terça-feira, 29 de março de 2011

Abril poderá ser um mês cruel para as relações com os tradicionalistas.

Tradução: Fratres in Unum.com
Peregrinação da Fraternidade São Pio X a Roma para o Jubileu do ano 2000.
Peregrinação da Fraternidade São Pio X a Roma para o Jubileu do ano 2000.
Para qualquer um que esteja esperando que rupturas duradouras entre Roma e a ala tradicionalista da Igreja Católica estejam à beira de uma resolução rápida, pode ser que o mês de abril seja indubitavelmente o mês mais cruel.
Dois acontecimentos estão programados para ocorrer a qualquer momento no início de abril, cada qual com implicações para as relações entre o Vaticano e os tais “tradicionalistas”, que significa católicos ligados à antiga Missa em Latim e que têm reservas profundas sobre o Concílio Vaticano Segundo (1962-65).
Primeiramente, a Comissão Pontifícia “Ecclesia Dei”, responsável pelas relações com os tradicionalistas, apresentará uma instrução relativa à implementação do documento do Papa Bento XVI de 2007 Summorum Pontificum, que instalou a Missa antiga como uma “forma extraordinária” do rito em latim.
Em segundo lugar, o que poderia ser a rodada final das conversações [doutrinais] entre o Vaticano e a Fraternidade de São Pio X, a entidade tradicionalista fundada pelo finado arcebispo francês Marcel Lefebvre, que rompeu com Roma em 1988.
Como freqüentemente ocorre, ambas as mudanças provavelmente serão vistas no Vaticano como gestos importantes de divulgação, mas entre alguns tradicionalistas, provavelmente, eles serão tidos como uma confirmação adicional de que não se pode confiar em Roma.
Em alguns círculos tradicionalistas, a instrução vindoura causou alarme, com comentaristas dando a entender que esse documento poderia efetivamente erodir as prerrogativas para a celebração da Missa antiga, que Bento XVI prometeu em seu motu proprio de 2007. Isso seria uma reação, de acordo com a especulação, à pressão de bispos ao redor do mundo que nunca morreram de amores pela Missa em Latim, e que exatamente não se curvaram para torná-la mais amplamente disponível.
Falando em histórico, as autoridades do Vaticano insistem que esse não é o caso.
Em vez disso, eles dizem que a instrução confirmará que agora o moto proprio é a lei universal da Igreja, e insistem que os bispos a apliquem. Entre outras coisas, ele reivindicará que os seminaristas sejam treinados não somente em latim, mas no próprio rito antigo, pelo menos, assim eles saberão como executá-lo fielmente e compreenderão o que está sendo dito.
A instrução também irá confirmar que a Missa antiga deve ser disponibilizada sempre que “grupos de fiéis” a solicitarem, sem especificar quantas pessoas são necessárias para constituir um “grupo”.
A instrução confirmará igualmente que a liturgia antiga deve ser celebrada durante a Semana Santa sempre que houver um “grupo estável” de fiéis ligados à mesma, bem como em ordens religiosas que usam o rito extraordinário.
Por outro lado, a instrução provavelmente não satisfará todas as esperanças tradicionalistas. Por exemplo, provavelmente, ela não dará a um seminarista em um seminário diocesano regular o direito de ser ordenado de acordo com o rito pré-Vaticano II, em parte porque esse ritual supõe ordenação a “ordens menores” e o subdiaconato, que foram suprimidos sob o Papa Paulo VI.
No que tange as conversações com a Fraternidade São Pio X, há sinais de que elas poderão terminar com um choramingo ao invés de um estrondo.
Um grupo Vaticano ad-hoc foi organizado em 2009 para conduzir as discussões e formado de cinco figuras de liderança no cenário romano:
  • O Monsenhor italiano Guido Pozzo, secretário da Comissão Ecclesia Dei;
  • O Arcebispo jesuíta italiano Luis Ladaria [ndr: na realidade, ele é espanhol], secretário da Congregação para a Doutrina da Fé;
  • Um Monsenhor Jesuíta alemão Karl Becker, um consultor de longa data para a congregação doutrinal;
  • O Monsenhor espanhol Fernando Ocáriz do Opus Dei, um outro consultor para a congregação doutrinal;
  • O dominicano suíço Pe. Charles Morerod, reitor da Universidade Angelicum, e também um consultor para a congregação.
Por sua vez, a Fraternidade São Pio X reúne uma delegação liderada pelo Bispo espanhol Alfonso de Galarreta, um dos quatro prelados ordenados por Lefebvre em 1988. Pessoas por dentro da situação dizem que as figuras escolhidas pela fraternidade geralmente representam a corrente mais “linha dura” na entidade tradicionalista, ao passo que os participantes do Vaticano são teologicamente conservadores inclinados a encontrar o meio termo dos lefebvristas.
As conversações se concentram em quatro temas, que representam as preocupações centrais para os tradicionalistas:
  • Liturgia
  • Eclesiologia, incluindo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso
  • Liberdade religiosa
  • O magistério do Concílio Vaticano Segundo (1962-65)
Em cada caso, o processo tem sido assim: um participante dos tradicionalistas prepara um ensaio sobre o assunto, e, em seguida, um participante do Vaticano escreve a resposta. (Se o tempo permite, um dos tradicionalistas poderá redigir uma resposta da resposta). Os dois lados então se reúnem por várias horas de conversas, o encontro mais recente tendo sido realizado no último mês de fevereiro.
Reuniões são mantidas nos escritórios da Congregação para a Doutrina da Fé em Roma. Geralmente, os lefebvristas falam em francês e os delegados do Vaticano em italiano, com tradução simultânea.
Em uma entrevista recente postada no sítio americano da Fraternidade São Pio X, o superior da fraternidade, Dom Bernard Fellay, anunciou que as conversações estão chegando ao fim sem solução, porque, na visão de Fellay, Roma se recusa a admitir as “contradições” entre a fé católica eterna e as inovações introduzidas pelo Vaticano II.
Fellay também disse que surgiram duas novas pedras de tropeço: o plano de Bento XVI de hospedar um encontro inter-religioso em Assis, neste mês de outubro, e a beatificação do Papa João Paulo II, no dia 1º de maio.
Essa entrevista pareceu selar o destino das conversações. Um delegado do Vaticano falou calmamente com o Cardeal Americano William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre se está chegando a hora de colocar um ponto final.
(Por um instante, em fevereiro, os tradicionalistas aparentemente achavam que o momento já tinha chegado. Um encontro entre os dois lados foi marcado nos escritórios da congregação doutrinal, na mesma sala onde uma reunião não relacionada havia ocorrido no dia anterior. Um cartão com o nome de Levada ainda estava na cabeceira da mesa. O prefeito normalmente não participa das conversações com os tradicionalistas, assim, quando eles viram o nome dele na mesa, dizem que eles especularam se ele estava vindo para fechar a cortina. De fato, a reunião foi adiante como de costume).
Após a reunião no início de abril, espera-se que os participantes escrevam ensaios resumindo os resultados das discussões e os submetam a seus superiores. No clima atual, muitos observadores dizem que isso pode bem ser o fim da linha, pelo menos por ora.
Dependendo de como as coisas se desenrolarem, tanto a reação à instrução quanto às conversações poderão indicar uma conclusão comum: preencher a lacuna com o mundo tradicionalista continua sendo um projeto de longo prazo.

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