O diabo e as tentações
Amanhã, 26 de Fevereiro (primeiro Domingo da Quaresma - Ano "B") vamos reflectir sobre o Evangelho
tentações. As meditações que proponho abaixo (por Don Divo Barsotti) sobre Jesus
...são textos muito actuais até para nós hoje...
Retiro 13 de Março 1984 - Biella
homilia de sábado à noite
O Evangelho de hoje é a própria essência do cristianismo: o Evangelho de Jesus é a "boa nova", é o anúncio da misericórdia derramada sobre o universo, e é uma misericórdia infinita. Deus é o que Ele é, Ele não muda, e Ele é, portanto, para todos, sempre, misericórdia sem limites. Onde está, então, o limite desta misericórdia? Logicamente, no sentimento que temos da necessidade de perdão de Deus: tanto recebemos de Deus quanto acreditamos receber, e nada mais. E esperamos receber apenas na medida em que nos sentimos carentes. A melhor condição do homem é, portanto, a de quem se sente mais pecador e no sentimento de seu próprio pecado se abre com maior confiança a esta misericórdia de Deus.
Existem, portanto, duas condições para entrar neste relacionamento com Deus: o sentimento do nosso pecado; o reconhecimento da Sua misericórdia.
É por isso que todo o povo oriental, especialmente o monaquismo, sintetiza toda a vida espiritual no que se chama a "oração de Jesus": "Jesus Cristo Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador". São os dois abismos que são chamados, como diz o salmo: "O abismo chama o abismo", ou seja, o abismo da nossa pobreza chama o abismo da misericórdia de Deus. Há uma correspondência entre o homem e Deus, mas a correspondência entre o homem e Deus é misericórdia, surge precisamente do vazio que deve ser preenchido pelo Todo divino; e Deus se faz presente a uma alma não segundo o que Ele é, mas segundo o que a alma sente de si mesma e sente de Deus. Devemos sentir que somos pecadores; sem o sentimento do nosso pecado somos excluídos da redenção, porque a nossa salvação deve ser a redenção. E o que significa redimir? Em latim significa "para comprar de volta". Nós pertencemos a Deus, mas o mundo tem hipotecas sobre nós. Se temos sentimentos de vaidade, amor-próprio, orgulho, sensualidade, é um sinal de que o mundo tomou posse de nós. Isto é o que Clemente Alexandrian disse no século II: "As paixões do homem são os estigmas do diabo", ele quis dizer que elas são como um sinal de pertencer ao maligno.
Agora, se há esses sentimentos em nós, eles nos dizem o que somos para Deus. E nós devemos senti-lo, e devemos vivê-lo, precisamente porque o sentimento do nosso pecado é a primeira condição para entrar em relação com o Senhor, porque Ele é o Redentor, Ele é Aquele que "nos compra de volta". Nós éramos de Deus, mas agora nos desapegamos Dele, pelo menos em parte, e pertencemos a este mundo; portanto, Deus deve nos afastar do poder que este mundo tem sobre nós, do poder que o Maligno tem sobre nós.
A redenção que o Senhor deve realizar hoje na humanidade é a redenção que exige infinita misericórdia; pois exige que a humanidade se dê conta de quão escravizada está para o Maligno. Há os nossos pecados pessoais conscientes, mas há escravidão inconsciente em todos nós. Você lê o jornal, você vê televisão; você percebe que por todos esses meios, mas também no mercado, mesmo no trabalho, o mundo sempre nos coloca uma certa hipoteca? Somos escravos dos nossos hábitos, escravos dos nossos prazeres, escravos da nossa vontade, escravos acima de tudo do respeito humano, da moda, do tempo... não há mais liberdade para o homem. Há 50 anos, o homem era mais homem do que é hoje. Falamos de progresso: o progresso é uma involução assustadora! Vejam que hoje em dia a sociedade, o Estado, tende a limitar cada vez mais a liberdade espiritual do homem. Você não tem a possibilidade de se desfazer da sua vida, nem mesmo como pensionista! O mundo leva-te e já não te deixa sem fôlego: tens de pensar como o mundo pensa, tens de te submeter aos modos de sentir, aos modos de viver próprios do mundo. Uma família pode passar sem televisão? Pode viver sem o jornal? E o que significa tudo isto? Acha que estes são meios para a nossa promoção? É o oposto que é verdade: é o mundo que por todos estes meios te faz seu escravo, te faz seu peão, te move para onde quiser, de acordo com o que quiser. Poucas almas adquirem liberdade, mas a única maneira de ser livre é o cristianismo, a vida cristã vivida, porque é Cristo que nos liberta, é Cristo que nos redime, isto é, que nos compra de volta ao mundo que se apoderou de nós.
Lembra-se das palavras de Jesus àqueles que lhe dizem: "O que você acha, Mestre, devemos ou não dar o tributo a César? O que Jesus responde? "Dá a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Mas é uma resposta sibilina, uma resposta que parece não dizer nada; ou ele não diz nada ou há uma verdadeira
- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)