Video: Notre Dame de Paris
Na catedral de Notre Dame em Paris, bela em cada um de seus pormenores, consideremos inicialmente as três portas do primeiro pavimento, encimadas por lindíssimas ogivas.
Em cada portal aparecem vários episódios da História Sagrada, esculpidos de um e outro lado da ogiva.
Acima das portas ogivais, uma fileira de estátuas de reis da França. Não satisfeita em decapitar Luís XVI, a Revolução Francesa — cuja infâmia supera qualquer outro acontecimento histórico, exceto a traição de Judas — incitou alguns vândalos a subirem até essas esculturas e degolá-las.
Vídeo: catedral de Paris |
Imaginemos que não existisse a parte superior do edifício, mas apenas o andar térreo coroado por essa espécie de balaústre acima das estátuas dos reis. Mesmo despojada dessa forma, ela seria uma edificação linda.
Podemos imaginar também outro edifício formado apenas pela grande rosásea central, as duas laterais acima de duas pequenas ogivas superiores.
Se esse conjunto estivesse no solo, poderia ser também a fachada de uma igreja belíssima. Poderíamos ainda imaginar cada uma das pontas das torres do terceiro piso transformadas em oratórios e colocadas no rés do chão, e veríamos que, mesmo separadamente, elas seriam extraordinárias.
Na fachada da catedral há três belezas superpostas, mas a finura dos franceses — o charme mais belo que a beleza — fê-los sentir que alguma coisa faltaria, se ficasse só nisso.
Percebe-se então uma cúpula atrás, e no alto uma flecha — a famosa flecha de Notre Dame, que dá um arremate, um toque de leveza, de graça e de grandeza às torres inacabadas.
As torres da catedral deveriam ter sido mais altas, mas o estilo gótico morreu ao sopro maldito da Renascença e do Humanismo, e por isso elas não foram concluídas.
Entretanto, mesmo assim, têm encanto e beleza.
Notre Dame provoca uma impressão muito agradável pelo contraste entre a altura e a largura do edifício.
Ela é graciosa e leve, mas possui um quê de fortaleza. É esguia, no entanto não pode de nenhum modo ser considerada frágil.
Reflete bem a plenitude do espírito da Idade Média: hierático e hierárquico, sacral e ordenado, tudo voltado para o que há de mais alto.
A maior seriedade se compagina bem com a graça e a delicadeza, e os mais belos aspectos da alma católica aparecem a todo propósito em todos os ângulos da catedral.
(Fonte: excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 11.01.1989. Sem revisão do autor. Apud “Catolicismo”, dezembro 2010)
O rosto de Jesus Cristo impresso nas catedrais medievais
“Eu não posso me esquecer que uma das viagens que eu fiz a Paris, eu cheguei à noitinha. Jantei, e fui imediatamente ver a Catedral de Notre-Dame.
Era uma noite de verão, não extraordinariamente bonita, comum.
A Catedral estava iluminada, e o automóvel em que eu vinha passava da rive gauche para a ilha, e eu via a Catedral assim de lado, e numa focalização completamente fortuita.
Ela me pareceu desde logo, naquele ângulo tomado assim, se acaso existisse ‒ em algum sentido existe ‒ eu diria que é tomado ao acaso, eu olhei e achei tão belo que eu fiquei com vontade de dizer ao automóvel:
“Pára, que eu quero ficar aqui! Eu sei que o resto é muito belo, mas eu creio que poucos olharam essa Catedral desse ângulo e pararam. E eu quero ser dos poucos, para dar a Nossa Senhora o louvor deste ponto de vista aqui, que os outros talvez não tenham louvado suficientemente.
“Ao menos se dirá que uma vez, um peregrino vindo de longe amou o que muitos outros, por pressa, por isso ou por não terem recebido uma graça especial naquele momento para aquilo, não chegaram a amar.”
E em todos os grandes monumentos da Cristandade, depois de admirar as maravilhas, eu tenho a tendência a ir admirando os pormenores, num ato de reparação, porque esses pormenores talvez não tenham sido amados como eles deveriam ser amados.
E então fazer ao menos isto: amar o que deveria ter sido amado e que foi esquecido. É sempre a nossa vocação de levar à tona as verdades esquecidas, que os homens põem de lado.
Eu fiquei encantado com a Catedral naquele ângulo.
Depois dei a volta, e voltei para o hotel com a alma cheia.
E se alguém naquele momento me lembrasse da palavra da Escritura:
“Eis a igreja de uma beleza perfeita, a alegria do mundo inteiro”, eu teria dito: “Oh! como está bem expresso! É bem o que eu sinto a respeito da Catedral.”
E aí, do fundo de nossas almas, do fundo de nossas inocências, sobe uma coisa que é luz, superluz, mas ao mesmo tempo é penumbra ou é obscuridade sem ser treva.
E é a idéia de todas as catedrais góticas do mundo, as que foram construídas, e as que não foram construídas, dando uma idéia de conjunto de Deus. Que, entretanto, ainda é infinitamente mais do que isso.
Aí o espírito que inspirou todas essas catedrais nos aparece.
E aí, realmente, mais nós vivemos no Céu do que na Terra.
E aí o nosso desejo de uma outra vida, de conhecer um Outro, tão interno em mim que é mais eu do que eu mesmo sou eu, mas tão superior a mim que eu não sou nem sequer um grão de poeira em comparação com Ele, esse meu desejo se realiza.
Eu digo: “Ah, eu compreendo, o Céu deve ser assim!”
Nós amamos ainda mais o puríssimo Espírito, eterno e invisível, que criou tudo aquilo, para dizer:
“Meu filho, Eu existo. Ame-me e compreenda: isto é semelhante a Mim.
“Mas, sobretudo, por mais belo que isto seja, Eu sou infinitamente dessemelhante disto, por uma forma de beleza tão quintessenciada e superior, que é só quando me vires que verdadeiramente te darás conta do que Eu sou.
“Vem, meu filho. Vem, que eu te espero!
“Luta por mais algum tempo, que Eu estou me preparando para te mostrar no Céu belezas ainda maiores, na proporção em que for grande e dura a tua luta.
“Espera que, quando estiveres pronto para veres aquilo que Eu tinha intenção de que visses quando Eu te criei.
“Meu filho, sou Eu a tua Catedral!
“A Catedral demasiadamente grande! A Catedral demasiadamente bela!
“A Catedral que fez florescer nos lábios da Virgem um sorriso como nenhuma jóia fez florescer, nenhuma rosa, e nem sequer nenhuma das meras criaturas que Ela conheceu.”
“Essa Catedral é Nosso Senhor Jesus Cristo.
“É o Coração de Jesus que tirou do Coração de Maria harmonias como nada tirou. Ali, tu o conhecerás.”
Ele disse dEle: “Serei Eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande”.
Era uma noite de verão, não extraordinariamente bonita, comum.
A Catedral estava iluminada, e o automóvel em que eu vinha passava da rive gauche para a ilha, e eu via a Catedral assim de lado, e numa focalização completamente fortuita.
Ela me pareceu desde logo, naquele ângulo tomado assim, se acaso existisse ‒ em algum sentido existe ‒ eu diria que é tomado ao acaso, eu olhei e achei tão belo que eu fiquei com vontade de dizer ao automóvel:
Vídeo: o rosto de Cristo impresso nas catedrais medievais |
“Ao menos se dirá que uma vez, um peregrino vindo de longe amou o que muitos outros, por pressa, por isso ou por não terem recebido uma graça especial naquele momento para aquilo, não chegaram a amar.”
E em todos os grandes monumentos da Cristandade, depois de admirar as maravilhas, eu tenho a tendência a ir admirando os pormenores, num ato de reparação, porque esses pormenores talvez não tenham sido amados como eles deveriam ser amados.
E então fazer ao menos isto: amar o que deveria ter sido amado e que foi esquecido. É sempre a nossa vocação de levar à tona as verdades esquecidas, que os homens põem de lado.
Eu fiquei encantado com a Catedral naquele ângulo.
Depois dei a volta, e voltei para o hotel com a alma cheia.
E se alguém naquele momento me lembrasse da palavra da Escritura:
“Eis a igreja de uma beleza perfeita, a alegria do mundo inteiro”, eu teria dito: “Oh! como está bem expresso! É bem o que eu sinto a respeito da Catedral.”
E aí, do fundo de nossas almas, do fundo de nossas inocências, sobe uma coisa que é luz, superluz, mas ao mesmo tempo é penumbra ou é obscuridade sem ser treva.
E é a idéia de todas as catedrais góticas do mundo, as que foram construídas, e as que não foram construídas, dando uma idéia de conjunto de Deus. Que, entretanto, ainda é infinitamente mais do que isso.
Aí o espírito que inspirou todas essas catedrais nos aparece.
E aí, realmente, mais nós vivemos no Céu do que na Terra.
E aí o nosso desejo de uma outra vida, de conhecer um Outro, tão interno em mim que é mais eu do que eu mesmo sou eu, mas tão superior a mim que eu não sou nem sequer um grão de poeira em comparação com Ele, esse meu desejo se realiza.
Eu digo: “Ah, eu compreendo, o Céu deve ser assim!”
Nós amamos ainda mais o puríssimo Espírito, eterno e invisível, que criou tudo aquilo, para dizer:
“Meu filho, Eu existo. Ame-me e compreenda: isto é semelhante a Mim.
“Mas, sobretudo, por mais belo que isto seja, Eu sou infinitamente dessemelhante disto, por uma forma de beleza tão quintessenciada e superior, que é só quando me vires que verdadeiramente te darás conta do que Eu sou.
“Vem, meu filho. Vem, que eu te espero!
“Luta por mais algum tempo, que Eu estou me preparando para te mostrar no Céu belezas ainda maiores, na proporção em que for grande e dura a tua luta.
“Espera que, quando estiveres pronto para veres aquilo que Eu tinha intenção de que visses quando Eu te criei.
“Meu filho, sou Eu a tua Catedral!
“A Catedral demasiadamente grande! A Catedral demasiadamente bela!
“A Catedral que fez florescer nos lábios da Virgem um sorriso como nenhuma jóia fez florescer, nenhuma rosa, e nem sequer nenhuma das meras criaturas que Ela conheceu.”
“Essa Catedral é Nosso Senhor Jesus Cristo.
“É o Coração de Jesus que tirou do Coração de Maria harmonias como nada tirou. Ali, tu o conhecerás.”
Ele disse dEle: “Serei Eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande”.