sábado, 6 de novembro de 2010

A recusa de Deus, uma «tragédia» para a Europa , afirmou o Papa na Missa desta tarde em Santiago, apelando a uma abertura à “transcendência e à fraternidade”.

 
Pope Benedict XVI waves to the devotees after his mass at the Santiago de Compostela Cathedral in northern Spain November 6, 2010. Pope Benedict, on a lightning trip to Spain, urged Europe on Saturday to re-discover God and its Christian heritage and also denounced the country's liberal abortion laws. 







 




(6/11/2010) O grande evento público da visita de Bento XVI a Santiago de Compostela foi esta tarde a Missa ao ar livre, na praça do Obradoiro, assim chamada porque era nesse local que se trabalhava a pedra para a construção da Catedral.
Durante esta celebração, o Papa proferiu uma oração em que falava na sua “peregrinação ao sepulcro do Apóstolo Santiago”, que quis fazer “como mais um peregrino”.
Na homilia Bento XVI qualificou como uma “tragédia” o que entende ser a recusa de Deus na Europa, apelando a uma abertura à “transcendência e à fraternidade”.
“É uma tragédia que na Europa, sobretudo no século XIX, se afirmasse e difundisse a convicção de que Deus é o antagonista do homem e o inimigo da sua liberdade. E salientou que a Europa deve abrir-se a Deus, ir ao seu encontro sem medo, trabalhar com a sua graça por aquela dignidade do homem que as melhores tradições tinham descoberto…e das quais nasceram as grandes criações filosóficas e literárias , culturais e sociais da Europa
O Papa defendeu que “a Europa da ciência e das tecnologias, da civilização e da cultura, tem de ser, ao mesmo tempo, uma Europa aberta à transcendência e à fraternidade com os outros continentes”.
Longamente centrada na situação do Velho Continente, as suas “necessidades, temores e esperanças”, a intervenção papal questionou que o “mais determinante da vida humana” seja remetido para “a mera intimidade” ou a penumbra”.
“Como é possível que se negue a Deus, sol das inteligências, força das vontades e imã dos nossos corações, o direito de propor a luz que dissipa todas as trevas?”, perguntou.
Noutra passagem, foram contestadas as “ameaças” à dignidade humana, “pela espoliação dos seus valores e riquezas originais, pela marginalização ou morte infligidas aos mais fracos e pobres”, numa referência indirecta a questões como o aborto ou a eutanásia.
Bento XVI apontou ainda o dedo às “formas de prepotência e exploração que não deixam espaço para uma autêntica promoção humana integral”.
O Papa frisou que “Deus é a origem do nosso ser, cimento e cume da nossa liberdade, não o seu adversário”, pelo que “a Europa tem de abrir-se a Deus, sair ao seu encontro sem medo”.
“É necessário que Deus volte a ressoar gozosamente debaixo dos céus da Europa” declarou Bento XVI, pedindo que “essa palavra santa não seja nunca pronunciada em vão” ou utilizada “para fins que lhe são impróprios”.
Após saudar os peregrinos, portadores do “genuíno espírito jacobeu", o Papa afirmou que “quem peregrina a Santiago, no fundo, fá-lo para encontrar-se, sobretudo, com Deus”.
“O cansaço do andar, a variedade das paisagens, o encontro com pessoas de outra nacionalidade” abrem os peregrinos ao “mais profundo e comum que une os seres humanos”.
Neste ano santo compostelano, também Bento XVI se apresentou como “peregrino entre os peregrinos”, falando em galego, antes de pedir aos cristãos um “testemunho claro e corajoso” do Evangelho.
“Para os discípulos que querem seguir e imitar a Cristo, o serviço aos irmãs já não é uma mera opção, mas parte essencial do seu ser”, precisou.
Aos jovens, deixou o desafio de renunciar a “um modo de pensar egoísta, de horizontes curtos”.
A intervenção papal conclui-se de novo em galego, com votos de que “Santiago, o amigo do Senhor, alcance abundantes bênçãos para a Galiza, os demais povos de Espanha, de Europa e de tantos lugares além-mar onde o Apóstolo é sinal de identidade cristã”.