quarta-feira, 11 de abril de 2012

Missas "Neocatecumenais" na berlinda

Missas "Neocatecumenais" na berlinda


Essa estranha missa que o papa não quer

É a missa segundo o rito do Caminho Neocatecumenal. Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé que a examine a fundo. Sua condenação parece certa.
de Sandro Magister

ROMA, 11 de abril de 2012 – Com uma carta autógrafa ao Cardeal William J. Levada, Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé que examine se as missas neocatecumenais são ou não conformes à doutrina e à praxe litúrgica da Igreja Católica.

Um “problema”, este, que o papa julga “de grande urgência” para toda a Igreja.

Faz tempo que Bento XVI está preocupado com as modalidades particulares com as que as comunidades do Caminho Neocatecumenal celebram suas missas, no sábado à noite, em locais separados.

Sua preocupação aumentou também devido à trama urdida nas suas costas na cúria no inverno passado, sobre a qual informou www.chiesa nos seguintes artigos:

¿"Plácet" o "Non plácet"? La apuesta de Carmen y Kiko
(13/01/2012)

Diario Vaticano / A los neocatecumanales el diploma. Pero no lo que esperaban (23/01/2012)

O que aconteceu é que o Pontifício Conselho para os Leigos, presidido pelo Cardeal Stanislaw Rylko, havia preparado o texto de um decreto de aprovação global de todas as celebrações litúrgicas e extralitúrgicas do Caminho Neocatecumenal, que deveria tornar-se público no dia 20 de janeiro por ocasião de um encontro previsto do papa com o Caminho.

O decreto havia sido redigido por indicação da Congregação para o Culto Divino, presidida pelo Cardeal Antonio Cañizares Llovera. Os fundadores e líderes do Caminho, Francisco "Kiko" Argüello e Carmen Hernández, foram informados a respeito dele e anteciparam felizes a seus seguidores a sua iminente aprovação.

Tudo sem o conhecimento do papa.

Bento XVI veio a conhecer o texto do decreto poucos dias antes do encontro de 20 de janeiro. Julgou-o desconexo e equivocado. Ordenou que fosse anulado e reescrito segundo suas indicações.

De fato, em 20 de janeiro, o decreto que se tornou público se limitou a aprovar as cerimônias extralitúrgicas que marcam as etapas catequéticas do Caminho.

O papa em seu discurso destacou que apenas estas haviam sido autorizadas, enquanto que acerca da missa deu aos neocatecumenais uma verdadeira e própria lição – quase um ultimato – sobre como celebrá-la em plena fidelidade às normas litúrgicas e em efetiva comunhão com a Igreja.

Nestes mesmos dias, Bento XVI recebeu em audiência o arcebispo de Berlim, Rainer Maria Woelki, homem de sua confiança, ao que em breve faria cardeal. Woelki lhe falou, entre outras coisas, precisamente das dificuldades que os neocatecumenais criavam em sua diocese, com suas missas separadas de sábado à noite, oficiadas por uma trintena de seus sacerdotes.

O papa pediu a Woelki que lhe fizesse uma exposição escrita sobre este tema. Em 31 de janeiro, Woelki enviou-lhe uma carta com informações mais detalhadas.

Dias mais tarde, em 11 de fevereiro, o papa enviou uma cópia desta carta à Congregação para a Doutrina da Fé, junto a seu pedido de examinar a questão o quanto antes, que “não diz respeito somente à arquidiocese de Berlim”.

Segundo as indicações do papa, a comissão de exame presidida pela Congregação para a Doutrina da Fé devia ter a colaboração de outros dois dicastérios vaticanos: a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e o Pontifício Conselho para os Leigos.

E assim se deu. Em 26 de março, no Palácio do Santo Ofício, sob a presidência do secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, jesuíta, reuniram-se para um primeiro exame da questão os secretários dos outros dois dicastérios –o arcebispo Dom Augustine J. Di Noia, dominicano, para o Culto Divino e o bispo Dom Josef Clemens, para os leigos – e os quatro peritos designados por eles. Um quinto perito, ausente, Dom Cassiano Folsom, prior do Mosteiro de São Bento em Núrsia, enviou sua opinião por escrito.

Os juízos expressos sobre as missas dos neocatecumenais foram todos críticos. Muito severo também foi o juízo que a mesma Congregação para a Doutrina da Fé havia pedido, antes da reunião, ao teólogo e cardeal Karl J. Becker, jesuíta, professor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana e consultor do dicastério.

O dossiê predisposto para a reunião pela Congregação para a Doutrina da Fé incluía a carta do papa de 11 de fevereiro, a carta do Cardeal Woelki ao papa no original em alemão e na versão inglesa, o parecer do Cardeal Becker e um guia para a discussão n qual se punha em dúvida de forma explícita a conformidade à doutrina e à praxe litúrgica da Igreja Católica do art. 13 § 2 do estatuto dos neocatecumenais, aquele com que eles justificam suas missas separadas de sábado à noite.

Na realidade, o perigo temido por Bento XVI e muitos outros bispos – como resulta das numerosas denúncias chegadas ao Vaticano – é que as modalidades particulares com que as comunidades neocatecumenais de todo o mundo celebram suas missas introduzam de fato na liturgia latina um novo “rito”, composto de forma artificial pelos fundadores do Caminho, estranho à tradição litúrgica, cheio de ambiguidades doutrinais e fator de divisão na comunidade dos fiéis.

O papa confiou à comissão por ele desejada a tarefa de averiguar o fundamento destes temores, em vista das consequentes decisões.
Os juízos elaborados pela comissão serão examinados numa próxima reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, uma quarta-feira – “feria quarta” – da segunda metade de abril.