EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA - PARTES XXII
EXPLICAÇÃO
DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo
XXII. A SANTA
MISSA É O MAIS EFICAZ ALÍVIO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
Não podendo
compreender, durante esta vida, o rigor das chamas do purgatório, virá, porém, o
dia em que o experimentaremos. Meditemos, enquanto podemos, a doutrina dos
Santos e Doutores da Igreja.
Santo Agostinho
diz: "O eleito e o condenado são atormentados pelo fogo, cuja ação é mais
violenta que tudo quanto, sobre a terra, se pode imaginar, ver e sentir" (Sermão
41). Fosse este testemunho o único, e bastaria para espantar-nos, porque os
males de que a terra está cheia, são incalculáveis, e nossa capacidade de sofrer
é um abismo de que ninguém sondou a fundo. Pensa nas terríveis doenças que
corrompem o corpo; lê, no martirológio, as torturas espantosas, a que foram
submetidos os confessores da fé, e persuadir-te-ás de que tudo isto é apenas uma
pálida imagem do que te espera, segundo a afirmação de São Cirilo: "Todas as
penas e torturas, diz ele, todos os tormentos desta vida, comparados à menor
pena do purgatório, parecem ainda uma consolação". São Tomás de Aquino afirma
também: "A menor faísca desse fogo é mais cruel que todos os males desta vida"
(In e. Sent. dist. 20, qu. 1. c. 2).
Meu Deus! Como
minha alma suportará essas dores terríveis? Ora, é quase certo que não chegará
ao céu sem passar por essas chamas purificadoras, porque, longe de ser bastante
perfeita para evitá-las, está repleta de manchas e de más
inclinações.
Há vários meios
eficazes de aliviar as almas do purgatório; porém, o mais salutar, declara o
Concílio de Trento, é o santo Sacrifício da Missa: "As almas do purgatório são
aliviadas pelas orações e sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do
Altar" (Conc. Trento, Sess. 25). Dois séculos antes, São Tomás de Aquino dizia:
"Segundo o uso geral, a Igreja sacrifica e ora pelos defuntos e, assim,
liberta-os, prontamente, do purgatório".
A razão é porque,
na santa Missa, o sacerdote e os assistentes não somente pedem misericórdia, mas
oferecem também a Deus um resgate preciosíssimo. As almas do purgatório não
estão fora dos favores de Deus, visto que, por sua contrição e confissão,
reconciliaram-se com Ele, porém ficam prisioneiras, para se purificarem das
chamas. Por conseguinte, se cheio de compaixão, orares por elas, cedendo-lhes
teus méritos, contribuis para saldar uma parte desta dívida de que o Juiz
supremo diz: Toma cuidado "para que não sejas lançado na prisão, donde não
sairás sem ter pago o último ceitil" (Mt. 5, 25-26). Entretanto, se assistes, ou
fazes celebrar a santa Missa por uma destas almas, satisfarás grande parte de
sua dívida.
Ignora-se em que
medida são remidas as penas do purgatório pelo santo Sacrifício. Em todo o caso,
fica certo que uma Missa celebrada, ou ouvida durante tua vida, serve-te mais do
que outra oferecida em tua intenção depois da morte, segundo a palavra de Santo
Anselmo: "Uma única Missa assistida por uma pessoa durante a vida, lhe é mais
vantajosa do que muitas oferecidas, em sua intenção, depois da morte". Eis
porque:
Se estiveres em
estado de graça, quando ouvires, ou mandares celebrar a santa Missa por ti,
obterás um aumento de glória para o paraíso; vantagem que, mesmo cem missas,
celebradas depois de teu falecimento, não poderiam merecer-te, visto que o tempo
de merecer acabou.
Se estiveres em
estado de pecado mortal, a santa Missa te atrairá, pela infinita misericórdia de
Deus, a luz necessária para reconhecer os pecados e a dor de havê-los cometidos,
dor que te põe em graça com ele, cousa impossível depois da morte. Se, em vida,
já estás marcado com o selo da reprovação, a santa Missa pode ainda deter-te na
beira do abismo infernal e conceder-te o inestimável benefício de morreres na
graça de Deus.
Missas ouvidas,
ou celebradas te esperam além do túmulo, onde, como outros tantos advogados
eloqüentes, solicitarão, para ti, o perdão no tribunal da Justiça divina. Se não
te preservam inteiramente do purgatório, abreviar-lhe-ão a duração e
diminuir-lhe-ão a intensidade. Apesar de Deus aplicar-te todo o fruto de uma
Missa após tua morte, seria ainda mister que fosse celebrada, e deverias
esperá-la.
Supõe qeu morras
à tarde e devas permanecer nas chamas do purgatório somente até a hora da Missa
do dia imediato, oh, como seria longa esta única noite! Supõe mesmo o caso mais
favorável em que tua pena duraria o tempo de uma Missa; caro leitor, esta meia
hora te pareceria ainda uma eternidade. Se te obrigassem a ter a mão em fogo
vivo durante o tempo em que se pode celebrar uma santa Missa, quanto não darias
para escapar a uma prova tão cruel? Entretanto, não atingiria senão a um membro
de teu corpo, e não se pode comparar à pena muito mais intensa que tem sede na
alma. Poderíamos ter menos compaixão de nossa alma que de nosso corpo? Em todo
caso, é melhor que as Missas nos esperem na outra vida do que termos que
esperá-las. Amontoemos, pois, tesouros no céu, pela piedosa assistência à santa
Missa, porque a noite virá, e quem trabalhará então por
nós?
A esmola que
consagras para fazer celebrar a santa Missa, é um dom espontâneo, voluntário,
muito agradável a Deus, ao passo que, depois de tua morte, não será mais dado
por ti, mas por teus herdeiros. Não vemos, todos os dias, como demoram a
satisfazer os piedosos desejos dos moribundos?
Acredita-nos, é
mais conveniente assegurar o futuro, desde a vida presente, enquanto podes
dispor de teus bens.
Enfim, não
esqueçamos que o tempo presente é o tempo da misericórdia, e o tempo futuro, o
da justiça. São Boaventura diz: "Assim como uma palheta de ouro é mais preciosa
do que um pedaço de chumbo, também uma pequena penitência, a que nos submetemos,
voluntariamente, nesta vida, é mais agradável aos olhos de Deus do que uma
grande penitência feita na outra.
Ah, se pudesses
contemplar, com teus olhos mortais, os rios de graças que, do altar, se derramam
sobre o purgatório, com que pressa procurarias, para as almas exiladas, este
divino benefício! Não objetes tua pobreza. É verdade, a pobreza pode privar-te
do prazer de mandar celebrar os divinos Mistérios; porém, não te explicamos que
a simples audição da santa Missa é, por si, muito meritória? Pede a teus amigos
que ouçam também uma ou mais Missas, na intenção das almas do
purgatório.
Era o conselho de
um homem de Deus a uma pobre viúva que lamentava não poder mandar celebrar
Missas por seu defunto marido: "Assisti, freqüentemente, ao santo Sacrifício por
ele; deste modo será mais prontamente libertado do que por uma ou duas Missas
celebradas em sua intenção". Este excelente conselho o damos, de bom grado, aos
pobres; não que seja menos vantajoso fazer celebrar a Missa, quando se pode,
porém, é uma consolação para a alma do purgatório ver-te oferecer, por ela,
nosso Senhor a seu Pai. Então o precioso Sangue inunda-a como orvalho celeste.
Jamais um doente devorado pela febre foi tão aliviado por um copo d'água fresca,
como nossos caros defuntos, quando na santa Missa, derramamos, misticamente,
sobre eles algumas gotas deste Sangue divino.ler...
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