terça-feira, 9 de novembro de 2010

Papa aos bispos italianos: o verdadeiro reformador “não é o dono, mas o guardião do tesouro instituído pelo Senhor”.


O mesmo Concílio Lateranense IV, considerando com particular atenção o Sacramento do Altar, inseriu na profissão de fé o termo “transubstanciação” para afirmar a presença real de Cristo no Sacrifício Eucarístico: “Seu Corpo e Sangue estão verdadeiramente contidos no Sacramento do altar, sob as espécies do Pão e do Vinho, pois o pão é transubstanciado no Corpo e o vinho no Sangue por poder divino” (DS, 802). Do assistir a Santa Missa e receber a Santa Comunhão frutificou a vida evangélica de São Francisco e a sua vocação a percorrer o caminho de Cristo Crucificado: “O Senhor – lemos no Testamento de 1226 – me deu tal fé nas igrejas, de modo que apenas rezava e dizia: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus, em todas as suas igrejas em todo o mundo e vos bendizemos, porque pela sua Santa Cruz remiste o mundo” (Fontes Franciscanas, n.º 111). Nesta experiência também se origina a grande deferência que tinha para com os padres, e que transmitia aos frades, de respeitar-lhes sempre e de toda maneira, “porque do altíssimo Filho de Deus não vejo nada corporalmente neste mundo, exceto o seu Santíssimo Corpo e Sangue que somente eles consagram e somente eles administram aos outros (Fontes Franciscanas, n. º 113).
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Diante deste dom, queridos irmãos, que responsabilidade da vida logramos para todos nós! “Olhai para a vossa dignidade, irmãos sacerdotes – recomendava ainda Francesco — e sede santos, porque Ele é santo!” (Carta ao Capítulo Geral e de todos os frades, Fontes Franciscanas, n. º 220). Sim, a santidade da Eucaristia exige que se celebre e se adore este mistério ciente da sua grandeza, importância e eficácia para a vida cristã, mas exige também pureza, coerência e santidade de vida de cada um de nós, para sermos testemunhos vivos do único sacrifício de amor de Cristo.
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Caros irmãos, o vosso encontro tem como centro dos trabalhos da assembléia o exame da tradução italiana da terceira edição típica do Missal Romano. A correspondência de oração da Igreja (lex orandi) com a regra de fé (lex credendi) molda o pensamento e os sentimentos da comunidade cristã, dando forma à Igreja, Corpo de Cristo e do Templo do Espírito. Toda palavra humana não pode prescindir do tempo, mesmo quando, como no caso da liturgia, constitui uma janela que se abre além do tempo. Dar voz a uma realidade eternamente válida, portanto, requer o sábio equilíbrio entre continuidade e novidade, tradição e atualização. O próprio Missal se insere neste processo. Todo verdadeiro reformador, na verdade, é um obediente à fé: não se move de forma arbitrária, nem arroga para si qualquer poder discricionário sobre o rito; não é o dono, mas o guardião do tesouro instituído pelo Senhor e a nós confiado. Toda a Igreja está presente em cada liturgia: aderir à sua forma é condição de autenticidade daquilo que se celebra.
DE:http://fratresinunum.com/