sábado, 14 de março de 2020

Do Tratado de Santo Ambrósio, bispo, «Sobre a fuga do mundo»

Busquemos a Deus, único bem verdadeiro
   Onde está o coração do homem, aí está o seu tesouro. Com efeito, Deus não costuma negar o bem àqueles que lho pedem. Porque o Senhor é bom, e é bom sobretudo para os que n’Ele esperam. Busquemo-l’O, unamo-nos a Ele com toda a nossa alma, com todo o nosso coração e com todas as nossas forças, para vivermos na sua luz, para vermos a sua glória, para gozarmos a graça da felicidade celeste; elevemos o nosso coração para o sumo Bem, busquemo-l’O, unamo-nos a Ele e vivamos n’Ele, porque está acima de tudo o que podemos pensar e imaginar, e concede a paz e a tranquilidade perpétuas, uma paz que supera toda a nossa compreensão e sentimento.
   Este é o Bem que tudo invade: todos vivemos n’Ele e d’Ele dependemos; nada Lhe é superior, porque é divino. Na verdade, só Deus é bom; e portanto, o que é bom é divino, e o que é divino é bom; por isso se diz no salmo: Abris as mãos, e da vossa bondade todos ficam saciados. É da bondade de Deus que nos vêm todas as coisas verdadeiramente boas, sem mistura de mal algum.
   Estes são os bens que a Escritura promete aos fiéis, quando diz: Comereis dos bens da terra.
   Nós morremos com Cristo e trazemos no nosso corpo a morte de Cristo, para que também se manifeste em nós a vida de Cristo. Por isso, já não é a nossa vida que vivemos, mas a de Cristo: vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade e de todas as virtudes.
   Também ressuscitámos com Cristo; portanto, vivamos unidos a Ele, subamos com Ele, para que a serpente não possa encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo.
   Fujamos daqui. Podes fugir com o espírito, embora permaneças com o corpo; podes ficar aqui e estar junto do Senhor, se o teu espírito n’Ele se fixar, se com os teus pensamentos O seguires, se percorreres os seus caminhos guiado pela fé e não pelas aparências, se fizeres d’Ele o teu refúgio – porque Ele é o nosso refúgio e a nossa força, como canta David: Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido.
   Portanto, já que Deus é o nosso refúgio, e Deus está nos céus e acima dos céus, fujamos daqui para aquele lugar onde reina a paz, onde repousaremos dos nossos trabalhos, onde celebraremos o banquete do grande sábado, como disse Moisés: E o repouso sabático da terra será para vós ocasião de festim. Descansar em Deus e contemplar as suas delícias é o grande banquete da alegria plena e da tranquilidade sem fim.
   Corramos, pois, como o veado para as nascentes das águas. Tenha sede a nossa alma como David. E que fonte é essa? Ouve o que ele diz: Em Vós está a fonte da vida. Diga a esta fonte a minha alma: Quando irei contemplar a face de Deus? Esta fonte é Deus.