deveria ser sua verdadeira dádiva: o encontro com o mistério, que não é produto nosso, mas nossa origem e fonte de nossa vida.

CARDEAL RATZINGER

Uma renovação da consciência litúrgica, uma reconciliação litúrgica que reconheça novamente a unidade da história da liturgia e que entenda o Vaticano II não como ruptura, mas como degrau na evolução, é urgentemente necessária para a vida da Igreja. Estou convencido de que a crise na Igreja, pela qual passamos hoje, é causada em grande parte pela decadência da liturgia, que às vezes é concebida de uma maneira etsi Deus non daretur [Como se Deus não existisse], isto é, que nela não importa mais se Deus existe e se Ele nos fala e nos escuta.

Quando, porém, na liturgia não aparece mais a comunhão da fé, a unidade mundial da Igreja, o mistério de Cristo vivo, onde, então, ainda aparece Igreja, em sua essência espiritual? Aí a comunidade ainda celebra somente a si mesma, mas isso não vale a pena. E já que a comunidade por si só nem existe, e é sempre formada somente pela fé, sendo criada como unidade pelo Senhor, é inevitável, naquela suposição, que a Igreja se divida em partidos de todo tipo, e os grupos se oponham uns aos outros dentro de uma Igreja que se dilacera a si mesma. Por isso precisamos de um novo movimento litúrgico, que dê vida à verdadeira herança do Concílio Vaticano II”

Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, Lembranças da Minha Vida, versão em português, Ed Paulinas, São Paulo, 2006, pp.128-131

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


CARTA DO CARDEAL DARÍO CASTRILLON HOYOS POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL PARA A SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES

"A Eucaristia: fonte de santidade no ministério sacerdotal"
Sexta-feira 18 de Junho de 2004

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Estimados amigos sacerdotes
O Dia Mundial para a Santificação dos Sacerdotes, que será celebrado no clima jubiloso da próxima Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, oferece-me a ocasião para reflectir juntamente convosco sobre o dom do nosso ministério sacerdotal, compartilhando a vossa solicitude pastoral para com todos os fiéis e toda a humanidade, e de maneira particular para com a porção do Povo de Deus, confiado aos vossos respectivos Ordinários, de quem vós sois os colaboradores solícitos e generosos.
O tema que desejo propor-vos no corrente ano coloca-se em sintonia com a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, que o Santo Padre João Paulo II quis entregar-nos na Quinta-Feira Santa do ano passado, na circunstância do vigésimo quinto aniversário do seu Pontificado e do Ano do Rosário: "A Eucaristia: fonte e ápice de santidade no ministério sacerdotal".

1. Criados para amar

"Sede santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo" (Lv 19, 2). O Livro do Levítico recorda-nos a graça e a finalidade de todo o fiel e, de modo particular, de cada ministro ordenado: a santidade, que é a intimidade com Deus, amor sem reservas pela Igreja e por todas as almas. A vocação ao sacerdócio "é essencialmente uma vocação à santidade, na forma que brota do sacramento da Ordem" (João Paulo II, Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, 33). Nas circunstâncias que lhe são próprias, lá onde Deus o colocou, o sacerdote é chamado a encontrar, a conhecer e a amar Jesus Cristo no exercício do seu próprio ministério e a identificar-se cada vez mais com Ele.

Se, na iminente solenidade do Sagrado Coração de Jesus, mantivermos o nosso olhar voltado para o Senhor, para o seu único, sumo e eterno Sacerdócio, os nossos horizontes alargar-se-ão para além dos confins da nossa vida quotidiana e a nossa existência enriquecer-se-á com uma dimensão mais universal e missionária.
"Eis que vos digo: erguei o vosso olhar e contemplai os campos: eles já estão dourados para a colheita" (Jo 4, 35). Estas palavras do Senhor ressoam, mesmo nos dias de hoje, no nosso coração e mostram o imenso horizonte da missão de amor do Verbo encarnado, missão esta que se faz nossa: Ela entrega-a como herança a toda a Igreja e, de maneira específica, no seu interior, a nós que somos os seus ministros ordenados. É verdadeiramente grande o mistério de amor, de que nós, sacerdotes, somos feitos ministros!

Os Actos dos Apóstolos recordam-nos que aquele mesmo Jesus com que os Apóstolos tinham vivido, com quem haviam comido, compartilhando o cansaço de cada dia, agora continua a estar presente também na sua Igreja.

Cardeal Dario Castrillon

Jesus Cristo está presente na Igreja não só porque continua a atrair a si todos os fiéis junto daquele Trono de graça e de glória, que é a sua Cruz redentora (cf. Cl 1, 20), formando com todos os homens, de todos os tempos, um só Corpo, mas também porque Ele está sempre presente no tempo e de forma eminente como Chefe e Pastor que ensina, santifica e governa constantemente o seu Povo. E esta presença realiza-se através do Sacerdócio ministerial que Ele desejou instituir no seio da sua Igreja. Por isso, cada sacerdote pode repetir que foi escolhido, consagrado e enviado para fazer emergir a contemporaneidade de Jesus Cristo, de quem se torna um autêntico representante e mensageiro (cf. Congregação para o Clero, Directório para o ministério e a vida dos Presbíteros, Tota Ecclesia, de 31 de Janeiro de 1974, n. 1).

A vida de Cristo, de Quem somos portadores, Christo foroi, é como a água que corre no meio dos precipícios rochosos e da terra árida, tornando-a fecunda. Com a vinda de Jesus Cristo ao tempo e ao espaço do homem, a história deixou de ser uma terra estéril, como era antes da Encarnação, para assumir um significado e um valor de esperança universal.
Nós "não podemos permitir-nos dar ao mundo a imagem de terra árida escrevia o Santo Padre, há pouco mais de quatro anos, na Bula de Proclamação do Grande Jubileu do Ano 2000 depois de termos recebido a Palavra de Deus como chuva descida do céu; nem jamais poderemos pretender tornar-nos um único pão, se impedirmos à farinha de se amalgamar pela água, que foi derramada sobre nós (cf. Santo Ireneu, Contra as heresias, III, 17: PG 7, 930)" (João Paulo II, Incarnationis mysterium, 4).

2. Com o Coração de Cristo

Aquilo que é necessário para alcançar a felicidade não é uma vida cómoda, mas um coração apaixonado, como o de Jesus Cristo. O Coração sacratíssimos e misericordioso de Jesus, traspassado por uma lança na Cruz, em sinal de entrega total de si mesmo, constitui uma fonte inesgotável da paz verdadeira, é uma manifestação integral daquele amor oblativo e salvífico com que Ele "nos amou até ao fim" (Jo 13, 1), lançando o fundamento da amizade de Deus com os homens.

Cardeal Dario Castrillon
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus convida-nos à alegria da caridade, numa entrega de nós mesmos aos outros: "Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele realizou prodígios!" (Sl 97, 1).

Caros sacerdotes, os milagres são a vossa vida, mistério de predilecção divina e dom da sua misericórdia, expressos de maneira tão completa pelo profeta Jeremias: "Antes de te formar no ventre da tua mãe, Eu te conheci; antes que tu fosses dado à luz, Eu te consagrei, para fazer de ti profeta das nações" (1, 5). Não somente o sacerdócio, mas inclusivamente o caminho de preparação para o mesmo constitui uma dádiva que, como dizia São paulo, "ninguém pode atribuir-se a si mesmo, a não ser quem é chamado por Deus" (Hb 5, 4).

Pelo sacerdócio baptismal, todos nós somos servidores de Jesus Cristo. Como diz São Paulo, na segunda Carta aos Coríntios, somos os servidores da alegria dos homens (cf. 2 Cor 1, 24). Contudo, o ministério sacerdotal recordemo-lo com as palavras do Papa Paulo VI "não é uma profissão ou um serviço qualquer, exercido em benefício da comunidade eclesial, mas sim um serviço que participa de maneira absolutamente especial e com um carácter indelével no poder do sacerdócio de Cristo, graças ao sacramento da Ordem" (Paulo VI, Mensagem aos sacerdotes no encerramento do Ano da Fé, 30 de Junho de 1968).

Os homens desejam contemplar no sacerdote o rosto de Jesus Cristo, encontrar nele a
pessoa que, "constituído para o bem dos homens nas coisas que se referem a Deus" (Hb 5, 1), possa dizer juntamente com Santo Agostinho: "A nossa ciência é Cristo e a nossa sabedoria é ainda Cristo. É Ele quem infunde em nós a fé em relação às realidades temporais e é Ele quem nos revela aquelas verdades que se referem às realidades eternas" (Santo Agostinho, De Trinitate, 13, 19, 24: NBA, 4, pág. 555).
3. Mediante a Eucaristia que é a nossa força e esperança
Os Evangelhos falam-nos da iniciativa de Jesus Cristo que, caminhando sobre a água, leva socorro e alívio aos Apóstolos, que se encontram na barca agitada pelas ondas do lago de Tiberíades (cf. Mt 14, 22-32)

Cardeal Dario Castrillon
Trata-se de um convite a vivificar a nossa plena confiança em Cristo. Ele repete também a nós a exortação que dirigiu aos navegantes: "Coragem, sou Eu, não tenhais medo" (Mt 14, 27)! Não nos deixemos amedrontar pelas dificuldades, tenhamos confiança nele! A vocação sacerdotal, implantada com eficácia por Cristo em vós e por vós acolhida com humildade generosa, como terra fecunda, sem dúvida dará frutos abundantes.

Como Pedro, vamos também nós ao encontro de Jesus Salvador, fixando o nosso olhar no seu Rosto misericordioso: somente o olhar do Crucificado e Ressuscitado, contemplado na nossa oração e no recurso à Confissão sacramental, pode superar a força de gravidade da nossa pequenez, dos nossos limites e dos nossos pecados. São João Crisóstomo, comentando este trecho do Evangelho, recorda-o afirmando: "Quando falta a nossa cooperação, também a ajuda da parte de Deus deixa de subsistir" (Comentário ao Evangelho de São Mateus, n. 50).

Especialmente na Eucaristia, descobrimos de novo a verdade e a eficácia das palavras e da acção de Jesus Cristo: "Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e disse-lhe: "Homem de pouca fé, por que duvidaste?"" (Mt 14, 31). O braço de Deus sustém-nos e as águas obscuras, agitadas pela nossa soberba e pelo demónio, perderão o seu poder.
É da Eucaristia que nós havemos de haurir a força da caridade de Jesus Cristo. A este propósito, na Carta Encíclica sobre a Eucaristia, o Santo Padre escreveu: "Cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão da Igreja, cada aplicação dos planos pastorais deve extrair a força de que necessita do mistério eucarístico e orientar-se para ele como o seu ponto culminante" (João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 17 de Abril de 2003, n. 60).

Cardeal Dario Castrillon

Deus pede-vos, a vós sacerdotes diocesanos, missionários e religiosos, que vos prodigalizeis com entusiasmo neste ministério sagrado, em vista de redescobrir, especialmente na Eucaristia, a beleza da vossa vocação sacerdotal. Cada um se torne educador de vocações, sem ter medo de propor opções radicais na santidade.
Como afirmava o Santo Cura d'Ars, conscientes de que "o sacerdote é o amor do Coração de Jesus" (Esprit du Curé d'Ars, Maria Vianney dans ses catéchismes, ses homélies et sa conversation, Edition de Téqui, Paris, 1935, pág. 117), como deixar de recordar aqui que nada é mais exaltante do que um testemunho apaixonado da nossa própria vocação? "O Sacerdote dizia ainda São João Maria Vianney é algo tão imenso que, se ele mesmo o compreendesse, morreria" (Esprit du Curé d'Ars..., op. cit., pág. 113).
Como sentinelas da Casa de Deus, que é a Igreja, velemos a fim de que em toda a vida eclesial das nossas paróquias se reviva o encontro com Cristo crucificado e ressuscitado. Evitemos os recifes do activismo onde, por vezes, naufragaram os melhores projectos apostólicos e pastorais, e onde se tornaram infecundas muitas vidas comprometidas num serviço não adequadamente irrigado pela Palavra de Deus e pela sua presença na Eucaristia. Com as palavras do Santo Padre, repitamos: "Nos sinais humildes do pão e do vinho transubstanciados no seu corpo e sangue, Cristo caminha connosco, como nossa força e nosso viático, e torna-nos testemunhas de esperança para todos" (João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 62).
Façamos com que os fiéis cristãos consigam reviver a experiência do Cenáculo que foi, num certo sentido, o primeiro Curso formativo dos Apóstolos. No Cenáculo o Mestre, depois de ter instruído os Doze, lavou-lhes os pés e, antecipando o Sacrifício cruento da Cruz, entregou-se a si mesmo inteiramente e para sempre, nos sinais do pão e do vinho.


Cardeal dario Castrillon
No Cenáculo, na expectativa do Pentecostes, os Apóstolos encontravam-se "assíduos e concordes na oração, juntamente com... Maria, Mãe de Jesus" (Act 1, 14).
No corrente ano celebra-se o Sesquicentenário da definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria, proclamada pelo Beato Papa Pio IX no dia 8 de Dezembro de 1854. Por conseguinte invoquemos com particular confiança a Bem-Aventurada Virgem Imaculada. Peçamos-lhe, a Ela, Mulher "eucarística", que sustente sempre em nós o desejo de nos identificarmos plenamente com o seu Filho, de sermos ipse Christus, alter Christus, a fim de sermos em todos os lugares arautos do Evangelho, peritos em humanidade, conhecedores do coração do homem contemporâneo, partícipes das suas alegrias e esperanças, das suas angústias e tristezas, e para sermos, ao mesmo tempo, contemplativos, apaixonados de Deus.
Dirijamo-nos a Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe dos sacerdotes. E peçamos-lhe que nos acompanhe ao longo do nosso caminho ministerial, como acompanhou os Apóstolos e os primeiros discípulos no Cenáculo.
A Ela, Estrela da evangelização, dirijamo-nos com confiança a fim de que, pela sua intercessão, o Senhor conceda a cada um o dom da fidelidade à vocação presbiteral. Que a Imaculada Conceição resplandeça no centro das nossas comunidades eclesiais e as transforme num sinal elevado entre os homens, "como uma cidade construída sobre um monte", e também como "uma lâmpada colocada no candeeiro, que brilhe para a todos" (cf. Mt 5, 14-15)



Santo Afonso Maria de Ligório

1) Na Santa Missa é Jesus Cristo a vítima

O Concílio de Trento diz da Santa Missa (Ceci. 22): Devemos reconhecer que nenhum outro ato pode ser praticado pelos fiéis que seja tão santo como a celebração deste tremendo mistério. O próprio Deus todo poderoso não pode fazer que exista uma ação mais sublime e santa do que o sacrifício da Missa. Este sacrifício de nossos altares ultrapassa imensamente todos os sacrifícios do Antigo Testamento, pois que já não são bois e cordeiros que são sacrificados, mas é o próprio Filho de Deus que se oferece em sacrifício. “O judeu tinha o animal para o sacrifício, o cristão tem Cristo”, escreve o venerável Pedro de Clugny; “seu sacrifício é, pois, tanto mais precioso quanto mais acima de todos os sacrifícios dos judeus está em Jesus Cristo”.

E acrescenta que, para os servos (isto é, para os judeus, no Antigo Testamento), não convinham outros animais senão aqueles que eram destinados ao serviço do homem; para os amigos e filhos foi Jesus Cristo reservado “como cordeiro que nos livra do pecado e da morte eterna” (Ep. Cont. Petrobr.). Tem, portanto, razão S. Lourenço Justiniano ao dizer que não há sacrifício maior, mais portentoso e mais agradável a Deus do que o santo sacrifício da Missa (Sermo de Euch.).


S.Afonso Ligório

S. João Crisóstomo diz que durante a Santa Missa o altar está circundado de anjos que aí se reúnem para adorar a Jesus Cristo, que, nesse sacrifício sublime, é oferecido ao Pai celeste (De sac., 1.6). Que cristão poderá duvidar, escreve S. Gregório (Dial. 4, c. 58), que os céus se abram à voz do sacerdote, durante esse santo sacrifício, e que coros de anjos assistam a esse sublime mistério de Jesus Cristo. S. Agostinho chega até a dizer que os anjos se colocam ao lado do sacerdote para servi-lo como ajudantes.2).

Na Santa Missa é Jesus Cristo o oferente principal

O Concílio de Trento (Ceci. 22, c.2) ensina-nos também que neste sacrifício do corpo e sangue de Jesus Cristo é o próprio Salvador que oferece em primeiro lugar esse sacrifício, mas que o faz pelas mãos do sacerdote que ele escolheu para seu ministro e representante. Já antes dissera S. Cipriano: “O sacerdote exerce realmente o oficio de Jesus Cristo” (Ep. 62). Por isso o sacerdote diz, na elevação: “Isto é o meu corpo; este é o cálice de meu sangue”.


S.Afonso Ligório

Belarmino (De Euch. 1.6, c. 4) escreve que o santo sacrifício da Missa é oferecido por Jesus Cristo, pela Igreja e pelo sacerdote; não, porém, do mesmo modo por todos: Jesus Cristo oferece como o sacerdote principal, ou como o oferente próprio, mas por intermédio de um homem, que é ao mesmo tempo sacerdote e ministro de Cristo; a Igreja não oferece como sacerdotisa, por meio de seu ministro, mas como povo, por intermédio do sacerdote; o sacerdote, finalmente, oferece como ministro de Jesus Cristo e como medianeiro de todo o povo.

Jesus Cristo, contudo, é sempre o sacerdote principal na Santa Missa, em que ele se oferece continuamente e sob as espécies de pão e de vinho por intermédio dos sacerdotes, seus ministros, que representam a pessoa de Jesus Cristo, quando celebram os santos mistérios. Por isso diz o Quarto Concílio de Latrão (Cap. Firmatur, de Sum. Trinit.) que Jesus Cristo é ao mesmo tempo o sacerdote e o sacrifício. De fato, convém à dignidade deste sacrifício que ele não seja oferecido, em primeiro lugar, por homens pecadores, mas por um sumo sacerdote que não esteja sujeito ao pecado, mas que seja santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e mais elevado que os céus (Heb. 7, 20).

3) A Santa Missa é uma representação e renovação do sacrifício da cruz

Segundo S. Tomás (Off. Ss. Sac., 1.4), o Salvador nos deixou o SS. Sacramento para conservar viva entre nós a lembrança dos bens que nos adquiriu e do amor que nos testemunhou com sua morte. Por isso o mesmo Doutor chama a Sagrada Eucaristia “um manancial perene da paixão”.




S.Afonso Ligório
Ao assistires, pois, à Santa Missa, pondera que a hóstia que o sacerdote oferece é o próprio Salvador que por ti sacrificou seu sangue e sua vida. Entretanto, a Santa Missa não é somente uma representação do sacrifício da cruz, “ mas também uma renovação do mesmo sacrifício, porque em ambos é o mesmo sacerdote e a mesma vítima, a saber, o Filho de Deus Humanado. Só no modo de oferecer há uma diferença: o sacrifício da cruz foi oferecido com derramamento de sangue; o sacrifício da Missa é incruento; na cruz, Jesus morreu realmente; aqui, morre só misticamente (Conc. Trid., Sess. 22, c. 2).

Representa-te, durante a Santa Missa, te achares no monte Calvário, para ofereceres a Deus o sangue e a vida de seu adorável Filho, e, ao receberes a santa comunhão, representa-te beberes seu precioso sangue das chagas do Salvador. Pondera também que em cada Missa se renova a obra da redenção, de maneira que, se Jesus Cristo não tivesse morrido na cruz, o mundo receberia, com a celebração de uma só Missa, os mesmos benefícios que a morte do Salvador lhe trouxe. Cada Missa que é celebrada encerra em si todos os grandes bens que a morte na cruz nos trouxe, diz S. Tomás (In Jo 6, lect. 6). Pelo sacrifício do altar nos é aplicado o sacrifício da cruz. A paixão de Jesus Cristo nos habilitou à redenção; a Santa Missa faz-nos entrar na posse dela e comunica-nos os merecimentos de Jesus Cristo

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


A nomeação do Cardeal Antonio Cañizares Llovera como o novo prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

Seu apoio à Extraordinário Forma, da qual as fotos a partir do já mencionado ICRSS 2007 ordenações , é também evidenciada pelos dois workshops usus antiquior organizados na arquidiocese de Toledo com a colaboração do Instituto de Cristo Rei este ano ).

Além disso, o Cardeal Castrillón, em sua entrevista ao jornal italiano "Jesus" , declarou que em "Toledo, Espanha, por exemplo, está sendo avaliado se é conveniente para erguer um seminário especificamente para a preparação para o rito extraordinário ou para dar cursos especiais no seminário da diocese. "Esta tomada juntamente com o Cardeal Cañizares da adesão à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei - uma posição que não participou Cardeal Arinze - não só dão razão para esperar o apoio à Forma Extraordinária da Missa como uma boa forma de direito próprio, mas também de esperança para o enriquecimento mútuo vislumbrado pelo Santo Padre.

Como mencionado, uma alcunha para o Cardeal Cañizares é a de " pequeno Ratzinger".
O próprio Cardeal deu uma explicação sobre esta alcunha, que a meu ver dá uma boa visão em profundidade da mente dele em poucas palavras, e mostra por que razão há razões para estar satisfeito com a sua nomeação.

Acho que a alcunha é devida à semelhança do cabelo branco, e de ter sido secretário da Comissão Doutrinária na Espanha [ou seja, o Comité para a Doutrina da Fé da Conferência Episcopal Espanhola] antes de ser bispo, e esta consonância que Deus me concedeu com o pensamento do então Cardeal Ratzinger, harmonia e comunhão na mesma fé e na sua grande preocupação pelo homem que, se ele sente falta de Deus, perde tudo.

É também consonância e comunhão no grande amor e paixão pela Igreja, na busca da verdade que nos torna livres, uma Verdade que chega até nós através da Tradição, e em consonância, portanto, é a fidelidade à Tradição, que é a única para abrir caminho para o futuro e tornar possível uma renovação da Igreja e da sociedade .

Aprendi muito nos anos em que trabalhei ao seu lado como membro da Congregação para a Doutrina da Fé .É um dom de Deus ter trabalhado com ele, e um dom de Deus para me sentir tão profundamente ligado a Pedro, sob a forma de Bento XVI.
Sei que só assim é que eu caminharei dentro da Igreja, e não darei passos em vão.
Fonte:new liturgical movement

Intervenção do Cardeal Dario Castrillon a 17 Maio de 2007 na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.

Queridos e venerados irmãos:

Permito-me apresentar um breve relatório sobre a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei e sobre o estado da realidade pastoral que o Santo Padre colocou sob sua competência.Esta Comissão foi instituída pelo Servo de Deus João Paulo II em 1988, quando um grupo notável de sacerdotes, religiosos e fiéis que tinham manifestado sua desconformidade com a reforma litúrgica conciliar ... . O Santo Padre, mediante o Motu Proprio Ecclesia Dei Adflicta, confiou a esta Comissão o cuidado pastoral destes fiéis tradicionalistas. Por vontade do Santo Padre, este Dicastério estende, além disso, seu serviço a satisfazer as justas aspirações de quantos por uma sensibilidade particular, sem ter tido vínculos com os dois grupos citados, desejam manter viva a liturgia latina anterior na celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos.
O Santo Padre, que foi durante alguns anos membro desta Comissão, quer que ela se converta em um organismo da Santa Sé com a finalidade própria e distinta de conservar e manter o valor da liturgia latina tradicional. Mas se deve afirmar com toda claridade que não se trata de um voltar para atrás, de uma volta aos tempos anteriores à reforma de 1970.

Cardeal Dario Castrillon
Trata-se pelo contrário de uma oferta generosa do Vigário de Cristo que, como expressão de sua vontade pastoral, quer pôr a disposição da Igreja todos os tesouros da liturgia latina que durante séculos nutriu a vida espiritual de tantas gerações de fiéis católicos. O Santo Padre quer conservar os imensos tesouros espirituais, culturais e estéticos ligados à liturgia antiga.

A recuperação desta riqueza se une à não menos preciosa da liturgia atual da Igreja.Por estas razões o Santo Padre tem a intenção de estender a toda a Igreja latina a possibilidade de celebrar a Santa Missa e os Sacramentos segundo os livros litúrgicos promulgados pelo Beato João XXIII em 1962. Por esta liturgia, que nunca foi abolida, e que , como dissemos, é considerada um tesouro, existe hoje um novo e renovado interesse e, também por esta razão o Santo Padre pensa que chegou o tempo de facilitar, como o quis a primeira Comissão Cardinalícia em 1986, o acesso a esta liturgia fazendo dela uma forma extraordinária do único rito Romano.

Cardeal Dario Castrillon

Há algumas boas experiências de comunidades de vida religiosa ou apostólica erigidas pela Santa Sé recentemente que celebram em paz e serenidade esta liturgia. Em torno delas se congregam assembléias de fiéis que freqüentam estas celebrações com alegria e gratidão. As criações mais recentes som o Instituto de São Felipe Neri em Berlim, que funciona como um Oratório e se fez presente também, com boa acolhida, na Diocese do Tréveris; o Instituto do Bom Pastor de Burdeos que reúne sacerdotes, seminaristas e fiéis, alguns saídos da Fraternidade São Pio X. Estão muito adiantados os trâmites para o reconhecimento de uma comunidade contemplativa, o Oásis de Jesus Sacerdote, de Barcelona.Na América Latina, como sabemos muito bem, devemos agradecer ao Senhor pela volta de toda uma Diocese, a de Campos, antes lefevriana que agora, depois de cinco anos, apresenta frutos bons.

Foi uma volta pacífica e os fiéis que se inscreveram na Administração Apostólica, estão contentes de poder viver em paz em suas comunidades paroquiais; mais ainda, em efeito algumas dioceses brasileiras fizeram contatos com a Administração Apostólica de Campos que colocou ao seu dispor sacerdotes para a atenção pastoral dos fiéis tradicionalistas em suas igrejas locais. O projeto do Santo Padre foi já parcialmente provado em Campos onde a coabitação pacífica das duas formas do único rito romano na Igreja é uma bela realidade.

cardeal Dario Castrillon
Temos a esperança de que tal modelo produza bons frutos, também em outros lugares da Igreja onde vivem juntos fiéis católicos com sensibilidades litúrgicas diversas. E esperamos, além disso, que tal modo de viver juntos atraia também àqueles tradicionalistas que ainda estão longe.Os membros atuais da Comissão são os Sres. Cardeais Julián Herranz, Jean-Pierre Ricard, William Joseph Levada, Antonio Cañizares, e Franc Rodé. São consultores os Subsecretários de alguns Dicastérios.Até agora estiveram sob a Ecclesia Dei várias comunidades dispersas pelo mundo. 300 sacerdotes, 79 religiosos, 300 religiosas, 200 seminaristas e várias centenas de milhares de fiéis. Curiosamente aumenta o interesse dos jovens na França, Estados Unidos, Brasil, Itália, Escandinávia, Austrália e China. No momento do retorno, de Campos voltaram 50 sacerdotes, uns cinqüenta seminaristas, 100 religiosas e 25.000 fiéis. Peçamos ao Senhor que este projeto do Santo Padre possa realizar-se logo para a unidade da Igreja.

Diante da pergunta que um jornalista fez ao Santo Padre Bento XVI na sua recente visita a França, de se é um retrocesso para a Igreja a publicação do motu proprio Summorum Pontificum sobre o rito extraordinário em Latim na missa (7 de julho de 2007), o Papa explicou que «é um medo infundado, pois este ‘motu proprio’ é simplesmente um ato de tolerância, com um objetivo pastoral, para pessoas que foram formadas nesta liturgia, que a amam, que a conhecem e querem viver com esta liturgia».

«É um pequeno grupo, pois supõe uma formação em latim, uma formação em certa cultura. Mas me parece uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo de nossa Igreja ter amor e tolerância por estas pessoas e permitir-lhes viver com esta liturgia», reconheceu o Papa.

«Não há oposição alguma entre a liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II e esta liturgia. Cada dia, os padres conciliares celebraram a missa segundo o rito antigo e, ao mesmo tempo, conceberam um desenvolvimento natural para a liturgia em todo este século, pois a liturgia é uma realidade viva, que se desenvolve e que conserva em seu desenvolvimento sua identidade.»

«Portanto, há certamente acentos diferentes, mas uma identidade fundamental que exclui uma contradição, uma oposição entre a liturgia renovada e a liturgia precedente. Creio que existe uma possibilidade de enriquecimento pelas duas partes.»

Extracto do discurso do Santo Padre Bento XVI aos bispos franceses reunidos em Lourdes por ocasião da sua peregrinação àquele Santuário a 13 -15 Setembro de 2008

"O culto litúrgico é a expressão suprema da vida sacerdotal e episcopal, como também do ensino catequético.Queridos irmãos, o vosso ofício de santificar os fiéis é essencial para o crescimento da Igreja. Senti-me impulsionado a precisar no "Motu proprio" Summorum Pontificum as condições para exercer esta responsabilidade pelo que respeita à possibilidade de utilizar tanto o missal do Beato João XXIII(1962) como o do Papa Paulo VI(1970).Já se deixam ver os frutos destas novas disposições, e espero a necessária calma dos espíritos que, graças a Deus, está acontecendo.
Tenho em conta as dificuldades que encontrais, mas não tenho a menor dúvida de que podeis chegar, num tempo razoável,a soluções satisfatórias para todos,para que a túnica de Cristo não se rasgue ainda mais.
Ninguém está a mais na Igreja.Todos, sem excepção, hão-de sentir-se nela "como em sua casa", e nunca desprezados.Deus, que ama todos os homens e não quer que nenhum se perca, confia-nos esta missão fazendo-nos Pastores da sua grei.Só nos resta dar-lhe graças pela honra e pela confiança que Ele nos concede.Portanto esforcemo-nos por sermos sempre servidores da unidade”.

Um exemplo que nos vem de Espanha onde a resposta ao Motu Proprio "Summorum Pontificum" do Santo Padre Bento XVI tem dado frutos.

Desde que o Santo Padre, Papa Bento XVI, no dia 7 de julho de 2007 publicou o Motu proprio "Summorum Pontificum" sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma de 1970, somos já muitos os fiéis em Espanha e no resto do mundo que participamos nesta "Forma extraordinária" da Santa Missa.
Obrigado Santo Padre, Bento XVI pelo Motu proprio "Summorum Pontificum".
Obrigado a todos os bispos, que em resposta aos pedidos dos fiéis e pondo em prática a sua obediência ao Vigário de Cristo na terra facilitaram de diversas formas a celebração da Santa Missa Tradicional .

Colocamos a seguir todos os horários e lugares de Espanha, onde se celebra a Santa Missa segundo a " Forma Extraordinária":

PAMPLONA

Igreja do Mosteiro de Agustinas Recoletas
c / Recoletas, 1 (entrada do adro Recoletas)
Domingos e feriados às 13:00 h (missa cantada)
(Sacerdotes Instituto de Cristo Rei Sumo Sacerdote)

MADRID

Terceira Igreja do Mosteiro da Visitação
P º São Francisco de Sales, 48
(Metro L6 e L7 Guzmán El Bueno / Bus 2.12 - 44 - 202 - N21)
Segunda a sexta-feira às 08:00 hs - Sábados às 09:00 hs (Missa rezada)
Domingos e feriados às 11:00 hs ( Missa Cantada)
(Sacerdotes Instituto de Cristo Rei Sumo Sacerdote)

Oratório San Felipe Neri
c / Antonio Arias, 17-abrigo
(Metro L6 e L9 Sáinz de BARANDA
Autocarro 15 - 215 - 202 - 30 - 56)
Domingos e feriados das 19:00 hs na obrigação
(Sacerdotes Instituto de Cristo Rei Sumo Sacerdote)

Casa Santa Teresa
Jesus
Avenida de América, 46 - 2 º D
(Bus 43 - 53 - 74)
Todos os dias (excepto domingos e feriados)
às 20:00 hs
(Sacerdotes Instituto de Cristo Rei Sumo Sacerdote)

TOLEDO

Igreja de Santo Tomé
Sq. Conde s / n
Primeira sexta-feira do mês às 18:00
(Sacerdotes Instituto de Cristo Rei Sumo Sacerdote)

PONTEVEDRA

Casa de Oração Santa Maria Reina
Pazo de la Torre 12, 36.191 Barro - Pontevedra
Segunda às 20,00 h.
Terça-feira a sábado, às 18h00 h.
(Sacerdote da Fraternidade de Cristo Sacerdote e de Santa Maria Reina)

LA CORUÑA

Igreja Matriz de Santa Cruz de Mondoy
Domingos e feriados às 20:00

PALMA DE MALLORCA

Igreja de Santa Fe.
Calle Santa Fe 1, próximo da praça Porta do Camp, Palma de Mallorca
Sábados às 19:00 hs
(Sacerdote diocesano)

TENERIFE

Igreja do Salvador
Praça da Igreja de La Matanza 38.370 Acentejo
Domingos às 12:30 hs
(Sacerdote diocesano)

SEVILHA

St. Bernard Parish
C / Santo Rey 41018 Sevilla
Domingos e feriados às 10:00 hs
(Sacerdotes diocesanos)

GIJÓN

Capela das Madres de Agostinhas Recoletas Somió
Último domingo de cada mês 12:30
(Sacerdote diocesano)

BARCELONA

Capela de Nossa Senhora das Mercês e São Pedro, o Apóstolo
Laforja Street, 21 (Entre a rua Balmes e Alfonso XII. Paralela a Travesera de Grace) 08006 - Barcelona
Domingos às 9:00 hs e às 12:00 hs
Segunda às 7:45hs e às 18:30 hs
Terças a sábados às 7:45hs e às 19:00 hs

Mosteiro do Oásis de Jesus Sacerdote
Calle Oásis de Jesus SACERDOTE, s / n
08.310 - Argentona (Barcelona)
Dias úteis 7:00 hs
Feriados 11:00hs

Paróquia de São João Maria Vianney (Bairro de Sants)
Carrer Melcior de Palau, 56
08028 - Barcelona
Domingos às 8:30 hs

MURCIA

Igreja Paroquial de S. Pedro, o Apóstolo
Campo Lopez (Lorca)
Primeiro domingo do mês às 12:00 h (missa cantada)
(Sacerdote diocesano)

Fonte: http://benedicamus-domino.blogspot.com/

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


Dietrich von Hildebrand

Certamente que a nossa época está penetrada por um espírito de irreverência. Está vista numa noção distorcida de liberdade que exige direitos mas rejeita obrigações, que exalta a auto-indulgência, que aconselha o " deixa-te ir." O HABITARE SECUNIA dos Diálogos de São Gregório - a morada na presença de Deus - que pressupõe a reverência, é hoje considerado algo antinatural, pomposo, ou servil.

Mas não é a nova liturgia um compromisso com o espírito moderno? De onde vem o desprezo de ajoelhar-se? Porque deveria a Eucaristia ser recebida estando em pé? É o não ajoelhar-se , em nossa cultura, a expressão clássica de adorar a reverência? O argumento de que numa refeição nós devíamos estar de pé em vez ajoelhados é minimamente convincente.

Dietrich von Hildebrand

Em primeiro lugar, não é esta a posição natural para a refeição : nós nos sentamos . Mas o que é mais importante nisto é uma concepção expressamente irreverente da Eucaristia para acentuar o seu carácter de uma refeição à custa do seu carácter único como um mistério santo .

Acentuar a comida, a expensas do sacramento certamente que trai uma tendência para obscurecer a santidade do sacrifício. Esta tendência é, aparentemente atribuível à lamentável crença de que a vida religiosa vai se fará mais viva, mais existencial, se está imersa em nossa vida diária
Mas esse é o risco de absorver o religioso no mundano, apagando a diferença entre o sobrenatural e o natural. Temo que isso representaria uma intromissão inconsciente do espírito naturalista, do espírito mais plenamente expresso no imanentismo de Teilhard de Chardin.

Mais uma vez, por que razão foi abolida a genuflexão nas palavras et incarnatus est no Credo? Não era esta uma expressão nobre e bela de reverência professando o abrasador mistério da Encarnação? Independentemente das intenções dos inovadores, com certeza criaram o perigo, mesmo que seja só psicológico, de diminuir a consciência e o temor dos fiéis ao mistério.

Existe ainda um outro motivo para hesitar em fazer alterações na liturgia que não são estritamente necessárias. As mudanças frívolas ou arbitrárias tendem a criar erosão num tipo especial de reverência: a piedade. A palavra latina, pietas, não tem equivalente Inglês, mas pode ser entendida como um compromisso para o respeito da tradição; a honra ao que nos foi passado de geração pelas gerações antigas; fidelidade aos nossos antepassados e os seus trabalhos.

Dietrich von Hildebrand

Note que a piedade é um tipo derivado da reverência e, portanto, não deveria ser confundida com a reverência primária, que descrevemos como uma resposta ao mesmo mistério do ser e, finalmente, uma resposta a Deus. Acontece que, se o conteúdo de uma determinada tradição dada não corresponde ao objecto de reverência primária, este não merece a reverência derivada.

Então, se uma tradição encarna maus elementos, como a matança de seres humanos, no culto dos Astecas, então, aqueles elementos não deveriam ser considerados com piedade. Mas não é o caso cristão. Aqueles que idolatram a nossa época, que se comovem para o que é moderno simplesmente porque é moderno, que acreditam que hoje o homem tenha finalmente chegado a um "idade da maioridade" não têm qualquer piedade.

O orgulho destes "nacionalistas temporais" não é somente irreverente, é incompatível com a verdadeira fé. Um católico deveria considerar a sua liturgia católica com piedade. Ele deveria reverenciar, e, portanto, temer abandonar as orações e posturas e música que foram aprovadas por tantos santos ao largo de toda a era cristã e entregues a nós como uma preciosa herança.

Para não ir mais longe: a ilusão de que podemos substituir o canto gregoriano com os seus hinos e ritmos inspirados por uma música igualmente fina, senão melhor , denuncia uma absurda auto-confiança e falta de auto-conhecimento. Não esqueçamos que, em toda a história do cristianismo, o silêncio e a solidão, contemplação e o recolhimento, foram considerados necessários para alcançar um verdadeiro encontro com Deus.

Dietrich von Hildebrand
Este não é apenas o conselho da tradição cristã, que deveria ser respeitados por piedade; mas está enraizado na natureza humana. O recolhimento é a base necessária para a verdadeira comunhão da mesma forma que a contemplação proporciona a base necessária para a verdadeira acção na vinha do Senhor. Um tipo superficial de comunhão - a camaradagem jovial de uma questão social - remete-nos para a periferia. A comunhão realmente cristã faz-nos entrar nas profundidades espirituais.

O caminho para uma verdadeira comunhão cristã: Reverência .. Recolhimento .. Contemplação

Claro que devemos lamentar um excessivo e sentimental devocionismo e reconhecer que muitos católicos o praticaram. Mas o antídoto não é uma experiência de comunidade como tal, assim como a cura para a pseudo-contemplação não é a actividade propriamente dita. O antídoto deve incentivar a verdadeira reverência , a uma atitude de recolhimento autêntico e devoção contemplativa a Cristo. Só a partir desta atitude pode ter lugar uma verdadeira comunhão em Cristo.

As leis fundamentais da vida religiosa que governam a imitação de Cristo, a transformação em Cristo, não se mudam de acordo com o humor e hábitos do momento histórico. A diferença entre uma experiência de comunidade superficial e uma experiência de comunidade profunda é sempre a mesma. O recolhimento e a adoração contemplativa de Cristo - que só a reverência torna possível - será a base necessária para uma verdadeira comunhão com os outros em Cristo em cada era da história humana.

Dietrich von Hildebrand
É óbvio que a essência e a natureza de uma experiência de comunidade, no caso de uma grande emergência nacional são radicalmente diferentes da experiência de comunidade de um cocktail. , claro, as diferenças mais assombrosas nas comunidades serão encontrados entre a comunidade cujo tema é o sobrenatural e aquela cujo tema é simplesmente natural.

A realização das almas dos homens que são verdadeiramente tocados por Cristo, é a base de uma única comunidade, uma comunhão sagrada, cuja qualidade é incomparavelmente mais sublime do que a de qualquer comunidade natural. A verdadeira comunhão entre os fiéis que a liturgia da Quinta-Feira Santa exprime tão bem na expressão 'congregavit nos in unum Christi amor "só é possível como fruto da comunhão do Tu- eu com o próprio Cristo.

Dietrich von Hildebrand
Só uma relação directa com ao Deus-homem pode realizar esta união sagrada entre os fiéis.
A despersonalizante "experiência comum" é uma teoria perversa da comunidade.

A comunhão em Cristo, não tem nada da auto-afirmação encontrada nas comunidades naturais. Esta respira da Redenção. Isto liberta os homens de todo o egocentrismo. Mas mesmo uma tal comunhão não despersonaliza o indivíduo; longe de dissolver a pessoa no cósmico, no desmaio panteísta tantas vezes elogiado entre nós estes dias, realiza ao verdadeiro ser da pessoa num modo único.

Na comunidade de Cristo, o conflito entre pessoa e comunidade que está presente em todas as comunidades naturais não pode existir. Logo esta experiência de comunidade sagrada está realmente em guerra com a despersonalizante "experiência comum" encontrada nas assembleias e reuniões populares que tendem a absorver e evaporar o indivíduo. Esta comunhão em Cristo, que estava tão totalmente viva nos primeiros séculos cristãos, que todos os santos entraram e que encontrou uma expressão incomparável na liturgia agora debaixo de ataque - esta comunhão nunca considerou a pessoa individual como um mero segmento da comunidade, ou como um instrumento para servi -la.

Dietrich von Hildebrand
Nesta união é importante notar que a ideologia totalitária não só sacrifica o indivíduo ao colectivo; algumas ideias cósmicas de Teilhard de Chardin, por exemplo, implicam o mesmo sacrifício da colectividade. Numa altura em que esta perversa teoria da comunidade é abraçada por muitos católicos, há motivos claramente urgentes para insistir firmemente na santidade da verdadeira comunhão em Cristo. Eu sustento que a nova liturgia deve ser julgada por este teste: contribui para a autêntica comunidade sagrada? Assume-se que se esforça por um carácter de comunidade , mas este é carácter desejado?

É esta uma comunhão baseada no recolhimento, contemplação e reverência? Qual das duas - a nova missa, ou a missa latina com canto gregoriano - evoca estas atitudes da alma com mais eficácia, permitindo uma comunhão mais profunda e verdadeira? Não é verdade que muitas vezes o carácter de comunidade da nova missa é puramente profano, que, como em outros encontros sociais, a sua mistura de relaxamento casual e movimentada actividade impede um encontro reverente , contemplativo com Cristo e com o inefável mistério da Eucaristia?





Cardeal Perl da Austrália visitou a Paróquia pessoal da FSSP em Roma , onde celebrou Missa solene Pontifical em honra da Imaculada Conceição

Fotos:ORBIS CATHOLICVS

terça-feira, 9 de dezembro de 2008



Dietrich von Hildebrand

A reverência dá ao ser a oportunidade de falar-nos: a grandeza do homem é o ser capax Dei. A reverência é de importância primordial para todas as áreas fundamentais da vida humana. Ela pode ser justamente chamada de "a mãe de todas as virtudes", pois é a atitude fundamental que todas as virtudes pressupõem. O mais elementar gesto de reverência é uma resposta a ser você mesmo. Isto distingue a autónoma majestade do ser, de uma mera ilusão ou ficção; é um reconhecimento da consistência interior e positiva do ser - da sua independência dos nossos humores arbitrários.

A reverência dá ao ser a oportunidade de se implantar a si mesmo, para , assim como era, falar-nos; fecundar as nossas mentes. Portanto a reverência é indispensável a qualquer conhecimento adequado do ser.

A profundidade e a plenitude do ser e, acima de todos os seus mistérios, nunca serão revelados a ninguém, mas apenas à mente reverente. Lembre-se que a reverência é um elemento constitutivo da capacidade de " surpreender-se" de que Platão e Aristóteles afirmaram que é a condição indispensável para a filosofia. Na verdade, a irreverência é a fonte principal do erro filosófico.


Dietrich von Hildebrand

Mas se reverencia é a base necessária para o conhecimento confiante do ser , é também essencial para compreender e ponderar os valores baseados no ser. Só o homem reverente que está pronto para admitir a existência de algo maior do que ele, quem quer ser silencioso e deixar ao objecto que lhe fale – quem se abre - é capaz de entrar no mundo sublime dos valores.

Além disso, após uma gradação de valores tem sido reconhecida, uma nova espécie de reverência está em ordem, uma reverência que não respondem apenas à majestade de ser, como tal, mas o valor específico e sendo uma linha específica na hierarquia valores mobiliários. E esta nova reverência permite ainda a descoberta de outros valores.

O homem mostra o seu carácter de uma pessoa essencialmente receptivo criada, mas apenas na atitude reverente, a grandeza do último homem a ser capax Dei.
O homem tem a capacidade, em outras palavras, de compreender algo maior do que ele, ser afectado e fecundado por algo, abandonar-se a esse algo para o seu próprio bem - numa resposta pura ao seu valor. Esta capacidade de superar-se distingue o homem de uma planta ou um animal, que se esforçam só por implementar o seu próprio ser.

Agora só o homem reverente é quem pode superar-se conscientemente e assim conformar-se à sua condição humana fundamental e à sua situação metafísica .
Encontramos melhor a Cristo elevando-nos até Ele ou arrastando-O ao nosso mundo rotineiro ?

O homem irreverente, pelo contrário, aproxima-se ao ser numa atitude arrogante de superioridade ou de familiaridade indiscreta, satisfeita. Em qualquer caso, ele está incapacitado; é o homem que está tão perto de uma árvore ou edifício, que já não pode vê-lo. Em vez de ficar à distância espiritual adequada , e manter um silêncio reverente, de modo que o ser possa dizer a sua palavra, ele se impõe e assim, com efeito, silencia o ser.

Em nenhuma área é a reverência mais importante do que na religião. Como vimos, esta afecta o relacionamento do homem com Deus. Mas também penetra toda a religião, sobretudo a adoração a Deus. Existe uma íntima ligação entre a reverência e a santidade: a reverência permite-nos experimentar o sagrado, elevar-nos sobre o profano ;a irreverência cega-nos para o mundo do sagrado. A reverência, incluindo o recolhimento - mesmo o temor, medo e tremor - é a resposta específica para o sagrado.


Dietrich von Hildebrand
Rudolf Otto desenvolveu este ponto claramente, em seu famoso estudo "A Ideia do Santo". Kierkegaard também chama a atenção para o papel essencial da reverência no acto religioso, no encontro com Deus. Não tremeram os judeus de medo profundo quando o sacerdote trouxe o sacrifício no sancta sanctorum? Não foi Isaías golpeado com o medo piedoso quando viu o Senhor no templo e exclamou, " a desventura está comigo, estou condenado! porque sou um homem de lábios sujos …mas ainda mais porque meus olhos viram o Rei "?

Acaso as palavras de S. Pedro após a pesca milagrosa, " afasta-te de mim, ó Senhor, porque sou um pecador" não declaram que, quando a realidade de Deus força a entrada em nós nos toca com temor e reverência? O Cardeal Newman demonstrou em um sermão que o homem que não tem medo e não reverencia não conheceu a realidade de Deus.
Quando São Boaventura escreve no Itinerium Mentis ad Deum que apenas um homem de desejo (como Daniel) pode entender a Deus, ele querdizer que uma certa atitude da alma deve ser alcançada a fim de compreender o mundo de Deus, no qual Ele quer conduzir-nos.

Este conselho é especialmente aplicável à liturgia da Igreja. O sursum corda - elevemos os nossos corações - é o primeiro exigência para uma verdadeira participação na missa. Nada poderia dificultar mais o encontro do homem com Deus do que a noção de que « vamos ao altar de Deus", da mesma forma que vamos para um encontro social agradável e relaxante. Esta é o motivo pelo qual uma missa latina com canto gregoriano que nos levanta até uma atmosfera sagrada, é imensamente superior a uma Missa vernácula com canções populares, que nos deixa em uma atmosfera profana simplesmente natural.

Dietrich von Hildebrand
O erro básico da maioria das inovações é imaginar que a nova liturgia conduz ao santo sacrifício da missa para mais perto dos fiéis, que desprovida do seu antigo ritual ,a missa agora, é introduzida na substância das nossas vidas. Porque a questão é saber se na Missa encontramos melhor a Cristo elevando-nos até Ele, ou arrastando-o ao nosso próprio mundo rotineiro. As inovações substituiram a santa intimidade com Cristo por uma familiaridade imprópria. A nova liturgia realmente ameaça frustrar o encontro com Cristo, pois desalenta a reverência perante o mistério, impede o temor e quase extingue um sentido de santidade.
O que realmente importa, certamente, não é se os fiéis se sentem como em sua casa na missa, mas se os leva de sua vida ordinária para o mundo de Cristo - se a sua atitude é a resposta da reverência última: Se são imbuídos da realidade de Cristo.

Aqueles que se expressam com entusiasmo imoderado sobre a nova liturgia dizem que a Missa tinha perdido o seu carácter comunitário e havia se tornado uma ocasião para adoração individualista. A nova Missa vernácula, insistem, restaura o sentido da comunidade, substituindo as devoções privadas, com a participação da comunidade. Mas eles esquecem que existem diferentes níveis e tipos de comunhão com outras pessoas. O nível e a natureza de uma experiência de comunhão é determinada pelo tema da comunhão, o nome ou a causa na qual os homens estão reunidos. Quanto mais alto o bem que o tema representa , mais sublime e mais profunda é a comunhão.

Dietrich von Hildebrand
A reverência dá ao ser a oportunidade de falar-nos: a grandeza do homem é o ser capax Dei. A reverência é de importância primordial para todas as áreas fundamentais da vida humana. Ela pode ser justamente chamada de "a mãe de todas as virtudes", pois é a atitude fundamental que todas as virtudes pressupõem. O mais elementar gesto de reverência é uma resposta a ser você mesmo. Isto distingue a autónoma majestade do ser, de uma mera ilusão ou ficção; é um reconhecimento da consistência interior e positiva do ser - da sua independência dos nossos humores arbitrários.

A reverência dá ao ser a oportunidade de se implantar a si mesmo, para , assim como era, falar-nos; fecundar as nossas mentes. Portanto a reverência é indispensável a qualquer conhecimento adequado do ser.

Dietrich von Hildebrand
A profundidade e a plenitude do ser e, acima de todos os seus mistérios, nunca serão revelados a ninguém, mas apenas à mente reverente. Lembre-se que a reverência é um elemento constitutivo da capacidade de " surpreender-se" de que Platão e Aristóteles afirmaram que é a condição indispensável para a filosofia. Na verdade, a irreverência é a fonte principal do erro filosófico.

Mas se reverencia é a base necessária para o conhecimento confiante do ser , é também essencial para compreender e ponderar os valores baseados no ser. Só o homem reverente que está pronto para admitir a existência de algo maior do que ele, quem quer ser silencioso e deixar ao objecto que lhe fale – quem se abre - é capaz de entrar no mundo sublime dos valores.

Além disso, após uma gradação de valores tem sido reconhecida, uma nova espécie de reverência está em ordem, uma reverência que não respondem apenas à majestade de ser, como tal, mas o valor específico e sendo uma linha específica na hierarquia valores mobiliários. E esta nova reverência permite ainda a descoberta de outros valores.

Dietrich von Hildebrand foi pároco e grande teólogo da Santa Igreja Católica, que João Paulo II chamava o "doutor da Igreja do século XX"



Dietrich von Hildebrand

Além disso, após uma gradação de valores tem sido reconhecida, uma nova espécie de reverência está em ordem, uma reverência que não respondem apenas à majestade de ser, como tal, mas o valor específico e sendo uma linha específica na hierarquia valores mobiliários. E esta nova reverência permite ainda a descoberta de outros valores.

O homem mostra o seu carácter de uma pessoa essencialmente receptivo criada, mas apenas na atitude reverente, a grandeza do último homem a ser capax Dei.
O homem tem a capacidade, em outras palavras, de compreender algo maior do que ele, ser afectado e fecundado por algo, abandonar-se a esse algo para o seu próprio bem - numa resposta pura ao seu valor. Esta capacidade de superar-se distingue o homem de uma planta ou um animal, que se esforçam só por implementar o seu próprio ser.

Encontramos melhor a Cristo elevando-nos até Ele ou arrastando-O ao nosso mundo rotineiro ?