São Bernardino e o Santíssimo Nome de Jesus
São Bernardino de Sena, como todos os grandes pregadores, não estavam a ensinar algo novo, mas lembrar aos seus ouvintes o que eles já deveriam ter plena consciência. Ao pregar, ele costumava segurar uma pequena prancheta de madeira, na qual o monograma IHS que ele privilegiava, era circundado por doze raios de luz, e ele encorajava “cada joelho a se dobrar” perante o monograma. A devoção ao Nome Santo espalhou-se pela Europa com rapidez surpreendente. Em 1432, o Papa Eugénio IV emitiu uma Bula promovendo a devoção ao símbolo IHS escrito.
A devoção popular levou à composição de um Ofício do Nome Santo, e ao estabelecimento de um dia comemorativo. Em Camaiore di Luca, na Itália, começou-se a celebrar a festa, depois de aprovada para a Ordem dos Franciscanos (1530) e sob o pontificado de Inocêncio XIII (1721), estendida a toda a Igreja.
O dia da festa variou através dos séculos, mas muitos o lembram como o domingo depois do Natal, até 1969, quando foi suprimido. O Santo Padre João Paulo II, na mais recente edição do Missal Romano, restabeleceu a Festa do Santíssimo Nome de Jesus no dia 3 de Janeiro.
Dos Sermões de São Bernardino de Sena sobre o Santíssimo Nome de Jesus
(Sec. XV)
O nome de Jesus, luz dos pregadores
(Sermão 49, sobre o glorioso Nome de Jesus, cap. 2: Opera omnia 4, 505-506)
O nome de Jesus é a luz dos pregadores, porque ilumina com o seu esplendor os que anunciam e os que ouvem a sua palavra. Qual é a razão por que se difundiu a luz da fé por todo o mundo tão rápida e ardentemente, senão porque foi pregado este nome? Não foi também pela luz e suavidade do nome de Jesus que Deus nos chamou à sua luz admirável?(1Pd 2,9). Com razão diz o Apóstolo aos que foram iluminados e nesta luz vêem a luz: Outrora fostes trevas, mas agora sois luz no Senhor: vivei como filhos da luz (Ef 5,8).
Portanto, necessário, por conseguinte, anunciar este nome, para que a sua luz não fique oculta mas resplandeça. Mas não deve ser pregado com o coração impuro ou com a boca profanada; tem de ser guardado e distribuído por meio de uma taça preciosa.
Por isso, diz o Senhor, referindo-se ao Apóstolo: Este homem é para mim a taça escolhida para levar o meu nome perante os gentios, os reis e os filhos de Israel (cf. At 9,15). Uma taça escolhida, diz o Senhor, onde se expõe uma inestimável bebida de agradável sabor, para que o brilho e esplendor das taças preciosas convide a beber: para levar – acrescenta – o meu nome.
Com efeito, assim como para limpar os campos se queimam com o fogo as silvas e os espinheiros secos e inúteis, e assim como aos primeiros raios do sol nascente, à medida que se vão dissipando as trevas, se escondem os ladrões, os meliantes nocturnos e os salteadores, assim também quando a boca de Paulo pregava aos povos – semelhante ao ribombar de forte trovão ou ao irromper de um incêndio avassalador ou ao esplendoroso nascer do sol – extinguia-se a infidelidade, desaparecia a falsidade e resplandecia a verdade, à semelhança da cera que se derrete ao calor de um fogo ardente.
Ele levava a toda a parte o nome de Jesus com suas palavras, com suas cartas, com seus milagres e com seu exemplo. Bendizia sempre o nome de Jesus e cantava-lhe hinos de acção de graças (Eclo 51,15; Ef 5,19-20).
O Apóstolo apresentava este nome como uma luz perante os reis, os gentios e os filhos de Israel e iluminava as nações e proclamava por toda a parte: A noite vai adiantada e aproxima-se o dia. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos com as armas da luz. Andemos dignamente como convém em pleno dia (Rm 13,12-13). E mostrava a todos a lâmpada que arde e ilumina sobre o candelabro, anunciando em todo o lugar a Jesus crucificado (1Cor 2,2).
Por isso, a Igreja, esposa de Cristo, sempre fortalecida pelo seu testemunho, rejubila com o Profeta, dizendo: Desde a juventude, ó Deus, Vós me ensinastes, e até hoje e sempre anuncio as vossas maravilhas (Sl 70,17). A isto exorta também o Profeta, dizendo: Cantai ao Senhor e bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação (Sl 95,2), isto é, Jesus, o Salvador.
Bem mais antiga do que a devoção franciscana ao Nome de Jesus é a prática da “Invocação” contínua deste Nome. Ela remonta aos tempos da antiguidade cristã e especificamente ao hesicasmo.
O Nome de Jesus, solida base da fé, suscita filhos de Deus
(Da Obra De Evangelio Aeterno, de São Bernardino de Sena. Sermo 49, art. 1: Opera Omnia, IV, p.495s)