Estaria a Virgem Maria aparecendo diariamente por muitos anos na outrora obscura vila Bósnia de Medjugorje para dar mensagens religiosas a uns poucos fiéis locais? É um embuste o lugar visitado por mais de 30 milhões de peregrinos? Há tempos a questão divide os católicos que discutem se as visões são um milagre hodierno, auto-sugestão ou resultado de uma fraude bem elaborada.
Após observar os eventos ceticamente por muitos anos, o Vaticano poderá em breve estabelecer orientações mais precisas para os católicos sobre a afirmação de que a mãe de Jesus tem visitado os Bálcãs, disse a Reuters em uma entrevista na terça-feira o Cardeal Vinko Puljic, presidente da conferência dos bispos da Bósnia. Estas orientações, se expressarem claramente o ceticismo que a Igreja oficial há tempos vem demonstrando em relação ao fenômeno de Medjugorje, poderiam representar um sério golpe para um lugar que alguns católicos veem como uma “nova Lourdes”.
“Estamos aguardando uma nova diretriz sobre este assunto”, disse Puljic, o arcebispo de Sarajevo que sobreviveu ao longo cerco da cidade no tempo da guerra na década de 90. “Eu não acho que devemos esperar por muito tempo, eu acho que virá este ano, mas não está claro... Irei a Roma em novembro e devo discutir isto”.
O ceticismo da Igreja oficial sobre Medjugorje tornou-se mais público nos últimos meses. Em junho o Bispo Ratko Peric de Mostar, a cidade mais próxima na Bósnia, advertiu os católicos acerca de uma crença acrítica em Medjugorje e publicou uma série de restrições na paróquia. “Irmãos e irmãs, não ajamos como se estas ‘aparições’ fossem reconhecidas ou dignas de fé”, disse ele num sermão.
E em julho, o Papa Bento XVI reduziu o Pe. Tomislav Vlasic, antigo “diretor-espiritual” dos seis videntes, após uma investigação de um ano sobre acusações de que exagerou as aparições e teve um filho com uma freira.
A investigação, segundo a Catholic News Service, concentrou-se em alegações de “doutrina dúbia, manipulação de consciências, misticismo suspeito e desobediência às ordens legitimamente impostas”. Um informe desta história o chama “um moderno Rasputin com uma inclinação por sexo e seções espíritas” e outro situa a estória de Medjugorje no contexto do anticomunismo e do nacionalismo croata.
Seis crianças relataram visões da Virgem Maria em 1981 num cenário que se assemelha às famosas aparições na cidade francesa de Lourdes e em Fátima, Portugal. Nos anos seguintes, a vila bósnia tornou-se um lugar de grandes peregrinações, dando a muitos visitantes um renovado sentido de espiritualidade e aos habitantes uma fonte constante de renda. Tornou-se também o foco de controvérsia já que os frades franciscanos que se encontravam no lugar promoveram as supostas aparições em aberta oposição às advertências do Vaticano de tal modo que 10 deles foram expulsos da ordem e o bispo local os chamou cismáticos.
A guerra bósnia de 1992 a 1995 interrompeu o fluxo de peregrinos, mas com três dos videntes, agora adultos, ainda relatando visões, milhares ainda se dirigem à cidade bósnia todos os anos. Um dos videntes, Ivan Dragicevic, afirma no website de Medjugorje que ele recebeu nove dos dez segredos da Virgem Maria, outro elemento que recorda Fátima. Ele agora passa metade do ano em Medjugorje e outra metade nos Estados Unidos, com estadas em lugares como Canadá e Peru e dando conferências sobre suas experiências.
Puljic recusa-se a dar suas próprias opiniões sobre os eventos de Medjugorje. “As pessoas têm o direito de rezar em qualquer lugar, inclusive em Medjugorje”, disse ele.
“Não é pecado rezar, não é pecado ouvir confissões, não é pecado fazer penitências, isto é uma boa atmosfera. Mas estes fenômenos, aparições ou visões, estão sob o cuidado da comissão (Vaticano)”, disse o cardeal. “É uma questão muito delicada”.
Você acha que Medjugorje representa um milagre ou uma fraude? O que o Vaticano deveria dizer sobre isto?
Fonte: Reuters
Tradução: OBLATVS