Homilia - 13 de maio
2014-05-13 |
HOMILIA
13 de maio de 2014
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo:
Que bem estamos aqui! Como nos sentimos bem, sentimo-nos como
em Casa, junto a Maria Santíssima!
E como nos faz bem estarmos juntos, ajudando-nos com as
nossas orações, imitando-nos uns aos outros com as nossas virtudes!
Agradeço de coração o gentil convite do Senhor Bispo, D.
António Marto, e a todos os organizadores desta grande peregrinação!
Viemos de todas as partes do mundo para honrar a Virgem
Santíssima; para reparar o seu Coração Imaculado e para consolar o Coração do
seu amado Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor.
1. Fatima. Um mistério de amor, de inocência, de
santidade.
Faz-nos bem vir a Fátima. Recorda-nos, entre outras coisas,
que quando Deus opera escolhe gente simples, lugares simples, linguagem
simples.
Assim fez no início da Redenção: quando elegeu Maria
Santíssima, São José, os Pastores…
Assim fez ao eleger a pobre casa de Nazaré, a manjedoura de
Belém… o caminho do desterro.
Assim fez dialogando de forma muito clara e objetiva através
do Anjo da Anunciação.
Assim quer que sejamos simples também nós!
Aqui em Fátima, escolheu três crianças muito inocentes:
Lúcia, Jacinta e Francisco.
Escolheu uma azinheira num descampado.
Escolheu a linguagem simples de Maria, do Anjo e do próprio
Jesus.
Quanto necessitamos ainda da mensagem de Fátima!
Necessitamos que os nossos jovens escutem a voz do inocente
Francisco, que queria cada vez mais amar a Jesus, enxugar-lhe as suas
lágrimas.
Necessitamos que a gente adulta pense e aja como a pequena
Jacinta, esse anjo do Céu, que na sua infância, agiu com a seriedade de quem
entende que a salvação da alma, das nossas almas, é o assunto principal a que
nos devemos dedicar.
Necessitamos que todos, em todas as partes do mundo,
consagrem – cada um segundo a sua vocação específica como fez a Irmã Lúcia –,
toda a sua vida a encarnar e a propagar a mensagem de Cristo, mensagem de amor e
de reconciliação, e os apelos de Maria Santíssima em Fátima.
São muito atuais os apelos de Maria. E o mundo, em perigo de
perdição, não encontrará paz e graça se não se esforçar por colocar em prática o
que a Virgem Maria pediu aqui.
2. A Virgem de Fátima nasceu na Palestina e desde ali
iniciou a sua vida itinerante…
A partir de Nazaré – onde começará a ser a Mãe do Verbo
Encarnado – “A cheia de Deus”, a cheia de graça, vai pressurosa a Ain Karem para
compartilhar essa graça no seu serviço de piedade e caridade;
Encontramo-la logo em Belém – onde o mundo fiel (os pastores)
e o pagão (os reis magos) contemplarão o fruto do seu ventre virginal;
Dali, como os milhões de refugiados no Médio Oriente e em
África, se refugiará no Egito, protegendo o Filho das suas entranhas e crescendo
no amor virginal com São José.
Logo, regressa a Nazaré… acompanha o seu filho a Caná – onde
antecipa a Hora do Senhor, pedindo-Lhe um milagre.
Vai com o Seu Filho a Cafarnaum…
E acompanhá-Lo-á na sua Via-Sacra… e na sua Sepultura.
E assim fará com o Corpo Místico de seu Filho que é a Igreja…
Ela esteve presente no Cenáculo até à vinda do Pentecostes… bastava a sua
presença para tranquilizar os discípulos…
Ela nunca esteve parada! Sempre acompanhou e acompanha a vida
de seus filhos.
Assim, ao longo da história, apareceu no Pilar e em
Guadalupe… assim quis Ela chegar em pessoa aqui, para santificar este lugar com
a sua presença e aparição;
Hoje, seguindo os passos desta amada Mãe peregrina, venho
aqui, a Fátima e trago comigo toda a comunidade cristã de Jerusalém para me unir
a vós na devoção a Nossa Senhora.
É Maria Santíssima quem nos une em Cristo. Ela fortalece o
forte laço que existe entre Fátima em Portugal e Jerusalém na Terra Santa.
Um santuário leva-nos naturalmente ao outro. Nós, os da Terra
Santa, sentimo-nos atraídos a todos os lugares onde a Mãe de Deus quer continuar
a ajudar a humanidade.
Vós não podeis deixar de pensar nos lugares onde Maria
Santíssima nasceu, viveu, sofreu e foi elevada ao Céu. Convido-vos a que façais
também esta experiência da presença de Maria, peregrinando à Sua Terra.
Espero-vos a todos com muito gosto!
Muitos são os santuários marianos no mundo, mas Ela é uma só,
e Ela nos ensina a procurar a verdadeira unidade na Fé em seu Filho e na
verdadeira Caridade.
Maria não tem problema em apresentar-se com vestes diversas e
com cores de pele diversas. Ela não tem medo de nos falar em diferentes
idiomas.
Olhemos ao nosso redor… viemos de muitas partes. De
diferentes culturas… ninguém se sente estrangeiro junto de Maria… e todos juntos
formamos uma só família, família que ama, família que busca amor, paz, saúde e
serenidade.
Assim é e assim deve ser.
Como diz a Sagrada Escritura: “Vede como é bom e agradável
que os irmãos vivam unidos!” (Sl 133,1)
3. Nossa Senhora em Fátima chama-nos à conversão, à
mudança de mentalidade e de coração. E para isso nos chama à confissão
dos pecados, a rezar e a sacrificarmo-nos pela salvação de todos.
A mensagem de Fátima é uma mensagem da Virgem Mãe ao pé da
Cruz. Sim! Desde o Gólgota do Seu Filho, e seu também, Ela chama-nos à
conversão. É uma mensagem agridoce, porque por um lado contemplamos a sua
maternidade amorosa que nos enche de consolo, mas por outro não podemos deixar
de contemplar o significado da morte de seu Filho: o seu Calvário, os seus
sofrimentos e os sofrimentos da própria Virgem… e o motivo de todos esses
sofrimentos: a salvação da humanidade, a nossa salvação.
Se a Virgem quis aparecer aqui e chamar-nos à conversão, é
porque o mundo está em perigo. E não só considerando a sua dimensão material,
mas o seu aspeto principal: os homens e mulheres do mundo, todos e cada um dos
habitantes do planeta terra, estão em perigo de eterna condenação. Retirai este
aspeto da mensagem de Fátima, e a aparição e a mensagem de Nossa Senhora não
terão significado.
Acabámos de terminar as celebraçõess da Semana Santa. A
impressionante súplica de Jesus pregado na Cruz sobre o Gólgota de Jerusalém
repetiu-se também neste lugar santo: “Que fazeis?” – perguntou o Anjo aos
pastorinhos, que estavam a brincar durante a sesta – “Que fazeis? Orai, orai
muito […] De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação
pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos
pecadores”.
Cristo é a nossa paz. Ele adquiriu para nós a paz com o preço
do seu Sangue e das suas súplicas – “foi atendido por causa da sua humildade”
(Heb 5, 7-8).
Em Fátima, o Céu pede-nos também que ofereçamos sacrifícios e
orações pela paz “Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz”, disse o Anjo aos
Pastorinhos.
E a Virgem Santíssima, logo depois de lhes perguntar se
estavam dispostos a sofrer pela conversão dos pecadores, pede-lhes: “Rezem o
terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra”.
4. Queridos irmãos. Quanto ódio há no mundo!
Quantos crimes e quanta violência! Quanto sangue se derrama nos altares imundos
dos ídolos!
A quem recorrer? A Cristo – como nos ensinou Maria em Caná:
“Fazei o que Ele vos disser!” (Jo 2, 1-11).
Que fazer? Rezar o Rosário todos os dias; confessar-se;
oferecer, de tudo o que pudermos, sacrifícios; viver na caridade.
Temos muitos desafios, mas não estamos sós. Cristo
assegurou-nos que estaria connosco “todos os dias até à consumação dos séculos”
(Mt 28, 20) e temo-nos uns aos outros, para nos ajudarmos, para nos imitarmos no
bem, e nos associarmos na difusão dos valores do Evangelho.
Este ano trabalhar-se-á na Igreja o tema da família, com
vista ao próximo Sínodo dos Bispos no mês de outubro, convocado pelo Papa
Francisco e que tem como tema: “Os desafios da família”.
Devemos pensar na unidade da família; da família
internacional – composta pelas nações e povos do mundo –; também da família
eclesial – na bela diversidade das suas vocações –, mas, e sobretudo, pensemos e
trabalhemos pela família humana. Por aquela que o Criador instituiu para que
seja base e fundamento da sociedade. A família baseada no matrimónio
indissolúvel entre um homem e uma mulher; família criada para ser fonte de amor
mútuo e generosa fecundidade.
Rezemos pelos frutos do Sínodo e por todas as famílias do
mundo, a fim de que todos possam experimentar o amor de Deus, que se manifesta
no seio dos lares.
Peçamos também por aqueles que, desgraçadamente, por vários
motivos sofrem nas suas realidades familiares. Que não percam a fé em Deus nem a
esperança no divino.
A riqueza da família no Oriente pode servir, em certo aspeto,
de estímulo a muitas graves realidades que se vivem no Ocidente, demonstrando
que não é impossível viver bem a sã vida familiar:
O amor e os laços familiares que se experienciam nos lares no
Oriente são muito fortes: tanto assim é que os lares da terceira idade não têm
utentes! Porque as famílias não querem deixar os mais idosos! Famílias
numerosas… devoção mariana com um resultado positivo de muitas vocações
sacerdotais.
5. Outro desafio é a paz.
Há muitos problemas no mundo e particularmente no Médio
Oriente: graves problemas políticos – sistemas e governos inteiros que não
conseguem restaurar a continuidade e a serena convivência; os fanatismos
religiosos – mas também de alguns grupos islamitas ou de alguns grupos de judeus
extremistas –; os check-points militares israelitas, que impedem a
livre circulação dos habitantes árabes da Terra Santa e do mundo árabe para os
seus lugares de culto e para os lugares onde vivem os seus familiares; centenas
de milhares de refugiados – gente que perdeu tudo; casa, veículos, trabalho,
terra… a sua dignidade… –; guerra aqui e ali… e rumores de guerra e greves por
toda a Europa. Que o Senhor misericordioso tenha piedade de nós!
Que fazer? A resposta definitiva a todos estes problemas não
a conheço.
Mas sim, sei que podemos rezar pela paz; todos os dias,
especialmente na Santa Missa e no Rosário.
Sim! Rezar pela paz e, também, trabalhar pela justiça e pela
dignidade do homem. Porque a justiça é o fundamento natural da paz. E a paz ou é
justa ou não é paz verdadeira.
E se se sacrifica a justiça e a dignidade do homem, em busca
de segurança, perdemos as duas coisas: a paz e a segurança.
Na Terra Santa há muitos muros que separam famílias,
paróquias, terrenos; mas piores do que os muros de betão são os muros do coração
do homem: as injustiças arreigadas; o ódio racial e religioso; a ambição e o
egoísmo feito lei; a desconfiança, a força bruta e a arrogância em toda a
parte…
Sim! Os muros do coração são invisíveis, mas são piores do
que os visíveis. E há que trabalhar para que caiam todos esses muros. E… aqui
então… também deveremos voltar à oração; a pedir Àquele que “derrubou na sua
carne” (EF 2,14) a divisão dos homens, que nos dê a graça de derrubar os muros
que nos separam.
Daí que a mensagem de Fátima, de conversão e oração, seja
particularmente eficaz, para colaborar no caminho da paz na Terra Santa e em
todo o Médio Oriente.
6. Sabeis que o Papa Francisco irá dentro de alguns
dias à Terra Santa. Irá como peregrino da paz e como visitante da
comunidade cristã de Jerusalém. Essa comunidade deseja viver sempre como a
primeira comunidade cristã: unidos na caridade, assíduos aos sacramentos e à
oração. O pequeno rebanho de Cristo na Terra Santa – apenas 2% da população –
quer ser fiel a Cristo.
Rezemos pelos frutos da peregrinação do Santo Padre e tomemos
o seu exemplo. Vinde também vós peregrinar à Terra Santa, vinde fortalecer a
vossa fé e conhecer melhor as vossas raízes!
Receber-vos-ei no Patriarcado com muito gosto, mas não
venhais todos juntos!
É meu desejo também que todos os bispos do mundo, unidos às
suas realidades diocesanas, se sintam corresponsáveis pelas comunidades, pelo
progresso e pela vida pastoral da Igreja na Terra Santa. Os cristãos do Médio
Oriente, essas pedras vivas do corpo de Cristo, são um património comum que
todos temos de custodiar. Neste sentido, expresso a nossa gratidão a todos os
benfeitores e, de modo especial, aos Cavaleiros membros da Ordem de Cavalaria do
Santo Sepulcro de Jerusalém.
– Hoje, convosco, sinto-me em família. Todos nos sentimos em
família. Desejo que quando chegardes a Jerusalém, vossa Igreja Mãe, vos sintais
também em casa.
É a fé que nos une e o amor de Maria Imaculada.
Hoje deverá ser uma data inesquecível nas nossas vidas. Uma
data que divida em dois a nossa história pessoal: a vida antes desta
peregrinação e a vida depois; a que começa a partir de hoje. Desejo que
regresseis a vossas casas mais jovens e mais alegres, cheios de fé e de amor
pelo Senhor, por sua Mãe e pela sua Igreja.
† Fouad Twal
Patriarca Latino de
Jerusalém